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Diário de Raquel Varela (2014)

30 Dezembro, 2014

Esta compilação de entradas é um serviço público gratuito para a difusão do pensamento de uma intelectual portuguesa; não deve ser interpretada como uma crítica e sim como um elogio à profundidade economico-social da academia portuguesa, a única entidade capaz de nos tirar da crise de valores das nossas contas bancárias.

12 de Janeiro

Alguma classe média adora chocar-se com «os pobres que têm um telefone caro». Esquece-se que um telefone complexo é muito mais barato do que ter prazer a ler um livro porque para ler um livro é preciso ter lido muitos, é preciso conhecer o vocabulário, compreender as palavras, situar os lugares. Para ler um livro é preciso pais que leiam livros e que os tornem aquilo que são – viagens pelos mundos da humanidade.
Um ignorante é-o porque não desvela o conhecimento, é-o porque é iletrado – lê mas não compreende o que lê; é-o porque em vez de ir dar um passeio no jardim fica a ver na televisão as personagens passearem no jardim.
Tudo isto se muda com muita facilidade mas não se revolve tirando os jovens da escola nem os colocando lá inutilmente. Resolve-se gastando muito dinheiro, em muitos professores, em turmas pequenas, em professores universitários que formam os de secundário, numa sociedade saudável de pleno emprego e acesso à cultura.
Claro que para isso não se podem construir 10 estádios de futebol ou pagar a dívida pública, “dívida” que do ponto de vista económico é exactamente o mesmo que construir 10 estádios de futebol.

16 de Janeiro

Estou cansada de coitadinhos – no cinema, na literatura, na pintura – , de distopia. Há muita gente neste país desanimada e que, sem querer, pode levar-nos para o caixão com elas.
Uma das razões porque estes tipos que estão amarrados ao Estado vencem é porque matam a utopia. A Televisão é uma galeria de horrores como quem diz: «isto é mau com eles mas imagina sem eles? É melhor ficarem com este Estado do que sem Estado nenhum onde a rivalidade e a barbárie se imporiam!». Criam assim um espelho invertido, um jogo em que só os maus e os miseráveis prevalecem. Mas isso não é socialmente verdadeiro. Por cada pai que mata um filho, que enche as páginas do Correio da Manhã, há 5 milhões que fizeram o melhor para dar aos seus filhos uma vida decente. A vida não é nem feita de realismo da URSS, estilo invenção do futuro, nem dos dramas dos intelectuais deprimidos, que vivem sempre o fado, cantam o juízo final, nadam no dilúvio. Até porque se a vida fosse assim, não havia história, só presente e destino.

20 de Janeiro

A praxe combate-se com ideias, com cultura, com uma nova forma de estar na universidade; as tragédias podem evitar-se parcialmente com educação para os perigos – o mar, a serra, os rios e barragens, o álcool e os carros, temas de educação cívica que desapareceram da televisão e que podiam, com bom senso e sem falsos moralismos, alertar para perigos que se desconhecem.

21 de Janeiro

A propósito de um post que partilhei sobre arte contemporânea, a que muitos artistas – alguns num estilo fanático – responderam que eu não sabia de arte, gostaria de dizer que é mesmo verdade. Não percebo nada. Do Van Gogh interessa-me o tempo que foi pastor nas minas e como retratou os mineiros. Disso percebo, gosto das suas pinturas. Mas da pintura dele, tirando o que está divulgado para leigos e que li, nada sei nem vou saber. Não escrevi um artigo científico sobre arte contemporânea, nem um artigo de opinião. Nunca o faria. Escrevi 3 linhas a dizer que não frequento museus de arte contemporânea – entrei nuns 10 na vida e foi tempo e dinheiro perdido – como não como sushi nem visito a Disneylândia nem gosto dos livros do Philip Roth. Vejamos, não gosto de guerras e não percebo nada de estratégia militar; não gosto de camisolas amarelas e não percebo de design. Não gosto. A arte pode ser de qualidade e o Philip Roth um grande escritor mas eu não gosto.

