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um livro de leitura obrigatória

29 Dezembro, 2014
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1507-1Acabei de ler a biografia política de Marcello Caetano escrita por Luís Menezes Leitão (Marcello Caetano, Um Destino – Quetzal, 2014), que considero a melhor obra que li sobre o último chefe de governo do Estado Novo. O livro está muito bem escrito e organizado de forma relativamente original, com cada capítulo a relatar um facto importante da história política do biografado, sendo que ganha especial fulgor na descrição das relações pessoais e políticas de Marcello com Salazar. Na verdade, Marcello Caetano – Um Destino, acaba por ser, mais do que a história de um homem, a história desses dois homens, notando-se até, aqui e ali, alguma perda de entusiasmo do autor na última parte do texto, a partir do acidente que afasta Salazar do poder e consagra Marcello como seu definitivo sucessor. Assim, se é bem verdade que uma biografia sempre colhe alguma simpatia do autor pela personagem biografada, a ambiguidade pessoal e política de Marcello Caetano, que acompanhou toda a sua vida e que acabou por fazer dele uma vítima involuntária das suas ambições, leva também Luís Menezes Leitão a uma certa ambiguidade literária, melhor dizendo, a uma imparcialidade objectiva no julgamento histórico das relações entre essas duas personagens. De facto, os melhores momentos da carreira política de Marcello teve-os ele quando enfrentou António de Oliveira Salazar, dizendo-lhe o que mais ninguém se atrevia a dizer-lhe, assumindo uma espécie de oposição ordeira e legalista, mas ainda assim não pouco corajosa, ao regime a partir do interior do regime. O cinismo, por vezes cauteloso, com que Salazar respondia às invectivas daquele que seria mais tarde (e não propriamente com o seu entusiasmo) o seu «delfim», inspirou o biógrafo, que descreve superiormente esses momentos naquela que é a parte mais notável do seu livro. Por fim, a desilusão com Marcello que, ao subir ao poder, não conseguiu libertar-se da herança do velho ditador, e repetiu quase todos os seus passos e erros, até mesmo para com os «jovens turcos» que pretendiam liberalizar o regime, tal como ele o pretendera arejar décadas atrás. De resto, a suprema ironia da História e do Destino manifestam-se quando alguns destes «jovens turcos» tentam livrar-se de Marcello empurrando-o para a Presidência da República, tal e qual Marcello procurara convencer Salazar a suceder a Craveiro Lopes e a abandonar, assim, a chefia do governo e do regime. Convenha-se, contudo, que o trato que Salazar lhe deu nessa ocasião foi muito mais elegante e inteligente do que a altercação nervosa que a sugestão dos seus «discípulos» lhe provocou, a ele que tão bem conhecia a artimanha que lhe estavam a montar. De resto, a ironia da História manifestou-se com Marcello de forma exemplar, o que Menezes Leitão também exemplarmente descreve. Na verdade, com mais ou menos floreados discursivos, Marcello Caetano acabou por fazer o que fizera Salazar no que se refere às liberdades políticas (ou à falta delas), à PIDE, à liberdade de expressão, à democracia parlamentar, às contestações académicas do regime e, pior de tudo, ao Ultramar. Mais ingénuo e eventualmente menos corajoso politicamente do que Salazar, Marcello Caetano tarde se apercebe do entendimento existente entre Costa Gomes e Spínola, e entrega-lhes o comando das Forças Armadas, trepanando, em simultâneo, as chefias políticas dos ministérios que os tutelavam. Costa Gomes, cerebral, frio e objectivo, e Spínola, vaidoso, emotivo e sentimental, acabam-lhe com as poucas ilusões que ainda tinha. Embora o livro de Menezes Leitão o não refira, conta que um crítico de sempre de Marcello Caetano comentava a nomeação destes dois oficiais do exército português nestes termos depreciativos para o «Delfim» agora feito chefe: «Salazar tinha sempre os inimigos por perto. Mas não fazia deles chefes militares». Foi o caso de Marcello, a quem Salazar nunca deixou de pôr o olho em cima, comprometendo-o com o regime entregando-lhe cargos quase sempre de pouco peso político, mas não foi o que fez Marcello Caetano com aqueles dois oficiais. O resto da história é bem conhecido.

156 comentários leave one →
  1. Albertina Valverde de Sousa permalink
    29 Dezembro, 2014 21:14

    Bem…com tanta ação intitulada Liberdade…respeitando opiniões diferentes.. aconselharia.o autor deste texto a ler para além da História de Portugal – ñ a Estória do mesmo! – “A Concordata e o acordo missionário de Salazar” de José Carvalho, “Salazar visto pelos seus próximos”e entre outros “António de Oliveira Salazar o outro retrato” ambos de Jaime Nogueira Pinto e que pense…tirou Portugal da banca rota! Ficou-lhe conhecido o control económico pela frase quando inquirido se se poderia fazer uma ponte…uma estrada – agora há-as a mais e..com portagem como se ñ tivesse sido o dinheiro dos cidadãos a construi-la…e questionava o dr. .Oliveira Salazar a essas questões “Há necessidade? Há dinheiro? “Era bom que se respeitasse o único ESTADISTA que tivemos! Políticos há-os a pacote! Mesmo ñ gostando reconheça-se a grandiosidade para a época!…este Senhor nasceu pobre…assim morreu! Tendo como única a maior riqueza no “amor ao País!” Uma vida de construção – goste-se ou ñ não se pode negar! – destruída por alguém tão patriótico que fugiu e regressou para entregar Portugal! Nunca lutou cá dentro como a um Portugues compete!” Deixou um país mais desenvolvido…material e espiritualmente” quando abandonou o Poder!

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    • 29 Dezembro, 2014 22:44

      Um país onde por se exprimir uma opinião política diferente daquele que o senhor Dono Daquilo Tudo queria se podia ir parar à cadeia sem julgamento não era certamente um sítio recomendável.
      E sendo assim quem mandava também não podia ser um senhor recomendável.

