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Venham daí as estrias e a putrefacção

16 Março, 2016

Vi, n’O Observador, que podemos estar obcecados com o corpo pós-parto. Descobri que a barriga lisa de Deborah Secco foi notícia em todos os jornais, algo que me passou ao lado por não ler muitos jornais e, talvez, por desconhecer a pessoa denominada por Deborah Secco. Porém, admitindo que uma barriga lisa é algo que me interessa há já algum tempo, fui informar-me acerca do assunto para poder agora comentar este tema com a autoridade de um especialista daqueles que comentam assuntos na televisão ou, dadas as circunstâncias certas, até integrar um governo, provavelmente como ministro da educação ou, se o primeiro-ministro for suficientemente parvo, como ministro da economia.

Bem, voltando ao assunto, que tenho a certeza absoluta de não ter a importância letal de um McDonalds com desplante para sugerir que um Meu Pequeno Pónei é brinquedo para meninas, tenho a dizer que a Deborah Secco não é má. Não é, não senhor. Seria, inclusivamente, alguém que, nas circunstâncias adequadas, piroparia na ilegalidade, não fosse a desagradável – para mim – apetência para transformar as costas num letreiro para um extracto do Pai Nosso. “Livrai-me de todo o mal. Amém” pode ser lido em Deborah Secco, aparentemente como protecção contra um mal que não inclui uma agulha a picar a zona. Dir-me-ão que não faz sentido opinar sobre o que cada um manda escrever de forma permanente nas costas, o que até seria verdade, não estivéssemos nós obcecados com o corpo pós-parto, legitimando toda e qualquer preocupação com as costas através da nossa identificada obsessão com a barriga.

antichrist-chaosreignsTambém há umas senhoras que querem ter direito a terem o direito de publicar fotos de estritas pós-parto, nem que não as publiquem, como todos os indignados. Digo assim porque, como o entendi, ninguém coloca em questão se podem ou não ter estrias, só a ignomínia de um povo bruto que não mostra particular interesse pelo privilégio obtido por essas senhoras exibirem alegremente as ditas estrias. Não fosse estarmos obcecados com o corpo pós-parto e a dificuldade em nos concentrarmos em outras obsessões ao mesmo tempo, estaria, através deste post, a propor um paralelo entre comparações de fotos em corpos pós-parto com comparações de fotos de comida antes e depois de digerida. Por exemplo, todos deviam ter o dever de usufruir, sem crítica ou estereótipos castradores, o privilégio que é observar o direito de alguém que publica a foto do prato gourmet seguida da foto do cocó que tal prato gera umas horas depois. E, assim sim, seríamos transparentes, não discriminadores e sem obsessões castradoras que impedem uma mulher de comer à fartazana ou de procriar com medo de perder uma figura que acabará, como o prato gourmet, digerido e transformado em comida para vermes.

Daí que proponho uma boa tatuagem para as costas, que se querem lisas: “o pó retorne à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o concedeu” (Eclesiastes 12:7).

4 comentários leave one →
  1. Churchill permalink
    16 Março, 2016 11:13

    Cunha
    Este assunto é coisa de meninos, comparado com a nova causa fracturante que nos chegou pelo homem do partido dos animais, que dá pelo nome de copo menstrual e para o qual já conseguiu uma taxa de 6% de IVA.
    Uma pessoa vai à net e descobre que é uma coisa de borracha para colocar como rolha e impedir a saída dos resíduos do incómodo regular que o sexo forte tem de passar.
    Dificilmente imaginaria uma coisa mais repugnante.

    Como a preocupação é ambiental, não do ambiente humano da mulher mas da natureza que gosta pouco de produtos absorventes e perfumados, espera-se para breve uma espécie de rolha similar para colocar nos bebés, e talvez mesmo uma algália permanente nos rapazes.

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  2. ali kath permalink
    16 Março, 2016 12:00

    nas Caldas fabricam-se há muito artefactos de afectos
    de vários temanhos

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  3. Baptista da Silva permalink
    16 Março, 2016 12:19

    Deborah Secco? Já comi, nada de especial.

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  4. Arlindo da Costa permalink
    17 Março, 2016 00:09

    O que é que isso tem a ver com o Neo-Liberalismo?

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