Costa, o especulador imobiliário
5 Abril, 2016
António Costa anunciou ontem que o Estado vai investir 1400 milhões de euros em reabilitação urbana para depois ceder casas a rendas controlados à classe média. Estas casas serão compradas a privados ou reabilitadas pelo próprio Estado.
Alguns comentários:
- O objectivo do fundo de estabilização da segurança social é em 1º lugar preservar capital para em caso de necessidade compensar necessidades da segurança social no pagamento de pensões. Em 2º lugar valorizar esse capital tendo em conta que quanto mais dinheiro disponível houver melhor cumpre a sua finalidade. Isto implica que a gestão deste fundo deve ser conservadora e não especulativa. Implica ainda que não deve ser usado para fins que prejudicam o seu objectivo principal.
- Investir em imobiliário é uma actividade especulativa. Investir em imobiliário nos centros urbanos cuja procura depende do turismo e do esquema dos vistos gold (actividades voláteis), em período de declínio demográfico é ainda mais especulativo.
- Os privados que investem em reabilitação urbana fazem-no com o objectivo de vender ou arrendar ao maior preço possível. Mesmo assim estão a arriscar muito, dado que os preços que já se praticam implicam rentabilidades baixas. Quem entra neste mercado para arrendar a preços controlados tem rentabilidades mais baixas e o mesmo risco.
- Um fundo público da segurança social terá que escolher em que cidades investir (Só Lisboa? Lisboa e Porto?), que empreendimentos comprar, que empresas de construção contratar (grupo Lena ou Odebrecht? Mota Engil?) e a que pessoas arrendar os apartamento (só a boys do partido?). Tudo decisões que envolvem um grau de subjectividade, que serão sujeitas a politizarão e que têm um elevado risco de corrupção. O risco de estas decisões se sujeitarem a critérios não económicos contribuirá para reduzir ainda mais a rentabilidade da aventura.
- O fundo da segurança social entrará num mercado que já existe, onde já operam privados. A entrada de 1400 milhões, ou mesmo a mera expectativa de que este dinheiro vai entrar, contribuirá para inflacionar os preços de mercado. É bom para quem já entrou, é mau para o fundo da SS que comprará caro reduzindo a rentabilidade dos investimentos. Para alem disso, o aumento dos preços afastará investidores privados que acharão os investimentos menos apetecíveis. O fundo da SS contribuirá ainda para o aumento das rendas não controladas, algo que é suposto evitar.
- O mercado imobiliário está saturado e a população encontra-se em declínio. Projecções demográficas apontam para a perda de 1 a 2 milhões habitantes nos próximos 30 a 50 anos. O boom nos centros urbanos de Lisboa e Porto será feito à custa da decadência dos subúrbios. Vamos usar o dinheiro da SS para prejudicar partes do território nacional e favorecer outras.
- O Fundo da Segurança Social gere cerca de 10 mil milhões de euros. É muito dinheiro. Este é normalmente canalizado para grandes investimentos, de forma a reduzir o nº de análises que têm que ser feitas. Um apartamento custa valores da ordem dos 500 mil euros. A reabilitação de um prédio poderá envolver valores da ordem dos 10 milhões de euros. Ou seja, há uma diferença significativa de escala entre a escala do fundo da SS e a escala dos negócios de um fundo imobiliário. Percebe-se ainda que o governo pretende meter as mãos na massa e tomar decisões de investimento caso a caso para fazer política. Isto implica que terá que ser criada uma nova estrutura para gerir os investimentos em imobiliário, com contratação de especialistas etc.
20 comentários
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Acho bem. Temos que sacudir o marasmo que teima em persistir no mercado imobiliário.
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Suprime revisitado. Se eles nada aprendem é porque são mesmo burros.
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8- sem estacionamento para por o carro esqueça moradores nos centros históricos…. .prédios não têm garagem , nem elevadores ( não se é jovem toda a vida ).
havendo alternativas mais confortáveis nas periferias só “vintages” vão viver com o carro na varanda 🙂
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Sim. Há parques de estacionamento mas ninguém os usa porque por cá tudo estaciona no s passeios. Portanto, é verdade. A Baixa está mais ou menos condenada, ainda que Londres ou Paris não sejam diferentes e estejam habitadas.
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Não há parques para residentes! Há apenas parques concessionados ou de propriedade privada construídos para serem de rotação. Se um morador paga 12 euros por mês para estacionar na rua, irá pagar 80 ou mais euros por mês para por o carro na garagem. Os ricos são ricos porque também sabem como poupar dinheiro.
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Quem tem algumas poupanças e está interessado em investir deve ter isto em mente: com a chegada do vígaro Costa ao Governo, chegou ao fim a aliança estratégica entre a direita e a esquerda moderada que, durante quase 40 anos, impediu a tomada do poder pelos comunas. Tudo mudou com a chegada do Costa a primeiro-ministro. Os comunas estão no governo e a perseguição aos ricos intensificou-se. Como só os ricos criam empregos, está à vista o destino dos portugueses: os calaceiros deixam-se empobrecer e os esforçados fogem do país. Isto vai dar numa Venezuela.
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J. Miranda bem explica, na vertente económica, as más consequências para o cidadão comum, de este magnânimo gesto “socialista”. Mas há mais e não é pouco. Planeamento social do bom, no seu melhor.
Uma jogada política, mascarada de social, com comprovada eficiência para o partido.