7 de Fevereiro

Uma tendinite está-me a paralisar os dedos e chove a cântaros há semanas, em todo o lado. Não consigo escrever mais do que curtas linhas sem uma dor alucinante. O governo contínua a governar…Mas um armador internacional escreveu à Mota Engil a dizer que não quer os navios carregados por trabalhadores desqualificados – outra forma de dizer “ai que a Europa pára se o conflito se arrasta e alastra!” – , enquanto o sindicato dos estivadores escrevia uma carta de solidariedade aos ferroviários mal tratados pela polícia.

14 de Fevereiro

(sobre aborto) E se depois as almas que se perderam em tanto prazer se forem confessar, já pode ser gratuito?
Logo hoje que é dia de amar…Este senhor desconhece que as pessoas como eu pagam impostos para terem direitos e nesses direitos está o direito ao sexo sem culpa, sem pecado, está o direito a errar, está o direito a ter um azar, e até, pasme-se, o direito a perder a cabeça e depois o direito a arrepender-se.
Devia-se ter na coragem política a mesma “sensação de tudo” que se tem num orgasmo e esta tristeza toda de viver sob o nevoeiro diário destes tipos já tinha passado…

24 de Fevereiro

Que as pessoas se recusem a ter filhos na actual situação é um sintoma de salubridade e decência. Os filhos não são um boneco que se compra para afagar o ego e, longe vão os tempos, felizmente, em que a segurança social era constituída por ter muitos filhos, que alguns acabariam por cuidar dos pais em velhos e muitos filhos, todos juntinhos, aos 10 de casa vez, 3 gerações, numa casa insalubre, para que todos os míseros salários juntinhos permitissem manter-se vivos. Há! velhos tempos, que ainda bem que passaram…
Não faltam nas nossas universidades equipas multidisciplinares que provaram – sem contraditório algum – que a dívida pública é uma renda fixa, que as PPPs deviam ser unilateralmente denunciadas, que a Banca devia ser nacionalizada, que os trabalhadores pagam 75% de todos os impostos, que é possível reduzir o horário de trabalho sem reduzir o salário e todas as pessoas trabalharem, que o Estado Social é auto sustentado. Não precisamos de equipas multidisciplinares, precisamos de políticas de ruptura com este modelo social destrutivo.

8 de Março

Estarei segunda-feira no programa Prós e Contras, tema em debate “Ficar ou Partir”.

12 de Março

Não vou denunciar ninguém que ande de transportes públicos sem pagar porque as pessoas pagam com impostos transportes que deviam ser por isso – por estarem pagos em impostos e trabalho – gratuitos. Não peço factura na cabeleireira nem no mecânico porque a economia informal é aquela que está protegida pela lei na Holanda, onde estão 19 das 20 maiores empresas portuguesas a pagar impostos e lá tão pouco os pagam porque há um regime fiscal estilo República das Bananas. 75% de toda a colecta fiscal em Portugal vem do factor trabalho quando devia ser no mínimo o contrário. Fazer dos pobres alvo, e de todos nós delactores, é próprio de cobardes que se recusam a identificar os verdadeiros problemas sociais. Aos mais pobres devemos educação, saúde, transportes públicos, emprego, direitos laborais e sociais, cultura, cultura e mais cultura.

6 de Abril

Podem voltar a passar o Roque Santeiro, o Bem Amado, a Gabriela, a Tieta, o Amarcord e a Batalha de Argel, o Maigret, o Poirrot e a Miss Marple, o Tom Saywer e o Bel e Sebastião, o BBC vida selvagem e as viagens de Cousteau, e eu volto a ver televisão. Poupam imenso dinheiro em actores bonitos, argumentos para ignorantes, cenários limitados, e muitos gritos e barulhos, que é hoje aquilo em que a televisão se tornou – lixo e barulho. Por mim também podem voltar a passar os telejornais dos anos 80 que aprenderíamos mais sobre a crise do que com o espectáculo de mediocridade a que temos que assitir hoje. Não é saudades do passado: é que começa a ser intolerável o mau gosto, a redução mecânica da realidade, a pobreza de espírito, a falta de liberdade de expressão elementar, ausência de contraditório, a promoção da mediocridade. Começa a não haver qualquer coincidência entre o que passa nas televisões – seja na ficção seja nos noticiários – e a realidade.

