Uma escuta telefónica
– Estou? É da SIC?
– Bom dia, SIC, redacção noticiosa. Está a falar com Joaquim. Em que posso ajudar?
– O meu filho Zezinho vai emigrar.
– Está bem. Em que posso ajudar?
– Vai emigrar, percebe? Isto não se aguenta! É uma desgraça, uma ignomínia, o fim da democracia, a queda do regime, cães e gatos mutilados na auto-estrada a caminho do purgatório para nos condenarem a todos à podridão da decomposição do ethos e pathos que o colapso do Estado Social acarreta no rumo ao fogo do inferno…
– Emigrar já não é notícia…
– Não é notícia? O Zezinho andou 15 anos na escola para ser doutor, tem uma pós-graduação em entropia do ser na dialética ocupante do espaço corpo-língua em zulus com menos de 35 anos, não há emprego, não há investimento, nem há cluster do mar e da filofarmacêutica, a reposição das pensões foi 2€ e já nem temos que comer que seja biológico…
– Minha senhora, as coisas agora são diferentes, a austeridade acabou, o Bem venceu, de que se queixa?
– O quê? Os estivadores estão em greve, os taxistas em marcha lenta, as crianças morrem nos braços das mães, que as comem para saciar o básico instinto de sobrevivência, nem os sírios querem vir para este cu de Judas, este buraco onde a indignidade salarial impera em conivência dos políticos com o grande capital da banca e dos offshores opressores da Holanda e além-mar…
– Pois, isso agora não vende…
– …a ditadura dos mercados, a escravidão do euro e da dívida segundo os ditames do directório europeu e das políticas neoliberais que causam sismos e tsunamis, matando inocentes como vítimas de um sistema corrupto em que os ricos ficam mais ricos e os pobres morrem, como bem diz o Papa Franc…
– Pois, devia ter ligado no ano passado. Teríamos colocado 6 equipas no terreno, 2 helicópteros e 4 drones a acompanharem a emigração do seu filho em directo, com comentário do Adão e Silva e um especial com Boaventura Sousa Santos e uma doutoranda qualquer que seja filha de um ex-ministro de Sócrates. Agora já não cobrimos emigrações.
– Pronto, obrigado, fica para a próxima. Desculpe.
– Não faz mal. Posso ajudar em mais alguma coisa?
– Não, obrigado, era só. Boa tarde.
– Boa tarde.
Tem toda a razão, acabou-se a fome e a miséria, a página foi virada. Agora inunda-se a Imprensa com causas fraturantes, é o que está a dar, se o filho fosse emigrar e fosse preto, gay, transgénero com um filho adoptado e coisas do género, os Drones e helis já iam a caminho.
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Faça ao contrario diga que o filho voltou da emigração por que a crise já acabou e isto voltou a ser um paraiso.
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O que é ainda mais extraordinário é que mesmo em duodécimos, ou seja, ainda com o malvado orçamento neo-hiper-liberal do anterior governo, mal o actual governo do bem tomou posse, todas as coisas más desapareceram. Até já há quem diga que não faz sentido sair do país, Portugal é um país muito bom, há que saber dar valor às coisas boas…Hipocrisia do caralho.
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Não sejam assim: ainda hoje, na Antena 1, o “sketch” do putativamente humorístico “Zé Manel Taxista” foi a gozar com o Primeiro-Ministro Passos Coelho, a Ministra Maria Luís e o Ministro Calvão da Silva. Aí ainda não viraram a página.
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sim, o anterior governo continua muito na moda! Ainda hoje ouvi (fiquei abismado confesso) o nosso (?) presidente da república afirmar que o desvio no défice do primeiro trimestre é responsabilidade do anterior governo, uma vez que estávamos em regime de duodécimos!!! Até o PR?
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Não se esqueçam das mortes por gripe nos hospitais (fruto da austeridade). Este inverno ninguém morreu nos hospitais. Milagre!
