Saltar para o conteúdo

“Domingo, vá votar” *

7 Junho, 2009
by

Há anos, num documentário acerca do 5 de Outubro de 1910, foi exibido um filme da proclamação da República na varanda da Câmara de Lisboa. As imagens focam os revolucionários vitoriosos, mas, ao fundo, vislumbram-se carros de bois ladeados por agricultores que, pacatamente, se dirigiam para o centro da cidade a fim de venderem os seus produtos.
Nem uma só vez aqueles homens e mulheres pararam para testemunharem a história diante de si nem viraram a cara com mera curiosidade. Tal como os bovinos que puxavam os carros, devem ter ido para casa sem saberem que já não havia rei. Certamente, julgavam que nada daquilo lhes dizia respeito – era só política.
Não podemos agir como se a política fosse assunto alheio. A inércia na cidadania paga-se muito caro.

* Correio da Manhã, 4.VI.2009

15 comentários leave one →
  1. 7 Junho, 2009 14:54

    Uma coisa é uns gajos irem à varanda da Câmara, proclamarem não sei quê.
    Outra bem diferente, é irem lá proclamar a vitória do clube.

    Gostar

  2. 7 Junho, 2009 15:17

    Quando o FCPorto venceu a Champions em 2004, Santana Lopes mandou engalanar a varanda da Câmara e, com um dístico especial.
    (Também assim se caçam votos).

    Gostar

  3. 7 Junho, 2009 15:26

    «Uma coisa é uns gajos irem à varanda da Câmara, proclamarem não sei quê.»

    ???

    Gostar

  4. 7 Junho, 2009 15:31

    A República !, Mr. Piscoiso.

    (Estive para chamar a atenção desse “não sei quê’, ainda bem que Mr.CAA o fez).

    Gostar

  5. 7 Junho, 2009 15:32

    Em 1910 ainda não havia internet.

    Gostar

  6. 7 Junho, 2009 15:42

    «Em 1910 ainda não havia internet.»

    Mas já havia abstenção existencial, i.e. aquilo que gosto de chamar ‘estado geral de bovinidade’

    Gostar

  7. 7 Junho, 2009 15:46

    Em 1910, já havia (boa) imprensa.
    Em Lisboa e no Porto.

    Gostar

  8. 7 Junho, 2009 16:57

    Excelente texto. Escrevi à pouco também umas palavritas sobre o assunto, se me permitem a divulgação: http://odivagador.blogspot.com/2009/06/dos-direitos-e-deveres.html

    A inércia paga-se bem caro!

    Gostar

  9. Saloio permalink
    7 Junho, 2009 17:14

    Bom post, CAA, e oportuno.

    cumps

    Digo eu…

    Gostar

  10. josua permalink
    7 Junho, 2009 18:10

    Não voto em mentirosos

    Gostar

  11. maloud permalink
    7 Junho, 2009 18:18

    Em 1910, os agricultores dos carros de bois eram analfabetos. Hoje não há desculpa para o “estado geral de bovinidade”

    Gostar

  12. 7 Junho, 2009 18:47

    Maloud,

    …E a iliteracia que ainda hoje existe, não só entre os camponeses ?

    Gostar

  13. Kolchak permalink
    8 Junho, 2009 00:06

    6:

    Se em 1910 houvesse internet não haveria, de certo, república em Portugal.

    Gostar

  14. Miguel permalink
    8 Junho, 2009 10:49

    “Mas já havia abstenção existencial, i.e. aquilo que gosto de chamar ‘estado geral de bovinidade’”

    Vamos lá obrigar toda a gente a votar, até as vacas se for preciso.

    Gostar

  15. 28 Setembro, 2009 15:09

    O “estado geral de bovinidade” é o vosso, suas bestas!
    Entre as pessoas respeitam-se os outros E OS SEUS MOTIVOS. Mas é típico da propaganda nazi, enxovalhar e achincalhar os outros que não se submetem à “doutrina” dominante e que, com a sua justíssima e justificadíssima “rebeldia” não agem como convém aos interesses dos “propagandistas”…
    E a Abstenção, GRAÇAS A DEUS E À INTELIGÊNCIA DOS ELEITORES, continua a subir…
    vou mesmo ter de passar para aqui umk comentário que deixei em “Dúvida metódica”, numa cópia deste texto:

