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Nunca se deve dar poder a um tipo porreiro*

3 Abril, 2009

No início ninguém dá nada por eles. Mas pouco a pouco vão conseguindo afirmar o seu espaço. Não se lhes conhece nada de significativo mas começa a dizer-se deles que são porreiros. Geralmente estes tipos porreiros interessam-se por assuntos também eles porreiros e que dão notícias porreiras. Note-se que, na política, os tipos porreiros muito frequentemente não têm qualquer opinião sobre as matérias em causa mas porreiramente percebem o que está a dar e por aí vão com vista à consolidação da sua imagem como os mais porreiros entre os porreiros. Ser considerado porreiro é uma espécie de plebiscito de popularidade. Por isso não há coisa mais perigosa que um tipo porreiro com poder. E Portugal tem o azar de ter neste momento como primeiro-ministro um tipo porreiro. Ou seja alguém que não vê diferença institucional entre si mesmo e o cargo que ocupa. Alguém que não percebe que a defesa da sua honra não pode ser feita à custa do desprestígio das instituições do Estado e do próprio partido que lidera. O PS é neste momento um partido cujas melhores cabeças tentam explicar ao povo português por palavras politicamente correctas e polidas o que Avelino Ferreira Torres assume com boçalidade: quem não é condenado está inocente e quem acusa conspira. Nesta forma de estar não há diferença entre responsabilidade política e responsabilidade criminal. Logo se os processos forem arquivados o assunto é dado por encerrado. Isto é o porreirismo em todo o seu esplendor.
Acontece porém que o porreirismo de Sócrates, pela natureza do cargo que ocupa, criou um problema moral ao país. Fomos porreiros e fizemos de conta que a sua licenciatura era tipo porreira, exames por fax, notas ao domingo. Enfim tudo ‘profes’ porreiros. A seguir fomos ainda mais porreiros e rimos por existir gente com tão mau gosto para querer umas casas daquelas como se o que estivesse em causa fosse o padrão dos azulejos e não o funcionamento daquele esquema de licenciamento. E depois fomos porreiríssimos quando pensámos que só um gajo nada porreiro é que estranha as movimentações profissionais de todos aqueles gajos porreiros que trataram do licenciamento do aterro sanitário da Cova da Beira e do Freeport. E como ficámos com cara de genuínos porreiros quando percebemos que o procurador Lopes da Mota representava Portugal no Eurojust, uma agência europeia de cooperação judicial? É preciso um procurador ter uma sorte porreira para acabar em tal instância após ter sido investigado pela PGR por ter fornecido informações a Fátima Felgueiras.
Pouco a pouco o porreirismo tornou-se a nossa ideologia. Só quem não é porreiro é que não vê que os tempos agora são assim: o primeiro-ministro faz pantomina a vender computadores numa cimeira ibero-americana? Porreiro. Teve graça não teve? Vendeu ou não vendeu? Mais graça do que isso e mais porreiro ainda foi o processo de escolha da empresa que faz o computador Magalhães. É tão porreiro que ninguém o percebeu mas a vantagem do porreirismo é que é um estado de espírito: és cá dos nossos logo és porreiro.
E foi assim que de porreirismo em porreirismo caímos neste atoleiro cheio de gajos porreiros. O primeiro-ministro faz comunicações aos país para dizer que é vítima duma campanha negra não se percebe se organizada pelo ministério público, pela polícia inglesa e pela comunicação social cujos directores e patrões não são porreiros. Os investigadores do ministério público dizem-se pressionados. O Procurador Geral da República, as procuradoras Cândida Almeida e Maria José Morgado falam com displicência como se só por falta de discernimento alguém pudesse pensar que a investigação não está no melhor dos mundos…
Toda esta gente é paga com o nosso dinheiro. Não lhes pedimos que façam muito. Nem sequer lhes pedimos que façam bem. Mas acho que temos o direito de lhes exigir que se portem com o mínimo de dignidade. Um titular de cargos políticos ou públicos pode ter cometido actos menos transparentes. Pode ser incompetente. Pode até ser ignorante e parcial. De tudo isto já tivemos. Aquilo para que não estávamos preparados era para esta espécie de falta de escala. Como se esta gente não conseguisse perceber que o país é muito mais importante que o seu egozinho. Infelizmente para nós os gajos porreiros nunca despegam.
*PÚBLICO, 2 de Abril

27 comentários leave one →
  1. tina permalink
    3 Abril, 2009 10:01

    “Aquilo para que não estávamos preparados era para esta espécie de falta de escala”.

