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‘Stôres’*

18 Fevereiro, 2008

«Importas-te de me dizer o que é que eu faço com duas alunas que nem sequer vêm à aula? Não estamos a falar das barracas ou bairros problemáticos. É gente com carros e férias não sei onde. Mas as famílias não fazem nada delas. E eu também não.» – A pessoa que do outro lado da linha assim desabafava é uma brilhante professora de Química. Conhecemo-nos há vinte anos numa escola da periferia onde ela desesperava por explicar que a expressão «fauna piscícola» não queria dizer, como alguns alunos daquela escola acreditavam – vá lá saber-se porquê! –, que ‘os piscícolas’ eram uma espécie de vilões poluidores que assassinavam a fauna. Em momentos mais imaginativos sonhávamos arredondar os nossos magros vencimentos imitando um professor francês que, por essa época, enriquecera passando a livro os disparates que compilava nos testes dos alunos. Na verdade não fizemos nada disso. Ao contrário de mim ela apostou numa carreira no ensino. E agora perante aquelas duas miúdas que nem sequer entram na sala, perante os outros todos que estão referenciados na comissão de menores, mais as famílias que não sabem o que fazer consigo mesmas quanto mais com as crianças e com os adolescentes, ela pergunta-se como será a resposta na sua ficha de avaliação a este parâmetro: «Promoção de um clima favorável à aprendizagem, ao bem estar e ao desenvolvimento afectivo, emocional e social dos alunos»?

Os parâmetros destas ficham revelam um dos maiores equívocos da nossa sociedade: uma escola que acha que deve ocupar o papel da família e dos amigos e que não assume o seu papel essencial – ensinar. Não admira portanto que as fichas de avaliação dos professores pareçam talhadas para o Departamento das Expressões onde foram enfiadas aquelas disciplinas simpáticas que passam a vida a mudar de nome mas que são temas e variações sobre as pretéritas Ginástica, Desenho e Trabalhos Manuais.
O ensino em Portugal tem o igualitarismo como um dos seus pilares. E se hoje já se discutem as consequências deste igualitarismo quando aplicado aos alunos continua a ser tabú aludir ao assunto quando estão em causa os professores. Até agora, nas escolas portuguesas, tanto ganhava quem ensinasse ponto cruz como quem leccionasse Matemática. Mas com este modelo de avaliação, os professores de ponto cruz terão sem dúvida muito melhores resultados que os seus colegas de Inglês, Física, Português, Matemática…

Como é que se chegou aqui? Em boa mas não exclusiva parte porque muitas das pessoas que estão na 5 de Outubro e nos diversos serviços do ministério por esse país fora não têm o mais leve conhecimento da realidade das escolas. Muitos foram professores pouquíssimo tempo e frequentemente detestaram a experiência ou pelo menos não a apreciaram o suficiente para se manterem como docentes. O caso do professor Charrua – aquele que terá contado uma anedota que a directora regional não apreciou – levantou um pouco o véu sobre o universo dessas delegações cheias de professores que aproveitaram as ligações partidárias e os conhecimentos nas influências locais para rapidamente dizerem adeus à escola, aos toques de entrada e saída e sobretudo aos alunos.

Esta gente uma vez instalada nos seus gabinetes dedica-se a produzir orientações para serem aplicadas nas mesmas escolas onde eles regra geral não conseguiram fazer nada. A acompanhá-los nesta tarefa estão os colegas que estudaram e se formaram nas chamadas Ciências da Educação e que do ensino ou da educação propriamente dita o que de mais próximo viram são as escolas superiores e os institutos onde eles mesmos estudaram e conseguiram automatcamente tornar-se professores das mesmas ciências da educação. Imagina-se um serviço de cirurgia cujos profissionais mais reputados e influentes não fossem os melhores cirurgiões mas sim aqueles médicos que tivessem apostado em teorizar sobre a cirurgia de preferência num espaço bem afastado do rebuliço do hospital? É isto que acontece na educação. Das alturas pedagogico-administrativas para onde se conseguem elevar, estes seres lançam sobre a escola aberrações pedagógicas, como a destruição do ensino técnico ou a defunta avaliação igualitária que não só pôs turmas inteiras com médio/reduzido como incentivava a nivelar por baixo. E produzem conteúdos como a TLEBS que não resistem a cinco minutos de aula.

Há vinte anos, alunos do 9º ano achavam que ‘os piscícolas’ queriam matar a fauna. Provavelmente esses alunos sonhavam ir para aquilo que então se chamava Humanísticos pois assim ficariam finalmente livres da Química, da Matemática e doutros trabalhosos saberes. Na verdade esses alunos também nunca tinham passado a Português desde a escola primária mas eles tinham razões para serem optimistas: pertenciam à geração que chegava com seis negativas a conselho de avaliação e saía de lá aprovada. A solução encontrada para este desastre foi ensinar cada vez menos. Existem manuais escolares cujos textos são simples adaptações de revistas. Ontem mesmo li, num destes manuais, um texto sobre o sistema circulatório que se limitava a adaptar uma prosa da revista “Superinteressante”. Era fraquinho o texto mas mesmo assim entendia-se. Propósito inatingível em matérias como a História onde um qualquer impulso jacobino proíbe que se ensine o passado diacronicamente. Interdito que está saber o nome dos reis, as criancinhas portuguesas debitam, em escassos meses, uma espécie de cavalgada heróica sobre as classes sociais e as alterações dos meios de produção que vai do terramoto de 1755 ao 25 de Abril de 1974. Onde antes estava a aula da terceira língua ou mais um tempo de Geografia passou a estar Área de Projecto, Formação Cívica e muitas outras actividades que supostamente ensinarão emoções, afectos, sexualidade e a comer verduras. E é sobre este universo edulcorado que os professores vão ser avaliados.

Alguma vez os professores teriam de começar a ser avaliados. E como a escola há muito que deixou de ter como principal propósito ensinar estranho seria que na avaliação dos professores se valorizasse essa sua competência. Perante estas fichas os professores foram colocados diante de uma evidência: de professores passaram a entretedores.

*PÚBLICO, 12 DE Fevereiro

53 comentários leave one →
  1. Filipe permalink
    18 Fevereiro, 2008 15:57

    Bom texto Helena.

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  2. 18 Fevereiro, 2008 16:06

    A Comissária Helena e o Assessor Filipe, dissertam sobre piscicultura.

