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Notícias Sábado, 8.VII.2011

11 Julho, 2011
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«Hoje, os ventos correm de feição para anémonas políticas como a senhora Merkel. Ou para pasto dos retraimentos pessoais do senhor Bruni. Ou, ainda, para seres irrisórios como Zapatero ou bufões sem remédio como Berlusconi. Hoje, todos esses ventos sopram contra Strauss-Kahn

 

 

Da implacável decadência da Europa

Desde o início, desconfiei fortemente da narrativa oficial dos factos acerca do caso Dominique Strauss-Kahn (DSK) – e escrevi-o nestas páginas. A decomposição natural do testemunho da alegada vítima, a guineense Nafissatou Diallo, para já, parece ter resolvido a questão do crime de violação mas tem o condão de levantar perplexidades ainda mais penosas sobre o modo escorregadio como todo o assunto foi publicamente encenado e apresentado.

Por que razão os proprietários do hotel informaram os serviços secretos franceses e o Eliseu horas antes de a notícia ser conhecida? E a tão elogiada prontidão da polícia de Nova Iorque não se assemelhará agora a uma precipitação indesculpável quando se conhecem os autênticos alçapões escancarados na versão de Diallo? E, neste contexto, como conceber as ligações muito próximas entre o poder político francês e o actual comissário da polícia nova-iorquina – que já foi condecorado com a Legião de Honra pelo próprio Nicolas Sarkozy?

Em boa verdade, sejam quais forem as inclinações apriorísticas de simpatia ou falta de ela face a DSK, custa a acreditar que uma situação que expõe tantas tramas e cumplicidades possa ter brotado da cabeça de uma camareira de hotel e do seu namorado que, presentemente, cumpre pena numa prisão norte-americana.

DSK sofre de fraquezas óbvias: tem apetites conhecidos e mais ou menos desmedidos que já não podem ser exibidos pelos homens públicos tal como ainda o são pelos que conservam a sua privacidade. Quase todas essas supostas máculas, em tempos que já lá vão, costumavam assinalar as imperfeições dos grandes homens. Sem querer comparar as dimensões pessoais, nos dias que correm seria improvável que alguém como Churchill pudesse almejar um cargo político de primeira grandeza: bebia demais, falava muito e sobre qualquer tema, dizia e escrevia o que pensava sem qualquer rebuço, destratava os adversários políticos sem cuidados nem piedade (às vezes, também os seus próprios aliados), enfim, Churchill seria hoje um elemento contrastante com o absolutismo insindicável do «politicamente correcto» – logo, nos dias baços em que estamos, Churchill não existiria em qualquer dimensão do político.

DSK gosta excessivamente de mulheres bonitas e de ostentar luxos privados. Não se contém na retórica redonda e banal da maioria dos políticos, e, pior de tudo, possui uma visão para a Europa. Nada é mais quebradiço do que um político com ideias próprias mas que constantemente se coloca em perigo de ficar refém das suas intensas fragilidades à luz do que é tido e aceite.

Se não fosse por causa de Diallo, DSK não chegaria a presidente da França e homem forte da Europa por qualquer outra razão retirada das funduras do «politicamente correcto» – das muitas que já se aprestam contra o seu regresso.

Hoje, os ventos correm de feição para anémonas políticas como a senhora Merkel. Ou para pasto dos retraimentos pessoais do senhor Bruni. Ou, ainda, para seres irrisórios como Zapatero ou bufões sem remédio como Berlusconi. Hoje, todos esses ventos sopram contra Strauss-Kahn.

 

 

Não convenceram ninguém

Os governadores civis são o exemplo mais completo da inutilidade de um órgão administrativo em Portugal. Resquícios de uma época vibrantemente centralista, foram sendo desamparados dos seus poderes e apenas se mantinham pelo alento saudosista dos que temem a descentralização regional – aliado à omnipresente da lei da inércia. Contudo, quando o governo decidiu (e bem) não nomear mais titulares para essa improficuidade, descobriu-se que ainda subsistiam alguns defensores da sua manutenção: nomeadamente, os próprios titulares da coisa que, solitariamente, se desbarataram mediaticamente em explicações acerca dos seus próprios préstimos…

14 comentários leave one →
  1. Contumaz's avatar
    Contumaz permalink
    11 Julho, 2011 18:46

    Faltou referires-te ao teu amigo ALFORRECA !