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      • Chico permalink
        30 Dezembro, 2014 03:53

        Mais uma mentirola parva. Chiça!
        Completamente de acordo, D. Albertina de Sousa. Esta gente, ditaduras, só “democráticas”, como esta em que vivemos há 40 anos, com censura a sério e consequências bem visíveis, de que a governação do 44 foi um dos expoentes,com superpides disfarçadas, a defender interesses privados e as seitas partidárias, com fome autêntica, que hoje já abrange a classe média, com o país a tornar-se cada vez mais um motivo de risota (trágica) internacional, submetido vergonhosamente a todos os ditames dos grandes patrões internacionais, a troco de umas nomeações, lá fora, de quem por cá vai mandando, como os deslumbrados fujões Barroso e Guterres, o exibicionista Sampaio, e por aí fora. Tudo aquilo que era interesse nacional passou a ser matéria negociável em proveito próprio por este bando de delinquentes que nos tem desgovernado.
        A propósito, alguma vez o caso BES e outros escândalos do estilo poderiam acontecer com Salazar ? Mas era Salazar que protegia os banqueiros e os capitalistas, não era? Pois é. É preciso memória . E vergonha.

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      • 31 Dezembro, 2014 12:53

        Chico,

        Fino era falar assim contra o Botas no tempo do Botas.

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  2. 29 Dezembro, 2014 21:19

    Magnífica biografia, de facto e muito bem escrita. Até parece que não é um jurista a fazê-lo, mas nota-a se em alguns detalhes que o é.

    É um livro que “prende” o leitor desde as primeiras páginas.

    Quanto ao assunto da crítica, a ironia do destino teve a hora marcada pelo tempo histórico dos anos sessenta. Tudo mudou…

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  3. 29 Dezembro, 2014 21:20

    Sobretudo depois da cessação de funções de Salazar, MCaetano teve hipóteses de continuar por mais uns anos. Sem estaleca para o cargo e para entender o Mundo político, económico e financeiro tuga e internacional, sem vontade política e social para liberalizar mais (e definitivamente) o regime, não aceitou nem legalizou oposições, entendeu displicentemente os avisos de países (incluindo “amigos), teimou na “solução” então já perdida para resolver o que acontecia no “Ultramar”, manteve cárceres e censura, estava culturalmente aquém do Mundo em mudança, desprezou evoluções sociais, intelectuais e culturais, etc..
    “Abriu” o regime qb. Fez o que pôde por iniciativa própria, lhe deixaram os “velhos do restelo” fazer.
    Certo isto: muitos políticos que (des)governaram o país post 25 de Abril estão intelectual e politicamente muito aquém de MCaetano e de alguns dos seus ministros. E estamos na eminência de a partir de 2016 sermos governados por mais um lírico, incompetente e corruptível…

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  4. Filipe permalink
    29 Dezembro, 2014 21:44

    Muitos falam de miséria, analfabetismo, estado social básico, fome, etc.

    Mas agora estamos melhor, temos smartphones, curso não sei de quê, e todos berram por um subsidio.

    Estamos quase iguais, mas agora temos uma falência para resolver, a é a 3ª desde o 25/4..

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    • 29 Dezembro, 2014 21:46

      Se vc. retirar o seu segundo parágrafo, não duvide que os portugueses estão muito melhor do que antes do 25 de Abril.
      Quer factos ?

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      • lucklucky permalink
        29 Dezembro, 2014 22:56

        Estamos melhor mas não é por causa de nós.

        É por causa da evolução tecnológica feita pelos outros.

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  5. 29 Dezembro, 2014 21:46

    A mitologia corrente de ideias feitas dá como assente que Caetano não foi capaz de liberalizar e deveria tê-lo feito.

    Já pensei assim por causa da tal mitologia, mas penso cada vez mais em sentido diferente. Caetano, quanto a mim, foi um estadista tão importante como Salazar e liberalizou o que pôde. Se lhe tivesse dado mais três anos, teria feito a descolonização de modo diferente do que ocorreu.

    E não teríamos a bancarrota de 1977. Nem a de 1983. Pelo contrário teríamos uma situação melhor que a da Espanha, actualmente.

    Se o comunismo não lograsse impor as suas leis e Constituição de 1976 não estaríamos neste estado débil em que os chineses e angolanos mandam em sectores chave da economia.

    E não teríamos um recluso 44 chamado José S. Não teria tido cargo nenhum, a não ser o de fazer projectos de casas na Covilhã, a trabalhar para o pai.

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    • rui a. permalink*
      29 Dezembro, 2014 21:59

      José,

      Que M.C. não capaz de «liberalizar», não foi, como de facto a história atesta. O que poderia ter sido a sua «liberalização» é que não se sabe, e julgo mesmo que ele nunca o soube. Aliás, se reparar – e o livro de LML deixa isso muito claro – as exigências de Marcello para com Salazar eram mais ditadas por uma embirração pessoal com o ditador, porque pensava que este cometia erros constantes, do que propriamente por qualquer programa político reformista que nunca se lhe conheceu, porque ele nunca o anunciou. A única questão de fundo que terá dividido os dois homens foi em relação ao Ultramar, onde MC se julgava capaz de operar prodígios, sobranceria que pagaria com língua de palmo… Quanto ao resto, e enquanto político, Marcello ficou a anos-luz de Salazar, por quem ele nutria uma indisfarçável inveja. As inabilidades de Marcelo, que se julgou capaz de jogar com tudo e com todos, foram imensas e, de resto, ditaram-lhe um fim precoce e lamentável. Posto isto, não se lhe retiram qualidades que certamente teve e mesmo com os seus muitos defeitos políticos, sempre pertenceu a uma categoria de personagens de que o regime que se seguiu tem sido, infelizmente, pouco abundante.

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      • 31 Dezembro, 2014 12:59

        rui.a,

        Eu diria mais, a descolonozação foi o que foi, porque já nem digo Salazar, mas Caetano devia ter iniciado esse processo e ai impõe-se uma questão: será que a ser assim o 25 de Abril tinha tido lugar???.Dai ser como diz:Marcello para alem de ficar a anos-luz de Salazar, como politico era do tipo , Cavaco.

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    • 29 Dezembro, 2014 22:04

      MCaetano não foi capaz nem teve vontade de liberalizar. Faltou-lhe estaleca política, recusou conselhos.

      Não foi “tão importante” como Salazar. Este, apesar de tudo, tinha fibra, garra política.
      MC não quis entender e solucionar o que acontecia no “Ultramar”.

      Pelo que… em Abril ou noutro mês ou ano, haveria necessariamente algo muito diferente em Portugal do que a “abertura” de MC, fosse por via social/revolucionária, partidária, não esquecendo a ala liberal então em crescendo e em ruptura.

      José,
      O país já sofreu mais (sobretudo social, economica e financeiramente) com as consequências de governos do P”S”, do P”SD” mais a muleta PP, do que o que aconteceu durante o PREC !