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  3. Mialgia de Esforço permalink
    18 Fevereiro, 2008 16:11

    No meu tempo, os pais serviam para educar os filhos e a escola servia para ensinar.

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  4. frei de jesus permalink
    18 Fevereiro, 2008 16:22

    Também no meu tempo, Mialgia !
    Mas, hoje, que pais, que família, que escola, que sociedade ?
    Estamos submersos por toneladas de mitos … é o que é.

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  5. Anónimo permalink
    18 Fevereiro, 2008 16:25

    Cara Helena Matos

    Felicito-a pelo texto. Mas a questão é ainda mais sombria. Distraídos como somos, nem sequer houve ainda sensibilidade para perceber que, para além da questão das notas dos alunos contarem para a avaliação dos professores como tudo está, as aulas assistidas constituem o aspecto mais perverso e perigoso deste modelo de avaliação de professores. Há uma falta gritante em Portugal, que já não é só de pensamento liberal, mas tão-só da «simples» defesa da liberdade. Num país onde se resiste em perceber que não é possível avaliar com rigor o trabalho dos professores sem avaliar ao mesmo tempo e com rigor o trabalho dos alunos e, para isso, não há outra via que não seja o alargamento dos exames nacionais e revisão dos sistemas de classificação dos resultados escolares, continuamos a brincar com o fogo. Cito excertos de um texto que enviei há semanas ao PÚBLICO (mas que infelizmente não foi publicado): «(…) (ii) fica-se com a impressão de a prazo [com este modelo de avaliação de professores] cada escola se transformar, nas suas hierarquias e burocracias, numa espécie de pequeno ministério da educação, isto é, um dos maiores cancros do sistema educativo avança com aparente impunidade para a criação de mil e um clones; (…) (vii) escudados por (…) pretensas inovações, os «iluminados» atacam a sala de aula enquanto espaço de intimidade intelectual entre professor e alunos, tentando transformá-la num «território» vigiado, inventando-se para isso umas aulas assistidas ao longo de toda a carreira docente por uns «controleiros» que, de maneira directa ou indirecta, mesmo que não o queiram individualmente, a pressão do sistema fará deles agentes do reforço do controlo ideológico das «ciências da educação» (ou de outro «lobby» que existirá no futuro) sobre a prática docente, atentando contra o essencial da noção de liberdade que morre se não for construída a partir do ensino. Professores que tomem isso como normal, tanto do ensino básico e secundário quanto do ensino superior, era bom que tivessem um pouco de vergonha na cara. Não sei o que vai na alma do «actual» Partido Socialista, mas sei que a liberdade, naquilo que há nela de mais íntimo e essencial, está a ser cerceada, num processo que chegou à sala de aula. (…)». Nunca o ensino foi tão usado para servir directamente propósitos governativos, ainda por cima rasteiros: a estúpida «composição» de estatísticas. Às vezes é difícil reagir quando a incompetência resvala para a loucura num governo de um país democrático. Na educação está-se a preparar um desastre a prazo que é o que depreende (e bem) do seu texto. Quem não acredita que descer ainda mais não é só retórica, era bom que estivesse agora nas escolas básicas e secundárias e deixasse de olhar com preconceito os professores que se dão ao trabalho de reagir. Não vê quem não quer. Digo eu que sou defensor de uma avaliação que diferencie os professores e que nem sequer sou sindicalizado. Mas «jamé» avançar desta maneira.

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  6. Anónimo permalink
    18 Fevereiro, 2008 16:26

    O anónimo é Gabriel Mithá Ribeiro. Peço desculpa.

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  7. Beirão permalink
    18 Fevereiro, 2008 16:34

    Gostei.Fazer avaliação de professores com base nos resultados de exames nacionais é que não, para este governo.Esperemos que seja para o próximo pois que se Santana caiu fundamentalmente pelo concurso falhado dos professores este vai cair pela educação.
    Se todos consideram que é por aqui que portugal tem que encontrar saida(eu também acho) só me espanto de tanta teimosia em não estabelecerem precisamente o que encontraram a 25/4, nomeadamente exames em todos os níveis, ensino técnico que extinguiram e então sim avaliem os professores pelos resultados.
    Tudo o resto é a continuação da lição anterior que não interessa a ninguém, nem mesmo ao actual governo.

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  8. cicuta prós f da p permalink
    18 Fevereiro, 2008 16:36

    troquei o ensino universitário pelo trabalho na falecida indústria química.
    desperdicei inutilmente o meu tempo com filho de famílias problemáticas.
    infelizmente a “sinistra ministra” pertence ao sector do outro mundo e não conhece a republiqueta nacional-socialista onde deambula.
    o afundanço continua

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  9. clara martins permalink
    18 Fevereiro, 2008 16:41

    Nunca ouvi tanta cretinice junta como a explanada pelo anónimo das 4h25. Sou professora, não socialista, e não vejo problema nenhum na avaliação. Fui orientadora de estágio durante 12 anos e os estagiários tinham as suas turmas, onde eu assistia às aulas,e os avaliava. As fichas de avaliação do estágio eram bastante parecidas com as agora produzidas. Também havia (foi só há 3 anos!) alunos problemáticos, famílias problemáticas, alunos que faltavam e, no entanto, os professores estagiários eram avaliados! Se fosse verdade o que Helena Matos diz, nunca se poderia avaliar ninguém em nenhuma profissão! Só é possível avaliar professores através da observação das suas aulas, entre outros aspectos. Só tem problemas com a assistência às aulas quem não sabe dar aulas, não as prepara e não sabe relacionar-se com os alunos.

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  10. AAC permalink
    18 Fevereiro, 2008 18:06

    “Só tem problemas com a assistência às aulas quem não sabe dar aulas, não as prepara e não sabe relacionar-se com os alunos.”

    Na mouche.

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  11. Luis Moreira permalink
    18 Fevereiro, 2008 18:18

    Toda a minha vida fui ava1iado e em toda a minha vida profissiona1 ava1iei.
    O que se passa agora com os professores,passava-se há bem pouco tempo com os médicos e pessoa1 hospita1ar e continua a passar-se com os Magistrados na Justiça!

    A ava1iação é um diabo por várias razões.Desde 1ogo,por que :

    É preciso negociar objectivos e cumpri-1os.É preciso medir e sopesar o que se negoceia e não o que nos dá jeito.É preciso assumir responsabi1idade perante quem nos ava1ia e perante quem é objecto da nossa acção.É preciso aceitar que há quem faça me1hor que nós.Há que aceitar que não somos todos iguais perante as mesmas condições.

