Saltar para o conteúdo

Empresas e crédito

26 Junho, 2012

Há uma queixa recorrente de que não há crédito para as empresas. Pressupõe-se que o estado natural da economia é a existência permanente e fácil de crédito. Ora, há momentos em que o crédito escasseia pelo simples facto de que a poupança tem que ser usada para tapar os buracos deixados após um período de euforia e de concessão de crédito sem poupança. Pressupõe ainda que num período de queda na procura uma empresa sobre-endividada precisa de mais crédito. Na verdade precisa de menos. Precisa de se reestruturar e de pagar dívidas. Estes queixumes de falta de crédito, muitas vezes feitos por lóbis à cata de crédito subsidiado, são mais a expressão de um desejo de regresso ao crédito fácil e uma demonstração de que determinados empresários não se querem adaptar à nova realidade.

19 comentários leave one →
  1. Ricardo Monteiro permalink
    26 Junho, 2012 08:36

    Conclusão: ninguém pode pedir empréstimos… a não ser os bancos, com aval do ESTADO.

    Gostar

  2. neotonto permalink
    26 Junho, 2012 08:53

    a não ser os bancos, com aval do ESTADO.

    E quando nao é o aval do Estado vao directamente ao BCE que lhe dao bom dinheirito emprestado ao 1% de interesse.
    Lonxe os tempos que os banqueiro erao judeus e faziam usura…
    Agora sao os tempos dos neox GOLD-men Sachs do diabo ou do apocalipse ou colapso financieiro.

    Gostar

  3. 26 Junho, 2012 09:06

    concordo a 100 %. e estou desejando que a não concessão de crédito se prolongue bastante para ver se os tótós desistem de vez de por a banca de sócio maioritário dos seus negócios levando a parte de leão sem fazer nadinha . a longo prazo quem se lixa é a banca , basta que a “ausência de crédito” dure o suficiente para que s percena que só faz falta quem cá está.

    Gostar

  4. Carlos Ferraz permalink
    26 Junho, 2012 09:11

    É parte da realidade. A outra parte envolve os bancos e o crowding out. Mais depressa os bancos emprestam ao Estado do que às empresas do sector produtivo da economia. Dinheiro emprestado aos bancos a preços de saldo pelo BCE e emprestado ao Estado a taxas de juro tanto mais altas quanto mais falido o Estado. Empréstimos que contêm uma garantia implícita de bailouts futuros.
    Que tal começar por reduzir a despesa pública, trocar o défice do orçamento por um superavit e baixar os impostos?
    Depois poderemos reconhecer alguma legitimidade à obsessão doentia que o João Miranda exibe contra o sector privado da economia.

    Gostar

  5. Carlos Duarte permalink
    26 Junho, 2012 09:23

    Caro João Miranda,
    Vc. tem o (mau) hábito de falar sobre o que não sabe e depois dá asneira…
    .
    A queixa de falta de crédito é perfeitamente legítima e ao contrário do que Vc. diz não tem nada a ver com reestruturações e as dívidas surgem EXACTAMENTE por falta desse mesmo crédito.
    .
    Uma empresa transformadora que trabalhe em volume (não estamos a falar de empresas especializadas) funciona normalmente por encomendas e contratos, ou seja, alguém bate-lhe à porta e diz que quer, por exemplo, 100 toneladas de um certo bem a serem entregues daqui a 90 dias (com penalizações em caso de incumprimento).
    .
    Na altura da negociação e se os tempos fossem “fáceis”, a empresa pediria 30, 40 ou mesmo 50% com a encomenda. Hoje em dia tem MUITA sorte se conseguir 10-15% e o normal é não conseguir nada! Ou seja, recebe com a entrega e aceitação da encomenda.
    .
    Mas, para produzir as referidas 100 toneladas de material, precisa de matéria prima e precisa de gastar electricidade, gás, água (utilities, portanto) e pagar ao pessoal.
    .
    Ora, a matéria prima, e nós sendo um país pequeno, é muitas vezes importada, sendo paga contra-entrega. E as utilities e os salários precisam de ser pagos no final do mês… O que implica que existe um diferecial de 60-90 dias entre os pagamentos da empresa e a altura do recebimento e é AQUI que entra o crédito!
    .
    Ou seja, a empresa vai ao banco e pede um empréstimo de curto prazo (ou acede a uma conta corrente caucionada) para garantir o pagamento da matéria-prima, utilities e custos de pessoal até à entrega da encomenda e recebimento.
    .
    Vc. vai-me dizer para a empresa ter fundo de maneio… Pois, isso é muito bonito mas com margens brutas de lucro inferiores a 10%, implica que a empresa precisa de ter, em fundo de maneio, 90% do que vai receber com a entrega do material…. Para uma encomenda de 1 milhão de euros, a empresa precisa de ter 900 mil euros disponíveis. Se o artigo for sazonal (ex. calçado, têxtil e alguns bens alimentares), existem simultaneidades e podem atingir 30% ou mais do volume de facturação.
    .
    Numa empresa que facture anualmente 10 milhões de euros, isso implica um fundo de maneio de 9 milhões de euros ou o equivalente a NOVE ANOS DE LUCRO BRUTO (ou cerca de 12 de lucro líquido), SEM pagamento de dividendos ou outro qualquer outro investimento ou gasto.
    .
    Ou seja, ao não ter acesso a crédito o que as empresas fazem normalmente é aceitar MENOS encomendas ou encomendas de clientes de menores dimensões a quem possam impor pagamentos iniciais maiores, bem como adquirir matéria prima com pagamentos deferidos (ou pura e simplesmente atrasar o pagamento).
    .
    Ao fim de algum tempo isto dá em prazos de pagamentos de 120 dias ou mais a fornecedores de princípio de linha, perda de competitividade (porque o mercado de exportação é complicado com pagamentos antes de entrega), redução de investimento e por aí fora… e acaba por reforçar ciclos recessivos POR FALTA DE LIQUIDEZ!

