E amanhã, os “Capitães de Abril” no seu revolucionário discurso, vão propor que os terroristas, que perpetraram o 11 de Setembro, sejam considerados “Heróis da Humanidade”, uma vez que, foi pela sua ação, que uma das maiores conquistas civilizacionais – a mobilidade aérea, que aproxima povos, culturas, países e continentes – tenha sido preservada, pelo aumento das medidas de prevenção de segurança então implementadas, que a todos nos garante, uma relativamente alta utilização em segurança desse meio de transporte, que nos deu a LIBERDADE de viajar e DEMOCRATIZOU o turismo.
Sim, só os Capitães de Abril têm a estaleca moral para tal proposta, pois se eles percebem e aceitam como se transformaram em heróis pelo fim de um regime e de uma guerra colonial, que eles afinal queriam perpetuar com mais direitos assegurados para si, quando decidiram fazer o tal pronunciamento militar que hoje fará 40 anos, do qual perderam o controle da causa, mas não perderam a “pose” para serem os heróis improváveis, que ainda hoje pretendem que veneremos.
Por isso, porque não também os “outros”, tão injustamente apodados de “terroristas fundamentalistas”?
«Este livro [Minhas Memórias de Salazar] nasceu da revolta que me causou a revoada de infâmias disparada em Portugal e no estrangeiro acerca de Salazar após a revolução de 25 de Abril de 1974.
Não houve jornalista da esquerda (e os que o não eram calaram-se…) que não aproveitasse para denegrir Salazar falando sem conhecimento de causa mas repetindo invariavelmente os lugares-comuns postos a correr sobre ele na base da falsidade e da calúnia. O homem barrara durante quarenta anos o avanço do comunismo, não se conformara com abandonar as províncias do Ultramar português ao primeiro empurrão dos que as queriam transformar (como depois sucedeu) em trampolins de assalto ao chamado “Mundo ocidental”, persistitu em sobrepor os interesses reais do povo que governava ao culto das abstracções ideológicas que vão infelicitando a Humanidade… Daí as iras, os ódios, os histerismos, as perfídias, os insultos que a sua figura e a sua acção provocaram em certos meios cada vez mais preponderantes na opinião que se publica.
Na crise de carácter em que soçobrou a sociedade portuguesa após o 25 de Abril de 1974 viu-se um espectáculo que, embora falho de ineditismo na História, não deixou de ser espantoso. Amigos da véspera apressaram-se a negar relações com os vencidos explicando a gaguejar que os contactos havidos tinham ocorrido mau grado deles, sem simpatia pelos chefes nem adesão às suas ideias. Discípulos fidelíssimos de outrora recusaram com vigor quaisquer vinculações aos que diziam antes serem seus mestres. Pessoas favorecidas por Salazar (que as houve e em grande número) clamaram contra a memória do benfeitor, declarando que tinha menosprezado méritos e serviços concedendo-lhes menos do que pretendiam, vítimas assim de tratamento injusto… Ninguém se atreveu – no ambiente das “mais amplas liberdades” em que toda a tolerância pelas ideias contrárias desapareceu – a arriscar uma palavra de tímida justiça no meio da torrente de odiosas mentiras jorrada sobre a memória do grande homem. Até para criticar os desmandos do presente era preciso começar por injuriar o passado. E ao verem o leão, não já moribundo, mas morto e bem morto, acorreram de toda a parte asnos, alguns que dantes orneavam de gozo ao receberem um complacente olhar dele, para despedirem seu par de coices bem puxado no inerte cadáver abandonado.
Fui amigo de Salazar e seu colaborador durante muitos anos. Num convívio tão demorado, com períodos de estreita colaboração, tivemos por vezes naturalíssimas divergências que não oculto, mas que por ele foram sempre aceites com tolerância e que mesmo quando o meu feitio assomadiço dos tempos da juventude lhe davam feição conflituosa nunca o levaram a atitudes radicais. O exemplo das nossas relações parece-me bem demonstrativo da personalidade de Salazar e por isso julgo útil dá-lo a conhecer sem ocultar aspectos que numa apologia talvez devessem ser silenciados. Porque o meu intento é revelar o homem tal como foi ou eu o vi e que, como todas as fraquezas inerentes à condição humana, é muito melhor do que surge na imagem deformada pelo ódio vesgo dos inimigos ou que a falta de informação das novas gerações e dos estrangeiros construiu sobre os lugares-comuns de uma campanha adversa.
Procuro também mostrar o estadista no seu tempo, inserido nas circunstâncias históricas a que teve de fazer face e rodeado pelos homens que com ele colaboraram e que seguiram, melhor ou pior, o seu pensamento e a sua acção ou para qualquer destas contribuíram.
Oliveira Salazar e Óscar Carmona
Nesse pensamento e nessa acção houve traços essenciais de doutrina e posições condicionadas pelas conjunturas em que tinham de se definir. Estas têm de ser avaliadas historicamente em função dos acontecimentos e oportunidades em que foram adoptadas. Mas aquilo a que chamei “pensamento essencial” constitui matéria de Filosofia Política e a sua validade não depende do tempo nem dos lugares. Os homens de hoje fariam bem em meditá-lo.
