Até que enfim que todos descobriram as rendas da EDP
Há um filme que circula no YouTube, relativo ao documentário Pare, Escute, Olhe, de Jorge Pelicano, onde se recorda uma cena tão deliciosa como significativa: António Mexia caminha ao lado de José Sócrates e celebra o cimento de mais uma barragem. É delicioso pela cumplicidade que revela, é significativo porque a política energética era uma das “jóias da coroa” do socratismo.
Agora, mudaram-se os tempos, mudaram-se as vontades. Por causa da demissão de um secretário de Estado meio desconhecido, todos descobriram que afinal essa política nos legou um pesado défice tarifário e incomportáveis rendas pagas a produtores como a EDP. Só posso lamentar que a descoberta tenha sido tão tardia e que pouco se tenha discutido sobre os motivos por que chegámos à actual irracionalidade, mas adiante, que o que conta agora é saber como vai o actual Governo corrigir a herança.
Escrevi a semana passada, quando defendi uma remodelação no Ministério da Economia, que as medidas de Álvaro Santos Pereira eram as correctas excepto nalgumas áreas, “em especial a da Energia”. Referia-me, naturalmente, à acção do herói do momento, o ex-secretário de Estado Henrique Gomes, cujas políticas foram erradas não por desejar acabar com as rendas excessivas, antes por ter feito uma política de “terra queimada” que tratava por igual o que há de bom e o que há de mau no sector, ao mesmo tempo que não afrontava eficazmente o poder da EDP. Henrique Gomes estava tão obcecado com Mexia que actuou de forma cega e ineficaz, mostrando uma total incapacidade para cumprir o seu mandato, que era, precisamente, o de renegociar os contratos que geram as rendas excessivas. A ideia peregrina, que chegou a levar a Conselho de Ministros, de substituir essa renegociação pela criação de um imposto a aplicar a todos os electroprodutores é o exemplo acabado do seu fracasso político. É por isso que não lamento a sua substituição, apesar de reconhecer que era um homem bem-intencionado e esforçado.
Não fico, porém, tranquilo com o rumo da política energética enquanto não vir o Governo concretizar as renegociações capazes de baixar as rendas herdadas do tempo de Sócrates, incluindo as que beneficiam a EDP, mas não só: um dos sectores onde a irracionalidade económica é maior é o da co-geração e, aí, também há beneficiários poderosos, como a Galp e a Portucel. Espero que os benefícios financeiros derivados da operação de privatização da EDP, que não menosprezo, não levem a esquecer que essa privatização ocorreu no quadro de um Memorando de Entendimento que exigia a revisão das rendas no sector da energia, ou seja, que os compradores chineses sabiam que algumas das actuais situações de privilégio iriam acabar. Qualquer renegociação não pode, pois, ser vista como uma violação do contrato de venda, antes como o cumprimento de regras preexistentes.
Não esqueço que o primeiro-ministro prometeu, ainda na sua mensagem de Natal, mudar as estruturas económicas “que protegem núcleos de privilégio injustificado”, algo que incluiu no seu desejo de democratizar a economia. É altura de, ao lidar com a EDP e outras empresas gigantes, mostrar que estava a falar a sério. E de provar que o tempo do concubinato bem retratado no tal filminho do YouTube é mesmo coisa do passado.
Público, 2012-03-16

Bom, assim já é falar! E não como atirou o seu camarada de blog JM algures atrás.
GostarGostar
Achei até comovente, a argumentação de Lobo Xavier, na quadratura, a propósito dos sagrados contratos que vigoram para lá da “legislação nacional”.
GostarGostar
…e o PSD paga o favor ao Catroga com uns míseros “pintelhos” de 500.000€ anuais!
GostarGostar
Olha! Uma versão “spinada” da tirada que o Dr. Xavier, numa núvem de irritação, deixou cair ontem. Será que estes dois cavalheiros se conhecem? (a Sonae tinha almoços de Natal?) Gosto especialmente da “ideia peregrina”! E a “ideia peregrina” de aumentarem o meu IRS, o meu IMI, o preço do meu passe e o IVA, em vez de “renegociarem” esses aumentos comigo? Porque é que ninguém se demite por causa disso?