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  6. 29 Dezembro, 2014 21:54

    Estamos agora muito melhor que antes de 25 de Abril? Sim, temos um nível de vida que é melhor porque melhoramos as obras de engenharia, construímos o que ainda não havia então e o progresso industrial também nos afectou. Mas…à custa de quê?

    O ensino está pior, muito pior, no básico e secundário. A saúde está incomparavelmente melhor, mas poderia ainda ser melhor com a evolução natural. O nível de vida geral diminuiu comparavelmente. Por exemplo, um jornalista, em 1973 ganhava mais do que hoje, em termos relativos. Um trabalhador médio idem. Um funcionário público não, mas com o tempo poderia vir a ganhar porque o serviço público seria menos pesado.
    Um político, ou um magistrado ganhariam mais se não tivesse havido ruptura porque é assim nos países mais desenvolvidos.

    E por aí fora. Ou seja, melhorou-se objectivamente o nível de vida mas atrasou-se essa evolução em relação aos países mais avançados ou até médios como a Holanda, Dinamarca ou mesmo Itália.

    Actualmente somos os mais pobres da Europa clássica e isso quer dizer tudo.

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    • 29 Dezembro, 2014 22:50

      Ganhava mais, ganha menos, ganhava assim assim.
      Dinheiro.
      É espantoso como ninguém (bem pode ser que ainda apareça alguém) que diga uma simples verdade.
      Antes do 25A este blog não podia existir.

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  7. 29 Dezembro, 2014 22:06

    Jose, 21:46

    meu comentário das 22:04 para si

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  8. 29 Dezembro, 2014 22:07

    rui a.

    Se ler as entrevistas de Marcello Caetano e António Alçada Baptista percebe-se o pensamento de Marcello e acho que tinha mais razão do que Salazar, no tempo em que assim pensava e que era o início dos setentas.

    Estou a ler a biografia de Salazar por Franco Nogueira e acho que mitificar Salazar é tão pernicioso quanto relativizar Caetano.

    O pensamento económico de Caetano era sólido. Ou seja, a evolução na continuidade do capitalismo português teria a mesma feição que teve com Salazar ou talvez melhor porque este era cioso e impunha regras segundo concepções particulares de desenvolvimento económico. O caso Coca-Cola, por exemplo.

    Portugal com Caetano teria um futuro muito melhor do que com a democracia que veio a seguir.

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    • 29 Dezembro, 2014 22:20

      A “evolução na continuidade” pretendida por MCaetano na área financeira e económica não era viável. Por vários factores, entre eles : sociedade intelectual e culturalmente manietada porque pretendida como controlada, obediente; frentes de batalha no “Ultramar”, uma pipa de massa insuportável; mercados externos incompreendidos e alguns desprezados ; ensino superior ideologicamente pró-regime, apesar de alguns professores de economia liberais; Não entendeu convenientemente a crise petrolífera em 1973; MC e o Estado politicamente isolados, fechados e inclusivé sem apoios expressivos na ONU; etc..

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    • rui a. permalink*
      29 Dezembro, 2014 22:56

      José,

      Aquilo a que chama «pensamento económico de Caetano» era uma combinação do velho corporativismo integralista, que acreditava numa ordem social estamental de cooperação desinteressada, com uma visão da propriedade próxima das encíclicas papais e da doutrina da Igreja do final do século XIX, refinado por algum europeísmo que os seus mais jovens colaboradores lhe foram impingindo e que ele aceitou, embora sem querer assumir a parte política desse europeísmo, que lhe era indissociável, como o seu fracasso político pessoal demonstrou. É certo que era um homem mais cosmopolita do que Salazar, embora este estivesse muito distante do «manholas» provinciano que os seus adversários vendiam para o diminuír. Quanto ao desenvolvimento económico de Portugal ele ficou a dever-se, em primeiro lugar, em minha opinião, à solidez da sua moeda e isso foi consequência de uma política orçamental rigorosa de décadas, devida a Salazar. Imposta à força, é certo, mas que resultou economicamente muito bem. Quanto ao mais, Salazar não era um «desenvolviventista», como o prova a sua famigerada «lei de condicionamento industrial», mas Marcello também não enterrou essa famigerada lei (outra reforma que ficou no tinteiro), nem abriu a economia portuguesa por aí além. Nem à iniciativa privada nacional, que continuava a ter de enfrentar um clima de oligopólios nos grandes sectores, nem às empresas externas, que continuavam a ter grandes dificuldades para se instalarem em Portugal, não apenas no continental, mas também no ultramarino. Ademais, Marcelo é um social-democrata admirador do estado social que os seus mais jovens colaboradores, sobretudo os «tecnocratas», incensavam (muitos ainda por aí andam…). Criou uma série de instituições e promoveu reformas na área dos direitos laborais e da segurança social, que você certamente conhecerá melhor do que eu, próprias desses regimes. Mas se ler os discursos de Salazar da década de 30 sobre economia, verá que ele era também, em economia, um social-democrata, que dizia coisas não muito distintas das que se ouvem hoje. Por conseguinte, em resumo, o que trouxe liquidez e estabilidade à tesouraria nacional foi a política financeira de Salazar, muito antes de quaisquer políticas económicas de Marcelo, que. aliás, não teve tempo para as incrementar. Quanto aos resultados destas, nunca as conheceremos, embora pelas obras dos discípulos que por cá ficaram a governar-nos, talvez não tivessem sido muito diferentes do que hoje temos.

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  9. 29 Dezembro, 2014 22:12

    MJRB:

    “MC não quis entender e solucionar o que acontecia no “Ultramar”.”

    Acho que quis e não teve tempo para tal. Ou seja, a guerra em 1974 devia ter continuado e só acabar quando estivéssemos em posição de negociar rendições em condições diferentes das que aconteceram com a “descolonização exemplar” que mais não foi que a entrega aos movimentos comunistas dos territórios que a Esquerda portuguesa assim quis. O que sucedeu depois? Um milhão de mortos em Angola e um milhão e meio em Moçambique. E quem ficou a governar aquilo? Um regime corrupto que de democracia tem o nome.

    Por contra, nós tivemos 700 mil retornados ou coisa que o valha, para reintegrar.

