liberdade académica
Em comentário ao meu post sobre a Universidade Católica, o Embaixador Francisco Seixas da Costa chamou-me a atenção para o facto de me ter esquecido de referir que ele dissera também, no mesmo post que comentei, que “a UCP é indiscutivelmente uma das melhores universidades portuguesas”. Fica aqui, então, o reparo pedido, embora o artigo do Embaixador estivesse devidamente linkado no meu post anterior, para que qualquer interessado o pudesse ler integralmente.
Não se tratou, todavia, exactamente de um esquecimento, mas apenas de realçar aquilo que, a meu ver, merecia destaque no texto de Seixas da Costa: a sua manifestação de estranheza, causada pelo facto de uma Universidade Católica (qualificação que lhe mereceu mesmo reservas, sob a forma de interrogação no próprio título do seu post) permitir que “muita da “produção” saída da sua linha de montagem académica, nas últimas décadas” promova “obsessivamente” um dito “liberalismo económico radical”, em detrimento do que o Embaixador parece entender que deveria ser a matriz ideológica da Universidade, a doutrina social da Igreja.
Ora, porque numa Universidade não se limita, por definição, nenhum tipo de conhecimento científico, menos ainda a sua “produção”, é que estranhei o teor do texto do Embaixador Seixas da Costa. O que seria verdadeiramente bizarro era que a UCP impedisse, limitasse, ou por qualquer forma controlasse, a produção intelectual e científica do seu Instituto de Estudos Políticos, que julgo ser o principal visado nesta polémica, ou de outra unidade orgânica qualquer, em nome de uma doutrina que, possa embora caracterizar parte do pensamento contemporâneo da organização sua instituidora, jamais deverá determinar a pesquisa e “produção” científica da Universidade instituída. A ideia de liberdade académica não se compatibiliza com filtros censórios de espécie alguma, e quando uma Universidade os põe em prática, ainda que em nome de princípios e valores, deixa de o ser.
Por fim, não pretendendo entrar no mérito científico dessa tal “produção” académica eivada de “liberalismo económico radical”, que o Embaixador Seixas da Costa critica e parece considerar fora da tradição cultural da Igreja Católica, aproveitaria apenas para acrescentar que, se calhar, as suas raízes não estão assim tão distantes dessa herança. Refiro, a propósito, as obras dos principais autores da Segunda Escolástica, Molina, Suarez, Vitoria e Mariana, entre outros, que foram professores em Salamanca, Coimbra e até em Évora, Universidades onde ensinaram algumas coisas que não andariam muito longe desse tal “liberalismo económico radical” dos nossos dias. O mais “radical” de todos, sem dúvida Juan de Mariana, chegou até a estar preso, aos 73 anos, por ordem de Filipe III, graças às fortes críticas que fez à quebra da moeda determinada pelo seu rei e às consequências inflacionistas dessa política.
Não é, contudo, é neste ambiente intelectualmente persecutório de “liberais economicamente radicais”, ainda que sem pôr ninguém a ferros, que deve viver uma Universidade nos nossos dias. Pois não, caro Embaixador Seixas da Costa?

que outras teorias económicas a UCP tão afincadamente promove?
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O LIBERALISMO AO ATAQUE…
Conselho da Europa alerta que as medidas de austeridade estão a enfraquecer os direitos humanos, porque os governos “esquecem” as suas obrigações nesta área e os credores não contemplam os direitos humanos nos programas de assistência.