Porque começa a ser tempo de conhecer e de tentar compreender Salazar e a sua época antes de julgá-los. Por esse mundo criou-se a lenda do “ditador Salazar”. E ao acoimar-se o governante português de ditador, logo aos olhos de muita gente com o cérebro lavado por uma propaganda insistente surge a imagem do tirano, indiferente às leis, absorvente de todos os poderes, espezinhador de todos os direitos, dispondo com arbítrio e arrogância de tudo e de todos numa constante afirmação de posso, quero e mando.
Assim se criou ao seu governo a reputação de um regime sinistro, sufocando o País onde as pessoas viviam oprimidas nos seus anseios, vigiadas nos seus passos, ameaçadas nos seus actos, amordaçadas na expressão dos seus sentimentos e opiniões, sujeitas a prisão por dá cá aquela palha com o risco de serem torturadas por uma polícia cruel.
Como era diferente a realidade! Poucos períodos da histórica política portuguesa decorreram sob tão grande preocupação da legalidade por parte dos governantes como os da vigência da Constituição de 1933. A experiência anterior demonstrara a tendência dos portugueses para confundirem liberdade com anarquia e a facilidade com que a vontade da maioria era manipulada por pequenos grupos e facções partidárias. Em 1926 existia um profundo e vigoroso anseio nacional de modificação das instituições e dos costumes governativos. E aceitava-se como verdade apodíctica que seria necessário limitar o exercício de algumas liberdades públicas interessando directamente a poucos para garantir a plenitude do gozo das outras que a generalidade das pessoas queria possuir e até aí não tinha. Porque destas dependia a segurança individual, a possibilidade do trabalho fecundo, o progresso real do País, a efectiva convivência cívica, a almejada paz social. E tudo isto Salazar garantiu durante quase meio século, com serenidade e com prudência, à sombra das leis e com o regular funcionamento das instituições, usando embora da autoridade.
Teria havido abusos da parte dos agentes da autoridade? Decerto que sim. Não conheço, porém, país ou regime que, no decorrer dos quarenta anos cobertos pelo governo de Salazar, anos de guerras quentes e frias, de revoluções, revoltas, conspirações e subversões, possa gabar-se de não ter conhecido abusos, e grandes, da autoridade ou da liberdade. Sim, também desmandos de liberdade, com avultada conta de vítimas e sequelas trágicas, como os da República espanhola – para não falar nas violências cometidas após a libertação de França ou com a queda do fascismo na Itália. O que se instaurou foi uma jurisprudência que perdoa e aplaude tudo quanto se passa desde que favoreça o que se julga ser a marcha progressista da História e condena em altos gritos, rasgando as vestes imaculadas da humanidade ofendida, aquilo que seja considerado ao arrepio do que convém.
Se não fosse o largo consenso em que se fundava o regime da Constituição de 1933, acaso teria sido possível mantê-lo durante quase meio século num pequeno País do extremo ocidente europeu, constantemente aberto à devassa indiscreta de todo o mundo e sujeito à influência das crises exteriores?
Quando após o 25 de Abril o atrevimento comunista quis impor-se ao País, o povo português soube repelir energicamente o totalitarismo marxista, mostrando com clareza que sabia o que queria. E era o mesmo povo que por diversas formas, incluindo o sufrágio livremente exercido, apoiara antes o regime cujo governo concebia a política como instrumento ao serviço do bem-estar da colectividade e não como jogo de egoísmos malabaristas em que, à sombra de bandeiras ideológicas alistadas em conluios internacionais, os partidos joguem aos dados as ambições de poderio.
Trata-se de um passado próximo. Mas que importa recordar, explicar, revivendo factos, ressuscitando personalidades, rectificando versões falsas ou tendenciosas. Porque esse passado está esquecido por muitos, é ignorado pela gente nova e está desfigurado, deturpado e vilipendiado pelo ódio de alguns».
“Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava a caminho de se transformar numa Suiça, o golpe de Estado foi o princípio do fim. Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crónica e a emigração em massa.”
“Veremos alçados ao Poder analfabetos, meninos mimados, escroques de toda a espécie que conhecemos de longa data. A maioria não servia para criados de quarto e chegam a presidentes de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de República.”
Deve informar-se melhor. Angola fazia parte de Portugal; e Portugal de Portugal. Na época Portugal era um País. Convém-lhe, sem dúvida, estudar um pouco de História – não de todo estórias da carochinha para embalar de estultice os ignaros e inocentes úteis.
A sua confusão vem do facto de Portugal ser hoje um Sítio/Protectorado. Mas nem sempre foi assim. Para sua ilustração:
> “Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações”.
– Marcello Caetano após o 25 de Abril.
> “E hoje vemos, com uma dura clareza, como o período da nossa história a que cabe o nome de Salazarismo foi o último em que merecemos o nome de Nação independente. Agora, em plena “democracia” e sendo o Povo “soberano”, resta-nos ser uma reserva de eucaliptos para uso de uma obscura entidade económica que tem o pseudónimo de CEE”.
– Prof. António José Saraiva in “Expresso” de 22 de Abril de 1989.