    Podem crer que ninguem gosta de ser ava1iado, e é por isso que há tanto azedume!É assim tão difíci1 negociar 80% de metas objectivas, que dependam única e exc1usivamente do traba1ho de cada um e deixar 20% para metas controversas,subjectivas?

    Mas se os professores não querem ser ava1iados pe1os resu1tados dos a1unos(porque as condições não são iguais) e tambem não querem serem ava1iados por “ava1iadores” ficamos em quê?

    Nos hospitais privados todos aceitam ser ava1iados.Nos co1égios privados todos aceitam ser ava1iados.Os funcionários do Estado não querem ser ava1iados porquê?

    Os que são bons profissionais não percebem que é assim que serão apreciados?

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  12. Gabriel Mithá Ribeiro permalink
    18 Fevereiro, 2008 18:23

    Cara Colega Clara Martins (9)

    O cretino sou eu. De qualquer maneira creio que merece algum esclarecimento. Assistir aulas de um estagiário não tem nada a ver com assitir aulas de um professor de carreira. E mesmo de um estagiário, se tivesse passado pela experiência que eu e outros passámos talvez pensasse duas vezes. A Colega foi durante doze anos «controladora» (por sinal na época áurea das «ciências da educação»…) e era bom que passasse pelo inverso. Por outro lado, está em causa um processo massificado de «controlo» que rompe revolucionariamente com uma noção milenar de professor, medida parida nuns minutos pelos idiotas da 5 de Outubro em Lisboa. Bem sei que o respeito pela autonomia dos indivíduos ou pela liberdade individual é um mero «pormenor» para alguns. No dia que que exigirem que as suas aulas devem também ser assistidas pelos pais, pelo presidente da junta de freguesia e outros que tais para a avaliarem, provavelmente vai perceber tarde e más horas a desgraça de não reagir a tempo (hoje!) e por que razões a instituição-escola se afundou de vez. Por outro lado, não reconheço competência nem eficácia numa avaliação entre pares, ainda por cima sem qualquer controlo externo fiável. Esse é o meio mais feroz de reprodução grosseira do politicamente correcto. Não compreendo como professores, como a Colega, sentem essa pulsão para o controlo sobre o seu colega do lado. E mais. Nada garante que o coordenador de departamento (avaliador) seja cientificamente melhor preparado do que o professor (avaliado), a não ser que as nossas preocupações se resumam à bíblia do «eduquês». Ouvi há tempos a história de uma nossa colega (potencial avaliadora porque na altura já era delegada de departamento), pessoa com mais de duas décadas de ensino, que teria afirmado que desde que fez a licenciatura nunca mais leu um livro. Gente sem ânimo intelectual e sem espírito livre e crítico arrisca-se a ter nas mãos um poder decisivo nas escolas. Nem que a observação de aulas fosse de 3 em 3 ou de 5 em 5 anos, já era preocupante. Agora: 3 vezes por ano?! Quem é que Vossa Excelência quer doutrinar?! Eu não preciso disso! Mas sim de exames! Os professores tanto fogem dos exames que se deixam enredar nestas barbaridades. Ou a Colega ainda não deu pela dimensão que o caciquismo e o compadrio tem na nossa sociedade e, sem dúvida, nas nossas escolas. E tudo se prepara para que a essência da avaliação dos professores passe por aí. Será a massificação da estupidez. Passei por 11 escolas e não falo à toa. Poderia alargar este comentário. Mas, infelizmente, nós professores temos as «ciências da educação» e o ministério que merecemos. Pobre país…

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  13. henrique permalink
    18 Fevereiro, 2008 18:24

    o DILEMA não são as aulas assisitidas…o dilema é a carga burocrática, o dilema é os pais demitirem-se dos seus papeis e agora poderem vir a reclamar, mesmo continuando na sua demissão, o problema são os ditos empresários que vão descontar dias de trabalho aos pais que forem à escola, o dilema será a partidarização das escolas com a entrada em força das bases partidárias para darem tachos aos amigos e amigos destes…A sociedade Portuguesa é uma sociedade virada para a cusquiçe, para o diz que diz, para a mediocridade…logo a visão do ministério é uma visão de destruição pura e simples do ensino a médio prazo…”As cópias de sistemas de ensino de outros não encaixam no nosso”. Andam a copiar desde o sistema Dinamarquês, ao Finlândes…em qualquer um destes países funciona? funciona. Aqui terá que ser o sistema português e não outro. Nada de adaptações. O nosso caminho educativo está traçado. o sistema de ensino público português vai ser igual aos sistemas de ensino público inglês, norte-americano e israelita. Estes estão piores que o nosso…mas nós caminhamos para lá.

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  14. Luis Moreira permalink
    18 Fevereiro, 2008 18:43

    Caros professores

    Numa esco1a autónoma,entregue aos professores, pais e autarquias a ava1iação não tem nada do outro mundo.Acredito que o Ministério metido nisto assuste, e com razão, muita gente.Os burocratas do ME são o pior da educação,há que os tirar do centro do sistema e principamente,tirá-1os de dentro das esco1as.

    Após este traba1ho de higiene a esco1a poderá seguir o caminho que os professores forem capazes de tri1har.Mas esse caminho passa pe1a ava1iação,responsabi1ização e mérito!

    Só assim os professores poderão ser o que já foram.Uma c1asse a quem todos nós devemos muito!

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  15. OLP permalink
    18 Fevereiro, 2008 18:47

    São dois resumidamente os problemas da educaçao
    1- Mais de vinte anos de “eduques a que quase nenhum dos professores de carreira reagiu porque podia prosseguir na sua carreira até ao fim.
    2- A “avaliação” supostamente para se por em pratica agora que lhes pode tolher a carreira á qual quase todos, senao todos reagem.
    Se é certo que os pais se demitiram do seu papel de educadores, tambem é certo que a grande maioria dos professores se demitiu de ensinar nestes ultimos vinte e tal anos.
    Se na saude o serviço esta pensado para a carreira dos profissionais de saude e nao para o doente, se na justiça está pensada quase tão só a carreira dos funcionarios de justiça e naõ para a justiça ela mesmo, porque no ensino se pensaria em ensinar alunos?