    Há coisas que a gente lê… e nem acredita no que os nossos olhos vêem. Este texto é uma dessas “coisas”.
    … É assim como Eça de Queiroz in “Cartas de Inglaterra”:
    “O Europeu de Alexandria considerava o fellah egípcio como um ser de raça ínfima… assim como La Bruyère descrevia os aldeões do tempo de Luís XIV, “vultos escuros, curvados sobre a terra e tendo a vaga aparência de seres humanos…””.
    Eça escandalizava-se porque “isto” passava-se no século XIX…
    Em pleno século XXI há quem tenha lata, pouca vergonha e total ausência de decência de escrever coisa semelhante a fim de estigmatizar os abstencionistas…
    Pura “propaganda nazi”.
    Como abstencionista convicta, com um milhão de motivos para o ser, COMO TODOS OS ABSTENCIONISTAS, devolvo-vos o epíteto, que bem, o merecem: “seres horríveis, sem inteligência e sem alma, COM A VAGA APARÊNCIA DE SERES HUMANOS” é o que vocês são.
    Deixo aqui a cópia do que escrevi noutro forum, onde a conversa tem algum nível. Talvez seja tempo perdido mas, ao menos, ficam a saber a deplorávvel figura que fazem
    Aqui vai o texto:
    “Abstenção!
    Uma visão economicista, ainda assim incipiente, da questão: abstenção.
    Ando a defender a valoração da abstenção há 4 anos. Agora criei uma petição para o efeito: Valorar a Abstenção (que já conseguiu lançar o pânico nas hostes do “inimigo” e que tem sido alvo de toda a espécie de boicotes. Lá chegaremos…)
    Concordo com a sua análise só em parte. Na verdade acho que a questão é muito mais profunda e que a estigmatização da abstenção que é feita pela “propaganda” dominante, totalitária é concientemente FALACIOSA.
    Não vou analisar exaustivamente o questão porque isso daria um texto muito longo (como é meu defeito), vou deter-me, apenas, numa outra faceta da análise economicista que se pode fazer:
    Os arautos do achincalhamento dos abstencionistas, argumentam como se a abstenção fosse uma prática “amoral”, cujos autores têm de ser “punidos”. Não todos. é claro, apenas os “comodistas”. Daí resulta que os causadores da abstenção: os políticos e suas práticas, como muito bem refere no seu texto, ficam sempre impunes e, pior, saem largamente beneficiados, mercê daquela “punição” das suas vítimas. Mas isso não interessa nada! Ninguém fala no assunto.
    Isto é perverso e dá origem a que o cidadão, frequentemente, se veja confrontado com actos infames das instituições e seus titulares que se arvoram o direito de beneficiar da mesma lógica DE IMPUNIDADE e de, com falácias e mentiras, culpar (e punir) as suas vítimas.
    Resultado: O cidadão queixa-se e reclama; ninguém ouve e agrava-se a abstenção. Se ninguém ouve o cidadão, este interioriza o sentimento de que ele (cidadão) e o que diz ou sente, não tem importância… também não tem importância votar ou não, até porque não tem em quem votar e nem acredita que alguma vez venha a ter (opção que lhe convenha). Se os responsáveis ignoram o cidadão, o cidadão faz-lhe o mesmo: ignora-os. Esta é a principal razão da abstenção.
    Vejamos a questão do outro lado: do lado dos políticos.
    Eles vivem no seu mundo, à parte, com as suas próprias regras e a sua lógica… que o “BOM” cidadão deve engolir obrigatoriamente. Se não engole, a culpa é dele, cidadão. E, portanto, os políticos ficam com o “direito” de se apropriarem dos votos e da representatividade dos abstencionistas e doutros, auferindo as respectivcas vantagens, como formade punir esses malandros que ousam não pensar como eles mandam.
    Com isso, um partido ou formação política que valha 30% dos votos (como foi o caso do P.S. nas últimas eleições legislativas) consegue 52% dos deputados… e o poder absoluto (ou quase porque os outros são TODOS iguais a eles). Eu também queria ter uma actividade assim: “valer” 30% do mercado e auferir, sem mais esforço nem encargos ou investimento, 52% da receita.
    Agora diga-me lá como é que isso se chama em Economia.
    Para mim, em Política, chama-se “prática nazi”…
    Valorar a abstenção é uma questão de elementar democracia”
    Já sei que este comentário vai ser apagado, como têm sido muitos outros em muitos outros locais, mas a gente deve sempre confirmar as suspeitas, PARA PODER ACUSAR.

    Gostar

Indigne-se aqui.