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Presente envenenado

5 Novembro, 2013

A armadilha da habitação social tema do meu artigo de hoje no DE: Em 2006, ou seja 33 anos depois de os primeiros moradores terem chegado ao Lagarteiro, um inquérito efectuado pela Junta de Freguesia de Campanhã mostrava como a geração dos filhos em nada beneficiara desse apoio dado aos pais: escolaridade, gravidez na adolescência, desemprego, famílias monoparentais são alguns dos indicadores que aprsentavam resultados piores no Lagarteiro do que na restante cidade do Porto. Apenas um dado era (ilusoriamente) melhor: a média das rendas mensais pagas no Lagarteiro era de 29,4 euros enquanto na cidade do Porto era de 94,5 euros. Ou seja 33 anos a pagar um valor muito mais baixo pela casa não ajudara a geração dos pais a ficar menos pobre e, mais grave, a geração dos filhos parece também ela condenada à pobreza.

Aquilo a que se chama habitação social tem funcionado frequentemente como uma espécie de fábrica de pobreza, exclusão e sobretudo de assistencialização de que o actual corte-reposição das ligações directas à rede da EDP é apenas mais um episódio. Na breve pesquisa que fiz para escrever este artigo deparei com um universo de associações e serviços cuja razão de ser radica precisamente na pobreza destes bairros a que agora, numa militarização da linguagem, chamam territórios. Por exemplo, basta ir ao portal do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana para descobrir uma comissão executiva (constituída por 7 entidades), mais uma comissão de acompanhamento (constituída por 25 entidades), mais um grupo de trabalho interministerial (com representantes de 8 ministérios) e uma equipa de projecto que monitorizam o Lagarteiro e outros “bairros críticos”.

28 comentários leave one →
  1. Monti permalink
    5 Novembro, 2013 08:29

    Grandes Planos…Grandes Projectos: especialidade tusa, aliás lusa.
    “O quinto império”
    Cada cinquenta anos, o país sonha ser a primeira sociedade liberal avançada do mundo. Cada cinquenta anos, o libertário volta à superfície. Procura-se então um banqueiro ou um professor de economia capaz de casar meio século de bordel com O Espírito das Leis (223)
    Sem endereços e todos com o mesmo nome, obedecendo a dois ou três pequenos princípios, entre os quais o de inventarem títulos… (302)
    Dominique de Roux (1977, Paris)
    Vale, que acaba de sair a Grande Reforma do Estado.

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  2. Tiro ao Alvo permalink
    5 Novembro, 2013 09:26

    Há cinco ou seis anos, em França, as “Câmaras Municipais” andavam empenhadas em demolir bairros sociais, distribuindo as famílias desalojadas pelas diversas povoações da zona. Ao que me disseram, as primeiras experiências tinham sido muito positivas, não obstante a solução não agradar aos residentes nas povoações, para onde essas gentes estavam a ser transferidas.
    Também é certo que há quem tenha interesse em manter esses bairros tal como estão – não era aí que se assavam porcos, para a compra de votos?
    Sei de famílias que são acompanhadas por várias dessas comissões, às vezes apenas por causa de um membro – compreende-se que, quem vive disso, não queira ver a situação alterada.
    Ainda temos um longo caminho a percorrer…

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  3. JDGF permalink
    5 Novembro, 2013 09:27

    O problema dos ‘ghetos sociais’ é crónico e assentou arraiais na sociedade portuguesa. É uma questão de desenvolvimento e de redistribuição da riqueza. Problemas que não foram – durante anos e anos – enfrentados e muito menos resolvidos.
    O acompanhamento destas situações – por mais vasto e multidisciplinar que seja – não chega.
    Aliás, quase em simultaneo com o epifenómeno da bairro do Lagarteiro tivemos conhecimento de um ‘guião’ que nada acrescenta à indigência (política, economica, cultural e moral) que se colou ao País como uma lapa.
    E finalmente temos um empecilho ‘energético’. O propalado ‘elevador social’ não funciona. Resta saber se foi porque lhe cortaram a luz ou não está preparado para ‘incluir’ mais gente. Um assunto a discutir no âmbito do plano em curso de empobrecimento generalizado do País cujos limites e objectivos não foram explicitados.
    Continuamos na mesma: Olhamos para a árvore próxima que esconde a floresta distante. Cada vez mais distante.