    Marcello continuaria a guerra no Ultramar? Sim e talvez fosse preferível por uns tempos, um par de anos. E era isso que o mesmo defendia e acho que tinha razão

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    • 29 Dezembro, 2014 22:28

      José,

      Claro que entendo e aceito as suas conclusões, mas… MC teve tempo suficiente para pelo menos apresentar um projecto para outro futuro para Angola, MOçambique, Guiné-Bissau, iniciar conversações sólidas, cristalinas, com os movimentos de libertação africanos e convencer os tugas nesses países da inevitabilidade duma “transição” política e administrativa, tal como fizeram anos antes e exemplarmente outros países europeus em África, na Ásia, na América Latina.
      MC teria evitado catástrofes humanas (lá e cá), guerras, retrocessos vários.

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    • rui a. permalink*
      29 Dezembro, 2014 23:03

      José,

      MC teve a veleidade de assumir que tinha uma solução para o Ultramar – a federalista – e depois, uma vez no poder, não teve coragem para a assumir. Os seus périplos pelas Colónias refrearam-lhe os ânimos, mas não lhe deram qualquer alternativa a prolongar uma guerra que o exército não queria continuar eternamente, e que, pela sua natureza e pela do mundo bipolarizado de então, precisava de uma solução política, muito mais do que uma solução militar. E, em termos políticos, Marcello nada acrescentou e, pelo contrário, foi fechando várias portas, é certo que não muito seguras, como a mediação de Senghor, mas eram as que ele tinha à sua disposição. Não há pior em política do que criar ema elevada expectativa de mudança e depois deixar tudo na mesma. Foi o que fez MC e, por causa disso, durou nem seis anos e acabou abandonado por todos. Infelizmente, os resultados falam pelas políticas seguidas.

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  10. 29 Dezembro, 2014 22:31

    “Tchau” !
    Para todos sem excepção, um ÓPTIMO 2015 !

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  11. 29 Dezembro, 2014 22:35

    “sociedade intelectual e culturalmente manietada porque pretendida como controlada, obediente; frentes de batalha no “Ultramar”, uma pipa de massa insuportável; mercados externos incompreendidos e alguns desprezados ; ensino superior ideologicamente pró-regime, apesar de alguns professores de economia liberais; Não entendeu convenientemente a crise petrolífera em 1973”

    a. Sociedade intelectual e culturalmente manietada? Como isso se a “cultura” era toda de esquerda e com reflexos evidentes nos jornais e revistas? Quanto a livros, é verdade que a censura não permitia os livros abertamente marxistas mas não havia nem um intelectual sequer que não os conseguisse ler, mandando vir de fora.
    Acho até que culturalmente éramos mais desenvolvidos do que hoje, com predomínio das ideias de esquerda e foi por isso que a transição para a democracia se deu sem sobressaltos ideológicos. Foram poucos os jornalistas saneados.

    b. uma pipa de massa no Ultramar? Sem dúvida. E que fizemos com a poupança dessa pipa de massa? Sabe que Mário Soares e a mulher diziam antes do 25 de Abril que com essa poupança resolvíamos os nossos problemas económicos. É histórico e em 1976 viu-se…
    A tal pipa de massa era ainda assim resultado de um orçamento equilibrado e sem empréstimos externos. E os impostos eram mais baixos que hoje. Muito mais baixos.

    c.mercados externos desprezados? Fazíamos parte da EFTA e estávamos a caminho do mercado comum, com grandes probabilidades de o integrarmos mais depressa do que sucedeu depois.

    d. ensino superior ideologicamente próregime. Acha mesmo? Quandos foram os catedráticossaneados em Coimbra, Lisboa e Porto? Talvez o rui a. a esta saiba responder melhor…

    e. não entendeu a crise petrolífera de 73. Não? Tem a certeza. E os que vieram depois entenderam? Estou certo de uma coisa: Champallimaud, os Mello, Espírito Santo ( o antigo, não este ersatz) entenderam e resolveriam como outros na Europa resolveram.

    Em 1974 estes mesmos propuseram um investimento de 120 milhões de contos e a Esquerda não quis. Quem é que não entendeu a crise petrolífera de 73?

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  12. Reaça permalink
    29 Dezembro, 2014 23:08

    Quando Salazar acabou as “obras de Santa Engrácia” não foi à espera de receber louros.
    Mas a Nação ficou-lhe a dever um Panteão em Santa Comba.
    E Portugal um dia far-lhe-á esse Panteão.

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  13. balde-de-cal permalink
    29 Dezembro, 2014 23:10

    nunca suportei a II república
    mas esta situação é um pântano de areias movediças
    do qual nunca sairemos.
    a corrupção aumentou a começar pelos faxistas de Macau
    até à 3ª BANCARROTA, a do 44

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  14. 29 Dezembro, 2014 23:18

    “Nem à iniciativa privada nacional, que continuava a ter de enfrentar um clima de oligopólios nos grandes sectores,”

    Julgo que esse é outro mito que se espalhou estes anos por uma razão: propaganda esquerdista.

    Tenho lido a biografia de Champallimaud e se há alguma coisa que me leva a acreditar que o indivíduo era um génio industrial é a noção que essa tal ideia de “oligopólio” é qualquer coisa de vazio de sentido no nosso Portugal de então.

    Que haveria de ser então? Portugal tinha mercado, mesmo com as províncias ultramarinas, de ter concorrência industrial com dois ou três génios como Champallimaud? Não tinha. Por outro lado, os capitalistas que tínhamos eram do melhor que jamais tivemos e essa ideia de “oligopólios” vem dos americanos. Mas nós tínhamos uma economia para 10 milhões de pessoas e alguns tantos no Ultramar. E ainda assim fizeram o que fizeram.

    Ou acha que se não tivesse havido proteccionismo aos grandes empreendimentos a iniciativa privada iria surgir como cogumelos?

    Parece-me que esse é um dos grandes mitos do João Martins Pereira ( que foi empregado de um deles) e outros esquerdistas que passaram essa ideia.