    A todos os níveis!…

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  2. 3 Abril, 2009 10:04

    Muito boa análise ao nacional porreirismo e às suas consequência!

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  3. Anónimo permalink
    3 Abril, 2009 10:04

    Experimentem dar o poder a um gajo que não é porreiro , um gajo daqueles que nem se incomoda de acusar outros de tudo e todos, um gajo ou gaja que é capaz de estragar a vida a qualquer um por despeito, por ciúme, por vingança, seja por que for. Um gajo ou gaja que diz seja o que for para incrimiar outro. Experimentem. Essa gente que não percebe que o país é muito mais importanate do que conseguir o poder a qualquer preço. Experimentem dar o ppoder aos inquisidores mor da pátria.

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  4. OLP permalink
    3 Abril, 2009 10:14

    Um país que acha que o promotor do genocídio africano nas ex-colónias é o pai da pátria democrática….. é porreiro.
    Um país que deixa andar e até investe dinheiro da SS social num ninho de ratos é …..porreiro.
    Um país onde se consegue pós-graduações antes das graduações…mais porreiro é.
    Um país onde um autarca condenado é promovido a eurodeputado é ….muito porreiro.
    Um país onde doutos 250 votam e ninguém repara em pelo menos oito inconstitucionalidades é um exemplo de como ser …porreiro.
    Um país que considera como “reserva moral” um ocupador de cadeira durante trinta anos e que recebe reforma por ter trabalhado 3 meses numa rádio porreiro é.
    Um país falido mas de acumulação de reformas só tem um superavit de porreirismo.
    Não teria fim se continuasse, mas vou ser porreiro e ficar por aqui.(talvez me “calhe” algum por isso).

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  5. Anónimo permalink
    3 Abril, 2009 10:19

    Outro tipo porreiro no governo
    http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1372379

    Reparem, condena o recurso à Justiça mas admite que podem ter feito asneira da grossa.
    Gente perigosa, intimidatória e sem vergonha na cara.

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  6. campeão permalink
    3 Abril, 2009 10:19

    O “sapo” transformou-se em “princepe” e se não pode ser amado , tem de ser temido ( vide pressões aos “media” ,ás policias , aos magistrados , aos profs etc).
    Do mal valha-nos o menos pois é completamente incompetente .Dedica-se a debitar decretos leis que vão tentar atenuar os males provocados pelo dec. lei anterior , continuamente até ao atolamento total .É assim o princepe socialista!

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  7. caramelo permalink
    3 Abril, 2009 10:26

    Helena, o Socrates é um tipo porreiro, ou é um tipo que diz de si próprio que é porreiro? Não percebi. Eu, por exemplo, não acho que ele seja porreiro. Aí em cima o OLP também acha que não. Não se importa de esclarecer?

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  8. Anónimo permalink
    3 Abril, 2009 10:28

    Andam a criar uma enorme mentira, uma peta maior do país. A da claustrofobia democrática, a do fascismo, a da pressão, a da Margaridas Moreiras, a disto e daquilo. Depois queixem-se!!!

    Estiveram a fazer a historinha do Pedro e do Lobo.
    No fim quem fica com o poder ainda vão ser os que estão a ver a banda a passar.

    Alguém acha que vai se ganharem a causa, vão votar psd ou pp?!? Nopes, Vai tudo ao chão.

