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Recordações duma casa de Óbidos*

14 Fevereiro, 2010

Há terrorismo na Europa. Nessa UE das estrelinhas, do diálogo, da concertação existem terroristas e terrorismos. E não me estou a referir nem aos fundamentalistas islâmicos mais a sua cruzada contra os infiéis nem a outros movimentos, como os curdos, que na Europa procuram  ajustar entre si as contas que não conseguem  resolver nos seus países de origem. Não é que esse terrorismo não exista mas a verdade é que, apesar da sua visibilidade e da condenação unânime que gera, ele está longe de ser o que nos causou maior número de vítimas ou o que nos coloca perguntas mais incómodas do ponto de vista daquilo que somos.
Afinal em várias democracias europeias existem movimentos terroristas activos, dos quais a ETA é o mais conhecido mas está longe de ser o único. Estes movimentos integram frequentemente nas suas lideranças gente proveniente das universidades de que nos orgulhamos (Itália e Grécia), gozam em alguns casos de fortes ligações à Igreja católica (Irlanda e Espanha) e, ao contrário do que se acreditou no fim do século XX, após a dissolução do grupo alemão Baader-Meinhof e da neutralização, em Itália, das Brigadas Vermelhas, estão não só longe de serem dados como extintos como parecem ter-se recomposto do desaparecimento da URSS e seus satélites, donde lhes vinham meios e treino. Assim, e num levantamento muito grosseiro da actividade destes grupos, encontramos em Espanha a ETA  e  diversas organizações que lhe servem de cobertura legal. Em Espanha há ainda que ter em conta os maoístas GRAPO que não fazem atentados desde 2006  mas que mantêm armamento e alguma capacidade operacional.
 Em Itália, o fantasma da reconstituição das Brigadas Vermelhas voltou desde que em 2002 foi assassinado o economista Marco Biagi com a mesma arma que anos antes servira para assassinar Massimo D’Antona, um assessor do Ministério do Trabalho.  Regularmente italianas as autoridades vão dando conta nos últimos anos de prisões e encontrando arsenais que dizem pertencer às novas Brigadas Vermelhas.  Em França, para lá da pouco falada actividade da Frente Nacional de Libertação da Córsega, que só no ano de 2009 reivindicou a autoria de 24 atentados, existe a percepção por parte das autoridades, desde os confrontos nos subúrbios em 2005, que é cada vez mais ténue a linha entre algumas acções de protesto e o terrorismo. A publicação e rápida difusão na internet do livro “L’Insurrection qui vient” (escrito por um colectivo anónimo em 2007 e que enquadra na luta contra o capital e o sistema a acção dos grupos que a televisão mostrou em 2005 incendiando automóveis) é tida como um marco nessa transição do activismo violento para a acção directa.  Na Grécia, onde durante vários anos existiu um dos menos conhecidos grupos terroristas europeus,  a Organização Revolucionária 17 de Novembro, contam-se actualmente em actividade pelo menos mais três grupos terroristas, todos eles contando com o activismo empenhado de jovens universitários.
 É evidente que estes grupos não têm hoje a capacidade que mostravam nos anos 70 quando, em Itália, as Brigadas Vermelhas não só conseguiram raptar o primeiro-ministro Aldo Moro como mantê-lo sequestrado durante 55 dias, findos os quais o assassinaram . E dificilmente a ETA conseguiria agora comprar mísseis como fez em 1998 ou manter dois sequestrados (Jose Ortega Lara e Jose Maria Aldaya)  em esconderijos diferentes como ocorreu em 1996. Mas não menos evidentemente mantém-se viva na Europa a disponibilidade dos jovens europeus  para apoiarem a violência política, agora de uma forma mais anárquica e trocando a vanguarda do proletariado pelo envolvimento dos grupos ou bandos na desconstrução do sistema. Assim, sendo o terrorismo uma espécie não endémica da Europa mas que por aqui se mostra particularmente resistente, convirá que não esqueçamos que os terroristas europeus não são alegados rapazes que fizeram umas alegadas parvoíces e muito menos são parvos, ignorantes ou pobres.  São gente aparentemente banal como a que alugou aquela casa em Óbidos.

*PÚBLICO

9 comentários leave one →
  1. anónimo permalink
    14 Fevereiro, 2010 11:06

    li em em zê, primeira, diagonal e últimas linhas e fiquei pedrado. sniffar essas linhas todas é macro overdose. o público está a ficar casal ventoso e a domolição deve estar para breve, o problema do belarmino.com é o destino dos intóxicopendentes e as doses indemnizatórias.