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    • rui a. permalink*
      29 Dezembro, 2014 23:33

      José,

      O Champallimaud era um génio, mas beneficiou muito do condicionamento industrial do regime.De resto, as suas permanentes habilidades para impedir a liberalização da indústria dos cimentos foram o principal argumento para a guerra que MC lhe moveu.
      Mas por falarmos em mitos, essa de que Portugal não tem mercado é um dos maiores. O mercado gera sempre a oferta necessária para o satisfazer e não há que ter medo disso. Se não nascesse aqui, por que razão não poderia vir de fora? Que mal tem comprarmos carros alemães se não produzimos carros portugueses? Ademais, dizer-se que não havia mercado num Portugal pluricontinental, como éramos à época, é, desculpe-me que lhe diga, um absurdo. Se Portugal não tinha mercado nessa altura, quem o teria no mundo de então? Os suiços? E olhe que estes não viviam nada mal. Donde é que lhes veio uma economia tão pujante, num país tão insignificante, já pensou nisso? Agora, pense nas imensas necessidades que tínhamos nessa altura, aqui e no Ultramar, e diga-me lá se não tínhamos mais do que condições para permitirmos que empresas privadas em competição umas com as outras se constituíssem para as satisfazer, ainda que muitas delas viessem de fora.

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  15. 29 Dezembro, 2014 23:21

    “Mas a Nação ficou-lhe a dever um Panteão em Santa Comba.
    E Portugal um dia far-lhe-á esse Panteão.”

    Claro que Portugal tem uma dívida para com Salazar. Mas a sua casa de Santa Comba está em ruínas e o 44 não quer dar uma ajuda através do amigo rico, a quem mandava pagar as contas…

    Por outro lado, a campa onde está sepultado é rasa e nem sequer tem quem o lembre publicamente. Quem o fizer é proscrito.

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  16. 29 Dezembro, 2014 23:57

    “e diga-me lá se não tínhamos mais do que condições para permitirmos que empresas privadas em competição umas com as outras”

    Nos cimentos? Na indústria naval? Na Siderurgia?

    A suíça tem relógios e alguns produtos e a indústria bancária e de serviços financeiros. No fim da década de sessenta estavam exaustos nos relógios até que apareceu o sr Swatch…

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  17. Juromenha permalink
    30 Dezembro, 2014 00:24

    Concorde-se ou não com a política seguida por Salazar, e Caetano, um facto não pode ser escamoteado : durante todos esses anos mantivémo-nos um País “em corpo inteiro” – hoje , parafraseando o grande Ernâni Lopes, temos ùnicamente ” os sinais exteriores de independência”.
    Transformámo-nos numa casca sem substância, um arraial que, por se encontrar deste lado do estreito, ainda vai tendo direito a esmolas do(s) suserano(s).
    Até quando, é o que se está para ver. E não há flic-flac dialéctico que disfarce essa realidade
    A podridão, o ridículo , a dimensâo do desastre é gràficamente visível : as funções , desempenhadas por Salazar e Caetano , foram exercidas,até recentemente, por um biltre, casca-grossa e olìmpicamente ignorante , preso em Èvora aos dias de hoje…
    Um regime político que admite, e promove ,semelhante canalha está mais que condenado.

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  18. Euro2cent permalink
    30 Dezembro, 2014 00:47

    Foi uma boa girândola para final de ano. Obrigado a todos, em particular ao José, que é muito convincente neste tópico.

    O pos-74 faz lembrar aquela anedota: “a operação foi um sucesso, mas o paciente morreu.” Tinha mais graça se Portugal, para além da obliteraçao cultural, não estivesse também em implosão demográfica.

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  19. Alexandre Carvalho da Silveira permalink
    30 Dezembro, 2014 02:09

    Eu tinha 18 anos quando o Salazar caíu da cadeira e Maecello Caetano se tornou 1º ministro. Confesso que depositei uma grande esperança na sua acção como líder do governo, porque acreditei que ele seria capaz de reformar o regime por dentro. Enganei-me e as eleições de 1969 serviram para mostrar que ele não tinha força para defenestrar os ultras do regime acantonados atrás do Presidente da Republica, Américo Tomás.
    E podia tê-lo feito porque tinha força politica e apoio popular para tanto, mas por razões que ainda estão verdadeiramente por explicar, não quis.
    Podia ter resolvido o problema do Ultramar se tivesse separado o problema da Guiné de Angola e de Moçambique, dando a independência a um território que 40 anos depois, ainda não se conseguiu tornar um país digno desse nome.
    Marcello Caetano foi uma oportunidade perdida, e se tivesse tido a coragem de tornar Portugal uma Democracia, tinha-nos poupado muitos problemas a todos e talvez este país hoje fosse uma coisa diferente para melhor.

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    • Chico permalink
      30 Dezembro, 2014 04:25

      É pá, ó Silveira, você tinha 18 anos e já sabia isso tudo e não disse nada a ninguém ? Morremos todos na ignorância, por sua culpa, tá a ver ? Não volte a fazer uma coisa dessas, ok ?

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      • Alexandre Carvalho da Silveira permalink
        30 Dezembro, 2014 18:29

        Chicoesperto, como diz o melro pró picanço, nas nalgas que é um descanso! pqtpariu!

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    • Chico permalink
      31 Dezembro, 2014 00:41

      Silveira, você continua um poço de sabedoria ! Como é que você sabe que ” nas nalgas é um descanso” ? Imagino as experiências por que tem passado, para ter alcançado conhecimentos tão profundos, pelos vistos com enorme satisfação eheheheheh . E para que fique a rebolar-se de gozo, vou já mandá-lo pró ” carvalho”, o outro, aquele que lhe dá imenso descanso, tá?

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  20. Hajapachorra permalink
    30 Dezembro, 2014 04:13

    Custa assim tanto perceber que os enormes defeitos desta democracia se devem em larguíssima medida aos 48 anos da longa noite fascista? Não pode haver democracia sem democratas e esta democracia não foi feita por democratas. E a questão não é ideológica sequer, mas gracioso: quem tem mais de 58 anos e cresceu em Portugal pode ser boa pessoa mas não é seguramente um democrata, seja de direita ou de esquerda. Essa geração que fez o 25 de Abril, a revolução e a contra-revolução foi educada no respeitando, na subserviência, na incapacidade de aceitar a discordância. Conhecemo-los a todos, aos que ficaram sempre com tiques autoritários, como o BSS ou MS, e aos que souberam amaciar-se. Mas experimentem discutir o que quer que seja com os cotas. Com os novíssimo também é impossível, mas devido à sa supina ignorância. A discussão acima, que até mete comparações tontas com a Suíça, não passa de conversa de café, de gente que não viveu a miséria nem antes nem depois, que não faz puta de ideia do que era ter os primeiros sapatos na comunhão solene. A Suíça, caríssimos, sempre foi riquíssima de recursos. De recursos? Sim, desde a idade média que é uma espécie de plaza mayor da Europa. Não se percebe é como foram pobres, tendo Milão, Turim, Munique, Viena, Estrasburgo, Frankfurt, Lyon ali à mão de semear, a poucas horas de viagem, mesmo a cavalo.