GostarGostar
Justiça seja feita a este blogue que ainda na sua infância tinha o João Miranda a falar disso e a levar porrada de toda a gente. Aliás, a propósito disso fui pesquisar o antigo blogue do João Miranda a ver se mesmo antes do Blasfémias ele já falava disso, e encontrei por acaso esta verdadeira pérola:
http://liberdade-de-expressao.blogspot.com/2003/09/o-mundo-est-de-pernas-para-o-ar-pois-o.html
.
Em 2003 o João Miranda já falava das mortes causadas pelo frio, assunto muito actual nos últimos dias. Verdadeiramente notável hahahaha.
GostarGostar
O Liberdade de Expressão é um Blog de inspiração Liberal defensor do direito à vida, à Liberdade e à propriedade honestamente adquirida, herdada, desenvolvida ou produzida..
se o rídiculo matasse…
GostarGostar
Há anos que ando a pregar aos peixinhos…
Mas tens razão: o Henrique Gomes movia-o outra coisa: http://ecotretas.blogspot.com/2012/03/as-razoes-da-edp.html
Ecotretas
GostarGostar
Os que falavam antes contra a EDP e contra o Mexia, são pos mesmos que agora recebem ordem directamente do Mexia, do Catroga e das Três Gargantas.
Viram as palhaçadas que o Álvaro anda a fazer a este propósito?
E o Passos Coelho, completamente inapto para a função?
Já viram a tragédia onde Portugal está enfiado?
GostarGostar
O que é importante é discutir o miolo do discurso “oculto” de Henrique Gomes (Secretário Estado demitido).
Algumas “pérolas”, como exemplos:
“as rendas excessivas desviam da economia e das famílias recursos que ascendem a cerca de 3500 milhões de euros até 2020, o que representa uma renda anual de 370 milhões de euros”.
…”Se o Estado continuar a pagar mais do que deve e se o consumo de energia continuar a cair os preços da eletricidade, em 2013, poderão subir cerca de 26 por cento…”
…“O crescimento global dos preços de electricidade de 2012 para 2013 não será inferior a 11%”…
Um texto a ler na íntegra (http://www.dinheirovivo.pt/Empresas/Artigo/CIECO038415.html).
Mexia não se limitou a despachar Henrique Gomes – pretende “mexer “nos nossos bolsos.
Ou resumindo: poderá ter ganho uma batalha, mas provavelmente terá conquistado uma guerra…que inquinará, daqui para a frente, a sua gestão na EDP. Qualquer dia está a ser dispensado pela China Three Gorges…
GostarGostar
GostarGostar
E a herança da Parque Escolar também! Ui! São tantas heranças! e hoje, de uma assentada, num pequeno espaço de 15/20 minutos de noticiário, lá voltei a ficar abismada, estarrecida! Parece estar a tornar-se uma rotina ficar assim sempre que ouço notícias! Hoje foi o Vale Azevedo, com a Justiça inglesa a pagar as despesas com a justiça, porque ele declarou falência. Perguntaram-lhe se estava falido e fugiu a dar uma resposta. Vive no local mais caro de Londres, cme em restaurantes de nomeada… Depois foi o caso Duarte Lima… Depois foi o caso Freeport… Depois foi a Lusoponte… Depois a Parque Escolar… Depois a guerra do futebol e do alargamento! Mas o dinheiro supercaro que a selecção vai gastar não incomoda ninguém! Depois, a “cereja no topo do bolo”: mais saídas de morteiro de Otelo Saraiva de Carvalho…
Está tudo a ficar louco? Isto é gente normal? A Justiça só é problemática em Portugal? Que lástima!
GostarGostar
«Está tudo a ficar louco? Isto é gente normal? A Justiça só é problemática em Portugal? Que lástima!»
Veremos, com os eleitores, nas próximas legislativas.
Pro mim, pronto a vender a alma ao Diabo: votar no PCP?
GostarGostar
“Pro mim, pronto a vender a alma ao Diabo: votar no PCP?”
E viver de que?
GostarGostar
É enternecedora a tentativa de alguns dos responsáveis por este blogue, para branquear a enorme deceção que tem sido Álvaro Santos Pereira. Gostem ou não, o que ficou claro na demissão do secretário de estado foi que, em matéria de energia e de favores às empresas do setor, quem manda no governo é o Mexia e o Álvaro mais não faz do que assinar os cheques.
GostarGostar