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A Day in the Life

7 Outubro, 2018

Dir-me-ão se não é uma situação tão caricata. É o fim, e a mim, estar assim, mal do rim, enfim, quase mata.

A propósito de mais umas eleições – desta vez no Brasil – que colocam em oposição uma série de humanos dotados de coração empático contra mais uma das encarnações terrenas do diabo, lá anda toda a gente zangada entre as duas e únicas trincheiras desta guerra mediática. Repetindo o já tradicional cântico do risco de eleger um novo Hitler, como eleitos na Hungria, na Turquia, nos EUA e, quem sabe, em Santa Helena, os portugueses vivem preocupadíssimos, a julgar pelas redes psicopatas, com os resultados eleitorais de todos os países que não sejam o seu.

Não vai servir resistir vais ouvir repetir um zunir incessante. Meu pedido sentido repetido ao ouvido como altifalante.

Quando todos são fascistas, parece evidente que ninguém é fascista, incluindo os que até o seriam. O impacto de gritar “fascismo” sempre que um candidato nos desagrada é o mesmo que se obtém ao gritar “puta” num bordel. Por isso, não me parece que os gritos de “fascista” tenham qualquer dose de advertência. Quase em directa oposição, os gritos de fascismo são demonstrações erécteis, gritos de tesão pela atenção de leitores nas carcaças apodrecidas que são os média. Tal como o feminismo do sushi, o que não passa de um pedido para que se olhe para o decote que leva à indignação, quer se olhe (“não sou um pedaço de carne”), quer não se olhe (“mulheres fortes intimidam os homens fracos, hein?”).

Zão zão zão quero ver-te. Zão zão zão quero ter-te. Zão zão zão quero dar-te. Zão zão zão obter-te, zão.

É provável que Bolsonaro ganhe. Parece-me um parolo, mas isso é o mais normal em países de língua portuguesa, não é? Fora a parolice, a dificuldade de articulação de algo que transcenda o grunhido, o incentivo a que as franjas violentas possam dar azo à alegre diversão que é partir cabeças, até me parece um bom candidato. Pelo menos, parece-me um bocadinho mais adequado para o cargo que o presidente Marcelo, o que deveria ser mais que motivo para que vocês fechassem a matraca, mas pronto.

Não me dão razão mas eles não saberão vê-lo. Criticam instigam e picam e ficam com dor de cotovelo.

Muito obrigado ao Miguel Araújo por ter escrito esta canção sobre tesão e que ouvi antes de escrever este artigo.

7 comentários leave one →
  1. weltenbummler permalink
    7 Outubro, 2018 11:14

    o rectângulo tornou-se uma nova urss social-fascista

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  2. carlos alberto ilharco permalink
    7 Outubro, 2018 11:30

    os portugueses vivem preocupadíssimos, a julgar pelas redes psicopatas, com os resultados eleitorais de todos os países que não sejam o seu.

    Numa frase faz-se o retrato de um país.
    É obra,
    Gostava de ter sido eu a escrevê-la.

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  3. Manuel Peleteiro permalink
    7 Outubro, 2018 11:53

    Tenho alguma inveja por não conseguir escrever tão claro e tão certeiro. Parabéns

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  4. Mario Figueiredo permalink
    7 Outubro, 2018 12:23

    Bolsonaro não é apenas parolo. É um potencialmente perigoso parolo. O que é admirável de assistir é que ainda assim consegue ser melhor que os restantes. É outro Trump. Cara chapada das eleições Norte Americanas E precisamente porque consegue ser melhor do que os ainda mais perigosos Marcelo, Costa e Catarina, faz-nos muita falta aqui um parolo ao estilo de Bolsonaro.

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    • André Miguel permalink
      7 Outubro, 2018 18:33

      Até os há, mas não têm direito de antena, que em Portugal o respeitinho é muito bonito e não devemos “berrar”, porque os aventais ofendem-se.

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  5. 7 Outubro, 2018 12:30

    Eis um exemplo de prosa politicamente incorrecta que é o cúmulo da correcção política. Homem, solte-se, largue o cinismo protector e ame Bolsonaro com frontalidade e de modo absoluto.

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  6. Arlindo da Costa permalink
    10 Outubro, 2018 04:17

    Aquilo no Brasil tornou-se uma comédia.

    E vai acabar numa tragédia.

    Quem deve estar a rir-se são os comunistas porque os democratas fofinhos estão a ser enganados por uma turma de deliquentes e jagunços que apoiam um ex-capital expulso do Exército e não hesitaria em dar um tiro nos cornos de quem o contrarie. Inclusive a blasfema turma 🙂

    Muito me divirto com uma vossa indigência espiritual e anímica
    , já que a intelectual foi juntamente com o banho do parto 🙂

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