“Muitos governos na Europa que impõem medidas de austeridade esqueceram as suas obrigações em matéria de direitos humanos, especialmente os direitos sociais e económicos dos mais vulneráveis, a necessidade de garantir o acesso à justiça e o direito a tratamento igual”, afirmou o comissário do Conselho da Europa para os Direitos Humanos ao apresentar um estudo sobre o impacto da crise
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Caro Rui A. – muito obrigado pelo “fairplay” com que encarou a minha observação. Longe de mim a ideia de querer condicionar, seja por que forma for, a liberdade de pensamento da UCP. Tenho, aliás, pelo IEP e pelo seu diretor, o meu amigo João Carlos Espada, uma grande consideração. Colaborei já com o IEP no passado, mas isso não me impede de ecoar a opinião – que não é só minha, como saberá – de que há uma forte incoerência teórica no domínio que referi, razão pela qual tenho uma certa curiosidade (se calhar, para sempre insatisfeita) em conhecer a respetiva reflexão sobre os pronunciamentos do papa Francisco. Mas, nisto como em tudo, do contraditório nasce a luz.
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Eu é que lhe agradeço a disponibilidade para comentar aqui, no Blasfémias, este assunto, caro Embaixador Francisco Seixas da Costa, sendo certo que em algum momento admiti que a sua opinião envolvesse qualquer juízo censório sobre a actividade académica do Instituto de Estudos Políticos da UCP. Apenas me pareceu um pouco exagerada a opinião de que o resultado desse trabalho académico representasse uma corrente dominante nessa Universidade, ou, menos ainda, que ele condicionasse a natureza institucional da Universidade onde, de resto, colaboram professores que maioritariamente não se identificam com as ideias dominantes naquele Instituto. De resto, num panorama universitário nacional onde decididamente estas ideias não têm praticamente acolhimento, como bem sabe, sequer costumam ser ensinadas nos próprios cursos de Economia e de Ciência Política, não deixa de ser simpático que haja, numa Universidade de sucesso, quem as trabalhe honestamente.
Cumprimentos cordiais,
Rui Albuquerque
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Os economistas da UCP, tal como grande parte das nossas elites não conseguem fugir ao tipo de linguagem estilo pavões vaidosos, com que nos mimoseiam com os seus discursos redondos e complicados, que a grande maioria das pessoas não entende! falam então para quem? exemplos:
é vê-los em debates não a falar de economia, mas sim de economês!
Não dizem – incumprimento
Dizem – default
Não dizem – Despejar dinheiro sobre a economia
Dizem – QE ( Quantitative Easing)
Não dizem – Os bancos pegam num conjunto de dividas crédito ,para casa, carro, cartões de crédito, formam com elas um bolo, dividem-nos em pedaços, metem-nos em caixinhas todas bonitas e pedem a chancela das agências de Ratting: AAA o que significa óptimo produto!
Dizem – CDO (Collaterized Debit Obligations)
A UCP – é um ninho da economia ultra liberal tipo Tea Party Portuga!
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Vamo-nos posicionar neste assunto, contando com a opinião avalizada e independente do Sr Embaixador Francisco Seixas da Costa
O Sr Embaixador diz que a Universidade Católica é uma das melhores universidades portuguesas. Acrescenta para não colocarmos “em causa a qualidade intelectual desses quadros, gente tecnicamente muito bem preparada “, que e acrescento eu, explica o sucesso da Universidade.
Sobre isto nada a dizer.
Quanto ao Neo-Liberalismo na UC, o Sr Embaixador diz o seguinte : “Mas esse fascínio cego e absoluto pelas virtudes da “mão invisível”, parece ter-se convertido na doutrina oficiosa da casa (e leiam-se os textos que ela produz para não se ter, sobre isto, a menor dúvida)”
Perante este cenário, de doutrina única numa instituição universitária, (por acaso oposta à doutrina oficial católica), que diz o sr Rui A ?
Fala de Liberdade Académica, para continuar esse monopólio neo-liberal.
E vai mais longe, afirmando que “A ideia de liberdade académica não se compatibiliza com filtros censórios de espécie alguma “ . Isto para defender o Neo-Liberalismo como ideologia única na Universidade Católica.
Mas não será que a verdadeira “censura”, é a exercida sobre outras doutrinas económicas ? Parece que sim.
Será que os alunos, não merecem a tal “liberdade de escolha”, e estudar outras doutrinas económicas ? Concerteza que sim. Ou ficam presos a um pensamento único.