De facto Portugal, ao invés do dito, não vivia a “expensas de Angola”. A argumentária tem algo de curioso: na abrilada e PREC era tida como manifestação de inteligência, dizer-se que sem o dispêndio com a Guerra do Ultramar, Portugal poderia ser uma Suiça. Agora parece que só sabem dizer que vivia a “expensas de Angola”. Fazem de conta que não sabem que Angola já existia na 1ª República…
Indigências, enfim… Não admira que estejamos indigentes, com tais sapiências…
Definitivamente não quer entender a evidência: “Angola fazia parte de Portugal; e Portugal de Portugal”. (E Portugal vivia a expensas de Portugal)
Sabendo-o o Marquês de Pombal e Salazar desenvolveram os territórios e gentes de além-mar; outros (Monarquia Constitucional e 1ª República) propunham ou efectivavam a sua troca por pagamento de dívida em que se enrolavam alegremente; os abrilinos, movidos pelo “instinto das tripas” instituíram “a maior vergonha de que há memória desde Alcácer Quibir” escrevendo “na nossa história uma página ignominiosa de cobardia e irresponsabilidade” “que nos classifica como um bando de rufias indignos do nome de nação” (Prof. António José Saraiva).
Achava que por um día o JM ia moderniza-la cantiga num dito mais realista. A Troika é (pelo momento) quem mais ordena.Mas enfim.
Nunca ninguém nao tive segundas oportunidades de graça ainda que a penitencia nesta ocasiao parece ser bem dura e dura-dura-dura doura e dura de roer…
Se a poetisa que escrevia sobre as desgraças e sobre a miséria de ouvido, recebesse pelas vezes em que é citada, os filhos estavam ainda mais milionários.
Evoé! de pâmpano os soldados
rompem do tempo em que Evoé! a terra
salvé rainha descruzando os braços
com seu pé de papiro pisa a fera.
Na écloga dos rostos despontados
onde dos corvos se retira a treva,
de beijo em beijo as ruas são bailados
mudam-se as casas para a primavera.
Evoé! o povo abre o touril
e sai o Sol perfeitamente Abril
maravilha da Pátria ressurrecta.
Evoé! evoé! Tágides minhas
outras vez prateadas campainhas
sois na cabeça em fogo do poeta.
.
Natália Correia
Fruto de uma encomenda feita pelo Teatro Nacional D. Maria II, por iniciativa do seu director de então, Lima de Freitas, destinada às comemorações do 4º centenário da morte de Camões, a peça “Erros meus, má fortuna, amor ardente” de Natália Correia, ver-se-á impedida de subir à cena, pelo facto do secretário de Estado da Cultura à data (Vasco Pulido Valente) recusar o financiamento da produção. Vítima que fora da censura ditatorial, Natália somará também na sua carreira uma outra espécie de censura em tempo democrático; aquela que é exercida sob a forma de boicote económico.
Até chorei.
Coitadinha da Natália também ela vítima dos “subsídios”.
Mas porque é que não organizou uma quermesse no Botequim onde havia muitos “militares de Abril”, muitos políticos influentes, boas bebidas a Helena Roseta e muito dinheiro?
tadinha da natalia, vitima de boicote económico. E tu, piscoiso, sabendo disso não abriste os cordões à tua bolsa para a ajudar.
Ah, espera, não tu queria é abrir os bolsos dos outros para ajudar a pobrezinha da natalia. Tão solidário com o dinheiro dos outros.
Sinto-me embraiado, o motor ronca mas a trotineta não se mexe. Não há respeito pelo 25 de Abril quando ainda hoje todos o querem cavalgar como propriedade sua, mesmo o que lhe saltaram em cima á pressa. Por este andar nunca mais chega Maio.
Há 20 anos, Passos Coelho alertava para desemprego jovem (Renascença)
O país comemorava os 20 anos da Revolução e o PSD deu a palavra na sessão solene a um jovem deputado, prestes a fazer 30 anos. Pedro Passos Coelho subiu à tribuna para falar do presente, dos problemas e aspirações da juventude.
Estavam lá todos, os da aliança Povo/MFA. O Luís Filipe Costa, grande apreciador das democracias do Leste, foi o coreógrafo de serviço. Fosse o Largo da Carmo maior, e quem sabe, poderia sair dali hoje o prometido golpe dos coronéis para restaurar o espírito de Abril. Em vez de um Chavez, temos um Lourenço, mas cada um tem o que merece. E pá!
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos,
que em oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho alacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que foça através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara graga, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, paço de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão de átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
Não é de bom tom.
Só começou a ser conhecida depois daquele que não quer o nome do Pai misturado com o seu, palmou o restaurante â Mãe.
Grandes famílias.
Vocês hoje andam com azar com os poetas.
O Professor Rómulo da Carvalho que tive o privilégio de conhecer pessoalmente e que usava o pseudónimo de António Gedeão, escreveu este magnifico poema nos anos cinquenta do século passado. Manuel Freire que em boa hora o musicou e cantou, fê-lo em 1969. Nada a ver com o 25 de Abril, portanto. E apesar da censura, passava na rádio, assim como a “Grândola, Vila Morena”, incluida no álbum “Cantigas de Maio”, também passava na rádio. Tanto passava na rádio, que passou na noite de 24 de Abril de 1974 , antes do “fassismo” cair. Os estalinistas mentirosos que andam por aí a tentar reescrever a história, é que dizem que não, que a censura proíbia, o que é mentira.
