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Lily, Rosemary and the Jack of Hearts

13 Outubro, 2016

Há pessoas cuja opinião respeito imenso, amigos no bom sentido da palavra, aquele que não tem que ver com quem paga as minhas extravagâncias, que discordam da atribuição do Nobel da literatura a Bob Dylan. Há pessoas cuja opinião desprezo, principalmente por a não terem, por serem uma recauchutagem de clichés ambulantes às custas da inércia de um povo que aceita como doutor qualquer labrego capaz de enunciar “esternocleidomastoideo”, e que consideram a atribuição do prémio como aceitável. Refiro-me a indivíduos como Pedro Adão e Silva, um poltergeist que, há anos, desaconselha qualquer pessoa do curso de Sociologia no caso em que a ideia lhe tenha ocorrido sem se apresentar devidamente dotado dos conjunto de apelidos Vieira da Silva. É provável que existam bons sociólogos, inclusivamente, até, bons estudantes de sociologia, daquelas que não ambicionam ser papagaios da bucólica panascagem intelectual oriunda da endogamia marxo-sopeira que caracteriza os nossos canais noticiosos e, principalmente, as colunas de opinião dos jornais. Conheço um ou dois, coitados, que já nem podem dizer que são licenciados naquilo sem que lhes perguntem opinião sobre o novo reforço do Benfica, sobre o rating do duck dive do surfista da Nazaré e sobre o disco de cortar os pulsos dos canadianos lo-fi da moda, isto depois de um comentário sobre austeridade e o rais-que-o-parta, que o gajo deve acampar em frente ao estúdio de televisão, carregando o iPhone numa baixada partilhada pelo cigano posh da tenda do lado.

***

“Eu sou o violador de Telheiras”, disse o vizinho, enquanto lavou o tacho e as meias na poça de água aglomerada na falha do asfalto. “Eu sou o comentador de serviço, sempre pronto para opinar”, respondera, antes de contemplar a sua infinitude plena de sapiência não reconhecida universalmente.

***

Eu gosto de Bob Dylan. Não vale nada, que eu goste de Bob Dylan. Quer dizer, vale para mim, que lhe reconheci o génio em determinadas alturas, que isto de reconhecer génios é ao contrário do que se faz hoje nas escolas, sobrecarregadas de sobredotados: é pessoal, intransmissível e intransitável por tendências mutantes da moda que procura algo novo só porque sim, para quebrar com o velho. Que pós-pós-modernos betos (diminutivo de analfabetos) também afirmem gostar é irrelevante. É que, ao contrário dos Adões e Silvas, o Bob Dylan nunca se esforçou para que gostassem dele. Vai-se a ver, é mesmo por isso. Em vez do Nobel, consensual seria dar a Dylan uma licenciatura em sociologia.

21 comentários leave one →
  1. 13 Outubro, 2016 22:38

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    • honi soit qui mal y pense permalink
      14 Outubro, 2016 10:55

      Nada de verosímil a sua fotografia . A fatiota está fora de contexto .E os protagonistas também .
      Ninguêm quer nada disso.
      Então o Putin que tem manobrado isto tudo , está a mais nesse papel que lhe atribui … completamente . O que ele quer é o fim da Europa .
      Mais o Trump que foi comprado para o papel ridículo que está a fazer para se fazer perder á Hillary “crooked one ” , uma vendida .
      O Orban não tem dimensão para tal … embora coragem, e visão histórica , parece ter .
      E o Farage não conta para o peditório .
      O underline da British Brodcasting of Communism na Merkel acertou … e do Papa não tem nada a ver …

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  2. lucklucky permalink
    13 Outubro, 2016 22:47

    “….oriunda da endogamia marxo-sopeira que caracteriza os nossos canais noticiosos e, principalmente, as colunas de opinião dos jornais…”

    Boa.

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  3. Arlindo da Costa permalink
    14 Outubro, 2016 01:25

    Carlos T e Sérgio Godinho, em termos de poesia e Música, são muito melhores do que Bob Dylan.
    Mas já vi que a Academia Sueca quer é eleger a Srª Hillary…

    Para os suecos a Literatura não passa dum jogo de soduku!

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    • 14 Outubro, 2016 08:13

      Sabe quem é ainda melhor que o Sérgio Godinho? Vladimir Brochnyziev. A sua letra J para a canção “Oda na J”, traduzido do búlgaro como “Ode ao J”, foi K da Time aquando do especial sobre os subúrbios de Sófia. O ponto fraco de Brochnyziev são os M, título do clássico de Fritz Lang que mostra a luta do homem com a caligrafia, uma crítica mordaz ao alfabeto latino e à péssima escolha de São Cirílo em não inverter a letra e atribuir-lhe o som tk.