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  21. 30 Dezembro, 2014 04:13

    Gracioso ler geracional

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  22. 30 Dezembro, 2014 10:21

    “Não pode haver democracia sem democratas”.

    Este parece-me ser o argumento tipo antes de o ser já o era, porque se não pode haver democracia sem democratas a democracia não existe porque nunca foi possível fazer tal coisa.
    E se calhar é bem capaz de ter razão, apesar de não ter pensado nesse ponto…

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    • 31 Dezembro, 2014 15:29

      Se estudasse um bocadinho a história da democracia ateniense ou da democracia americana entenderia. Não é preciso ser ‘criacionista’ para perceber que a galinha vem sempre antes do ovo.

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  23. Reaça permalink
    30 Dezembro, 2014 10:36

    Portugal não foi nem deve ser uma Suiça ou em contraponto uma Roménia.

    Portugal é o que os portugueses entendem a cada momento querem que seja.

    A irresponsabilidade da 1ª república interrompida até esta nova irresponsabilidade abrilista, é que explica os tarrafais salazaristas e as évoras da era merkel.

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  24. 30 Dezembro, 2014 12:56

    Com tristeza verifico a quase generalidade das intervenções que, é bom dizer, no antigo regime nem no café se podiam ter, não fosse o Diabo tecê-las por via do vizinho do lado.
    Mas isto já foi esquecido?
    Já se esqueceram que se podia ser preso sem a mínima culpa formada?
    Quase que estou com pena do detido 44.
    Salazar era um contabilista provinciano que geria o país como uma mercearia.
    Caetano foi um pusilânime que se borrou todo no Carmo quando julgou que o iam fuzilar.
    Fala-se para aí no Ultramar, em separar a Guiné dos restantes problemas, em ganhar a guerra em 1974 para negociar a paz que podia ser melhor explorado, e era por suíços, ingleses, indianos.
    A desinformação que foi muito bem aplicada aqui aos metropolitanos nem no próximo século será desmontada, até porque dos 700 mil retornados ou coisa que o valha, para reintegrar uma grande maioria veio criar riqueza e tirar o cinzento em que se vivia, mas estamos todos a morrer.
    Sejam felizes.
    Respirem liberdade, um dia pode voltar outro Salazar.

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    • anónimo permalink
      30 Dezembro, 2014 13:06

      Alexandrino, há erros históricos nos factos que referes a propósito de Marcelo Caetano.
      Pelos vistos, na época, não moravas na metrópole.
      Na parte dos retornados, voltou muita gente boa e útil. Mas também voltou muita porcaria e muito vigarista. Não dá para meter tudo num saco nem para generalizar.

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  25. 30 Dezembro, 2014 13:17

    “Com tristeza verifico a quase generalidade das intervenções que, é bom dizer, no antigo regime nem no café se podiam ter, não fosse o Diabo tecê-las por via do vizinho do lado.”

    Não é verdade, isto.

    “Já se esqueceram que se podia ser preso sem a mínima culpa formada?”

    É apenas verdade em parte. Quem ia preso nessa altura sabia muito bem qual era a sua culpa. E não consta que tenham sido presos “inocentes”. Havia uma lei que era cumprida.

    “Salazar era um contabilista provinciano que geria o país como uma mercearia.”
    Esta é dos mitos da esquerda. A verdade é que com três frentes de guerra e orçamentos equilibrados nunca houve uma bancarrota e éramos respeitados por sermos sérios. Havia 800 toneladas de ouro no banco e os capitalistas não faziam o que este Ricardo Salgado fez.

    Depois do tal contabilista vieram três bancarrotas.

    Era melhor estar calado quando a isso, acho.

    “Caetano foi um pusilânime que se borrou todo no Carmo quando julgou que o iam fuzilar.” Outra mentira.

    “A desinformação que foi muito bem aplicada aqui “. Pois foi, Nos últimos 40 anos não se fez outra coisa e sabia-se mais na altura do Salazar do que agora. Seria então possível aparecer um 44 a mandar no país ou em qualquer coisa de valor?

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    • 30 Dezembro, 2014 13:34

      Claro que é lenda posta a correr pela escardalhada que estas conversas não se podiam ter. Se não se podiam então o que eram as tertúlias de café, como o Vavá e as tertúlias de jornais e revistas?

      Dizia-se tudo, falava-se tudo e toda a gente podia ser do contra. Coisa que agora ninguém pode. É tentarem deixar algum comentário na caixa de comentários do Público e vão ver o que é a nova Pide que lá trabalha à borla a censurar militantemente.

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  26. 30 Dezembro, 2014 13:36

    Claro que é lenda posta a correr pela escardalhada que estas conversas não se podiam ter. Se não se podiam então o que eram as tertúlias de café, como o Vavá e as tertúlias de jornais e revistas?

    Dizia-se tudo, falava-se tudo e toda a gente podia ser do contra. Coisa que agora ninguém pode. É tentarem deixar algum comentário na caixa de comentários do Público e vão ver o que é a nova Pide que lá trabalha à borla a censurar militantemente.

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  27. 30 Dezembro, 2014 13:41

    E não só. Não me lembro em toda a vida de ter a liberdade tão quartada como actualmente.

    Não se pode dizer nada que não caia logo meio mundo em cima a apelidar de crime de ódio ou fobia que dá direito a se ir de cana.

    No outro dia uma brasileira de 30 e poucos anos disse literalmente isso. Que uma sujeita que é chefe dela corria risco de ser presa por se ter referido a funcionárias dizendo “a preta” em vez de “a senhora de cor”.

    Não é anedota. è mesmo este o admirável mundo novo. É geral mas por cá temos o tabu do passado porque Portugal teve de começar no 25 de Abril.

    O resto são as trevas medievais, à excepção da boa da República laica.

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  28. 30 Dezembro, 2014 13:42

    E não só. Não me lembro em toda a vida de ter a liberdade tão quartada como actualmente.
    Não se pode dizer nada que não caia logo meio mundo em cima a apelidar de crime de ódio ou fobia que dá direito a se ir de cana.
    No outro dia uma brasileira de 30 e poucos anos disse literalmente isso. Que uma sujeita que é chefe dela corria risco de ser presa por se ter referido a funcionárias dizendo “a preta” em vez de “a senhora de cor”.
    Não é anedota. è mesmo este o admirável mundo novo. É geral mas por cá temos o tabu do passado porque Portugal teve de começar no 25 de Abril.
    O resto são as trevas medievais, à excepção da boa da República laica.