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    • a.l.sameiro permalink
      6 Novembro, 2013 14:35

      as”tres gargantas” acionistas da edp vão por a coisa no lugar

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  4. Gabriel Mithá Ribeiro permalink
    5 Novembro, 2013 09:54

    Cara Helena Matos
    Não sei quanto tempo mais vai ter de passar para se perceber que os maiores problemas da governação e da gestão da vida em comum estão muitíssimo mais dentro das universidades, em especial nas ciências sociais e humanidades, do que na classe política. É naquelas que esteve, está e estará a fonte das crises. Resvalamos para os piores vícios das repúblicas de filósofos sem darmos conta. É decisivo separar o campo político do campo académico e é sobretudo ao último que compete dar esse passo. Mas, por um lado, é bem mais fácil e popular culpar os políticos (os nossos universitários especializaram-se nisso) e, por outro lado, parte importante dos académicos não quer ou, pior, não sabe como é que isso se faz. Depois escondem a falta de qualidade daquilo que fazem com os cortes no financiamento ao ensino superior quando o problema é sobretudo um problema de conhecimento. Reflecte-se na assistência social, no ensino, na economia, nas políticas de habitação, na «cultura», etc. Os responsáveis pelo estado do saber nas universidades são os mesmos que correm para o espaço político para «ajudar a salvar o país» quando a maior ajuda para salvar o país é reformar a produção de saberes académicos. Caso contrário continuaremos agarrados a modelos de século XIX, no máximo dos máximos com prazos de validade caducados com o fim da guerra fria.
    Cumprimentos

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  5. Rui permalink
    5 Novembro, 2013 10:55

    Obviamente que pessoas de estrato sociais mais pobres terão sempre mais problemas e piores indicadores. Mas mesmo assim é melhor que morem em casas e bairros sociais do que em barracas como acontecia ainda não há muitos anos em Lisboa e no Porto. Já se esqueceu disso? Obviamente que não basta a uma família ter uma casa para poder sair da pobreza, agora dizer que os bairros sociais não fizeram nada por quem lá mora é de uma falta de sensatez…

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  6. gastão permalink
    5 Novembro, 2013 11:07

    estado social
    “Governo bate recorde em gastos com escritórios de advogados”
    http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=3513321&especial=Revistas%20de%20Imprensa&seccao=TV%20e%20MEDIA

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  7. tony permalink
    5 Novembro, 2013 11:22

    é a habitação social faz pobres uma nova métrica não os tira da rua ou debaixo da ponte ou da barraca que foi esse o objetivo, não fabrica pobres, pobres de espírito quem faz estas opiniões.

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  8. Renato permalink
    5 Novembro, 2013 11:47

    A propósito do título do post: http://www.youtube.com/watch?v=5YOnCK79cpw

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  9. JP Ribeiro permalink
    5 Novembro, 2013 13:04

    Perpetuar o estado de assistência é aquilo que garante milhares votos, porque para além de assegurar a dependência do politico filantropo, gera um ambiente de instabilidade propício à angariação de manifestantes disponíveis para tudo. E quanto piores as condições melhor.

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  10. Bruno L. permalink
    5 Novembro, 2013 13:53

    Os bairros sociais são uma praga que devia ser extinta. O dinheiro que o governo perde ao dar subsídios a essas pessoas e para que? Os filhos, os netos irão continuar na veia da marginalidade. Eu continuo a dizer, os parasitas sociais contribuíram e muito para o estado em que Portugal está, mas quem é o maior culpado são os políticos que alimentaram e continuam a alimentar o parasitismo social.

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  11. Fincapé permalink
    5 Novembro, 2013 14:27

    Sem tempo, neste momento, para ler o artigo da Helena, deixo-lhe apenas uma notícia que vale a pena ler sobre um dos seus “heróis”. A total e irreversível indigência política e o nível mais baixo a que se pode chegar estão aqui bem expressos.

    Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, discursa na recepção da Festa da Primavera 2021 oferecida pelo Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na RAEM.

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    • 5 Novembro, 2013 15:51

      Vícios do Partido Popular. Esse partido é conhecido por não se dar muito bem com horários. Mas um atraso destes, e sem explicações, de um membro do Governo, só tem de nos envergonhar.