Será que a verdadeira Liberdade Académica, não é estudar todas as doutrinas económicas ? Evidente que sim.
Pena , e muito prejudicial para muitas pessoas, não existir nada disto na Universidade Católica.
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o Papa Francisco não tem razão quando critica o capitalismo. Ele devia pensar nos milhões de pobres que graças ao capitalismo ascenderam à classe média ( China e India por exemplo ) e rezar sim pelos pobres do comunismo ( Cuba, Koreia Norte, Venezuela, Bolivia etc ). O facto de ser Papa não significa que seja infalivel nas análises económicas.
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E os inúmeros ricos argentinos, que graças ao socialismo Kirchner, desceram à classe baixa.
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Na China, a tal ascensão da Classe Média tem sido conseguida através da Imposição de um Salário Mínimo cada vez mais alto. Esse tem sido o “segredo”.
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Cidade do Vaticano, 30 nov 2013 (Ecclesia) – O Papa recebeu hoje no Vaticano peregrinação de cerca de 300 católicos da Síria, perante os quais reforçou o seu pedido de uma solução justa para a guerra no país.(…)O Papa repetiu que “não se resigna a pensar num Médio Oriente sem a presença de cristãos”(…)”
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“(…)D. Antoine Audo, bispo de Alepo e presidente da Cáritas Síria, disse à Rádio Vaticano que as religiosas sequestradas, a superiora e quatro irmãs, foram levadas para Yabroud, uma cidade próxima, mas que ainda não há notícias delas.(…)D. Antoine Audo fala num ataque sem precedentes a um “lugar sagrado” do Cristianismo e deixa votos de que as religiosas possam “ser libertadas quanto antes”.(…)”
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“Cidade do Vaticano, 04 dez 2013 (Ecclesia) – O Papa Francisco apelou hoje à libertação de cinco religiosas sequestradas esta segunda-feira na Síria, na localidade cristã de Maaloula, próxima da capital Damasco.(…)
“Desejo convidar todos a rezar pelas monjas do mosteiro greco-ortodoxo de Santa Tecla, em Malula, Síria, que há dois dias foram levadas à força por homens armados”, disse, no final da audiência pública semanal que decorreu na Praça de São Pedro.(…)”
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BEIRUT – (…) Alain Aoun said that the kidnapping of nuns in the Syrian Christian town of Maalula is proof of how dangerous extremist rebel groups are.
“There is a threat on our future, our existence, all which we believe in and what the East and Lebanon [in particular] were built upon,” Aoun said following his bloc’s weekly meeting.
“We have always [warned] that the threat of extremist Takfiri thinking is… real.”- General Cristão Libanês
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Universidade é um lugar de exposição de contradições…
Se é para decretar proibições e caminhos então chamem o Tribunal Constitucional.
Mudando de assunto: os artificies do Real (moeda brasileira) tambem saíram duma Universidade Católica, a PUC – RJ dirigida pelos jesuítas
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A UNIVERSIDADE (o ensino) é um fruto da IGREJA CATÓLICA (de Jesus Cristo). Podem esquecer isso, apagar dos livros, mas não apagam da história.
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Não pude disponibilizar ontem a atenção que este assunto (e esta saudável polémica) merecia.
Já hoje li alguns dos textos oferecidos pelos links, bem como vários comentários neles colocados, e gostei muito.
Reforcei a ideia de que rui a. escreve dos mais interessantes e mais razoáveis textos na área do pensamento económico (e social) liberal. Escrevo isto, acrescentando que não me aproximei (com a “desimportância” que tenho) daquela “doutrina”. Acho mesmo que o pensamento de rui a. assenta numa fortíssima crença nas capacidades individuais, capazes de resolver, pela associação voluntária entre os indivíduos e pela autorregulação, todos os problemas da humanidade, o que é segundo a segundo desmentido pela realidade. As notícias de hoje sobre os cartéis de super-instituições bancárias são mais uma, mas acredito que até ao fim do dia tenhamos mais provas de que são necessários Estados fortes e interventores.
http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2013/12/04/bancos-multados-em-17-mil-milhoes-de-euros-por-concertacao-do-valor-das-taxas
Mas gostaria de salientar também o excelente texto do embaixador Seixas da Costa, de cujas ideias me senti muito próximo. Além disso, fiquei a conhecer o blogue que, certamente, passarei a visitar com a regularidade possível.