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  16. lucklucky permalink
    18 Fevereiro, 2008 19:30

    Nós não precisamos de sistema nenhum, apenas de liberdade de ensinar e escolher a escola que queremos. Competição. É evidente que O Sistema precisa de mais camadas burocráticas para tentar combater a sua inadequação. Dentro de 10 anos vai-se verificar que nada de essencial mudou e aí haverá mais planos para instituir outra camada burocrática.

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  17. A Matos Rodrigues permalink
    18 Fevereiro, 2008 19:31

    Breves:

    Conheço poucas coisas tão importantes no desenvolvimento das pessoas quanto o acto de aprenderem. Suponho que à Escola esteja ainda claramente atribuída essa missão e que esta não esteja já soterrada pelo desempenho de múltiplos códigos, corporativos e outros (ministério, professores, pais, sindicatos, …).

    Se a Escola não combater a idiotização dos cidadãos (todos, os directa e os indirectamente intervenientes) de pouco vale. E não é isso que está a acontecer – há vantagem, perversa, a todos os níveis, no abaixamento da exigência – as notas serão mais altas, as reprovações menores, ficamos todos melhor no retrato das estatísticas. Há um “second life”, puramente virtual, onde a escola portuguesa funciona. Quando regressamos ao mundo real, o da comparação de competências, entre alunos, escolas, países, comunidades científicas e mercados de trabalho, aí percebe-se o que de facto andamos a fazer.

    Se é difícil ensinar/aprender dadas todas as condições adquiridas não há, no entanto, desculpa, para o não-diagnóstico. Não há desculpa para que os EXAMES NACIONAIS sejam colocados debaixo do tapete, independentemente do racional que é vulgar desembainhar nestas alturas. A isto chama-se denegação.

    Dado que somos muito votados ao caciquismo e ao lambebotismo, que crescentes sintomas de medo vêm aliás promover, vejo com muita apreensão a atribuição ao “poder local” de funções que em princípio deveriam estar no centro, como condição de igualdade, constitucionalmente consagrada. Como se fará o futuro recrutamento de professores por esse país fora? Segunda a matrícula partidária? Estamos desgraçados.

    Uma amiga minha, professora do Ensino Primário, costuma pôr os alunos a ler, em silêncio, com concentração, um determinado número de horas por semana. Mas com crescente resistência dos pais. Quando estes passarem a fazer a avaliação desta professora, podem crer que a leitura acaba.

    Falência geral de tudo por causa de todos, falência geral de todos por causa de tudo, disse o Pessoa. Demissão, digo eu.

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  18. 18 Fevereiro, 2008 19:44

    Estou felicíssima!

    Vou ser avaliada por um titular para quem a segunda pessoa do singular do presente do indicativo dos verbos termina em invariavelmente em s;
    Vou ser avaliada por um titular que não sabe para que servem aquelas coisas a que os novatos chamam datashow;
    Vou ser avaliada por um titular que ainda não deu conta quer o programa da disciplina sofreu alterações há mais de 3 anos;
    Vou ser avaliada por um titular que concebe enunciados numa língua vagamente semelhante ao português…

    Mas estou feliz! Muito feliz!
    A Ministra da Educação do meu país escolheu-o para meu modelo.

    Já agora, para os teóricos aí de cima:

    Uma vez que só pode ser avaliado o que pode ser medido, que instrumento sugerem para medir o meu desempenho numa aula assistida pelo titular que descrevi?

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  19. Ai Jesus! permalink
    18 Fevereiro, 2008 20:09

    Bom! Excelente post.

    Essa é uma das realidades que se vive no nosso sistema educativo.

    Pena é que quem deveria estar atento, aparentemente dorme descansado. Ou pior – equivocado, corre, corre, parecendo atarefado sem contudo chegar a lado nenhum, apenas dando a sensação de estar em movimento.
    Para mim, isso já está mais próximo de debater os chamados “problemas do ensino”.

    Saúde.

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  20. Helena Matos permalink
    18 Fevereiro, 2008 20:11

    «cinco dias » Lá vamos nós de novo… não há necessidade. »

    Abra os livros dos 5º e 6º ano. Depois falamos sobre a História.

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  21. Luis Moreira permalink
    18 Fevereiro, 2008 21:06

    Tt

    A maior parte da ava1iação pode e deve ser feita sobre items mensuráveis.Objectivamente mensuráveis.Este é um princípio sem o qua1 a ava1iação nunca terá credibi1idade.

    Por exempo: Não tem fa1tas – 10%

    Deu toda a matéria -10%

    Deu x au1as de revisão -10%
    E assim sucessivamente!Até ficar tudo reduzido a 20% que poderá ser os resu1tados dos a1unos nos exames nacionais.Como as esco1as não traba1ham com a1unos e condições iguais,seriam introduzidos factores de ajustamento.

    Por exemp1o: Esco1a norma1 – 80% dos a1unos passaram -20%

    esco1a previ1igiada – 80% dos a1unos passaram – 16%

    esco1a prob1emática – 80% dos a1unos passaram – 24%

    Estes assuntos estão estudados há dezenas de anos.Há 30 anos traba1hei numa mutinaciona1 e já nessa a1tura me pagavam conforme os objectivos!

    Tenham medo do Ministério,não da ava1iação!Mérito,responsabi1idade e traba1ho.Não há a1ternativa!

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  22. Luis Moreira permalink
    18 Fevereiro, 2008 21:11

    Tt

    Quanto ao “contro1eiro” que descreveu, case com e1e!Se a sua paixão pe1o ensino não chega para esse sacrificio,juntem-se os professores e ava1iem-no a e1e.Se mesmo assim não for possíve1 dê-1he um tiro!

    Vai ver que o rapaz muda de esco1a e nunca mais dá erros de escrita!

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  23. Anónimo permalink
    18 Fevereiro, 2008 21:40

    Sinceros parabéns pelo notável texto!…

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  24. pinho cardao permalink
    18 Fevereiro, 2008 21:43

    Felicito a Helena Matos por tão brilhante descrição do estado do nosso ensino.
    Vou citar o texto no 4R.

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  25. AI Jesus! permalink
    18 Fevereiro, 2008 21:47

    Luís Moreira

    “trabalhou numa multinacional 10 anos”. Olhe meu caro, parabéns!

    Isso, de certeza, que o habilita a dizer o que quiser. Se o seu argumento para justificar uma avaliação, nos termos em que está colocada pelo ministério, é essa, então um serralheiro mecânico a trabalhar numa multinacional há 30 anos também deve estar habilitado para opinar com o mesmo conhecimento de causa que o caro amigo.