17 de Abril

As redes sociais são uma oportunidade única para divulgar ideias críticas mas também para que a superficialidade se instale. A “doutora” questionada, escrevem. É uma espécie de vingança da mediocridade que ainda por cima tem sempre contido um certo horror aos “doutores”, que, aliás, se tem instalado pelo país. Passámos da reverência salazarista aos doutores, elitista, para um mundo pós moderno em que se tenta suplantar a a ciência e investigação pelo mundo dos assessores de imprensa, comentadores, escribas de blogues. Junte-se a isto a disputa por escassos lugares nas Universidades, que impõe a inveja no lugar da cooperação, e temos o clima instalado para que quase seja impossível um debate sério, e contraditório, de ideias.

11 de Maio

Ontem, num avião da Ryanair, do Porto para Faro, o comissário de bordo, depois das normas de segurança, anunciou que havia uma “pessoa especial na fila 5 – Sara Costa, da Casa dos Segredos”. Até Faro – e mesmo com os tampões de ouvidos que não largo contra a permanente ameaça de música tecno, dos elevadores ao metro – tive que assistir a uma venda com “uma extraordinária promoção”, pelo comissário, de “duas raspadinhas pelo preço de uma” e de um “perfume 100 ml, livre de IVA, senhores passageiros!”. Pensei que se fosse até Marrocos teria dado tempo de venderem um colchão.

27 de Maio

Qual é o limite da má educação? Os professores, exaustos, enviam para os pais os tormentos de gerir turmas de 30 alunos, uma parte mal educados, é um facto. Mas a escola serve justamente para isso, para impedir a reprodução social, ou deveria. Isto é, quem vem mal educado chega à escola e leva com uma boa dose de princípios mínimos de convivência e civilização, estilo quem fala dentro da aula está a incomodar outros 20, não o pode fazer, se faz favor, perdão, obrigada, são palavras doces e bem vindas, um mínimo, portanto.
Este fim de semana, em piquenique com amigos, todos com filhos, comentávamos os recados que já recebemos da escola – “o menino não colocou o dedo no ar antes de falar”, “a menina fala muito na sala de aula”, “o menino jogou à bola com a tupperware vazia do colega”, “no outro dia o rapaz escreveu recados para o irmão dentro da sala de aula”.
Como é óbvio perdeu-se a noção. Os miúdos deixam de achar o recado na caderneta uma coisa séria, e os pais ficam sem saber o que fazer, porque se a professora escreve na caderneta e não os castigamos desautorizamos a professora, se os castigamos por coisas patéticas desautorizamos-nos. O castigo é importante, é aliás um instrumento importante de educação mas deve ser usado com proporcionalidade. Que faço: não vão surfar porque jogaram à bola com a tupperware????

10 de Junho

Eu acho que as fotografias de Cavaco Silva a desmaiar são desnecessárias e humilhantes e, se bem me lembro, há 30 anos seriam impublicáveis, quando a liberdade de imprensa era muito maior.

16 de Junho

Os desenhos animados para crianças de 6 anos têm umas princesas esculturais, sexualizadas ao máximo, e música tecno de fundo. As miúdas aliás, com 9 e 10 anos, andam como na tv, com roupa justa ao máximo, de licra brilhante, verdadeiramente déclassé, para sermos pouco elegantes nas palavras. Música tecno de fundo é o que educadoras por esse país fora colocam em festas de anos de crianças, escolas, ATLs, dia da criança, na piscina da praia, e em colunas de tamanho que ninguém possa ouvir nada a não ser a batida no zinco tum…tum…tum…tum. Quando não é tecno é uma piroseira qualquer do festival da canção. O cinema infantil prima pelo barulho e efeitos especiais porque argumento já nem tem ou é sempre o mesmo. Na verdade não me espanta o número de crianças mal educadas, pouco sociáveis e desinteressantes, espanta-me que ainda tenhamos tantas crianças tão giras e educadas com os bons exemplos que se lhes dá nesta cadeia de consumo de lixo, esta sociedade onde uma pessoa nem pode escolher estar em silêncio e vive rodeado de ignorantes que dançam ao som dos batuques da miséria…