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  2. Pi-Erre's avatar
    Pi-Erre permalink
    11 Julho, 2011 18:47

    Na Europa há muitas anémonas políticas. Em Portugal é mais alforrecas.

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  3. Fredo's avatar
    Fredo permalink
    11 Julho, 2011 19:02

    Mais um adepto das teorias da conspiração.
    Já li aqui que a rapariga
    – é preta
    – tem religião muçulmana
    – é coiro
    – é drogada
    – o namorado é um cadastrado
    e outras coisas mais que provam que não foi violada.
    Adivinho que, num próximo post, o CAA virá aqui dizer
    que afinal o Senhor Strauss-Kahn foi violado por ela.

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  4. Piscoiso's avatar
    11 Julho, 2011 19:07

    Essa do senhor Bruni…
    está bem esgalhada!

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  5. CAA's avatar
    11 Julho, 2011 19:19

    «Essa do senhor Bruni…
    está bem esgalhada!»

    Já a vi em vários lugares. A autoria original (julgo) é de José Adelino Maltez…

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  6. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    11 Julho, 2011 19:24

    «Alforreca» é o cognome atribuido a Passos Coelho pelo João dos Pequeninos, recrutado para assessor do Relvinhas, na rua da Prata, numa noite de nevoeiro…
    O homem agora só põe «livros» e «ópera»!…………….

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  7. Arlindo da Costa's avatar
    Arlindo da Costa permalink
    11 Julho, 2011 19:29

    O Maltez é do tempo da monarquia constitucional!
    Aquilo é cada teoria da batata doce!

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  8. anti-comuna's avatar
    anti-comuna permalink
    11 Julho, 2011 19:34

    “Em boa verdade, sejam quais forem as inclinações apriorísticas de simpatia ou falta de ela face a DSK, custa a acreditar que uma situação que expõe tantas tramas e cumplicidades possa ter brotado da cabeça de uma camareira de hotel e do seu namorado que, presentemente, cumpre pena numa prisão norte-americana.”
    .
    .
    Faltou aí referir que alguém pagou 100k dollars à prostituta, antes de acontecer o sucedido.

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  9. joao's avatar
    joao permalink
    11 Julho, 2011 22:17

    Comparar “bebia demais, falava muito e sobre qualquer tema, dizia e escrevia o que pensava sem qualquer rebuço, destratava os adversários políticos sem cuidados nem piedade” com uma violação é de arrepiar…

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  10. certo's avatar
    certo permalink
    11 Julho, 2011 23:27

    Cá por mim, não se vislumbra assim tanto, à primeira vista, por que sopram os ventos contra o sr DSK, se parece liberto ou quase da tramóia. E, bonitas ou não, as mulheres a que se atira, afora a hipótese do predador abastado de poder e nota, força é dizer que por uma vez, ao menos, o forte instinto lhe amansou o racismo em que incorrem outros. Uma atenuante digna de ser levada em conta.

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  11. Nuno's avatar
    Nuno permalink
    12 Julho, 2011 00:07

    Entre o Berlusconi e o Strauss-Kahn existe apenas uma diferença puramente ideológica:
    A direita respeita a propriedade privada e paga.
    A esquerda quer sempre de borla!!!

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  12. Khan's avatar
    Khan permalink
    12 Julho, 2011 00:53

    Quero dar os parabens a quem defende a teoria da conspiração. É conhecido que Strauss-Khan é branco, judeu e maçon. A teoria é a seguinte: os Serviços Secretos franceses contraram uma mulher muçulmana preta para se a tirar a um judeu branco. Ou seja, fizeram tudo para que a operação falhasse, mas não é que ela resultou mesmo! Naturalmente, quando se sabe da repugnância dos muçulmanos (especialmente das mulheres) pelos judeus, a tese de que a senhora se atirou ao Strauss-Khan (praticamente, que o violou) necessita de alguns esclarecimentos. A tese da conspiração é muito bem vista´, pois os serviços secretos costumam contratar mulheres brancas, católicas ou protestantes e loiras. Neste caso foi o contrário. Que rica tese. Muitos parabéns mesmo. Simplesmente a competência dos Serviços Secretos franceses para contratar pessoal adequado ao desempenho das tarefas precisa de ser aprimorada.

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  13. acoral's avatar
  14. acoral's avatar

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