    Opine à vontade, que é para isso que aqui estamos…
    Agora não tente valorizar a sua opinião com experiências de vida. Estas, já se sabe, são como as frutas – há-as para todos os gostos.

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  26. Anónimo permalink
    18 Fevereiro, 2008 21:49

    Na minha modesta opinião, creio que o sistema educativo em PT está muito mal. Em primeiro lugar, porque não aumentam as médias de acesso ao ensino superior para que quer leccionar? Porque razão há pessoas a entrar quase com notas negativas nas faculdades e depois de 3 anos com pouca frequencia às aulas têm o “canudo” na mão e fazem fila para os poucos lugares que há para leccionar? Se se exige tanto dos futuros médicos na entrada à faculdade, creio que se pode exigir a quem quer leccionar. Por outro lado, todo o sistema de contratação dos professores è uma aberração.
    Por outro lado, que conversa é essa de que os alunos no ciclo não reprovam? e porque razão é tão burocratizada a questão de reprovar os alunos? pedir autorização aos restantes professores, aos pais? ja agora aos avos e declaração da junta de freguesia da residência.
    Quanto à avaliação, e a olhar para a avaliação que já fazem aos funcionários publicos (SIADAP), não acredito minimamente na avaliação, porque não passa de uma coisa combinada entre todos.
    E amigos, estamos a falar de pessoas, de gerações que estamos a formar. Assim continuaremos no fundo da europa.

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  27. Ai Jesus! permalink
    18 Fevereiro, 2008 21:54

    E claro que a lisura da sua lógica tb é das melhores quase que se pode fazer um resumo:

    Se a avaliação na empresa em que trabalhei há 30 anos funcionava (avaliação subjectiva sua) então, quando aplicada ao sistema de ensino português também vai funcionar.

    Olhe, desejo realmente, e por isso é que aqui venho aprender e desabafar, que o país possa progredir (eu sei que é cliché), o que passa muito por dar aos nossos jovens um ensino de qualidade.

    Saúde.

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  28. 18 Fevereiro, 2008 22:06

    Quase nenhum professor reagiu?
    Onde já vai a tonteira?
    Os professores aceitaram, que remédio, as formas de avaliação e formação que lhes foram impostas: os «créditos», lembram-se?
    Aceitariam outras, de preferência bem pensadas. Mas ninguém os consultou.
    Aceitaram a avaliação, mas acabaram chateados. Não esquecer que eram professores do secundário, minimizados porque o Ministério atribuiu – ou aceitou atribuir – a competência para ministrar essas «acções de formação» a entidades universitárias: claro, Universidade é igual a qualidade.
    Só que elas se limitaram a distribuir benesses aos mais variados «gajos porreiros» que conheciam.
    Ele foram «cursos» de socorrismo, de tapetes de Arraiolos, de expressão dramática ou de alimentação racional.
    Ele foram «cursos» de informática em que os professores se entretinham a visitar sites de chats e ficavam muito divertidos por verificar que os adolescentes tinham uma linguagem muito diferente da deles, coisa que já sabiam, claro. De computadores, mesmo na óptica do utilizador, raspas.
    Um simpático formador das minhas relações tentava explicar a função de um ícon que dizia «undo» (=des+fazer), mas pronunciava a palavra inglesa aportuguesando-a: um+du. Claro que é difícil para professores habituados a pensar e a fazer pensar os seus alunos, aproveitar alguma coisa destes simpáticos formadores.
    Muitos, como eu próprio, optaram pelo ensino à distância. No meu caso, paguei vinte contos na antiga moeda para fazer uma pesquisa sobre a identidade nacional. Ia já numas cinquenta páginas de considerações Eç’-Oliveiró-Martinicó-Pessoanas, mais Eduardo Lourenço, António José Saraiva, António Sérgio e por aí fora, quando recebi um impresso que me explicava que devia apreserntar um trabalho que não excedesse dez (10) páginas e que incluisse a planificação de uma sequência de aulas sobre este assunto.
    Estão a ver? Dez páginas, com planificação de uma unidade e tudo?
    Como é que eles pensavam que nós preparávamos as aulas?
    A solução foi a do «corte e costura», reduzir a pouquíssimas páginas o que já ia em cinquenta.
    Quem dá o que lhe exigem, a mais não é obrigado, não é?
    Havia também os relatórios. Explicava-se o que se tinha feito, na medida do que se tinha podido. Não era muito, claro, mas davam-nos nota positiva.
    Não, como se pode pensar, por compadrio. Apenas por honestamente se reconhecer que o barco se estava a afundar e que o ministério não se interessava pelo nosso trabalho. Estatísticas! Isso é que era.
    Que mais dizer?
    Nada, meus amores.
    Mas não falem do que não sabem.
    O sercundário lutou, gritou até lhe caírem os dentes, até se lhe rasgaram as garras.
    Não se esqueçam: são vocês quem vota.
    A escolha é vossa.
    Ups! Estou a falar demais. Sorry.

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  29. 18 Fevereiro, 2008 22:14

    O texto já foi comentado pelo meu canto, pelo que aqui apenas deixo os meus cumprimentos por ter abordado o assunto sem ser pela via mais óbvia, normalmente trilhada pelo seu colega João Miranda.
    O sistema é caricato e, para resumir, assenta em deixar a responsabilidade de avaliar àqueles que o ME considera terem progredido na carreira sem mérito.
    O que num país normal seria estranho.
    Por cá, é o corriqueiro.

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  30. riders on the storm permalink
    18 Fevereiro, 2008 23:27

    muito bom o texto da helena matos. o essencial desta análise , quanto a mim, está aqui:
    ” Na verdade esses alunos também nunca tinham passado a Português desde a escola primária mas eles tinham razões para serem optimistas: pertenciam à geração que chegava com seis negativas a conselho de avaliação e saía de lá aprovada. A solução encontrada para este desastre foi ensinar cada vez menos.”

    a helena deixou há muito de ser professora mas eu actualizo-a: agora esses outros alunos continuam a nunca passar a Português,agora diz-se Lingua Portuguesa, desde a escola primária, agora diz-se 1º ciclo e já não chegam ao conselho de avaliação, agora diz-se conselho de turma, com seis negativas. são todos alunos brilhantes.

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  31. Luis Moreira permalink
    19 Fevereiro, 2008 00:12

    Caros Professores

    Não há mérito e não há responsabi1idade sem ava1iação!Todos somos ava1iados e todos devemos progredir segundo o mérito.Ganhar segundo o que produzimos.

