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Negócios inviáveis e cláusulas leoninas

21 Março, 2012

Escreve Paulo Marcelo:

Não se percebe porque se deixou de fora a renegociação jurídica das PPP uma vez que certas cláusulas podem ser consideradas leoninas (e ilegais) com todos os riscos financeiros e de negócio (inclusive de impostos no contrato Lusoponte) a ficar do lado do Estado. 

.

Uma historinha: aqui há uns anos o ministro de um país moderno decidiu dinamizar as exportações. Foi ter com um fabricante de frigoríficos com quem travou o seguinte diálogo:

Ministro: Olhe lá, o governo tem um projecto para dinamizar as exportações. Verificamos que não exportámos para o Pólo Norte, verificámos ainda que o Pólo Norte tem a menor quantidade de frigoríficos do mundo.  Vai daí surgiu uma ideia: vamos exportar frigoríficos para o Pólo Norte. Quer ser o nosso parceiro?

Fabricante de frigoríficos: Depende. Dão-me umas clausulas leoninas no contrato?

Ministro: Não pode ser. Temos que defender o interesse público.

Fabricante de frigoríficos:  Então não estou interessado.

Ministro:  Ok. Dou-lhe 2 cláusulas leoninas.

Fabricante de frigoríficos: 4

Ministro: 3

Fabricante de frigoríficos:  ok. De acordo.

Ministro: Negócio fechado?

Fabricante de frigoríficos:Ainda não. Só uma perguntinha: quem fica com o risco de os frigoríficos não se venderem?

Ministro:Você, claro. Você é que é o empreendedor.

Fabricante de frigoríficos: Bem, então não me interessa.

Ministro: Ok. Nós ficámos com o risco.

Fabricante de frigoríficos: Negócio fechado.

 

19 comentários leave one →
  1. 21 Março, 2012 15:41

    Isso tudo entre a 100 e sai a 200 dos ouvidos do nosso PGR. Enquanto cá houver gente que pensa como ele ou que pensa que empurra o país para a frente colocando fotografias de fotógrafos caríssimos em revistas com os dizeres “Portugal, West Coast of Europe”, isto nunca vai mudar um milímetro. Portugal está condenado para séculos.

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  2. Costa Cabral permalink
    21 Março, 2012 16:09

    O Estado Português, pura e simplesmente deve renrgociar todas as PPP’s, sem nenhuma excepção.
    No limite deve nacionalizar todas as empresas, consórcios ou infra-estruturas que estão a sugar o pouco sangue dos portugueses.
    O dilema é simples: ou salva-se Portugal, os portugueses e a sua frágil economia ou então salva-se meia dúzia de banqueiros, financeiros e gestores anti-patriotas, agiotas e que agem na lógica de gang.
    No limite dos limites a tropa deve tomar conta do país e apresentar a tribunal todos (mas todos, desda a década de 80!) que fizeram PPP’s!) os que comprovadamente enganaram os contribuintes e trairam a Pátria.

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  3. aremandus permalink
    21 Março, 2012 16:09

    JM a degenerar com um post tão infantil…
    esperava-se mais!

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  4. Carlos permalink
    21 Março, 2012 16:18

    Se eu fose comuna diria que esta historinha era exemplar para demonstrar porque é que tem que haver sector empresarial do estado. Existe alternativa? Sim, bastava que o ministro não falasse demais e apenas dissesse: Olhe lá, o governo tem um projecto para dinamizar as exportações. O que podemos fazer para lhe facilitar a vida sem nos metermos nela?

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  5. piscoiso permalink
    21 Março, 2012 16:32

    Essa historinha pode ter uma segunda versão com um ministro do Governo seguinte.
    Aproveitam a papelada do anterior e só mudam Pólo Norte para Pólo Sul.

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  6. PMP permalink
    21 Março, 2012 16:43

    O JM esquece-se que no mundo actual todos os fabricantes de frigorificos têm ajudas dos estados respectivos.
    .
    Esses estados preferem manter as empresas e os empregos industriais mesmo à custa de subsidios.
    .
    Mas devem ser todos ignorantes.

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  7. 21 Março, 2012 16:49

    Exportar sobretudos para os países tropicais é sucesso garantido. É assim: os habitantes dos trópicos colocam o sobretudo no congelador. No dia seguinte, quando o calor começa a apertar, retiram o sobretudo do congelador, vestem-no por cima da pele e já podem ir passear para a avenida sem medo da canícula.
    Também dá para exportar outros abafos: capas alentejanas, samarras, camisolas de lã, etc.
    Aceito sócio com capital.