Estive colocado numa unidade militar do Algarve, quando passava em Grandola no meu Honda600, colocava a tocar uma cassete de cartucho com a música do Zeca Afonso: Grândola Vila morena. Isto no inuicio de 1973. unca ouvi dizer que estava a cometer uma ilegalidade. Aliás, comprei a cassete numa discoteca legalizada e bem conhecida de Lisboa.
Ouvi há poucos minutos João Paulo Dinis, o lucutor do Rádio Club Português que passou o “Depois do Adeus” na noite de 24 de Abril, dizer na tv que os discos do Zeca Afonso “estavam proibidíssimos” de passar na rádio portuguesa em 1974: É MENTIRA!!!! Esta gente está mesmo apostada em reescrever a história, e para isso vale tudo, até mentir despudoradamente, mesmo em relação a coisas sem importância.
Alguém que chegasse agora de Marte e lesse alguns dos comentários dos nossos liberais mostrando saudades do 24 de abril concluiria que vivíamos nesse tempo num paraíso liberal.
Ou então, sou eu que não entendo nada de liberalismo. Ou então, é o liberalismo que já não é o que era. Ou então, o liberalismo foi sempre assim. Ou então, são apenas opiniões que não traduzem as ideias liberais. Ou então, não sei. 😉
O Liberalismo sempre foi o lado mais cor de rosa (pintalgado) do fascismo.
É natural que confunda alguns incáutos adaptando coloridos de acordo com ambientes temporariamente de feição! Vão entrar na real. Questão de mais algum tempo.
Fincapé,
Mas o Fincapé não chegou agora de Marte …
Desafio-o a indicar um post ou um comentário dos “nossos liberiais mostrando saudades do 24 de abril” !!…
Não creio que encontre um unico …
Os “nossos liberais” não preferem, de modo nenhum, o “24 de Abril” ao “25 de Abril”.
Antes pelo contrario, são contra todas as formas de iliberalismo, venham elas de ditaduras de direita ou de totalitarismos de esquerda.
Não aceitam é que o “25 de Abril” seja apropriado por aqueles que defenderam no passado e defendem hoje posições contrárias à liberdade e à democracia.
Não aceitam é que o “25 de Abril” seja reduzido ao que de pior se fez e se faz a seguir ao “25 de Abril”, mesmo que tivesse sido e seja em nome do “25 de Abril”.
Não aceitam é que aqueles que são verdadeiramente os herdeiros do “11 de Março”, que procurou anular o “25 de Abril”, e que foram derrotados pelo “25 de Novembro”, que restabeleceu o “25 de Abril”, venham agora dar lições de … “25 de Abril”.
Não aceitam é que o “25 de Abril” seja actualmente apropriado por uma esquerda que perdeu as ultimas eleições legislativas e que o pretende utilizar como argumento de deslegitimação de um governo eleito acordo com um sistema politico saido do … “25 de Abril”.
Não aceitam é que que se queira “suspender a democracia” em nome do “25 de Abril”.
No fim de contas, não aceitam lições de “25 de Abril” daqueles que se revelam como estando muito mais proximos dos valores e das das práticas iliberais do “24 de Abril” !
Está muito bem visto. O povo em massa, na bestega, a dizer presente, como Marcelo nada fez, lá se teve que fazer a Abrilada. E o João continua a não entender o povo. É o que faz lidar com numeros.
As Portas que Abril Abriu!
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.
Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.
Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.
Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.
Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.
Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.
Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.
Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.
Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.
E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.
Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.
Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.
Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.
Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.
E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.
A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.
Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.
E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.
Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.
Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.
E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.
Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.
Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.
Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.
Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.
Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.
Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.
Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.
E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.
Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.
E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.
Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.
Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.
Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.
Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.
Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.
Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!
Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.
Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.
Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.
E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.
Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser
pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.
No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!
É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.
Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
ehehehe Boa. Créditos ao Portadaloja
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E amanhã, os “Capitães de Abril” no seu revolucionário discurso, vão propor que os terroristas, que perpetraram o 11 de Setembro, sejam considerados “Heróis da Humanidade”, uma vez que, foi pela sua ação, que uma das maiores conquistas civilizacionais – a mobilidade aérea, que aproxima povos, culturas, países e continentes – tenha sido preservada, pelo aumento das medidas de prevenção de segurança então implementadas, que a todos nos garante, uma relativamente alta utilização em segurança desse meio de transporte, que nos deu a LIBERDADE de viajar e DEMOCRATIZOU o turismo.
Sim, só os Capitães de Abril têm a estaleca moral para tal proposta, pois se eles percebem e aceitam como se transformaram em heróis pelo fim de um regime e de uma guerra colonial, que eles afinal queriam perpetuar com mais direitos assegurados para si, quando decidiram fazer o tal pronunciamento militar que hoje fará 40 anos, do qual perderam o controle da causa, mas não perderam a “pose” para serem os heróis improváveis, que ainda hoje pretendem que veneremos.
Por isso, porque não também os “outros”, tão injustamente apodados de “terroristas fundamentalistas”?
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As verdades que não nos contam
«Este livro [Minhas Memórias de Salazar] nasceu da revolta que me causou a revoada de infâmias disparada em Portugal e no estrangeiro acerca de Salazar após a revolução de 25 de Abril de 1974.