4 de Agosto

Nos últimos anos talvez 1/6 das pessoas à minha volta ficou desempregada, nas faculdades, nos restaurantes que frequento, nas lojas; conheço alguns que regressaram, humilhados, a casa dos pais com 40 anos e não têm dinheiro para jantar fora sequer; quase todas as semanas me chegam pedidos de pessoas desesperadas com salários mínimos ou pouco acima disso, que estão ameaçadas de despedimento; pessoas, todas elas, com vergonha de uma situação em que fiquem a dever dinheiro; conheço os que hoje gritam mais em casa, os que choram mais, os que já nem choram nem riem porque estão meio vegetativos, a ver o dia passar, catatónicos; evito olhá-los, estou cansada de tanta tristeza, tanta gestão do desespero; muitos, e dos meus também, emigraram e todos lhes dizem “Nem penses em regressar!”; as pessoas que ainda vivem acima da mera sobrevivência é porque acumulam 2 e 3 trabalhos; uns acumulam-nos não para viver melhor mas para honrar a dívida da casa e não mais, depois dos cortes salariais. 1 milhão e 400 mil desempregados; 3 milhões de pobres; quase 2 milhões de precários. A todos eles nunca houve resgate algum porque eles…são quem paga o resgate.

11 de Agosto

Estou a passar ao lado da Comporta, que acabei de pagar junto com 10 milhões de portugueses. Não compreendo por isso que ainda esteja cercada e se vejam tantas placas pequeninas: “propriedade privada”.

26 de Setembro – Linz, Áustria

O refúgio do caçadores, onde reunimos, um dos painéis sobre trabalho forçado, o Danúbio azul, num dia cinzento, e uma casa de cafés com uma colecção explendida de máquinas de café antigas, muitas artesanais.

29 de Setembro

Estou em Tenerife.

2 de Novembro

Recebi na sexta-feira com surpresa o Prémio Personalidade do Ano Sociedade dos prémios Mais Alentejo, no Teatro Pax Julia, de Beja, que foram entregues a uma lista eclética de vários portugueses, que o júri distinguiu nas suas áreas e contributos e que laureiam os trabalhos de pessoas de origem e raízes alentejanas, de Vitor Bento a Jorge Palma, de António Pedro Vasconcelos ao líder da CIP, António Saraiva.

21 de Novembro

Uma mentira. Antena 1, a rádio pública que oiço, pela qualidade, diz, algures no meio das notícias, em jeito de informação/anúncio que: “Em 1974 havia 5 activos por cada pensionista, hoje há 1,5. Esta é uma informação Pordata”. Não sei se isto é pago como anúncio mas aparece como informação. Hoje a população activa é de 5,3 milhões e há 2,5 milhões de pensionistas por velhice, ou seja, há mais de 2 activos por cada pensionista por velhice. O Pordata é um Portal da Fundação Francisco Manuel dos Santos, do Pingo Doce, fundação privada que se criou justamente na defesa da ideia de que temos idosos a mais para a sustentação da segurança social.

7 de Dezembro

Cá em casa, como em tantas aqui à minha volta, eu tinha que ir “para direito ou medicina”. Aceitei o ultimato e fui para Direito. A coisa começou mal no primeiro dia. Entrei na Faculdade de Direito e, em plena aula, era comum o professor tocar uma campainha e mandar vir um senhor vestido com roupas da idade moderna, que carregava, com um ar medroso, uma bandeja com um copo de água. Eu era filha de uma investigadora que nos anos 80 já andava de bicicleta com umas molas a segurar as calças…Andava com a minha mãe para trás e para a frente pela Europa, em todas as universidades onde ela ia fazendo conferências e nunca tinha visto nada semelhante – o seu melhor amigo então, catedrático sueco, do Partido Conservador, não tinha empregada doméstica, cozinhava, lavava a loiça, acordava para fazer o pequeno almoço à mulher, e, claro, andava de bicicleta comigo por Uppsala, achando imensa graça às minhas ideias de adolescente, a que ele chamava, rindo, “vento fresco do mediterrâneo”, já então com mais de 65 anos. Foi neste meu feliz contexto, nascida num berço de gente sã socialmente, que assisti, dia após dia, à cena da bandeja na Faculdade. De tal forma que tornou-se um ritual que eu quase desejava para testar os limites da minha credulidade – o momento em que o desgraçado entra, com a bandeja de prata na mão (talvez hoje caia, pensava), dobra a espinha, sorri sem mostrar os dentes, e os alunos vindos das Beiras profundas maravilhados com tamanha demonstração de subserviência, e murmura, com medo, “aqui tem Sr. Professor”.

