Disciplina de voto é consequência da lei eleitoral
18 Janeiro, 2014
No dia em que Sócrates levou o 4º PEC a votação, era suposto todos os deputados socialistas votarem em conformidade? Era.
No sistema eleitoral, com listas de deputados elaboradas pelas direcções partidárias, a disciplina de voto é um mal necessário. A fidelidade dos deputados é naturalmente dirigida para quem os colocou na lista, não necessariamente para os eleitores que (normalmente sem saberem) os elegem.
Só através da escolha popular de deputados a serem incluídos nas listas poderá ser exigido que a sua representatividade seja reflexo dos eleitores que efectivamente os escolhem.
20 comentários
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Justamente, porque o sistema é por listas que a disciplina de voto é desnecessária.
Como é o líder do partido que escolhe os deputados logicamente ele vai escolher pessoas em quem tem confiança, que pensam mais ou menos como ele, que agem mais ou menos como ele. Ora para quem impor uma disciplina de voto, se é quase certo que os deputados vão votar em conformidade com o líder ?
As razões são, penso, óbvias mas em teoria se há sistema que menos necessita disciplina de voto é o das listas (isto não é uma defensa do sistema actual, ou do sistema de listas).
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Se a hierarquia partidária fosse líder->outros. A coisa é bem mais complexa que isso.
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Pois é, mas se nos limitarmos a uma analise “superficial” do sistema chegamos a esse tipo de conclusões.
Isso também mostra que quanto mais um sistema for opressivo, menos os líderes têm de facto poder. Um líder a sério não precisa de impor disciplina de voto mesmo quando os deputados que escolheu o foram na prática por outras figuras nas sombras.
Isto lembra-me um artigo saído à pouco no sítio liberal francês Contrepoints a propósito de Kim Jong-un, e de maneira geral sobre as elites do comunismo, e foram feitas umas preguntas interessantes:
Porque razão ele teve de ir em secreto para a Suiça quando era mais novo? E porquê que a sua filha mais nova também está a ir para lá também?
Deixo-lhe adivinhar a resposta.
Nota: mesmo para os membros do Comité, o comunismo é uma merda.
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Whip. O mundo não é a preto e preto.
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A grande pantominice da nossa democracia é que o Parlamento está preenchido por representantes de grupos de interesses, que estão encapotados pelos partidos políticos, e não por representantes do povo. Só com listas uninominais se pode assacar responsabilidades aos deputados, porque, a maior parte deles, carreiristas sem eira nem beira, precisam do lugar na bancada para viver. Se não votarem como o partido quer, na próxima vez não vão nas listas e acaba-se a mama. O resultado de toda esta manigância está à vista.
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Ficamos sem perceber se está a ser posta em causa a representatividade popular do Parlamento ou se, de facto, foi substituída pelo mecanismo (‘carreirismo’/’carneirismo’) partidário.
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É mais ou menos isso, vitorcunha. Só mais ou menos. Nas chamadas questões de consciência, não me recordo de tal ter sido usado. Mas, curioso é ir às origens da coisa e recordarmo- nos das críticas que foram dirigidas aos comunistas por aceitarem os princípios do “centralismo democrático” (leninista e não estalinista) que mais não era do que a defesa da opinião única para o exterior, após uma decisão ter sido tomada internamente. De facto, a atual geração de políticos profissionais é, sobretudo, muito ignorante.
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Disciplina de voto em matérias de consciência é uma originalidade de estética duvidosa…
Mas do VC já se espera tudo…
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“Matérias de consciência”, por oposição a matérias de inconsciência.
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Ha’ algum registo de a marcianada e outros extra-terrestres terem alguma vez votado contra a “disciplina de voto”?