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  8. 21 Março, 2012 17:07

    Em cheio.
    parabéns JM
    é só imaginar o sókas e o coelhone…….e tá tudo explicado.
    ou melhor
    um grupinho de trites (mas ricações…) vestidos de aventatal………
    como é provável k tenha acontecido

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  9. 21 Março, 2012 17:08

    É exactamente por isto q os alentejanos colocam as TVs nos frigoríficos

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  10. 21 Março, 2012 17:08

    para ter notícias frescas

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  11. Costa Cabral permalink
    21 Março, 2012 17:41

    Óh Sátiro: os ladrões estão em Portugal, nomeadamente em Lisboa, Estoril, Cascais e com contas nos off-shores.
    Esses sim, desde o Estado Novo, PREC, Gonçalvismo, Mário Soares, Sá-Carneiro, Cavaco, Guterres, etc. continuam a «facturar» e a extorquir os impostos que a DGCI cobra aos contribuintes tolos!

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  12. MayBeNot permalink
    21 Março, 2012 17:45

    Isto fica ainda mais interessante se trocarmos a ordem dos interlocutores:

    Fabricante de frigoríficos: Olhe lá, tenho tem um projecto para dinamizar as exportações. Verificámos que não exportámos para o Pólo Norte, verificámos ainda que o Pólo Norte tem a menor quantidade de frigoríficos do mundo. Vai daí surgiu uma ideia: vamos exportar frigoríficos para o Pólo Norte. Quer ser o nosso parceiro?

    Ministro: Depende. Dão-me umas cláusulas leoninas no contrato?

    Fabricante de frigoríficos: Não pode ser. Tenho que defender os meus interesses.

    Ministro: Então não estou interessado.

    Fabricante de frigoríficos: Ok. Arranja-se qualquer coisinha quando V. Exa. sair do governo. Direcção?

    Ministro: CEO?

    Fabricante de frigoríficos: Conselho de administração.

    Ministro: ok. De acordo.

    Fabricante de frigoríficos: Negócio fechado?

    Ministro: Ainda não. Só uma perguntinha: quem fica com o risco de a opinião pública vir a saber do negócio?

    Fabricante de frigoríficos: Você, claro. Você é que é do governo.

    Ministro: Bem, então não me interessa.

    Fabricante de frigoríficos: Ok. Nós abafamos tudo.

    Ministro: Negócio fechado.

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  13. 21 Março, 2012 19:18

    CC
    não misture pessoas honestas, sérias e que deram o seu melhor pelo país
    com vigaristas, corruptos, analfabetos e incompetentes.
    Sá carneiro e cavaco foram-são honestos.
    apesar da campanha porca, nojenta, q sá carneiro sofreu dos comunas em 1980…..com o apoio dos lacaios dos media
    todos eles sim, vendidos a moscovo da urrss

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  14. Alexandre Gonçalves permalink
    21 Março, 2012 19:47

    Eu percebo-o, Miranda.

    Um fornecedor vendeu 10 FERRARIs a uma empresa de transportes de mercadorias.
    A empresa, que já não estava financeiramente bem, agora não tem mesmo dinheiro para pagar a todos os fornecedores. O que fazer?
    Hipotese A: Pede mais dinheiro aos sócios para honrar os compromissos.
    Hipotese B: Plano de reestruturação, paga metade das dívidas a todos os fornecedores e continua a trabalhar.
    Hipotese C: Fecha as portas e entra em liquidação, partilhado o resultado da liquidação com todos
    Hipotese D: Aponta uma pistola à cabeça dos accionistas para eles injectarem mais dinheiro
    Hipotese E: Coloca o gerente responsável pela compra na cadeia por má gestão.
    Hipotese F: Primeiro paga aos trabalhadores, depois aos fornecedores de gasóleo, e por ultimo, se sobrar dinheiro, os Ferraris?

    Visão do Estado.
    1º Aponta uma pistola à cabeça dos accionistas para eles injectarem mais dinheiro
    ao que soma a Visao do João Miranda,
    2º Paga os Ferraris por completo. (é preciso manter a honra e a confiança, carag0!)
    e depois o resto,
    3º Corta metade do salário aos trabalhadores
    4º Se sobrar dinheiro paga aos fornecedores de gasóleo.

    Só que, com esta politica estão a esquecer-se de uma coisa.
    1º Sem gasóleo a empresa não funciona!!!
    2º Quando os accionistas estiverem falidos não haverá mais dinheiro para injectar na empresa. Vai tudo ao charco e o corte nos pagamentos será uma realidade.