    Os professores, ta1 como médicos, juízes e funcionários púb1icos no gera1, têm que perceber que é inevitáve1!

    Sabe que durante 5 anos fui Director Gera1 num Ministério e tive que ava1iar
    cerca de 400 pessoas como “muito Bom”!Todos os anos!Sabe quem perdeu?Primeiro os muito bons funcionários,os que traba1havam, cujo traba1ho não era reconhecido.E depois eu que tinha que engo1ir aque1e sapo vivo, dando “muito Bom” a ma1andros que nunca traba1haram na vida!

    É isso o que os meus amigos defendem?

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  32. Ai Jesus! permalink
    19 Fevereiro, 2008 01:48

    Então… alto funcionário do estado admite permissividade e laxismo na execução de competências?

    O dever de um detentor de cargo público e político é aplicar a lei, e a lei (pelo menos que tenha tido conhecimento, razão pela qual faço já uma penitência) não dizia para assinar “muitos bons” onde não os havia. aplique-se a lei, ou pelos menos não se lhe feche os olhos!

    “Não há mérito e não há responsabi1idade sem ava1iação!”

    Estamos de acordo.

    Mas também há uns chavões muito bonitos que fazem um bom efeito decorativo e, no entanto, parecem já apontar outro tipo de soluções:

    “Excesso de regulamentação atrapalha o desenvolvimento dos agentes de mercado”

    Às vezes, na ânsia de querer fazer o melhor, está-se a trilhar caminhos mais difíceis. Também é curioso o aparente antagonismo de atitudes expressas por vezes em discursos desse tipo. Quero eu dizer, há coisas que estão demasiado regulamentadas e outras que que carecem de regulamentação. Para não haver dúvidas, o melhor é explicar mais devagar.

    De repente apetece-me perguntar: se o antigo sistema de avaliação (sim, porque existia um sistema de avaliação) não funcionava e era uma verdadeira vergonha, então onde é que estão os responsáveis por ela não funcionar? Alguém apurou?

    Se calhar era feita pelos mesmos que agora vão fazer a avaliação… só que agora já vão devidamente credenciados como “professor titular”. Credencial esta obtido por decreto.

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  33. riders on the storm permalink
    19 Fevereiro, 2008 01:51

    Eu não sabia mas agora sei que não foi o sistema de avaliação que falhou! Foi o avaliador! Normalmente, como prémio, é-se promovido. Na escala de avaliação do seu ministério só havia “muito Bom”?

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  34. Luis Moreira permalink
    19 Fevereiro, 2008 02:05

    Sabe que eu co1ocava todas essas questões e se hoje estou aqui a fa1ar de1as é porque ainda hoje me estão atravessadas.mas a questão é que se eu não desse “muito bom” a todos,no Ministério ao 1ado todos os que tinham “muito bom” passavam á frente dos meus funcionários!

    Andava um ano inteiro com este prob1ema e só assinava no ú1timo dia, muito pressionado, mesmo por aque1es que mereciam o “muito bom”!

    Não 1utem contra aqui1o que é inevitáve1.Exijam que a ava1iação seja negociada, seja mensuráve1 e o menos subjectiva possíve1!

    Só assim se separará o trigo do joio, e a prazo toda a c1asse ganhará ! E o ensino irá me1horar.É assim que funcionam as instituições que prestam serviços e/ou produtos.De outra forma terão contra o ensino púb1ico cada vez mais gente que, não esqueçam, é ava1iada no emprego.Ninguem aceita isso!

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  35. 19 Fevereiro, 2008 02:20

    Para que serve um povo educado e culto? Só se for para contestar/questionar os poderes instalados. Melhor que a Democracia só mesmo a Ignorancia (Tirei-lhe o circunflexo a ver se rimava). O circo continua…

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  36. Anónimo permalink
    19 Fevereiro, 2008 03:08

    Para além dos problemas legislativos, os grandes problemas desta avaliação são 2:

    1º – A extensa burocratização da dita, dada a diversidade de papéis que nos têm atribuído, exigindo que tenhamos competências e capacidades para uma enormidade de atribuições que não fazem parte da formação e em muitos casos nem dos conteúdos profissionais da nossa profissão.

    2º – A avaliação entre pares, concorrendo avaliados e avaliadores para a mesma classificação.

    Falaram, em vários comentários da avaliação que fizeram.

    Num, uma colega fala de orientação e consequente avaliação de estagiários. Também já a fiz, também fiz formação de professores. Não é a mesma coisa. Em qualquer destas situações está-se a avaliar alunos (um pouco diferente quando se trata de profissionalização em exercício – o que também fiz; no entanto, continua a ser diferente) e não colegas que trabalham todos os dias connosco.
    Na reunião de avaliadores irão encontrar-se avaliadores e avaliadores-avaliados discutindo classificações, onde estão inseridas as suas, classificações essas que irão permitir o acesso às quotas definidas para as notas que permitem uma progressão mais rápida. Isto é maquiavélico!

    Noutro comentário, falou-se de se ter sido avaliador e avaliado. Entendi esta avaliação no quadro de uma hierarquia de patamares onde “cada patamar” é responsável pelo de baixo e responsabilizado em relação ao de cima. Aqui, se não houver problemas de favoritismos ou de “quaisquer outros ismos”, pode ser feita uma avaliação correcta já que a avaliação do avaliador não interfere na avaliação do avaliado no jogo por “um lugar ao sol”. Médicos e magistrados, são avaliados pelos pares, mas não pelos colegas do dia a dia. São os chefes de serviço, no caso dos médicos. Nos magistrados não sei como se chama mas é pelo magistrado que é superior hierárquico do avaliado.
    Em nenhuma profissão se avalia o colega do mesmo “nível” que concorre consigo para “o mesmo resultado”.

    São estes os maiores problemas da nossa avaliação… e são estes os grandes factores de destabilização.

    O problema dos titulares (nos quais me incluo) e das suas competências é infelizmente um problema sério. Se há os que acompanharam a evolução do conhecimento, há os que estagnaram. Infelizmente este é um mal que pode ser apontado em todas as idades e em todos os escalões do pessoal docente (tal como pode ser apontado em qualquer profissão). Mas pior do que este “mal” que, em muitos casos, é capaz de ter a humildade de pedir ajuda, é o “mal” daqueles a quem lhes sobe o poder à cabeça. Destes é que é preciso desconfiar – competentes ou incompetentes são pessoas para causar grandes catástrofes. E “nas voltas da net” já encontrei diversos casos.