Não houve jornalista da esquerda (e os que o não eram calaram-se…) que não aproveitasse para denegrir Salazar falando sem conhecimento de causa mas repetindo invariavelmente os lugares-comuns postos a correr sobre ele na base da falsidade e da calúnia. O homem barrara durante quarenta anos o avanço do comunismo, não se conformara com abandonar as províncias do Ultramar português ao primeiro empurrão dos que as queriam transformar (como depois sucedeu) em trampolins de assalto ao chamado “Mundo ocidental”, persistitu em sobrepor os interesses reais do povo que governava ao culto das abstracções ideológicas que vão infelicitando a Humanidade… Daí as iras, os ódios, os histerismos, as perfídias, os insultos que a sua figura e a sua acção provocaram em certos meios cada vez mais preponderantes na opinião que se publica.
Na crise de carácter em que soçobrou a sociedade portuguesa após o 25 de Abril de 1974 viu-se um espectáculo que, embora falho de ineditismo na História, não deixou de ser espantoso. Amigos da véspera apressaram-se a negar relações com os vencidos explicando a gaguejar que os contactos havidos tinham ocorrido mau grado deles, sem simpatia pelos chefes nem adesão às suas ideias. Discípulos fidelíssimos de outrora recusaram com vigor quaisquer vinculações aos que diziam antes serem seus mestres. Pessoas favorecidas por Salazar (que as houve e em grande número) clamaram contra a memória do benfeitor, declarando que tinha menosprezado méritos e serviços concedendo-lhes menos do que pretendiam, vítimas assim de tratamento injusto… Ninguém se atreveu – no ambiente das “mais amplas liberdades” em que toda a tolerância pelas ideias contrárias desapareceu – a arriscar uma palavra de tímida justiça no meio da torrente de odiosas mentiras jorrada sobre a memória do grande homem. Até para criticar os desmandos do presente era preciso começar por injuriar o passado. E ao verem o leão, não já moribundo, mas morto e bem morto, acorreram de toda a parte asnos, alguns que dantes orneavam de gozo ao receberem um complacente olhar dele, para despedirem seu par de coices bem puxado no inerte cadáver abandonado.
Fui amigo de Salazar e seu colaborador durante muitos anos. Num convívio tão demorado, com períodos de estreita colaboração, tivemos por vezes naturalíssimas divergências que não oculto, mas que por ele foram sempre aceites com tolerância e que mesmo quando o meu feitio assomadiço dos tempos da juventude lhe davam feição conflituosa nunca o levaram a atitudes radicais. O exemplo das nossas relações parece-me bem demonstrativo da personalidade de Salazar e por isso julgo útil dá-lo a conhecer sem ocultar aspectos que numa apologia talvez devessem ser silenciados. Porque o meu intento é revelar o homem tal como foi ou eu o vi e que, como todas as fraquezas inerentes à condição humana, é muito melhor do que surge na imagem deformada pelo ódio vesgo dos inimigos ou que a falta de informação das novas gerações e dos estrangeiros construiu sobre os lugares-comuns de uma campanha adversa.
Procuro também mostrar o estadista no seu tempo, inserido nas circunstâncias históricas a que teve de fazer face e rodeado pelos homens que com ele colaboraram e que seguiram, melhor ou pior, o seu pensamento e a sua acção ou para qualquer destas contribuíram.
Oliveira Salazar e Óscar Carmona
Nesse pensamento e nessa acção houve traços essenciais de doutrina e posições condicionadas pelas conjunturas em que tinham de se definir. Estas têm de ser avaliadas historicamente em função dos acontecimentos e oportunidades em que foram adoptadas. Mas aquilo a que chamei “pensamento essencial” constitui matéria de Filosofia Política e a sua validade não depende do tempo nem dos lugares. Os homens de hoje fariam bem em meditá-lo.
Porque começa a ser tempo de conhecer e de tentar compreender Salazar e a sua época antes de julgá-los. Por esse mundo criou-se a lenda do “ditador Salazar”. E ao acoimar-se o governante português de ditador, logo aos olhos de muita gente com o cérebro lavado por uma propaganda insistente surge a imagem do tirano, indiferente às leis, absorvente de todos os poderes, espezinhador de todos os direitos, dispondo com arbítrio e arrogância de tudo e de todos numa constante afirmação de posso, quero e mando.
Assim se criou ao seu governo a reputação de um regime sinistro, sufocando o País onde as pessoas viviam oprimidas nos seus anseios, vigiadas nos seus passos, ameaçadas nos seus actos, amordaçadas na expressão dos seus sentimentos e opiniões, sujeitas a prisão por dá cá aquela palha com o risco de serem torturadas por uma polícia cruel.
Como era diferente a realidade! Poucos períodos da histórica política portuguesa decorreram sob tão grande preocupação da legalidade por parte dos governantes como os da vigência da Constituição de 1933. A experiência anterior demonstrara a tendência dos portugueses para confundirem liberdade com anarquia e a facilidade com que a vontade da maioria era manipulada por pequenos grupos e facções partidárias. Em 1926 existia um profundo e vigoroso anseio nacional de modificação das instituições e dos costumes governativos. E aceitava-se como verdade apodíctica que seria necessário limitar o exercício de algumas liberdades públicas interessando directamente a poucos para garantir a plenitude do gozo das outras que a generalidade das pessoas queria possuir e até aí não tinha. Porque destas dependia a segurança individual, a possibilidade do trabalho fecundo, o progresso real do País, a efectiva convivência cívica, a almejada paz social. E tudo isto Salazar garantiu durante quase meio século, com serenidade e com prudência, à sombra das leis e com o regular funcionamento das instituições, usando embora da autoridade.