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No Natal de 2014, no Público referiam que os profissionais de saúde estavam exaustos e faltavam meios e daí o entupimento nas urgências. Um ano depois, já com o actual governo e sem ter sido tomada nenhuma medida, já referiam que existiam todos os meios necessários e que as pessoas estavam a ir em demasia às urgências.
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ehehehe
Parece anedota mas já nem é. Conheço quem se queixe da filha com perto de 30 anos não fazer nada apesar de ter uma pós-graduação em ursos polares.
😛
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Ah. E emigrou por causa disto e continua a não fazer nada porque o mercado liberal não entende a importância dos ursos polares.
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O Banco Alimentar está em vias de falência… BCE manda doar super-excedentes aos refugiados sirios!
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Felizmente Emigração já não é notícia. Por outro lado, a Imigração já apresenta índices assinaláveis.
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São quase 200.
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Reuters Top News
O Papa Frank. ja autorizou a construcao d’uma mesquita.no Vaticano
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Não ser notícia quer dizer que já não existe. Já chegámos a 1984 é?
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Caro V.C. hoje o que é notícia é a Catarina Martins ir ao cabeleireiro. ir à casa de banho, ir ás compras, estar a conversar com a filha do assaltante de bancos, fazer festas ao monhé, dizer umas piadas ao seu sócio Jerónimo, enfim, isto sim, são as “caisses” mais relevantes para os merdas da comunicação social, o resto são “fait divers” que apenas chateiam a môna.
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O maior problema de Portugal é o seu jornalismo.
Por isso é que Portugal é uma sociedade bloqueada. A ideologia Marxista das redacções assegura que vamos sempre cometer os mesmos erros década após década.
Já vamos em 3 bancarrotas.
Portugal é uma sociedade que não consegue aprender por causa do seu jornalismo.
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O José do Portadaloja tem a mesma ideia.
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De acordo.
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O maior problema de Portugal é o jornalismo e os marxistas nas escolas. Estes é que são responsáveis por boa parte dos desmandos.
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Completamente de acordo.
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> O maior problema de Portugal é o seu jornalismo.
Ena, finalmente um país onde os escribas riscam alguma coisa.
Em vez de serem serviçais de quem pode, como nos outros países pelos quais tantos aqui presentes suspiram e almejam.
Deviam investigar este caso excepcional, deve dar uma tese melhor que os ursos.
Eu, cá por mim, suspeito que os ursos são outros.
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Talvez eu deva explicar, para quem não ouviu falar, que a função do jornalismo nos EUA do século XIX era fornecer matéria suficiente para entremear nos anúncios de modo que as publicações pudessem ser enviadas a tarifas postais favoráveis.
Ou seja, o jornalismo é um subproduto da publicidade.
Continua a ser.
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V. parece o hajapchorra- vive lá numa torre de marfim, já com as ideias prontas, e nunca quer entender nada.
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Não é a função. Não é propaganda; não é voz do dono. É um fenómeno diferente que dura desde os anos 60. O jornalismo em Portugal foi tomado pela escardalhada.
E isto não tem comparação com nenhuma treta dos EUA ou Inglaterra, ou do jornalismo francês porque nesses países existem alternativas, existe até bom jornalismo em Itália e França, por exemplo- não é como cá que ficou tudo terraplenado por ideologia de esquerda.
É disto que se está a falar. Se quer contrapor apresente factos porque no Portadaloja tem levantamento exaustivo desde o Estado Novo. Com diferenças para melhor nessa altura.
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O jornalismo é subproduto da publicidade. Que frase redondinha.
E conte lá, o povo informa-se através de revistas académicas, é isso?
E as revistas académicas têm alguma diferença ideológica em relação ao jornalismo?
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Eu tenho dúvidas que a explicação seja só essa porque tendo a entender que também fazem continhas e votam com a barriguita.