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  29. 30 Dezembro, 2014 13:46

    Como o José consegue apanhar bem, está tudo na semântica.

    Ainda ontém uma amiga me contava como as coisas andam saloias nas escolas. Deu o exemplo de um primo do Jorge Lacão que foi a director de uma escola secundária sendo ele prof de básica.

    E depois contou que receberam o séquito do ministério com secretário e mais restante corte em cortejo.

    No fim, ele decidiu colocar as fotografias do “evento” à entrada da escola.

    E vai ela e acrescenta: “parece coisa do tempo do fascismo”.

    Eu lá lhe expliquei que no dito “fascismo” nunca me lembro de ver fotos coladas nas paredes das escolas e até andei numa que até foi inaugurada. Talvez no social-fascismo isso seja hábito.

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  30. 30 Dezembro, 2014 14:01

    O ensino deve ser o melhor exemplo do que é a doutrina escardalha como nunca existiu doutrinação parecida no Estado Novo.

    Até as famigeradas reitoras colocadas pelo Estado, são agora colocadas pelo partido.

    Esse pascácio que chegou a director substituindo outra que lá estava e nada tinha a ver com a política até diz outra coisa que é uma anedota:

    Tem um sinal na cara dos peludos e depois está sempre preocupado com o ângulo da foto (porque hoje as escolas até têm “gabinete para a comunicação social” por causa do dito sinal.

    Diseram-lhe que era melhor tirar aquilo pois é fácil e rápido.

    E vai ele e respondeu todo pimpão. Que não. Que gosta muito do sinal porque é igual ao primo

    AHAHHAHAHAHA

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  31. 30 Dezembro, 2014 14:03

    Nem sei se não terá dito que tem muito orgulho no sinal

    “:O))))))

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    • 30 Dezembro, 2014 14:20

      Muito obrigado Zazie, muito obrigado José, muito obrigado anónimo.
      No anterior regime podia-se ser preso por ter cometido o delito de opinião.
      Sim.
      Era contra a Lei?
      Pois era, chama-se a isso ditadura.
      Havia eleições livres?
      Penso que não.
      Tenho mesmo a certeza que não.
      Ora bem, ter opinião contra ou a favor de tudo e mais alguma coisa é um bem inestimável.
      Poder votar em um dos dez, vinte, trinta partidos que se apresentem é outro.
      Sem estes valores, volto a dizer, este blog não existiria e nós, eu pelo menos, estaria muito mais calado.

      Está tudo bem agora?
      Não era esse o sentido do post, aliás o sentido era analisar um livro e as pessoas é que divergiram para a análise sobre Salazar.
      Por isso não vou comentar, nem tenho autoridade, a actualidade.
      Mas para terminar direi, um país que escolhe como primeira figura Salazar e como segunda Cunhal, retrata-se a ele próprio muito bem.
      Um Bom Ano para todos.

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      • 30 Dezembro, 2014 15:34

        Um bom Ano, Fado.
        Não era propriamente ditadura. Era um regime sui generis.

        Para relembrar tudo isso e com fontes nada como o Portadaloja.

        Em mais parte alguma se encontra a informação que existe por lá.

        O que também não deixa de ser curioso, já que vivemos agora em democracia…

        O Salazar foi o maior estadista do Portugal moderno.
        Na altura nunca pensei isso e sempre defendi a liberdade de expressão (acho que esse é que foi apenas o único calcanhar de Aquiles do regime).

        Hoje em dia penso que estamos definitivamente tramados e tal se deve ao 25 de Abril.

        A mais nada. Se tivessemos tido a mudança como a Espanha teve, sem a puta da revolução estávamos como eles ou melhor.

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      • 30 Dezembro, 2014 15:35

        Mas foi. Salazar foi o maior estadista que Portugal teve, depois de D. João II.

        E o Caetano em 6 anos fez o que nenhuma destas animálias dos últimos 40 anos conseguiu fazer.

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      • rui a. permalink*
        30 Dezembro, 2014 15:38

        Era uma ditadura académica, isto é, protagonizada por professores universitários de Coimbra e de Lisboa, mais amável do que as selvajarias do III Reich e quejandas. Mas não era propriamente um regime de respeito escrupuloso das liberdades individuais e daquilo que devem ser os direitos fundamentais num estado de direito. Por outro lado, permanecer quase quarenta anos no poder é uma enorme falta de educação, que uma sociedade civil evoluída não deveria tolerar. Deste modo, o Estado Novo e Salazar dizem mais de Portugal e dos Portugueses do que de si mesmos.

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      • 30 Dezembro, 2014 15:41

        Não era ditadura académica.

        Eram eleições com um jeitinho pois havia oposição livre de campanha eleitoral.

        Os liberais estavam lá. Só não estava o Cunhal por ser proibido o PCP nem o Mário Soares que preferia fingir que era perseguido.

        O Estado Novo não tem comparação com mais nenhum regime da altura.

        O azar é as pessoas preferirem etiquetas estúpidas por preconceito.

        Ou por medo.

        Nem sei. Hoje em dia quem se atrever a dizer isto publicamente tem a vida profissional estragada.

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      • 30 Dezembro, 2014 15:45

        E sim. Concordo que a censura foi estúpida e nem era precisa para nada.

        Porque o que era caricato era toda a gente ler tudo; os jornais e revistas publicarem tudo mas ser proibido.

        Isso e a anormalidade académica é que estragou tudo. Porque a DGS não fazia nem deixava fazer.

        Sabiam onde estavam os aperelhos técnicos de todos os movimentos estudantis dos comunas e extrema-esquerda.

        Deixavam andar. Só me lembro de terem feito o ataque ao banker de Medicina.

        Um autêntico buker subterrãneo e blindado que existia no Hospital de Santa Maria, onde o PCP imprimia todos os panfletos da UEC.

        Aquilo funcionou durante anos e anos sem que a dita “Pide” fosse lá acabar com a treta.

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      • rui a. permalink*
        30 Dezembro, 2014 15:46

        «Eleições com jeitinho»? Ó Zazie, tenha lá paciência, o que é isso?

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      • 30 Dezembro, 2014 15:47

        Isso e mais coisas.

        Eu própria projectei o Couraçado de Potemkin em Cabanas (no Algarve) e em mais sítios sem o menor problema.