9 de Dezembro

Não existem pessoas em “risco de pobreza”, “pobreza efectiva”. Existem pobres. Ponto. E existe pobreza porque existe desemprego e baixos salários. Porque o desemprego é o regulador dos salários de quem trabalha, que com medo de serem substituidos aceitam cada vez piores salários, que remuneram activos desvalorizados. Este acto – remuneração de activos desvalorizados – é por aqui conhecido por “austeridade”. Há 2 anos para se ser pobre tinha que se ganhar menos de 416 euros, agora menos de 409 euros. Quanto mais a pobreza aumenta mais aumenta também a engenharia estatística para ocultá-la.

12 de Dezembro

As minhas fotos de Salvador da Bahia.

14 de Dezembro

Agora mesmo no café, estremunhada, pedi um sumo, cheia de pressa, uma boleia espera por mim, reparo que só tenho 1 euro e 5 na carteira e lamento-me em voz alta de ter que sair para ir levantar dinheiro. Um senhor, operário da construção civil, com um copo de tinto à frente, diz-me “Senhora, a senhora não me conhece…” E eu, ops, caramba faltava-me um bêbado pela manhã, mas sorri e olhei para ele “não me leve a mal mas deixe-me pagar a diferença e tenha um bom dia”.

As pessoas estão enleadas a tentar sobreviver, sem conseguir ver futuro, isso é tão óbvio no nosso país, deixaram, sem o perceber, de viver afectos, de ser livres, ir para o trabalho para a maioria das pessoas é uma tortura. Um Partido sério e a sério colocará sempre em cima da mesa o direito ao “pão e à poesia” – tenho repetido esta frase nos últimos 3 anos mais do que qualquer outra – uma frase de um velho sábio que devíamos lembrar.

15 de Dezembro

Não sendo eu feminista militante cabe-me uma nota, caríssimos amigos. Há uma série de comentários sobre a Barca do Inferno que são pura e simplesmente sexistas. Eu não sou agressiva a debater, tento não interromper, acho que com calma quase tudo se resolve, raramente deixo de sorrir, mas um debate tem momento acesos, e as 4 mulheres da Barca são, que bom, pessoas diferentes.

16 de Dezembro

Uma vez estava com o John Harrison, dirigente portuário do IDC na Dinamarca, que trabalha e sempre trabalhou nas gruas, nas cargas, nunca num gabinete sindical a tempo inteiro, estávamos numa assembleia que decidia uma greve internacional para bloquear os portos da Europa – onde eu tinha sido convidada para falar sobre a dinâmica da restruturação do mercado de trabalho na Europa.