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Disciplina de voto é só para questões de inconsciência.
http://www.dn.pt/politica/interior.aspx?content_id=2391336
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Entende-se o desconforto da falta de memoria deles. Devem ser efeitos da atmosfera terrena….. rsrsrsrsrs
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Captado no DN on-line, autoria de comentador identificado como A raiz da partidocracia:
1ª Parte
-1) Desde a instauração da “democracia”, a qualidade dos partidos em Portugal tem caído constantemente, estando hoje ao nível do lixo. Os portugueses não têm controlo sobre os seus políticos. A “casa da democracia” é na realidade a casa da partidocracia. O chamado “julgamento nas urnas” é um logro, pois os candidatos das listas perdedoras têm garantia prévia de que se mantêm no parlamento, duma maneira que não tem relação com a vontade dos eleitores. Na verdade, os eleitores nem sequer têm oportunidade de se pronunciar sobre os candidatos. Podem ser agentes secretos, maçons ou outra coisa qualquer, não interessa: a ida para o parlamento não depende do seu voto. A causa profunda do problema é a ausência do voto nominal no sistema eleitoral.
2) Os portugueses têm menos direitos democráticos que os outros europeus. As chefias partidárias fazem listas cuja ordem é essencial, mas é imposta. As listas não figuram no boletim de voto e é impossível votar num membro da lista sem os anteriores terem sido já “eleitos”. Surgem os “lugares elegíveis”, que dão aos candidatos dos maiores partidos a GARANTIA de que vão ser deputados, independentemente dos votos. Em cada eleição, o cenário é sempre o mesmo: semanas antes de ser deitado o primeiro voto, parte do elenco parlamentar já está decidido. Como não existe uma relação entre o voto e a atribuição dum lugar de deputado, os deputados NÃO representam os eleitores. Seguramente representam alguém, mas não é quem vota.
3) As consequências deste sistema são muitas e graves
(A) Os barões dos principais partidos vivem na impunidade. Sabem que não podem ser desalojados do parlamento pela via dos votos. Mesmo com baixas intenções de voto, têm muitos “lugares elegíveis” para onde se refugiar. Isto influencia o seu comportamento de maneira decisiva.
(B) Corrupção: os lóbis contornam o eleitorado e agem diretamente sobre os oligarcas do parlamento para fazer valer os seus interesses. Na prática, são os lóbis que têm representação no parlamento, não os eleitores.
(C) Cria-se um “fosso” entre cidadãos e políticos e um (forte e crescente) sentimento de desprezo e ressentimento dos cidadãos para com os políticos portugueses.
(D) A ausência de voto nominal bloqueia a renovação interna dos partidos. 4) 4)
4) “Renovação” é uns serem substituídos por outros. É o papel do eleitorado dizer quem vai e quem fica. A maneira natural e democrática de conduzir a renovação é os novos políticos que têm mais votos ascenderem gradualmente às chefias dos partidos. Porém, como o sistema eleitoral impede os eleitores de expressar preferências dentro duma lista, o sistema está na realidade a impedir o eleitorado de exercer o seu papel na renovação partidária. Atualmente, as chefias partidárias eternizam-se e só os que têm o seu beneplácito sobem nas estruturas partidárias.
ripostar
De Marão a 4 de Novembro de 2012 às 11:25
Captado no DN:
2ª Parte
5) Não é por acaso que os políticos nunca falam do sistema eleitoral. Livres do escrutínio democrático, os partidos foram todos tomados por oligarquias que detém o monopólio do poder político. Com o passar das décadas, essas oligarquias partidárias capturaram não só o sistema político como o próprio regime e as instituições do Estado. A maioria dos problemas de demagogia, corrupção e desgoverno vêm daí, direta ou indiretamente . A imunidade da classe política permite também explicar porque razão a denúncia de situações ou atos escandalosos é geralmente recebida pelos seus causadores com indiferença. Desde que mantenham uma boa posição no partido, o pior que lhes pode acontecer é passarem os anos seguintes no parlamento.