Mas não há a menor dúvida que a porcaria do nosso jornalismo é totalmente faccioso e orientado para publicitar uma bondade de tudo o que é Esquerda.
De forma propagandística, sim. Mas não por serem voz do dono, “dos nossos donos”, dos famigerados capitalistas, como v. também costuma dizer e isso ser receita para tudo.
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Não é a voz do dono – que também há, claro – que incomoda. É a cultura, a disseminação via cultura popular da bonomia exclusiva da esquerda. Para mim, uma das causas é a ausência de um inimigo externo durante demasiado tempo. A última guerra em que participamos foi facilmente transformada de guerra civil entre portugueses em guerra entre os maus e os puros que só queriam paz na sua terra.
Por outro lado, nunca deixamos de ser ocupados pelos franceses, com a agravante de não encontrarmos um lugar no mundo que não o do saudosismo por um passado romantizado.
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Problema antigo Olhem para este estrume
http://especiedemocracia.blogspot.ca/2015/04/24-25-de-abril-salazarismo-de-perfil.html
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O que é estranho é que o povo não era assim há uns 40 e tal anos.
Era diferente. Era o povo pragmático e trabalhador. Não era tudo assim aluado. E as pessoas nem eram politizadas. Passaram a ser a partir da doutrina escolar e da doutrina jornaleira. E essa é igual. É lavagem ao cérebro sem haver quem contraponha nada.
Agora até nos jornais online acaba por ser proibido alguém deixar um comentário que saia do carreiro. Não admitem contraditório quando topam que é desmontagem à patranha ideológica que está a ser vendida.
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O José insiste nessa gigantesca importância da semântica e tem razão.
O poder da linguagem é enorme.
A História recente foi reescrita a partir dos jornais. Não foi academicamente primeiro. Foi nos jornais porque é o meio mais imediato.
E dizer-se que as pessoas nem ligam e prescindem da informação é uma pedantice universitária completamente idiota.
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Claro que ligam. E está tudo na linguagem, bem explicadinho por Lenin e por Gramsci. É como o “casamento” gay: não era a conquista de um direito, era a conquista de um símbolo através de conotações linguísticas.
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A “tese” do Euro2Cent é uma tese um tanto parva e que nem se distingue da explicação da escardalhada para tudo-
O problema são os ricos porque existe uma casta de meia dúzia de mega-ricos que controla o mundo.
Portanto, por esta ideia, tudo e o seu contrário, vai sempre favorecer os tais ricos, contra o bom do interesse dos pobres que vivem domesticados por essa cabala de poderosos.
Eu nunca consegui entender isto e acho que, em última instância, é uma treta hipócrita da mesmíssima moral da inveja com que se arregimentam revoltados.
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Esta lógica dos poderosos contra os pobrezinhos, e dos dons de tudo, incluindo os donos dos jornais, contra a função apropriada, é uma grande treta.
Por esta lógica, por exemplo- o Público da sãozinha, não é o Público de um clã de jornalistas escardalhos que domina aquilo mas é o Público de um capitalista que usa os escardalhos para seu benefício.
Até pode ser. Para ter uma fatia de mercado dentro do sistema. Mas não é no sentido em que os coitadinhos dos jornalistas têm de escrever aquelas tretas para não serem despedidos. E as tretas que escrevem são a doutrina dos cabrões dos capitalistas.
A estupidez é esta. Não há coitadinhos- há quem receba é bónus e do grande, até na tv estatal. Enriquecem por venderem treta em nome da Esquerda; não é com medo de perderem o emprego e o ordenadito rasca a recibos-verdes.
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O problema do rapaz é ser europeu. Porque se fosse de fora da Europa era refugiado. Já não há emigrantes/imigrantes, só refugiados. Agora, sendo português, é um problema. Não pode ser refugiado, não pode ser exilado (o último foi o Tordo), já não vive sob a ditadura fascista-neoliberal, é um problema…
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