Saltar para o conteúdo

A angústia dos materiais no momento da nomeação

22 Outubro, 2018

edp

 

Nos últimos dias quase ninguém resistiu a comentar, muitas vezes de uma forma trocista, a nomeação de João Galamba para a Secretaria de Estado da Energia. Inicialmente, por causa do perigo de retaliação, que poderia materializar-se num corte de luz, considerei essa atitude imprudente. No entanto, depois de olhar com atenção para as facturas da electricidade cá de casa, passei a olhar para as velas, lamparinas, arcas salgadeiras e fogões a lenha com outro carinho. Assim sendo, relativizado o risco, também me vou aventurar nessa análise política.

Alguns apoiantes do Governo, defendendo a escolha de António Costa, afirmam que não é necessário ter conhecimentos na área da energia para se desempenhar com excelência as funções, eminentemente políticas, de Secretário de Estado da Energia; simultaneamente, numa manobra de flic-flac intelectual, aproveitam para elogiar a vasta experiência de Francisco Ramos na área da saúde e sublinham a enorme mais-valia dessa experiência para o desempenho do cargo de Secretário de Estado da Saúde. Já alguns dos opositores, funcionando como espelho, garantem que a ignorância técnica de João Galamba é fatal naquele lugar, ao mesmo tempo que asseguram, com igual convicção, que a sabedoria de Francisco Ramos não é motivo bastante para que fiquemos descansados.

Percebemos desta forma que a avaliação curricular, o método mais utilizado em todo o mundo, não é adequada às singularidades da política portuguesa, pois se uma pessoa pertencer ao partido certo, ter ido ao Corte Inglés de Vigo é habilitação suficiente para assumir a pasta dos Negócios Estrangeiros; pertencendo ao errado, até um híbrido português de Talleyrand com Metternich será alvo de fortes críticas se ambicionar mais do que a portaria do Palácio das Necessidades.

Cercados por este contexto altamente polarizado, talvez seja então mais justo que julguemos o trabalho de João Galamba de acordo com os critérios que ele utiliza para julgar o trabalho dos outros. E nesse caso, infelizmente, as notícias não são famosas. Se o ex-deputado, há uma semana, comentando a descida do rating português em 2011, realçava que esta tinha ocorrido uns dias depois da substituição de José Sócrates por Passos Coelho, temos a obrigação de lhe lembrar que, já depois da sua ida para a Energia, havia milhares de pessoas sem electricidade na Região Centro e postes de alta tensão dobrados sobre si próprios num estado de angústia extrema. Em 44 anos de democracia nunca se tinha visto o equipamento tão triste com uma nomeação. E, como bem sabemos, o material tem sempre razão.

 

9 comentários leave one →
  1. Daniel Ferreira permalink
    22 Outubro, 2018 14:52

    Onde é que já se viu ter que saber alguma coisa para se poder juntar à roubalheira…
    Se conhecimento nas respetivas áreas fosse um pré-requisito para lá trabalhar, a esquerda acabava na hora!

    Liked by 3 people

  2. Arlindo da Costa permalink
    22 Outubro, 2018 20:09

    João Galamba devia ter sido promovido a Ministro. Tem muito potencial.

    Gostar

    • António Castro permalink
      22 Outubro, 2018 20:22

      João Galamba foi nomeado secretário de estado da energia, pois o Costa quer queimá-lo de vez. Adivinha-se o desastre na energia, a acção do lobi da EDP, e o fim da sua carrreira política.

      Gostar

    • Alberto Silva permalink
      22 Outubro, 2018 21:24

      O João Galamba?
      Acho bem, caramba!
      Um burro carregado de livros é um doutor.

      Gostar

    • 22 Outubro, 2018 21:47

      Esse potencial não se escreve com um u?

      Liked by 1 person

  3. Leunam permalink
    22 Outubro, 2018 23:04

    Lindinho da bosta

    O que tu merecias era uma galambada pelo teu comentário.

    Gostar

  4. procópio permalink
    23 Outubro, 2018 00:00

    De vento em pôpa.

    Gostar

  5. 23 Outubro, 2018 22:39

    Não entendo o porquê de tantos chiliques em relação ao tach… perdão, em relação à nomeação de Galamba. Não foi todo este governo um longo cortejo de nomeações de gente sem qualquer perfil para o cargo – quando não um perfil que é a negação do próprio cargo? Senão vejamos: um alarve como João Soares para a Cultura; um troglodita como Santos Silva para a diplomacia; uma abelha-maia para a Administração Interna; um Wally (porque, tal como o caixa-d’óculos dos livros, sempre que olhamos para uma fotografia do PS no poder, ele está lá sempre no fundo mais ou menos escondido) para a Defesa. Portanto, qual é a admiração de o depilado Galamba ter a sua secretariazinha de Estado? Toda a estrutura deste Estado Socialista é composta de gente que não devia estar lá: ou por inadequação, ou por incompabilidade, ou por derrota eleitoral…

    Gostar

  6. Velho do Restelo permalink
    25 Outubro, 2018 19:27

    Caro Sérgio, grande texto com um excelente final !

    Gostar

Indigne-se aqui.