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  2. anonimo permalink
    14 Fevereiro, 2010 12:32

    low cost generation, depois do jornalismo é o terrorismo e ainda se queixam.

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  3. 14 Fevereiro, 2010 17:37

    E, já agora, especialmente para os mais jovens mas também para aqueles que, sendo mais velhos, têm memória fraca, convirá lembrar que não há muito tempo tivemos por cá, no rectângulo, uns “rapazes” que assassinaram 13 pessoas entre 1980-87, a tiro e à bomba, pelo meio de um mão cheia de assaltos a bancos (“recuperação de fundos”, chamavam-lhe eles).

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  4. 14 Fevereiro, 2010 19:53

    Os movimentos terroristas na Irlanda recebiam dinheiro da URSS? Não seria a massa antes proveniente dos EUA? Que vontade de rescrever a História, caramba…

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  5. helenafmatos permalink
    14 Fevereiro, 2010 22:57

    os movimentos terroristas na Irlanda receberam apoios muito variados e se quiser de váris dos países que têm poder de veto no conselho de segurança da ONU mas o IRA foi aqui referido muito de passagem e sobretudo por causa da sua ligação à Igreja Católica.

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  6. lucklucky permalink
    14 Fevereiro, 2010 23:07

    “Os movimentos terroristas na Irlanda recebiam dinheiro da URSS? Não seria a massa antes proveniente dos EUA? Que vontade de rescrever a História, caramba…”

    Dos dois e URSS via Líbia também. Tudo o que acontece na URSS era controlado pelo estado não se passa o mesmo nos EUA.

    A propósito de terrorismo:

    O resultado da Insanidade dos Narcisistas como Obama e os Europeus: como não há Guantanamo, não se pode interrogar, e eles têem os direitos de qualquer cidadão, logo que há cada vez menos capturados e mais só Atirar a Matar.

    Um terrorista se é preso a cometer um atentado tem mais direitos que um soldado inimigo, mas quando está com família num País estrangeiro já pode morrer de um ataque de mísseis.

    …The strike was considered a major success, according to senior administration and military officials who spoke on the condition of anonymity to discuss the classified operation and other sensitive matters. But the opportunity to interrogate one of the most wanted U.S. terrorism targets was gone forever…

    Some military and intelligence officials, citing what they see as a new bias toward kills, questioned whether valuable intelligence is being lost in the process. “We wanted to take a prisoner,” a senior military officer said of the Nabhan operation. “It was not a decision that we made.”

    …Even during the Bush administration, “there was an inclination to ‘just shoot the bastard,’ ” said a former intelligence official briefed on current operations. “But now there’s an even greater proclivity for doing it that way. . . . We need to have the capability to snatch when the situation calls for it.”…

    http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/02/13/AR2010021303748_pf.html

    Como é evidente agora já não há protestos…

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  7. oO PROGRESSISTA permalink
    15 Fevereiro, 2010 03:42

    Faltou dizer o mais do que óbvio!

    A URSS APOIOU ACTIVAMENTE OS MOVIMENTOS TERRORISTAS NA EUROPA E EM TODO O MUNDO ENQUANTO EXISTIU!

    AFIRMA CATEGORICAMENTE OLEG KHALUGUINE, EX GENERAL DO KGB, REFUGIADO EM INGLATERRA DESDE O PRINCÍPIO DO FIM DA URSS (Sabe demais…teve k se defender…)

    O MESMO QUE FICOU ESPANTADO POR EM PORTUGAL NÃO SE SABER QUE O MFA/PCP E TESTAS DE FERRO LEVARAM TONELADAS DE FICHEIROS DA PIDE PARA A URSS NO PÓS 25 DE ABRIL.

    Convém dizer as verdades históricas.

    E não ter medo do papão do fááxxxsssissssmo!

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  8. oO PROGRESSISTA permalink
    15 Fevereiro, 2010 03:48

    E essa ligação do IRA à Igreja Católica ( como da ETA) é mais do que duvidosa!

    IRA significa Exército Republicano Irlandês.

    REPUBLICANO!

    É essa a sua principal característica.

    A ICAR nunca apoiou o IRA!

    Simplesmente, como o objectivo deles era (ERA) a independência-ou ligação à Irlanda- a base de recrutamento NÃO seria os pró UK…anglicanos.

    Mas a maior parte dos membros do IRA nem são crentes…são ateus!

    Portugal tb tem largos milhares de ateus, apesar de ser de maioria católica.

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  9. Anónimo permalink
    15 Fevereiro, 2010 20:06

    E o terrorismo feito pelo estado espanhol contra o povo basco , não conta ?

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