6) Se analisarmos como as votações funcionam, percebemos que é injusta a ideia de que os políticos são maus porque os eleitores são maus, ou maus a escolher. Os eleitores até são bastante exigentes: o problema é que não dispõe dos meios para impor os seus padrões de exigência na seleção dos políticos. A maioria das opções democráticas são-lhes negadas pelo sistema eleitoral. Não podem dar força eleitoral a quem o merece, o voto branco não é tido em conta na atribuição dos lugares de deputado, não têm o direito de iniciativa legislativa, os referendos estão limitados nas matérias sobre que podem incidir, o parlamento pode bloquear uma iniciativa referendária, os ministros não têm de ser deputados, etc , etc .
7) Não é possível desbloquear a partidocracia portuguesa sem mudar o sistema eleitoral. Felizmente há uma maneira simples e que não altera o equilíbrio entre os partidos e sem círculos uninominais. É manter o atual sistema, mas dando aos eleitores a possibilidade de ordenar as listas através dum voto preferencial. As listas são incluídas no boletim de voto e os eleitores votam num candidato duma lista. Esse voto conta também como um voto na lista, de modo que o método de D’Hondt continua a poder ser usado exatamente como agora. O que muda é ordem de atribuição dos lugares de deputado, que passa a ser em função de quem recebeu mais votos. Nenhum candidato tem garantia prévia de ser eleito: passa a haver escrutínio.
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Concordo que há situações em que terá de haver disciplina de voto. Não faz qualquer sentido um partido ter deputados que depois votem contra o programa que os elegeram ou mesmo mesmo contra princípios e compromissos assumidos genericamente aceites dentro do partido. Este assunto deveria ser claro dentro dos partidos.
No entanto, surge aqui uma questão muito pertinente: todos os deputados do PSD e do PP estão em constante dissonância com o programa, princípios e compromissos dos partidos pelo qual foram eleitos.
Daqui a dúvida: todos aqueles deputados devem ser expulsos ou devem ser extintos aqueles dois partidos? 😉
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Porque não referendar o MoU,que é de onde vêm as medidas que este governo está a tomare? Porque não expulsar a troika e sairmos do euro?
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Ahhh VALENTE!!!!
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A solução, sem duvida, tem de passar pelas nossas mãos, dos cidadãos ou povo. Um povo civilizado ou desenvolvido (havemos de lá chegar), exige e sabe representar-se no poder. Do grego: dēmokratía ou “governo do povo”, foi cunhado a partir de “demos” ou “povo” e “kratos” ou “poder”. Democracia, portanto.
Não podemos ser inocentes e querer que sejam os infractores de sucesso a querer a sua própria regeneração e, deste modo, o seu fracasso. Em democracia, não temos outro remédio senão participar (eleições, manifs, associações civis, etc), senão não estamos a construir o sistema democrático.
A espera, abstenção, cartas brancas, as rezas e a suplica por mudanças só beneficia os infractores de sucesso e motiva novos oportunistas cada vez piores (ou melhores).
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No sistema que temos a disciplina partidária faz sentido. É suposto termos uma “democracia dupla”. Cada Partido é mandatado pelo eleitor para resolver cada questão na certeza que cada uma delas é discutida no interior do “representante” (que é o Partido e não esta ou aquela pessoa) e que depois de discutido e votado no interior deste haja disciplina de voto. A opção a votar é aquela que for maioritária no interior do Partido e é só uma. Neste sistema eleitoral não se vê como pode ser de outra maneira e não é uma questão de fidelidade maior ao Partido ou ao eleitorado. Os eleitores votam em Partidos e é no interior destes que cada opção é tomada. Não é bom nem mau é democracia partidária-representativa
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De acordo. É como é. O meu ponto é que o “estou desiludido com o meu deputado” não faz grande sentido se votei num partido. Do texto até parece que se se escolhessem deputados seria melhor automaticamente, o que não é necessariamente o caso, pelo menos por este motivo.
A disciplina de voto é algo que não torna parlamentos como o britânico menos democráticos, como é óbvio.
A democracia-madura de que falam é deixar de fingir que não se compreende isto.
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Tal e qual. O que me parece muitas vezes é que o sistema é democraticamente irrepreensível. O que existe é um eleitorado muito pouco democrata. Com ênfase nos “democratas” que ainda são piores que o resto.
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