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  9. Joaquim permalink
    3 Abril, 2009 10:31

    Cara HM,
    É a populaça no poder.

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  10. 3 Abril, 2009 10:36

    Parabéns pela criativiadade na forma com abordou a questão.

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  11. Anónimo permalink
    3 Abril, 2009 10:39

    a semana passada era arrogante, esta semana é porreiro. mudaram de agência de comunicação ou efeito da última sondagem?

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  12. 3 Abril, 2009 10:42

    Muito bem Helena. Como escreve o FJV, gostaria de ter escrito…

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  13. 3 Abril, 2009 10:43

    Miss Helena Matos,

    Li ontem. Óptimo texto/análise.

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  14. Anónimo permalink
    3 Abril, 2009 10:45

    Arrogante, porreiro, mentiroso, gay, propagamdista, power-point

    enfim acho que vou votar nessa pessoa que incomoda tanta gente!!

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  15. observateur permalink
    3 Abril, 2009 11:11

    Cara Helena

    Concordo ABSOLUTAMENTE consigo. Não troco nem uma palavra.

    Mas deixo-lhe uma pergunta : é com posts em blogs que vamos lá?

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  16. OLP permalink
    3 Abril, 2009 11:16

    O Caramelo deve ler enviesado.
    Onde é que eu “acho” o Sócrates?
    Nem o mencionei.

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  17. caramelo permalink
    3 Abril, 2009 11:37

    Ah, foi má interpretação minha, li mal nas entrelinhas. Portanto, o país não é porreiro (quando dizes “porreiro”, estás a ser irónico, não é?), mas isso não inclui o Sócrates.

    15. para além dos blogues, tens duas hipóteses: ou eleições ou a revolução armada.

    9. Joaquim ao poder!

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  18. 3 Abril, 2009 12:34

    O que se constata é que um post do único elemento feminino do Blasfémias, é logo seguido de uma sequência de comentários bajuladores (já vão seis), em jeito de claque… ou machismo!

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  19. Mr. Hyde permalink
    3 Abril, 2009 12:58

    A Lena é bué porreira!

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  20. 3 Abril, 2009 12:58

    @18: Falo por mim: não bajulo ninguém, sejam tias ou sobrinhos. Até já fui bem “chato” noutras ocasiões.

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  21. observateur permalink
    3 Abril, 2009 13:35

    17. E desde quando é que eleições neste país da treta são hipótese de mudar o que quer que seja?

    Eu só tenho uma hipótese, e está por semanas : Emigrar.
    E não é por falta de emprego. É por falta de perspectivas de futuro. E por amor próprio.

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  22. Anónimo permalink
    3 Abril, 2009 14:24

    o capataz jfernandes tuitou que o artigo é porreiro. pois, eu acho-os muita bacanos e liberais à moda de braga.

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  23. Mike permalink
    3 Abril, 2009 15:36

    em alternativa a 1 gajo porreiro temos o quê??? um f.d.p.??? ou talvez um meio-termo???fiquei sem perceber…

    falo de uma forma abstrata, é claro…

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  24. 3 Abril, 2009 17:31

    Porreiro… vem de porra, não é?

    Alguém sabe o que significa o termo porra? 😉

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  25. Gabriel Mithá Ribeiro permalink
    3 Abril, 2009 18:26

    Cara Helena Matos

    Este seu artigo é daqueles que compensa muitas edições inócuas e faz-nos perceber a razão de valer a pena comprar diariamente o PÚBLICO. Fará certamente mais textos assim. Parabéns!

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  26. OLP permalink
    3 Abril, 2009 20:43

    É o que fazem certas obsessões, vêem linhas onde não as há.
    E não estou a ser irónico em absoluto, apenas constatei factos.
    Será que errei em algum?

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  27. Leoa Ramos permalink
    3 Junho, 2009 21:18

    Já decidi. Também vou emigrar. Estou cansada de tanta democracia.
    Gosto de viver com regras e leis, não gosto de viver e conviver com “porreiros”. Estou FARTA !

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