Teria havido abusos da parte dos agentes da autoridade? Decerto que sim. Não conheço, porém, país ou regime que, no decorrer dos quarenta anos cobertos pelo governo de Salazar, anos de guerras quentes e frias, de revoluções, revoltas, conspirações e subversões, possa gabar-se de não ter conhecido abusos, e grandes, da autoridade ou da liberdade. Sim, também desmandos de liberdade, com avultada conta de vítimas e sequelas trágicas, como os da República espanhola – para não falar nas violências cometidas após a libertação de França ou com a queda do fascismo na Itália. O que se instaurou foi uma jurisprudência que perdoa e aplaude tudo quanto se passa desde que favoreça o que se julga ser a marcha progressista da História e condena em altos gritos, rasgando as vestes imaculadas da humanidade ofendida, aquilo que seja considerado ao arrepio do que convém.
Se não fosse o largo consenso em que se fundava o regime da Constituição de 1933, acaso teria sido possível mantê-lo durante quase meio século num pequeno País do extremo ocidente europeu, constantemente aberto à devassa indiscreta de todo o mundo e sujeito à influência das crises exteriores?
Quando após o 25 de Abril o atrevimento comunista quis impor-se ao País, o povo português soube repelir energicamente o totalitarismo marxista, mostrando com clareza que sabia o que queria. E era o mesmo povo que por diversas formas, incluindo o sufrágio livremente exercido, apoiara antes o regime cujo governo concebia a política como instrumento ao serviço do bem-estar da colectividade e não como jogo de egoísmos malabaristas em que, à sombra de bandeiras ideológicas alistadas em conluios internacionais, os partidos joguem aos dados as ambições de poderio.
Trata-se de um passado próximo. Mas que importa recordar, explicar, revivendo factos, ressuscitando personalidades, rectificando versões falsas ou tendenciosas. Porque esse passado está esquecido por muitos, é ignorado pela gente nova e está desfigurado, deturpado e vilipendiado pelo ódio de alguns».
Marcello Caetano («Minhas Memórias de Salazar»).
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As verdades que não nos contam II
“Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava a caminho de se transformar numa Suiça, o golpe de Estado foi o princípio do fim. Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crónica e a emigração em massa.”
“Veremos alçados ao Poder analfabetos, meninos mimados, escroques de toda a espécie que conhecemos de longa data. A maioria não servia para criados de quarto e chegam a presidentes de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de República.”
Marcelo Caetano sobre o 25 de Abril
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Tenho pena que esse estarola não tenha levado com um chumbo na testa estilo Ceausescu, logo naquele dia.
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Prá frente ó pessoal das barracas!
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“… das barracas ou das “barracas”? Ou talvez das barricas…
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Que bom que era viver a expensas de Angola…
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Deve informar-se melhor. Angola fazia parte de Portugal; e Portugal de Portugal. Na época Portugal era um País. Convém-lhe, sem dúvida, estudar um pouco de História – não de todo estórias da carochinha para embalar de estultice os ignaros e inocentes úteis.
A sua confusão vem do facto de Portugal ser hoje um Sítio/Protectorado. Mas nem sempre foi assim. Para sua ilustração:
> “Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações”.
– Marcello Caetano após o 25 de Abril.
> “E hoje vemos, com uma dura clareza, como o período da nossa história a que cabe o nome de Salazarismo foi o último em que merecemos o nome de Nação independente. Agora, em plena “democracia” e sendo o Povo “soberano”, resta-nos ser uma reserva de eucaliptos para uso de uma obscura entidade económica que tem o pseudónimo de CEE”.
– Prof. António José Saraiva in “Expresso” de 22 de Abril de 1989.
De facto Portugal, ao invés do dito, não vivia a “expensas de Angola”. A argumentária tem algo de curioso: na abrilada e PREC era tida como manifestação de inteligência, dizer-se que sem o dispêndio com a Guerra do Ultramar, Portugal poderia ser uma Suiça. Agora parece que só sabem dizer que vivia a “expensas de Angola”. Fazem de conta que não sabem que Angola já existia na 1ª República…
Indigências, enfim… Não admira que estejamos indigentes, com tais sapiências…
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Começo da década de 70.
Preço da tonelada do Algodão no mercado: 100€
Preço da tonelada do Algodão moçambicano para Lisboa: 10€
Quer o mesmo para o preço do petróleo de Angola?!…
Depois ficou batante mais complicado sem os motores económicos de Angola e Mioçambique…
Mas já me esquecia: Angola é nossa!…
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Definitivamente não quer entender a evidência: “Angola fazia parte de Portugal; e Portugal de Portugal”. (E Portugal vivia a expensas de Portugal)
Sabendo-o o Marquês de Pombal e Salazar desenvolveram os territórios e gentes de além-mar; outros (Monarquia Constitucional e 1ª República) propunham ou efectivavam a sua troca por pagamento de dívida em que se enrolavam alegremente; os abrilinos, movidos pelo “instinto das tripas” instituíram “a maior vergonha de que há memória desde Alcácer Quibir” escrevendo “na nossa história uma página ignominiosa de cobardia e irresponsabilidade” “que nos classifica como um bando de rufias indignos do nome de nação” (Prof. António José Saraiva).