    Mas sim, Miranda, eu tambem concordo que o compromisso mais importante e que sem duvida deve ser honrado é a compra dos Ferraris.

    Se o facto de o Estado ter de renegociar as PPPs (todas) levar a que os investidores nacionais ou estrangeiros não queiram vir para Portugal investir em mais projectos em conjunto com o Estado, então peço encarecidamente:
    CORTEM JÁ OS PAGAMENTOS!!!
    Quanto mais cedo os investidores deixarem de ter confiança nos negócios com o estado e não os fizerem, mais depressa isto vai ao sítio.

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  15. Alexandre Gonçalves permalink
    21 Março, 2012 20:19

    Outra historinha.

    Aqui hà uns anos o estado lançou um concurso para exploração de frigorificos para o Polo Norte.
    Quem ganhasse o concurso ficava com a obrigação de ter sempre pelo menos 100 frigorificos em stock, e todos os anos lançar um modelo novo, isto durante 30 anos. Em contrapartida ficava com o monopólio de venda dos frigorificos para o polo Norte.
    A empresa Atom fez umas contas, concorreu e ganhou.
    No entanto a procura de frigorificos nos primeiros 10 anos ficou muito aquém das previsões, e a empresa estava a perder muito dinheiro…

    A empresa Atom explorava também em monopólio o negócio de restauração. Dava refeiçoes de borla à malta mas recebia do estado um X por cada refeição que servia.
    As obrigações da empresa eram as seguintes;
    Ter um restaurante por cada km quadrado, cada um com ar condicionado, lugares individuais, sala para fumadores e não fumadores, talheres de prata, renovação de pratos de 6 em 6 meses e todos da Vista Alegre, sofás em pele, um televisor em cada mesa, Led Claro e 40” , bem como a remodelação anual de todos os estabelecimentos.
    Um belo dia o estado resolveu que não senhor, não podia ser esta rebaldaria da malta continuar a comer de borla e ainda por cima em estabelecimentos de luxo. E vai daí quis começar a cobrar pelas refeições.
    Mas a empresa disse que não senhor, não podia ser porque isso não estava no contrato e se as refeições começassem a ser pagas a procura iria cair bastante e o investimento iria por Agua abaixo.
    Propôs então ao estado o seguinte:

    1º – Tu passas a cobras pelas refeiçoes e em contrapartida mas pagas-me um X fixo anual pela minha obrigação de manter os espaços abertos e a funcionar nas condições que pretendes. Esse X tem de dar 15% ao ano e se aumentas os imposto ou houver um terramoto ou qualquer outra coisa que eu não esteja a ver neste momento e que leve a que a minha taxa liquida de retorno baixe de 15%, então pagas-me uma compensação para manteres os 15% no final do ano.
    2º – Ao mesmo tempo renegociamos o negócio dos frigorificos para o Polo Norte. Temos de manter o negócio porque não podemos defraudar as expectativas da malta Polo Nortenha, isto porque existe lá um maluco que compra um frigorifico novo todos os anos. Fazemos assim: Eu fabrico sermpre 1000 frigorificos por ano, tu compras-me esses frigorificos todos por muita massa e depois és tu que os vendes lá à malta. Ainda por cima fabricamos uns modelos muito bons especialmente adaptado ao Polo Norte, como por exemplo o Frigo-A11( tem a particularidade de não ter congelador), assim como outros. Vais ver que eles se vão vender bem!

    Administrador da Atom: Que dizes, parece-te boa a proposta?
    Secretário de estado : Parece. Estou com uma fezada que a malta vai começar a comprar frigorificos à maluca e continuar a comer fora que é uma loucura. De certeza que isto é um bom negócio para o Estado.
    Administrador: Negócio fechado?
    Secretário de estado: Fechadissimo!!

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  16. 21 Março, 2012 20:38

    Na mouche.

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  17. Miguel C. permalink
    22 Março, 2012 00:23

    Se é assim que se discutem, redigem e assinam contratos dou razão ao JM.
    Mas adorável o modo infantil como tem descrito as atitudes dos governantes. Ora alguém pagará pelos erros que cometem, elas é que não. Como diria o meritíssimo Roy Snyder “Boys will be boys”

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  18. 23 Março, 2012 15:06

    A história tem graça e percebo o seu ponto João Miranda.
    Mas acaba por me dar razão.
    Vou responder no Cachimbo de Magritte.
    Paulo Marcelo

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