    Gostar

  6. JoaoMiranda permalink*
    26 Junho, 2012 09:53

    Caro Carlos Duarte,

    .
    O que me está a dizer é que há empresas cujo modelo de negócio depende do crédito. O que eu lhe estou a dizer é que o mundo mudou e que o crédito fácil acabou. São as empresas que dependem do crédito que se vão ter que adaptar ao mundo, porque o mundo não se vai adaptar a quem precisa de crédito. O fim do crédito fácil em 2008 tornou muitas empresas inviáveis precisamente porque deixou de ser possível trabalhar com tão pouco capital próprio. A solução é reduzir dimensão e o endividamento aumentando a proporção de capital próprio. O crédito é um factor como outro qualquer e quando encarece a empresa que depende dele tem que mudar.

    Gostar

  7. JoaoMiranda permalink*
    26 Junho, 2012 09:56

    Falta de liquidez é apenas um sinal de inviabilidade dos níveis de endividamento e produção actuais.

    Implosão do crédito implica uma desalavancagem geral da economia que implica que empresas que vendiam com base no crédito dos clientes tornam-se inviáveis se não tiverem folga na tesouraria. É o caso da situação descrita.

    Gostar

  8. pedro permalink
    26 Junho, 2012 10:05

    Dr joão miranda: O dr Passos ainda tem margem para arrepiar caminho, mas só podemos ajudá-lo, se o pressionarmos a fazer o que prometeu:corte nas ppp,corte nas fundações,corte na frota automóvel, corte nos institutos,corte no outsourcing às sociedades de advogados,corte naquela porcaria e inutilidade dos observatórios, etc. O prazo dele esgota-se ,se fizer novos cortes nos subsídios dos privados, sem realizar os cortes acima citados.Li os comentários no facebook ao post de passos coelho e a população explica lá o que tem de ser feito.Claro que os insultos eram dispensáveis ,mas Passos mostra coragem e enfrenta a revolta latente na sociedade.

    Gostar

  9. Carlos Duarte permalink
    26 Junho, 2012 10:10

    Caro João Miranda,
    .
    Desafio-o a pensar um bocado no “mundo real” em vez da teoria económica que, na maioria dos casos, pouco ou nada tem a ver com o que se passa na realidade.
    .
    Todas (ou quase todas) as empresas transformadoras recorrem a crédito, seja a curto prazo para satisfazer encomendas (que foi o que descrevi acima) ou médio-longo prazo para investimento ou criação de fundo de maneio. Se a empresa tiver dimensão o que faz é que lança obrigações no mercado e financia-se assim (ou aumenta o capital). Se a empresa for uma PME (como é o grosso das nossas), recorre à banca porque está em princípio vedada de lançar obrigações sem custos astronómicos e, em muitos casos, o aumento de capital não é saída para empresas de cariz familiar.
    .
    Existe uma terceira hipótese – que eu pessoalmente admiro – que é seguir o modelo germânico das Mittelstand e pensar num crescimento orgânico a 100, 200 ou 300 anos. Mas para isso já vamos tarde, especialmente quando as empresas familiares que existiam foram ao “charco” ou com o 25-A ou com as 2-3ªs gerações de donos.
    .
    O problema da alavancagem é FINANCEIRO e não tanto económico (o impacto económico foi o resultado de uma aldrabice – que não tem outro nome – financeira). Os bancos, que apareceram e existem para FACILITAR a movimentação de capital tornaram-se em casas de apostas que achavam que o dinheiro se criava a partir do nada. Os bancos (de retalho) não têm NADA que negociar em mercados de bens tangíveis ou derivados (sejam acções, futuros, obrigações ou outros), devendo limitar-se pura e simplesmente a recolher depósitos de um lado (e prestar serviços de compra, venda e custódia de títulos) e emprestar do outro… e aí sim, concordo consigo, com níveis de alavancagem reduzidos. O facto de um banco poder conceder um empréstimo a alguém e depois VENDER esse depósito em fatias a terceiros é de bradar aos céus!