Por um lado os recuperados -e mais baratos- apartamentos serão “sorteados” e sairão, coincidência, a jovens jotistas.
Por outro este arranjo, imensamente socialista, criará círculos eleitorais de fieis eleitores que garantirão democráticos sucessos eleitorais … aos promotores de este “socialismo”.
Só não vê quem não quer ver.
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O Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social foi criado pelo Decreto Lei nº 259/89 de 14 de Agosto. Na base da sua criação estava a constituição de uma reserva financeira ao sistema de pensões em caso de um colapso total ou parcial de contribuições.
Dez anos mais tarde, através do Dec.Lei 449-A de 4 de Novembro de 1999 é criado o Instituto de Gestão de Fundos de Capitalização da Segurança Social, I. P. de modo a alargar a possibilidade de investimento dos seus activos aos mercados dos países da OCDE.
No ano de 2012, pelo Dec.Lei 203/2012, procedeu-se a uma reorganização do regime financeiro do sistema público da Segurança Social, redefinindo-se a missão e as atribuições do IGFCSS, I. P. cometendo a este a gestão da carteira de activos do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social.
Todavia estas alterações legislativas não implicaram uma mudança de fundo nos objectivos que presidiram à criação do FEFSS – uma almofada financeira ao sistema público de pensões.
Sucede que, como muito bem enfatiza o autor do post, o dinheiro do Fundo pertence aos trabalhadores e aos empresários. Deste ponto de vista, parece-me um mau precedente que o Governo ( este ou qualquer outro ) mexa num património que não é seu, e o utilize em negócios que deviam ser deixados aos privados.
É certo que os activos do Fundo têm de ser aplicados com uma enorme prudência, de modo a não pôr em risco o seu património.
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“parece-me um mau precedente que o Governo ( este ou qualquer outro ) mexa num património que não é seu”
Como dizia a deputada Elisa Ferreira, é “o dinheiro do PS”.
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Não são funcionários públicos que vão esgrimir a colher de pedreiro ou conduzir o carro do do betão. Nem são funcionários públicos que irão pesquisar as casas a reabilitar ou promover as casas já reabilitadas. São as empresas que serão contratadas para esses efeitos.
O problema é que os empresários existentes têm alergia ao risco. Só lá vão se o negócio for “dinheiro em caixa”. Estão muito mais virados para atividades especulativas do que para atividades produtivas. E não era necessário ter havido o panamá paper para provar o que digo.
Estão é todos com medo de que a iniciativa seja um sucesso, dado o facto de o FSFSS poder emprestar dinheiro a juros baixos (comparados com os que os bancos praticam) e ainda assim lhe ser vantajoso emprestá-lo, comparado com a remuneração que “os mercados” lhe proporcionam.
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O fundo da Segurança Social vai dar crédito à habitação concorrendo com os bancos? E isso é boa ideia?
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1.400.000.000 a dividir pelas 4000 intervenções previstas dá exatamente 350.000 euros a cada. Este “investimento” vai ser recuperado daqui a quanto tempo? 500 anos? Ou vai ser recuperado em 25 a preços astronómicos? Ou há aqui qualquer coisa que não bate certo? Onde encaixa isto na alegada tentativa de descentralizar quando já se está mesmo a ver que 90% do dinheiro vai cair em Lisboa e Porto?
Que tipo de entidades/pessoas não se podem candidatar? Sociedades recém-criadas podem candidatar-se ou estar envolvidas no processo?
As eleições vão ser mais brevemente do que pensamos.
Isso é certinho.
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Larguem a bomba…
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O loby da construção sempre teve muito poder em Portugal e sempre esteve muito ligado ao poder. Como já não há mais dinheiro em lado nenhum e o destino dos bancos é tornarem-se espanhóis, o que resta para torrar é o dinheiro da Segurança Social. É melhor é esquecermos as reformas porque não vai haver dinheiro para elas.
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Os empreiteiros, meu caro Watson, Os empreiteiros…
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O primeiro parágrafo devia dizer que vai ser o fundo da SS que vai gastar o dinheiro.
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Isto é pior do que parece – a entrada de um player desta dimensão destrói quase por completo o já fraco mercado de recuperação de imóveis. Quem é que quer investir para recuperar imóveis, se vem o Estado com 1400 milhões de dinheiros públicos a estragar o mercado,disponibilizando imóveis a “custo controlado”? E que treta é esta do custo controlado? Vai traduzir-se em má qualidade? Em obras públicas muito bem controladas pelo lado do custo (já rebolo a rir…)? Um desastre socialista do pior. Canalhas idiotas… volta Troika, antes que estes idiotas tenham tempo para mais…maldito Draghi que está a segurar artificialmente os juros a governos como este…
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É muito pior que especulador imobiliário.
Um especulador imobiliário só tem dinheiro de quem lhe dá de livre vontade.
Costa não. Só tem os 1500 Milhões para investir por causa da violência do Estado.
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O bandalho porcalhão piela está a caminho de ultrapassar o bandalho socas. Nada que não se esperasse… É só olhar para Lisboa.
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Isto é a nova forma de desorçamentação. Depois das parcerias publico-privadas de fachada para desorçamentar, das empresas públicas que se endividavam em nome do Estado, vão agora à Segurança social gastar dinheiro como se o OE não tivesse que meter lá todos os anos 9 biliões.
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