17 de Dezembro

Os media regulares são, salvo raras excepções, asfixiantes.
Mas há 2 meses comecei uma participação regular num programa de TV, a Barca do Inferno, para o qual tenho que me preparar e estudar, 2 a 3 temas por semana, alguns que não dominava. A televisão tem os ritmos mais curtos – as ideias são menos desenvolvidas mas chegam a muito mais gente e isso, a saída da marginalidade, do mundo intelectual, é uma grande notícia, mas que tem um preço a pagar – o da hiper centralização da imagem, num mundo narcisista qb, e o da maior dificuldade em sustentar hipóteses porque o tempo é muito limitado. Reparei que os vídeos ou chegam a centenas de milhar de pessoas, quando e por que não sei, ou as pessoas tendem a comentar e debater menos, partilhar menos do que as crónicas, o que é natural. Comecei esta semana a escrever um novo livro, tinha parado há 1 ano e meio quando terminei a História do Povo, que foi o livro da minha vida e que me tomou 3 anos, ansiosos e esgotantes. Agora voltei a ter forças, esta semana, para começar a escrever um novo livro e isso exige-me um grau de concentração imenso, sobretudo nos dias de hoje, com solicitações cada vez maiores. O tempo é um dado complicado, quando não fatal. Sinto-me como quem tem uma manta curta – quando tapo os pés, destapo a cabeça e passo frio. Não tenho como manter, a não ser nas publicações regulares onde publico, o volume de crónicas que fazia, que agora coloco aqui em vídeo, não porque devem elogiar os meus olhos, agradeço a simpatia, mas porque não há tempo para tudo, e, ao contrário do que pensava, não consigo manter uma escrita gratuita regular, participar na Barca, que gosto muito, e escrever um livro e, o mais importante, fazer todo o meu trabalho académico.

29 de Dezembro

Perguntaram-me se “todos os revolucionários são estúpidos” (Fernando Pessoa). Alguns são – a estupidez é democrática, atinge muitos, e os revolucionários não escaparam. Não parece ser por aí que se distinguem os revolucionários mas por outro lado…Aqui, nestas curtas histórias, que me vieram à memória, e que são parte da imensa grandeza humana, do passado mais belo, que se impõe à barbárie.
Se nós não mudarmos o mundo, o mundo mudar-nos-á a nós.

13 comentários leave one →
  1. Pedro Ramalho Carlos permalink
    30 Dezembro, 2014 12:45

    Admiro-te a paciência Vitor!

    Um óptimo 2015 para todos!

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  2. Juromenha permalink
    30 Dezembro, 2014 13:00

    Bastante reles, as auto-proclamadas “elites” universitárias portuguesas…
    Face a esta e à ” partenaire” moreira, de forma alguma se estranharia um “honoris causa” à caneças ( patronizado pelo bss, evidentemente…)-

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  3. 30 Dezembro, 2014 14:08

    Agora não tenho tempo, nem paciência para ler tudo mas

    um telefone complexo é muito mais barato do que ter prazer a ler um livro

    esta comparação parece-me matematicamente errada.

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    • Tiro ao Alvo permalink
      30 Dezembro, 2014 14:20

      Victor, esta mulher não merece o espaço que ocupa, mesmo sendo magra…

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  4. Carlos Dias permalink
    30 Dezembro, 2014 14:30

    Não li pois não tenho paciência para saber o que inúteis pensam de si próprios.

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  5. 30 Dezembro, 2014 19:35

    Parvalhona para jacobinos totós?

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  6. beirão permalink
    30 Dezembro, 2014 19:38

    Será que esta gaja é merecedora de qualquer referência decente!? Não há pachorra para tais lamechices…

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  7. joaquim permalink
    30 Dezembro, 2014 20:33

    . Eu prefiro o Batista Bastos,.

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    • 30 Dezembro, 2014 21:21

      Perguntaram-me se “todos os revolucionários são estúpidos” (Fernando Pessoa).
      Alguns são – a estupidez é democrática, atinge muitos, e os revolucionários não escaparam
      ————————————————-
      RESPONDEU-SE?!

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  8. Rafael Ortega permalink
    30 Dezembro, 2014 21:33

    “Não faltam nas nossas universidades equipas multidisciplinares que provaram – sem contraditório algum – que a dívida pública é uma renda fixa, que as PPPs deviam ser unilateralmente denunciadas, que a Banca devia ser nacionalizada, que os trabalhadores pagam 75% de todos os impostos, que é possível reduzir o horário de trabalho sem reduzir o salário e todas as pessoas trabalharem, que o Estado Social é auto sustentado.”

    Claro que não houve contraditório. Sempre ouvi dizer que não vale a pena discutir com tontinhos.

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  9. 31 Dezembro, 2014 03:12

    Ainda gostava de saber que é que o cu tem a ver com as calças, id est, a Raquel com a academia. Nada. Nas universidades ninguém a conhece, nem a ela nem ao seu trabalho. O que escreve sobre o aborto mostra o que é: uma besta.

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