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O Marcello Caetano era bruxo?
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A menina Deneuve dava uma criada de quarto de estalo!
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Ai que horror!
Uma foto do Povo mau.
Arranje, por favor, uma foto do Povo bom.
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Achava que por um día o JM ia moderniza-la cantiga num dito mais realista. A Troika é (pelo momento) quem mais ordena.Mas enfim.
Nunca ninguém nao tive segundas oportunidades de graça ainda que a penitencia nesta ocasiao parece ser bem dura e dura-dura-dura doura e dura de roer…
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esta foto é a verdade a q temos direito mas q nos ocultam.
tomara os bochechas e cia. chegarem aos calcanhares daqueles q criticam anteriores ao 25 Abril .
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25 de Abril, substância do tempo
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 – 2004)
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Se a poetisa que escrevia sobre as desgraças e sobre a miséria de ouvido, recebesse pelas vezes em que é citada, os filhos estavam ainda mais milionários.
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Evoé! de pâmpano os soldados
rompem do tempo em que Evoé! a terra
salvé rainha descruzando os braços
com seu pé de papiro pisa a fera.
Na écloga dos rostos despontados
onde dos corvos se retira a treva,
de beijo em beijo as ruas são bailados
mudam-se as casas para a primavera.
Evoé! o povo abre o touril
e sai o Sol perfeitamente Abril
maravilha da Pátria ressurrecta.
Evoé! evoé! Tágides minhas
outras vez prateadas campainhas
sois na cabeça em fogo do poeta.
.
Natália Correia
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Boa altura para citar uma que era o esplendor da burguesia.
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Burgueses somos nós todos
ó literatos
burgueses somos nós todos
ratos e gatos
Mário Cesariny
Mário nós não somos todos burgueses
os gatos e os ratos se quiseres,
os literatos esses são franceses
e todos soletramos malmequeres.
Da vida o verbo intransitivo
não é burguês é ruim;
e eu que nas nuvens vivo
nuvens! O que direi de mim?
Burguês é esse menino extraordinário
que nasce todos os anos em Belém
e a poesia se não diz isto Mário
é burguesa também.
Burguês é o carro funerário.
Os mortos são naturalmente comunistas.
Nós não somos burgueses Mário
o que nós somos todos é sebastianistas.
Natália Correia
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Bem o Mário além de burguês também era outra coisa.
Parem, não se enterrem mais.
Vão antes buscar o Camões.
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Fruto de uma encomenda feita pelo Teatro Nacional D. Maria II, por iniciativa do seu director de então, Lima de Freitas, destinada às comemorações do 4º centenário da morte de Camões, a peça “Erros meus, má fortuna, amor ardente” de Natália Correia, ver-se-á impedida de subir à cena, pelo facto do secretário de Estado da Cultura à data (Vasco Pulido Valente) recusar o financiamento da produção. Vítima que fora da censura ditatorial, Natália somará também na sua carreira uma outra espécie de censura em tempo democrático; aquela que é exercida sob a forma de boicote económico.
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Até chorei.
Coitadinha da Natália também ela vítima dos “subsídios”.
Mas porque é que não organizou uma quermesse no Botequim onde havia muitos “militares de Abril”, muitos políticos influentes, boas bebidas a Helena Roseta e muito dinheiro?
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tadinha da natalia, vitima de boicote económico. E tu, piscoiso, sabendo disso não abriste os cordões à tua bolsa para a ajudar.
Ah, espera, não tu queria é abrir os bolsos dos outros para ajudar a pobrezinha da natalia. Tão solidário com o dinheiro dos outros.
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Sinto-me embraiado, o motor ronca mas a trotineta não se mexe. Não há respeito pelo 25 de Abril quando ainda hoje todos o querem cavalgar como propriedade sua, mesmo o que lhe saltaram em cima á pressa. Por este andar nunca mais chega Maio.
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Há 20 anos, Passos Coelho alertava para desemprego jovem (Renascença)
O país comemorava os 20 anos da Revolução e o PSD deu a palavra na sessão solene a um jovem deputado, prestes a fazer 30 anos. Pedro Passos Coelho subiu à tribuna para falar do presente, dos problemas e aspirações da juventude.
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Dedicado ao coronel Vasco “Melena & Pá” Lourenço. E um bocadinho ao Otelo, porque também é coronel.
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Os gajos esqueceram-se de baptizar a marcha com o nome de 25A como fizeram `Ponte Salazar. É só chulos. Os Chulos de Abril.
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A troika é quem mais ordenHa.
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Estavam lá todos, os da aliança Povo/MFA. O Luís Filipe Costa, grande apreciador das democracias do Leste, foi o coreógrafo de serviço. Fosse o Largo da Carmo maior, e quem sabe, poderia sair dali hoje o prometido golpe dos coronéis para restaurar o espírito de Abril. Em vez de um Chavez, temos um Lourenço, mas cada um tem o que merece. E pá!
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Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso,
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos,
que em oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho alacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que foça através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara graga, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, paço de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão de átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
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Não é de bom tom.