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    • Portela Menos 1 permalink
      5 Novembro, 2013 16:15

      este tema do atraso de Portas vai seguir aqui no Blasf. o caminho conhecido: primeiro os comentários dos indignados; passado o ruído, vem helenafmatos arrasar os “indignados politicamente correctos”. Uma agenda que nem precisa de estar escondida.

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      • Aladdin Sane permalink
        5 Novembro, 2013 16:57

        Aqui o ruído não passa, permanece. Ou não se apercebe destas benditas caixas de comentários e de alguns posts?

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  12. Trinta e três permalink
    5 Novembro, 2013 14:41

    Tudo o que a Helena diz, já era conhecido. Mas nada do que diz justifica que se ignorem as dificuldades, reais, por que passam muitos daqueles moradores. Apenas justifica o que também já todos sabemos: é mais fácil fingir que se resolve um problema, do que resolvê-lo.

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  13. Surprese permalink
    5 Novembro, 2013 15:57

    Os bairros sociais são guetos para onde os políticos varrem os problemas da sociedade, para que os eleitores (classe média baixa que não vive nos bairros) se sintam melhor.

    É evidente que depois quem mora nesses bairros tem dificuldade em ser contratado para trabalhos de maior responsabilidade (o tal elevador social) tendo de comunicar à entidade patronal que mora no Lagarteiro, ou na Bela Vista.

    Em vez das câmaras serem donas dos bairros, era preferível subsidiar as rendas.

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  14. RCAS permalink
    5 Novembro, 2013 16:30

    “Presente envenenado”
    Bom tema. Comentários apenas 13 até este momento. Poucos mas bons!

    “Ou faz cair o governo ou se torna o bombo da festa”
    Tema mediocre. 31 comentários até este momento… enfim!

    Estes bairros de habitação social, transformaram-se em “ghetos sociais”, feitos sem rei nem roque, para onde se despejaram pessoas, deixando-as á sua sorte, sem planeamento, sem organização!
    Sem equipamentos sociais, sem parques infantis, sem acompanhamento social, sem acompanhamento dos jovens, degradação rápida, transformando-se em autênticos tugúrios, mal cheirosos, alguns parecendo mais pocilgas que outra coisa!
    Este País, não consegue sair da mentalidade do desenrascanço, do improviso, do chegando á altura logo se vê, mas somos imbativeis na diabolização, na maledicência,na choraminguice, na pobreza de espirito!
    Siga o baile!

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  15. 5 Novembro, 2013 18:13

    Excelente artigo Helena. Os meus parabéns!
    R.

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  16. lucklucky permalink
    5 Novembro, 2013 19:08

    Os “bairros sociais” tal como o famoso “estado social” existem para “criação de publicos”
    É uma plantação de votos para manter.

    Não existem para resolver pobreza alguma. Para isso era preciso destruir a cultura do bairro social. E tal coisa não agrada ao Regime Soci@lista que precisa da vitimização e dependência para existir.

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  17. André permalink
    5 Novembro, 2013 19:46

    Helena, isso responde-se com pouco texto: há 33 anos aquelas famílias viviam em barracas, agora pelo menos têm um teto que não mete água todos os invernos. Ainda falta fazer muito, falta, mas pelo menos algo já foi feito, e nem isso a Helena parece aceitar.

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  18. @!@ permalink
    5 Novembro, 2013 19:47

    Os “bairros sociais” são remeniscências das “ilhas”, “pátios” e “vilas”, que irão perdurar e substituídos por outras denominações.

    Click to access 1223049300Z1dLD4ro1Jn31VT6.pdf

    Click to access DPR462df3cd04e3f_1.PDF

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_d'Este

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  19. tony permalink
    6 Novembro, 2013 10:30

    e porque não a solução final gasear todos ficam sós os que tem dinheiro loiros e bonitos, fixe não, todos temos dentro de nós um Hitler, e esta em

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  20. 6 Novembro, 2013 23:43

    A Helena para perceber bem a
    situação, tinha que fazer a dita
    pesquisa no bairro do Lagarteiro.
    Olhando nos olhos os moradores,
    dizendo quem era e ó que ía. Só
    assim tinha matéria para em consiência opinar sobre o assunto.

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  21. 7 Novembro, 2013 13:58

    casa gratuita-estou de acordo
    saúde gratuita-estou de acordo
    educação gratuita-estou de acordo
    água gratuita-estou de acordo
    só quero fazer uma pergunta-que faz esta gente na puta da vida?

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  1. Da benesse de viver num bairro

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