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Justiça Territorial?!*

2 Fevereiro, 2013
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Em ano de eleições autárquicas e sentindo-se, já, um espírito de (pré)campanha, é normal que a bandeira da regionalização seja vigorosamente agitada junto das populações que, mais direta e agudamente, sentem os efeitos do centralismo. Não será, portanto, de estranhar que, subitamente, alguns atores políticos sigam, agora, com uma inesperada veemência (comparativamente com os respetivos percursos antecedentes), o guião da luta contra as injustiças geradas por um Estado macrocefalamente centralizador, como o nosso.

O Porto será – sobretudo após a entrada em cena de Menezes que sempre teve, convicta e estrategicamente, uma atitude política descentralizadora e anti centralista – o principal palco de repristinação do tema. Isso também explica as recentes posições que alguns tomaram (às vezes até um pouco aereamente) sobre os tristes casos do aeroporto, da “Praça da Alegria” e da Casa da Música. Casos que, bem vistas as coisas, já há muito se anteviam; são, infelizmente, pormenores e consequências (não causas) da dinâmica centrípeta em que o Estado se vai esclerosando, desde há décadas. Mas as motivações não serão, agora, relevantes. Não há, nesta causa, “cristãos-novos” a estigmatizar; todos são bem-vindos.

Paulo Rangel publicou, terça-feira (29.01.13), no Público, um excelente artigo cujo título, em parte, agora aproveitei. Rangel parte da verificação comprovada de que “a região norte é a região mais pobre de Portugal e uma das mais pobres da Europa”, para enunciar, uma a uma, as razões que impõem, no fundo, uma efetiva política de coesão (reequilíbrio) territorial. Não se esquece do paradoxo em que vários Governos têm incorrido, minando a respetiva credibilidade europeia e internacional. Com efeito, não se pode reclamar, em Bruxelas, mais solidariedade e dinheiro para debelar a falta de coesão interna e o subdesenvolvimento de algumas zonas do país e, ao mesmo tempo, “fomentar uma descarada concentração de recursos”, em Lisboa e Vale do Tejo. No entanto, apesar de excelente, o texto de Rangel, no fim, deixou-me um certo travo a queijo já requentado, sem marmelada. Falta qualquer coisa. Rangel não deu, no seu texto, o passo sequencialmente lógico e inevitável: a regionalização. Reclama, idilicamente, uma outra política (do Governo central) que, por exemplo, voluntariamente (presume-se) “incorpore uma visão quanto ao desenvolvimento regional e à coesão territorial”. Mas, aparentemente, sem exigir quem detenha efetivamente poder político, competência e atribuições próprias para tal. Ou seja, uma exigência historicamente reiterada e, também, por si só, reiteradamente inconsequente e reconfortante para os centralistas. É que o poder nunca se dá, alegre e voluntariamente!

* Grande Porto, ed. 01.02.13

9 comentários leave one →
  1. pedro permalink
    2 Fevereiro, 2013 10:29

    Mas descentralizar o quê? Um estado não viável ,as receitas não chegam para as despesas ,o défice é mais ou menos 10000milhões de euros,o que lógicamente, aumenta à dívida pública .Além desta ,temos de considerar a dívida das empresas(308mm) e dos particulares(170mm) ,a adição destas três parcelas, soma qualquer coisa como, 700 mil milhões. Um país falido com 10 milhões de habitantes ,menos que qualquer grande cidade ,tem três governos ,três parlamentos e ainda sonham com regiões ? O problema está ,tal como no tempo da queda da monarquia, na”corte “corrupta e num estado capturado pelo poder económico e com governantes medíocres e, ao nível do pior ,das claques dos clubes de futebol.Em breve, metade da população viverá com o R.S.I.!

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  2. piscoiso permalink
    2 Fevereiro, 2013 14:01

    Filipe Menezes não me repugna na Câmara do Porto. Mais Rio é que não.
    Já em Lisboa me repugna o tal Seara. Porquê?
    Não sei explicar. Basta-me olhar a cara dele e sinto repugnância.

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  3. Pedro C permalink
    2 Fevereiro, 2013 17:15

    Observem aqui onde está o garrote e deixem-se de discutir trocos…
    Este assunto foi (bem) tratado por dois desempoeirados conferencistas na Associação 25 de Abril.
    http://delagoabayword.wordpress.com/

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  4. 2 Fevereiro, 2013 20:49

    Será que os outros distritos do Norte querem a regionalização CENTRALIZADA no Porto ? Será que simplesmente querem a regionalização ?

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  5. JDGF permalink
    3 Fevereiro, 2013 00:41

    Quando falamos em ‘Estado mínimo’ não estará implicita a sua descentralização (administrativa – para não gerar confusões)?
    Porque razão não está esta medida inclusa no pacote dos 4.000 milhões?
    Será porque nalgumas coisas «reformamos’ muito e noutras caímos no ‘status quo’?
    Ou será imprescindível dizer que todo o tipo de reformas é ditado pelos mercados de pouco valendo concepções políticas como a descentralização, a regionalização, o municipalismo…

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  6. 3 Fevereiro, 2013 10:09

    JDGF,

    não, pelo contrário. Como explicou o próprio Rangel no artigo citado, o “Estado mínimo” implica uma centralziação máxima… Pelo menos, há a tendência para isso.

    A Regionalziação, como por definição se depreende, é o oposto a uma descentralziação centrada onde quer que seja, Caro MJRB. Ainda que não queiram (as restantes regiões), isso nada obstaria a que se experimentasse – como começou por ser proposto por este Governo – a “região piloto” (regiões piloto). E até antes do Norte (seguindo os mapas das CCDR’s), o própio Algarve.

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  7. 3 Fevereiro, 2013 13:28

    Caro PMF,
    Durante quanto tempo esse experimentalismo ?
    Que região ? Só o distrito do Porto ?
    Quem o suportaria (nessa fase) economica e financeiramente, porque incipiente e sem garantias duma continuidade sem retrocessos, indecisões, involuções ?
    Sei que há anos o Algarve posicionou-se como futura região “piloto”. E uns quantos algarvios reivindicam essa região administrativamente como “sua”. No entanto, não só destruiram parte substancial da “galinha dos ovos de ouro”, o turismo, a paisagem rural, algumas localidades, etc, mas também não consegue manter um fluxo de turistas durante a “época baixa”. Ou seja, durante décadas, o Algarve teve maus administradores e estrategas…que continuam nos lugares-chave, dos quais não abdicariam.

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  8. Maquiavel permalink
    3 Fevereiro, 2013 15:55

    1-Algum dos tiriricas que se enxameiam nos PSD ou nos PS PROPÔS o esclarecimento da lei que proíbe recandidaturas à Tirania Local ? Não. Depois espantam-se com os Tribunais…
    2-Um país pequeno só é eficiente com cerca de 18 câmaras (vá, …põe-se também Mirandela, Miranda do Douro, e Elvas) por serem tantos os distritos. Já não se anda a cavalo, nem a pé, e a lamechice das populações “perdidas” é treta.

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  9. 7 Fevereiro, 2013 14:33

    Seria igualmente óptimo que suas excelências não se esquecessem de que o Porto não é o Norte.
    O Porto é, sim, uma “parcela” da região Norte.
    Como que citando um compadre: “Há Norte para além do Porto”.

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