Só começou a ser conhecida depois daquele que não quer o nome do Pai misturado com o seu, palmou o restaurante â Mãe.
Grandes famílias.
Vocês hoje andam com azar com os poetas.
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O Professor Rómulo da Carvalho que tive o privilégio de conhecer pessoalmente e que usava o pseudónimo de António Gedeão, escreveu este magnifico poema nos anos cinquenta do século passado. Manuel Freire que em boa hora o musicou e cantou, fê-lo em 1969. Nada a ver com o 25 de Abril, portanto. E apesar da censura, passava na rádio, assim como a “Grândola, Vila Morena”, incluida no álbum “Cantigas de Maio”, também passava na rádio. Tanto passava na rádio, que passou na noite de 24 de Abril de 1974 , antes do “fassismo” cair. Os estalinistas mentirosos que andam por aí a tentar reescrever a história, é que dizem que não, que a censura proíbia, o que é mentira.
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Estive colocado numa unidade militar do Algarve, quando passava em Grandola no meu Honda600, colocava a tocar uma cassete de cartucho com a música do Zeca Afonso: Grândola Vila morena. Isto no inuicio de 1973. unca ouvi dizer que estava a cometer uma ilegalidade. Aliás, comprei a cassete numa discoteca legalizada e bem conhecida de Lisboa.
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Ouvi há poucos minutos João Paulo Dinis, o lucutor do Rádio Club Português que passou o “Depois do Adeus” na noite de 24 de Abril, dizer na tv que os discos do Zeca Afonso “estavam proibidíssimos” de passar na rádio portuguesa em 1974: É MENTIRA!!!! Esta gente está mesmo apostada em reescrever a história, e para isso vale tudo, até mentir despudoradamente, mesmo em relação a coisas sem importância.
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Caros Blasfemos,
Peço desculpa pela invasão deste espaço. Alguém por acaso viu ou tem o video do directo (ridiculo)da TVI24 ontem à noite no Largo do Carmo?
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Não sei de que fala, mas pelos vistos, ainda bem que não vi.
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Alguém que chegasse agora de Marte e lesse alguns dos comentários dos nossos liberais mostrando saudades do 24 de abril concluiria que vivíamos nesse tempo num paraíso liberal.
Ou então, sou eu que não entendo nada de liberalismo. Ou então, é o liberalismo que já não é o que era. Ou então, o liberalismo foi sempre assim. Ou então, são apenas opiniões que não traduzem as ideias liberais. Ou então, não sei. 😉
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O Liberalismo sempre foi o lado mais cor de rosa (pintalgado) do fascismo.
É natural que confunda alguns incáutos adaptando coloridos de acordo com ambientes temporariamente de feição! Vão entrar na real. Questão de mais algum tempo.
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Fincapé,
Mas o Fincapé não chegou agora de Marte …
Desafio-o a indicar um post ou um comentário dos “nossos liberiais mostrando saudades do 24 de abril” !!…
Não creio que encontre um unico …
Os “nossos liberais” não preferem, de modo nenhum, o “24 de Abril” ao “25 de Abril”.
Antes pelo contrario, são contra todas as formas de iliberalismo, venham elas de ditaduras de direita ou de totalitarismos de esquerda.
Não aceitam é que o “25 de Abril” seja apropriado por aqueles que defenderam no passado e defendem hoje posições contrárias à liberdade e à democracia.
Não aceitam é que o “25 de Abril” seja reduzido ao que de pior se fez e se faz a seguir ao “25 de Abril”, mesmo que tivesse sido e seja em nome do “25 de Abril”.
Não aceitam é que aqueles que são verdadeiramente os herdeiros do “11 de Março”, que procurou anular o “25 de Abril”, e que foram derrotados pelo “25 de Novembro”, que restabeleceu o “25 de Abril”, venham agora dar lições de … “25 de Abril”.
Não aceitam é que o “25 de Abril” seja actualmente apropriado por uma esquerda que perdeu as ultimas eleições legislativas e que o pretende utilizar como argumento de deslegitimação de um governo eleito acordo com um sistema politico saido do … “25 de Abril”.
Não aceitam é que que se queira “suspender a democracia” em nome do “25 de Abril”.
No fim de contas, não aceitam lições de “25 de Abril” daqueles que se revelam como estando muito mais proximos dos valores e das das práticas iliberais do “24 de Abril” !
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Boas, a minha satisfação pouco expressa não é pelo que temos mas sim por olhar para aqueles serôdios e perceber do que nos livramos.
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Está muito bem visto. O povo em massa, na bestega, a dizer presente, como Marcelo nada fez, lá se teve que fazer a Abrilada. E o João continua a não entender o povo. É o que faz lidar com numeros.
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Abaixo as manobras da Direita!
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As Portas que Abril Abriu!
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.
Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.
Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.
Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.
Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.
Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação
uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.
Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.
Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.
Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.
Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.
Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.
Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.
Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.
E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.
Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.
Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.
Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.
Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.
E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.
Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.
E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.
A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.
Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.
E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.
Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.
Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.
E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.
Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.
Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.
Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.
Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.
Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.
Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.
Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.
E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.
Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.
E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.
Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.
Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.
Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.
Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.
Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.
Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!
Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.
Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram
das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.
Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.
E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.
Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser
pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.
No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!
É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.
Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
Ary dos Santos
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