«O jornalismo no ano 2000»
«Considerando no que é hoje, observando as suas tendências, pode conjecturar-se, aproximadamente, o que virá a ser. Um curioso aprofundou esta questão e lisonjeia-se de ter descoberto, com plausibilidade, as condições em que há-de achar-se o jornalismo no ano 2000.
Há fome e sede de notícias: todos querem saber tudo – o que pode e deve saber-se e o que não pode nem deve saber-se -, a máquina reproduz em minutos o pensamento, para ser transmitido a todos os pontos da terra, e já não é só a máquina para estampar o jornal, é também a máquina para compor; inventou-se o tipógrafo-máquina e deve esperar-se, portanto, que venha a idear-se o redactor-máquina.
O jornal é hoje diário e o mais é que chega a reproduzir a mesma folha em duas ou três edições, com alguns aditamentos ou notícias. Isto será atraso e fossilismo no ano 2000. Daqui a 50 anos, os jornais publicarão uma folha, inteiramente nova, de hora a hora, e, daqui a 100 anos, de minuto a minuto, de instante a instante. Será um moto-contínuo e ainda não satisfará a curiosidade pública. Cada cidadão fará um jornal: o artigo de fundo constará sempre das notícias da sua vida pública e íntima.
Como o jornalismo assume tais proporções, talvez se pense que faltará papel, porque é necessário advertir que de cada jornal se tirarão, de minuto a minuto, milhares de folhas; mas a isto há-de ocorrer-se com facilidade, porque, assim como o jornal é instantâneo, instantânea há-de ser a leitura; e o papel vai, minutos depois de lido, para a fábrica, a fim de se reproduzir […] apenas o superfino será reservado para os brindes aos assinantes, os quais, ao cabo da sua assinatura, já possuirão uma biblioteca de 525 000 volumes, pois tantos são os minutos que tem o ano; já se vê que a cada folha acompanhará um brinde.
O telégrafo eléctrico generalizar-se-á, cada cidadão terá o seu telégrafo em correspondência mútua, de maneira que em um minuto se saberá o que se passa nos pontos mais afastados e, em Lisboa, se poderá saber, de instante a instante, até à vida caseira do mais boçal esquimó; com o que os povos hão-de folgar, deleitar-se e instruir-se.
O jornal caseiro será alheio à política; para esta haverá jornais especialíssimos e os seus redactores nem serão amigos, nem distintos, quando não forem da mesma parcialidade; quando, porém, comungarem na mesma pia (também em 2000 se darão destas), então serão inteligências robustas, caracteres provados… no que forem.
Mas como é de crer que no ano 2000 já exista a paz universal e a união entre todos os homens, acabará a política, os governos governarão sempre conforme… à nossa vontade, portanto, serão inúteis os jornais políticos; não haverá, pois, nem turibulários, nem oposicionistas; todos serão amigos e distintíssimos cavalheiros, unidos no pensamento comum de amarem a sua pátria. Assim seja.»
in Jornal do Comércio, de 25 de Fevereiro de 1868
Premunitório, sem dúvida.
Só se enganou na paz.
Hoje já se faz disto: http://piscoiso.blogspot.com/2009/11/ter-um-jornal-por-medida-com-os-temas-e.html
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Premonitório. Fantástico. Parabéns.
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“… nem oposicionistas; todos serão amigos e distintíssimos cavalheiros, unidos no pensamento comum de amarem a sua pátria”
prova que os desejos são dificilmente ficcionáveis
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Gabriel, onde andas a desencatar estes textos fantásticos?
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LA-C,
muito trabalhinho, pá, muito trabalhinho.
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#2.
Obrigado pela correcção.
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Muito trabalhinho? Copy/paste de outro blogue? É só palhaços.
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Acredito neste texto, até porque se está na internet é porque é verdade.
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Como eu gostaria de estar na situação de * informado privilegiado * ! . Não estou. Porem, há sinais. Sinais de que Sócrates está a ser contestado pela Esquerda do P.S. Querem melhor indício do que a reunião com Manuel Alegre onde foi incitado a candidatar-se a Presidente do Partido?
Pois bem: se tiverem êxito a roubalheira que agora grassa vai ser pelo menos não tão aparente. Talvez nós todos ganhemos se for mais comedida. O perigo será o de uma bem possível aproximação ao P.C.P. de forma a reaver uma maioria no Parlamento.
Só uma ideia . . .
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É caso para se dizer:
f%$&-se que sacana visionário!
Peço desculpa pela linguagem, mas é caso para tanto!
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