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  4. 14 Outubro, 2016 09:28

    Aqui há uns meses esse tal Adão e Silva estava na loja de discos usados Louie Louie nas escadinhas por trás ( ou no lado de baixo) da FNAC a perorar perante uma câmara que gravava para tv algo sobre…os New Order.

    Como estava a escolher discos antigos parei um pouco para ouvir o que dali saía.

    Como comprei os discos de New Order in illo tempore quando o dito ainda nem seria nascido para a compreensão musical tive curiosidade e ouvi opinião comprada em revista estrangeira. Enfim, um beto socialista do tipo ISCTE.

    Sobre Sérgio Godinho: talvez seja melhor ler o que José Afonso escreveu em português e numa linguagem que agora não se usa. Nem então.

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  5. honi soit qui mal y pense permalink
    14 Outubro, 2016 10:41

    O Dylan de facto nunca pensaria em se promover para isto . Fica-lhe bem .
    Não percebo é o porque de se abespinharem com o Adão e Silva .
    Um gajo que arranjou um tacho daqueles , dizer bojardas politicamente correctas , e ser pago para tal … bem , se é pago á peça , é melhor que o Nobel ao Dylan .Acrescente a Ana Drago , e aqueles jornalistas da RTP , e sobretudo os directores dos jornais tugas do regime que vão á RTP 3 … esses então parecem papagaios do Costa .
    Não invejem o paisano .

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  6. honi soit qui mal y pense permalink
    14 Outubro, 2016 10:43

    O Dylan de facto nunca pensaria em se promover para isto . Fica-lhe bem .
    Não percebo é o porque de se abespinharem com o Adão e Silva .
    Um gajo que arranjou um tacho daqueles , dizer bojardas politicamente correctas , e ser pago para tal … bem , se é pago á peça , é melhor que o Nobel ao Dylan .
    Mais evidente são aqueles jornalistas e directores dos jornais tugas do regime que vão á RTP 3 … papagear a versão autorizada do regime actual do poder .
    Não invejem o paisano .

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  7. campus permalink
    14 Outubro, 2016 11:06

    Para quando o Nobel da Literatura para o sócrates ?

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    • honi soit qui mal y pense permalink
      14 Outubro, 2016 11:22

      Não poderia estar presente . Já passou o tempo . Nem Platão, ou Aristóteles já agora .

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    • albertino.ferreira permalink
      14 Outubro, 2016 11:27

      E já agora também para um certo Saraiva que escreveu uma coisa meio soft porno que anda aí pelos escaparates das livrarias

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  8. carlos alberto ilharco permalink
    14 Outubro, 2016 12:09

    90% dos portugueses (sondagem feita aqui no prédio) que agora aclamam vivamente o Bob ouviram vagamente uma música, e digo música porque não conseguem entender aquele inglês.
    Ora veja-se um exemplo:

    Feeling funny in my mind, Lord,
    I believe I’m fixing to die, fixing to die
    Feeling funny in my mind, Lord
    I believe I’m fixing to die
    Well, I don’t mind dying
    But I hate to leave my children crying
    Well, I look over yonder to that burying ground
    Look over yonder to that burying ground
    Sure seems lonesome, Lord, when the sun goes down

    Traduzido para Português dava um belíssimo fado.
    Um Nobel para Carlos do Carmo pró ano.

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    • Carlos Reis permalink
      14 Outubro, 2016 15:31

      Nos anos 70 em Portugal a maioria dos fãs de Dilan não sabia uma palavra em inglês. Aliás nesse tempo, alguns desses, formavam conjuntos de roque e cantavam em “inglês”.
      Não é possível ? Foi foi.

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  9. 14 Outubro, 2016 12:38

    é o descrédito total do nobel. é uma ofensa para verdadeiros escritores e poetas. é ridículo o nobel de literatura ao dylan.

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    • 14 Outubro, 2016 13:32

      😛 B Hossein O 😛

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    • 14 Outubro, 2016 20:41

      Completamente. As Cantigas de Santa Maria também deviam ter ido para o lixo por não continuarem a ser cantadas.

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      • 14 Outubro, 2016 20:42

        Sãi uma verdadeira ofensa à literatura que só existe quando se passou a ler para si mesmo (aí pelo final da Idade Média). Até lá foi o caos sem Nobel que salvasse.

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    • 14 Outubro, 2016 20:44

      Ao menos o nosso Nobel era agradável de ouvir e de ler. E o outro que se ficou pela metade era bom para lhe entregarmos a moleirinha a inspeccionar.

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