Quanto à Universidade Católica, acredito que seja uma das melhores, dentro daquilo que são os seus objetivos e a perspetiva dos setores económicos que lhe dão esse honroso lugar. Não interessará muito aos avaliadores saber por onde labutam as “formiguinhas” que lá fizeram os seus estudos, que tipo de sociedade andam a tentar construir, que palavras suas não coincidem com a doutrina social da igreja. Interessará, sim, saber em que princípios ideológicos assentam as suas bases. Sabido isto, pode concluir-se que os seus pupilos tenderão a seguir os passos dos mestres. Haverá “ovelhas” tresmalhadas, mas isso faz parte dos riscos de qualquer pastor.
O Rui diz que “A ideia de liberdade académica não se compatibiliza com filtros censórios de espécie alguma, e quando uma Universidade os põe em prática, ainda que em nome de princípios e valores, deixa de o ser.” Sendo um pensamento que partilho, acho-o contudo, mais uma vez, um excesso de confiança na natureza humana e nas instituições que, voluntariamente, cria.
Por mim, as universidades não deveriam ser católicas, nem evangélicas, nem ateias. Deveriam tornar universais os conhecimentos e contribuir para a investigação e o desenvolvimento. De resto, algumas (poucas) pessoas da elite política (e não só) que sei que se formaram na UC ou que lá lecionam não mostram qualquer superioridade ética ou outra qualquer. Provavelmente, vítimas da sua própria natureza. Não sei.
Por isso, considero importante o que fazem as tais “formiguinhas” para ver se andam a fazer o trabalho dos “rapazes de Chicago” ou a tratar de melhorar o mundo. E isto não conta nada para a avaliação das universidades.
Cumprimentos ao Rui Albuquerque e ao embaixador Seixas da Costa
JR
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É sempre um prazer ler os seus comentários meu caro Fincapé, este então!…
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Caro RCAS, vou tentando ler os comentários que o tempo permite. E também leio os seus com gosto.
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Obrigado, meu caro Fincapé! Os seus comentários e críticas são sempre um alento para continuar a escrever. Todavia, não é por “um excesso de confiança na natureza humana e nas instituições” que sou liberal. É exactamente pelo contrário que tenho a maior reserva em relação à mais poderosa instituição humana de todas: o governo.
Abraço e vamos falando
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Pelos vistos, erradamente, mas interpretei assim, caro Rui. E as minhas interpretações valem o que valem.
No entanto, os governos em democracia têm contrapoderes, órgãos fiscalizadores e controlo, a dependência de outros órgãos de soberania e o escrutínio eleitoral que atenuam os seus poderes. O que não acontece às todas poderosas pessoas e empresas. É por isso que defendo governos suficientemente fortes.
De resto, eu é que tenho de agradecer a sua atenção e o seu comentário.
Abraço.
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“Excesso de confiança na natureza humana”? Mas o oposto disto não nos faria cair num “despotismo iluminado”?
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Não, caro Hawk. As instituições democráticas, permitindo as liberdades individuais, criam mecanismos de fiscalização e controlo.
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Excelente texto Rui. Mais uma vez.
Convinha afastar o órgão que o marquês de Pombal colocou propositadamente em frente, para chegarmos aos livros de Francisco Suárez e lermos onde começa o fim do absolutismo régio: grande parte em Évora e Coimbra.
Convinha perceber porque é que isto é tão ignorado: grande parte da resposta está na nossa história do séc. passado.
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Uma questão final alicerçada num «pois não»…
O nível vai estratosférico…
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