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  37. Roger permalink
    19 Fevereiro, 2008 03:08

    De todos os professores que eu conheço (por mera coincidência,não porque tenha que lidar profissionalmente com algum) metade não concorda com as medidas do Ministério a outra metade diz qualquer coisa do género “por muito que me custe admitir (ou por muito que eu não goste do estilo da ministra) há muitas coisas em que a ministra tem razão”. Ou seja, eu à partida, fora do assunto e sem conhecer as medidas da ministra, estava contra os professores porque detesto corporativismos e histerismos sem uma argumentação lógica. Depois de ouvir os professores que conheço fico com a ideia que há uma sustentação objectiva naquilo que a ministra tem vindo a fazer. Mas o que importa, de facto, é se o ensino melhora ou não. E isso é que vai dizer se a ministra tinha razão ou não. Quanto à questão da avaliação e de haver um avaliador concordo com o que se disse acerca dos professores estagiários. Se funcionou para eles porque não para todos?

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  38. 19 Fevereiro, 2008 03:10

    Peço desculpa!
    O comentário de cima é meu

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  39. 19 Fevereiro, 2008 03:11

    Afinal não é o de cima. É o comentário 38 que saíu como anónimo

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  40. 19 Fevereiro, 2008 03:41

    Gostei da sua rima, José Chouriço. E para desfazer a ignorancia dos que estão ocupados/preocupados com esta avaliação da treta, cá vai solução para o problema levantado no texto. Aquela colega preocupada com a sua avaliação pelo abandono de duas das suas alunas, aquando da definição dos seus objectivos, dirá que tem 4, 5, 6, 7, …alunos em risco de abandono. No final verifica-se que abandonaram dois. Pronto, ficou candidata ao excelente, fez uma boa oposição ao abandono.É tudo faz de conta. O primeiro-ministro acabou de dizer que a coisa não tem de ser perfeita.
    O Luis Moreira que tem a douta sabedoria inerente ao cargo de director geral já explicou. É fazer o negócio bem feito.

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  41. 19 Fevereiro, 2008 03:59

    Afinal o José Chouriço já ficou lá para trás. E veio a Maria Lisboa apontar problemas desta avaliação.
    O problema é que esta avaliação individual não serve para resolver o que está mal nas escolas. Melhorar o nosso trabalho implicaria um trabalho de equipa que levasse todos para a frente. Esta avaliação impede isso mesmo.Essa senhora avaliadora que não sabe falar e, provavelmente, não sabe escrever nem pensar irá alguma vez obter uma avaliação regular ou irregular? Nunca. Vai continuar por lá. O melhor seria que se criasse um clima tal que lhe permitisse reconhecer as suas insuficiências e pôr-se a aprender.

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  42. OLP permalink
    19 Fevereiro, 2008 12:12

    Engraçado….
    Os professores reagiram as suscessivas “reformas” do eduques que que lhes impigiram os sucessivos ministérios.
    O engraçado está no facto de na tentativa de demonstrar a “imensa revolta” nos paragrafos seguintes a palavra mais usada seja “aceitaram”
    Significativo….
    Tambem significativa é a expressão de quem dá o que lhe exigem a mais não é obrigado.
    O pior de tudo que se ouviu foi (no sentido figurado..com certeza) “tanto grito que até lhes cairam os dentes”.
    Caramba tanta barulheira que quase não se ouviu nada.
    Nunca fizeram um protesto conjunto, uma greve ou grupos reivindicaçao da exigencia.
    Aceitaram sim, aceitaram e voltaram a aceitar, calaram desde os tempos do Roberto Carneiro esta espiral de não ensino apenas e porque não lhes mexiam nas carreiras que lhes agradava.
    Essa é que é a verdade.
    Tão verdade que agora dificilmente se lhes pode reconhecer o direito moral de supsotamente estarem a lutar por um melhor ensino, principalmente e apenas porque tocam naquilo que consideram essencial … a sua progressão nas carreiras. Se a mais não foram obrigados porque agora deveriam ser?
    E o nevitavel acontece sempre que se poe á discução um tema tão bem tratado como HM pos beste post.
    Acaba-se sempre a discutir o mesmo….
    O mesmo mas sobre alunos, sobre ensino, pouco ou quase nada.

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  43. 19 Fevereiro, 2008 12:43

    Caríssimo Luís Moreira,

    Permita-me que lhe diga que revela um profundo desconhecimento da realidade do ensino público. Digo-lhe isto, com a tranquilidade de quem apenas está no ensino público, transitoriamente, por imperativo académico relacionado, exactamente, com a medição de desempenho.

    Feito este esclarecimento, há-de fazer-me a justiça de aceitar que sou absolutamente favorável à avaliação de desempenho. É por isso que, infelizmente, não posso aceitar o modelo apresentado pelo ME.

    Há princípios na proposta do ME que hipotecam qualquer possibilidade de sucesso. Por exemplo:
    – Tem como principal objectivo a limitação das progressões na carreira. Uma avaliação séria teria como meta a melhoria da qualidade do ensino e almejaria que todos os seus actores tivessem um desempenho excelente;
    – A quantidade e características dos items a avaliar é absolutamente excessiva. Uma avaliação séria assenta no que é preciso mudar mais urgentemente e escolhe os 4 ou 5 indicadores tidos como principais alavancas desse mudança para observar em cada período de tempo, dado que, como os estudos demonstram,à medida número de indicadores é inversamente proporcional à eficácia da avaliação;
    – As grelhas apresentadas são eminemtemente subjectivas e, também como os estudos demonstram, a subjectividade é inimiga da justiça e da eficácia.

    Enfim, muitas outras observações poddiam ser feitas, de forma construtiva.

    Já agora, reparou que, depois da publicação das famigeradas grelhas de avaliação, não houve um único académico ou expert em avaliação/medição de desempenho que aceitasse fazer parte do tal Conselho Científico?

    Sabe, caro Luís, o problema das escolas é inatacável sem uma reforma profunda da gestão dessas organizações. E com as cedências que o ME está a fazer nessa área, suponho que ficará tudo na mesma, se não pior.