    Gostar

  10. Carlos Duarte permalink
    26 Junho, 2012 10:11

    *empréstimo não depósito na penúltima linha, como é evidente.

    Gostar

  11. neotonto permalink
    26 Junho, 2012 10:12

    O que eu lhe estou a dizer é que o mundo mudou e que o crédito fácil acabou.

    Isto ja previa o mestre Hayedamus ou nao podia prever um futuro assim de original?.
    E os que desligaram o dólar com as reservas de ouro americanas lá pela década dos 70 também previam algo parescido?
    Mais sobretudo os que nao previam cepa da torta era…a entrada dos 1300 milhoes de chineses nos mercados. Seguro que pensavam que era o mesmo chinoca a moverse continuamente dacá para lá segundo as aplicaçoes das leises físicas quanticas do momento…

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_da_incerteza_de_Heisenberg

    Gostar

  12. Fincapé permalink
    26 Junho, 2012 10:18

    Não é “confortável”, mas sempre podem recorrer ao Estado!
    E quando não precisarem, já poderão criticar de novo o Estado… até precisarem de novo! E vai de roda! 😉
    http://m.tsf.pt/m/newsArticle?contentId=2630504&page=1

    Gostar

  13. António Joaquim permalink
    26 Junho, 2012 10:20

    O João Miranda é um revolucionário. Quer acabar com os bancos. Boa!

    Gostar

  14. 26 Junho, 2012 10:38

    “…determinados empresários não se querem adaptar à nova realidade.”
    .
    Nova realidade?!
    O quê, já acabou o keynesianismo, já acabou o cronny-capitalismo, já acabou o intervencionismo estatal?
    Já vivemos em liberalismo hayekiano, em pleno mercado livre?
    Que grande revolução!!!
    Não dei por nada.

    Gostar

  15. PMP permalink
    26 Junho, 2012 17:47

    O JM é um revolucionário !
    Quer acabar com o capitalismo !
    .
    Não existe capitalismo sem crédito em lado nenhum do mundo nem nunca existiu.
    .
    As restrições e preço do crédito em Portugal estão a destruir a economia privada e a aumentar o deficit publico.
    .
    Só o JM, o Passos e o Gaspar, que vivem num mundo de fantasia, ainda não perceberam.

    Gostar

  16. 26 Junho, 2012 18:53

    Também me parece que o JM quer acabar com o capitalismo…
    Em primeiro lugar, porque motivo é que o crédito há de ser “fácil”? Fácil é o que os bancos estão a obter para depois emprestarem ao Estado. Depois, porque é que o João Miranda fala na necessidade de adaptação ao mundo de hoje, sendo o priemiro que não se adapta. Se o fizesse, sabia que a crise não se limita a Portugal e que muitas empresas exportadoras, sólidas, estão a encontrar grandes dificuldades para cobrar em mercados até agora sólidos: Itália, França e Espanha (embora dê de barato que esta última sempre foi de risco). Que fazer? Reconverter, procurar novos mercados, adaptar linhas de produção, etc. Como? Convém que haja crédito para o arranque, mas é precisamente este que não há. Percebeu agora, João Miranda?

    Gostar

  17. JMLM permalink
    28 Junho, 2012 11:39

    Caro João Miranda, o comentário de Carlos Duarte é razão suficiente que confirma a sua falta de “habilidade mental” para comentar assuntos que não domina.
    Mas já alguma vez foi empresário, ou teve de tomar decisões como tal?
    Então o crédito não é essencial… Como é que se exporta?
    Parabéns para Carlos Duarte pelo comentário.
    VIVA PORTUGAL

    Gostar

  18. JMLM permalink
    29 Junho, 2012 09:36

    ” as empresas deviam simplesmente ajustar a sua situação orçamental à realidade em que vivem”
    Já agora aproveite e apresente um esquema, um manual de ajustamento e envie a todos os empresários.
    Mas o que é isso de ajustar…

    Gostar

Trackbacks

  1. Direito ao crédito? « O Insurgente

Indigne-se aqui.