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  44. 19 Fevereiro, 2008 16:14

    A avaliação dos professores deve ser feita não por outros professores da mesma escola, mas sim por avaliadores independentes, para evitar compadrios.
    E o ensino deve ser exigente para preparar os jovens para o ensino superior ou para o mercado de trabalho.
    Mas em Portugal nenhum político quer que as pessoas sejam cidadãos informados e interessados, querem que sejam cordeiros dóceis que pagam os impostos e se calam.

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  45. Tribunus permalink
    19 Fevereiro, 2008 17:07

    Nenhuma avaliação pode ser feita de uma só vez, a alunos e professores. A resposta de ambos, com o seu comportamento, durante 2 ou 3 anos coloca o dedo nos inuteis.
    Agora por favor, exames todos os anos, falta injustificadas, perda do ano, roubos, pancadaria, irradiação do ensino, responsabilidade civil, a partir dos 12 anos (assim os prejuizos, causados são resarcidos)!
    Com estas pequenas medidas, os meninos, deixavam de ir passear até a escola, porque sabiam o que lhes ia doer!

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  46. 19 Fevereiro, 2008 19:00

    Não sou professor pelo que não posso falar com conhecimento de causa. Mas interesso-me pelo assunto por achar que uma boa formação é a chave para o sucesso e por entender que temos estado perante Ministérios do Sucesso Educativo (note-se o plural) ao invés de Ministérios da Educação.

    Uma avaliação profissional justa é imprescindível em qualquer profissão. No contexto escolar, será o que levará o típico professor baldas, o mau profissional que existe em todas as profissões, a mudar de emprego ou de atitude. Mas com a avaliação que agora se pretende implementar isto não sucederá. O professor baldas passará todos os seus alunos, progredindo na carreira, enquanto que o professor competente passará apenas aqueles que merecem, sendo-lhe imputada a indiferença do aluno quanto ao processo de aprendizagem.

    É fácil dizer que este processo de avaliação está errado mas então como se podem avaliar os professores? Há uns tempos sugeri algumas ideias sobre o assunto. Não para levar a sério, já que eu não sou um especialista na matéria, como o Valter de Lemos. Já que não cabe no contexto do comentário, deixo o link para quem tiver paciência de por lá passar.

    Cara HFM, subscrevo a análise do seu texto!

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  47. Titular, pois que remédio... permalink
    20 Fevereiro, 2008 01:12

    Cara Tt,
    diverti-me a ler o seu texto.

    Para mim, a segunda pessoa do singular do presente do indicativo dos verbos não termina em invariavelmente em s;
    Apesar de ter mais de 30 anos de serviço, sei o que é um datashow (e utilizo-o…);
    Costumo dar conta das mudanças nos programas… quando elas acontecem;
    Os enunciados que concebo costumam receber elogios pela qualidade do português…

    Mas estou infeliz! Muito infeliz!
    Querem delegar em mim competências de avaliação, mas eu não quero avaliar ninguém. E não vou fazê-lo! E fico a aguardar com interesse as sanções que eventualmente me irão aplicar…
    Quanto ao titular que a sorte(?) pôs no seu caminho, se fosse a si, rifava-o!

    P.s. Vejo, na escola onde trabalho, gente entusiasmadíssima com a avaliação do desempenho e desejosa de saltar para as salas e, nalguns casos doentios, de iniciar verdadeiros ajustes de contas…

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  48. Anónimo permalink
    21 Fevereiro, 2008 19:38

    Pois esses casos doentios, e o facto de esta avaliação o permitir é que me preocupa. Nunca tive muito jeito para lambe botas. E também já passei por sitios onde os coordenadores de departamento haviam tirado os cursos 20 anos depois de darem aulas; na universidade aberta ou num qualquer Piaget…

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  49. 22 Fevereiro, 2008 00:04

    E não se pode requerer o impedimento para esses avaliadores ignorantes?
    Conheço cada caso!

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  50. Oliveira da Serra permalink
    9 Março, 2008 15:28

    Baboseira número 1: “Até agora, nas escolas portuguesas, tanto ganhava quem ensinasse ponto cruz como quem leccionasse Matemática.”

    Resposta: Foi precisamente um Professor de Matemática (Engenheiro de formação), que quando viu que a sua mediocridade na àrea de formação base nunca o levaria a lado nenhum, se resolveu a ir dar aulas.
    Resultado: alguns alunos, que sempre tinham sido bons a Matemática, passaram a medíocres em três tempos e nunca mais recuperaram aquele ano de aprendizagem de Matemática. Os anos seguintes foram sobejamente mais difíceis.
    Conclusão: a mediocridade pega-se. Afinal o Prof. não era só mediocre na sua formação base… também era mediocre na sua nova profissão. E quantos casos destes aconteceram há 20 anos atrás? Milhares, de certeza. Depois queixamo-nos todos do caos que é hoje o ensino da Matemática (e de outras disciplinas).

    Baboseira número 2: “Provavelmente esses alunos sonhavam ir para aquilo que então se chamava Humanísticos pois assim ficariam finalmente livres da Química, da Matemática e doutros trabalhosos saberes.”

    Resposta: Na generalidade, com Professores tão maus nestas disciplinas, aprender Matemática e Química é um trabalhoso e penoso processo. Ah… só mais uma coisa: o ensino dos Humanísticos, e das disciplinas “simpáticas” são tão ou mais importantes que as Matemáticas e a Química. Dou-lhe um exemplo concreto: sou Designer e a Química que aprendi, na prática, não me serviu de nada para as funções que desempenho. As aulas de Desenho foram as responsáveis pelo sucesso profissional que tenho.
    Conclusão: Continuamos a ter um ensino desajustado às necessidades vocacionais dos alunos, e a grande maioria dos Professores de hoje, continuam a ignorar as novas tecnologias, mas pior… fazem resistência às mesmas.

    Estou neste momento na casa dos trinta, e é com alguma tristeza que ainda verifico que muitas das matérias que se ensinam, ou continuam a não se adequar à maturidade das pessoas que a estão a receber, ou simplemente tivaram muito pouca actualização em 15 anos. E os Professores também são culpados disso.
    Enquanto fui aluno, quantas Professoras ficavam eternamente de licença pelas mais variadas razões, deixando alunos pendurados meses inteiros sem aulas???
    Quantos atestados falsos entraram nas secretarias, para justificar férias e fins de semana prolongados???

    É urgente uma reforma do Ensino, e tem que se começar por algum lado. O grande problema é que custa muito levantar o cú da cadeira, e fazer realmente alguma coisa de diferente! Estamos todos muito confortáveis.

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