        Porque não era militante de nada e eles apenas queriam apanhar militantes a ver se cantavam e diziam onde estavam as máquinas.

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  32. 30 Dezembro, 2014 15:36

    O complexo contra Salazar é a prova da falência de Portugal.

    Mais nada.

    A outra é andarem a fazer sessões de comemoração do Cunhal nas escolas.

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  33. 30 Dezembro, 2014 15:38

    De resto, a Assembleia da República conseguia ter no Estado Novo praticamente a mesma variedade que tem agora.

    Só não tinha o PCP e seus apêndices.

    Portanto, se a treta do voto é para dar côr e meter lá comunas, por mim passo.

    A única coisa em que o voto ainda vai servindo é para os apear. E para dizer não aos referendos onde se tenta aprovar merda contra a tradição do povo.

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  34. 30 Dezembro, 2014 15:44

    rui a:

    V. devia ter escutado mais o seu pai. Penso eu de que. Acho que não tem razão naquilo que diz do Estado Novo/Estado Social.

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 15:45

      O «meu pai»? A que propósito é para aqui chamado?

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  35. 30 Dezembro, 2014 15:50

    Eleições com jeitinho eram as eleições habituais que se faziam na monarquia.

    O rei mandava abrir a arca dos contos e tirar um nome ao acaso. Se o nome não agradava, mandava tirar outro.

    Imagino que a contagem dos votos fosse semelhante no Estado Novo. Mas havia eleições e a Assembleia não era um Parido ùnico.

    Era tão variada quanto o é agora, tirando os inúteis da sabotagem e das causas de cu da moda.

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 15:57

      Ó Zazie, mais uma vez, tenha lá paciência. A sua ideia de liberdade, pelo que leio de si há muitos anos e pela liberdade com que costuma expressar-se, não compaginável com um regime onde as pessoas são inquiridas por dizerem seja o que for sobre quem nos governa. E já que estamos em exemplos pessoais, até o meu Pai, que morreu salazarista ferrenho e que teve funções de alta responsabilidade no Estado Novo, foi ouvido por uns gajos da PIDE, a pretexto duns comentários que supostamente fizera e que podiam ser entendidos como de desagrado em relação ao governo. Isto sucedeu na ilha da Madeira, por volta de 1967, quando o regime tinha já fama de estar muito mais brando do que nas décadas anteriores. O que acha você disto? Pensa que poderia dizer livremente, num regime destes, sem ninguém a incomodar, o que escreve aqui pelo Blasfémias e noutros sítios? Gostaria de se ter de justificar perante uma autoridade pública sobre aquilo que pensa e escreve? Tenho grandes dúvidas, mas você é que sabe.

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  36. 30 Dezembro, 2014 15:52

    Mas não vale a pena acusar o Estado Novo de não ser democracia porque isso é petição de princípio.

    O que importava era explicar como estamos agora na cauda da Europa apesar da boa da democracia.

    isso sim. Explicar como melhorámos e progredimos em 40 anos, dado acharem que a qustão da urna é que resolve tudo.

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  37. 30 Dezembro, 2014 15:52

    As melhores críticas que se faziam ao governo de Marcello Caetano vinham no Observador, revista que se publicou entre 1971 e 1973 e de que guardo todos os números.

    Aí se pode ler o que foi a evolução do regime de Caetano que para mim foi fantástica. Incrível até, peranto o contexto em que vivíamos.

    Quem se acredita nos mitos comunistas tem muito a descobrir e ficar admirado.,

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  38. 30 Dezembro, 2014 15:53

    rui a.

    Faça de conta que não mencionei o seu pai e ficamos entendidos.

    Quanto ao resto mantenho o que disse, apenas por um motivo: é da discussão que nasce a luz.

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 15:58

      Não tem qualquer problema em mencionar o meu pai. Só gostaria de perceber donde vem o conhecimento que dele tem e daquilo que ele me teria dito.

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      • 30 Dezembro, 2014 16:01

        Também não sabia mas imagino que o arquivo do José tenha tudo

        ahahahahaha

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 16:01

      Mas mantém mal. Quando tiver paciência, demonstro-lhe facilmente o absurdo que é defender o estado social e depois manifestar a permanente insatisfação com as roubalheiras do regime, como você faz. Para além de que é de elementar facilidade demonstrar a ineficiência do estado social. Basta, de resto, olhar para os seus resultados económicos desde que foi desenvolvido, exactamente com Marcello Caetano, até hoje, sendo que quem o aprofundou na III República em que vivemos foram essencialmente os seus discípulos. É com isso mesmo, embora num sentido claramente diferente do meu, é certo, que o LML termina o livro aqui comentado.

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  39. 30 Dezembro, 2014 16:06

    “demonstro-lhe facilmente o absurdo que é defender o estado social “. Pode demonstrar o que achar por bem. Porém, tenha em atenção o seguinte: o Estado Social assentava em bases realistas de atenção aos mais necessitados de acordo com o dinheiro que então tínhamos disponível num Orçamento equilibrado. Basta isso.

    Quanto á tal “elementar facilidade demonstrar a ineficiência do estado social” não percebo o que quer dizer.

    A social-democracia que temos, sendo agora pobres para a ter como está, foi inaugurada por Marcello Caetano o que muita gente não quer lembrar.

    E acho que essa social-democracia que tivemos era a que deveríamos ter agora: sempre com base em rendimentos sustentáveis e sempre com base no que podemos dar a quem não tem.

    Como pode ver, não sou adepto do liberalismo.

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    • 30 Dezembro, 2014 16:11

      O problema é que o Rui A imagina que existem muitos países liberais sem esse famigerado “Estado Social”.

      è como os comunas- também existem bons modelos de comunismo da Bayer.

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      • 30 Dezembro, 2014 16:12

        Pelo menos em intenção existem. E não é coisa de mercearia. São teorias com grandes gurus que nunca fica mal citar.

        Mal fica dizer que tivemos um governante que fez mais que todos esses gurus fizeram no papel.

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 16:28

      José,

      Eu sou, de facto, filho de um dos dois irmãos Albuquerque, mas não exactamente dos dois irmãos em que suponho estava a pensar, o Martim e o Ruy, professores catedráticos da Clássica, e que são meus primos. O meu Pai, que também tinha um irmão, foi, no antigo regime, alto funcionário do Ministério das Corporações, tendo presidido a várias Caixas de Previdência e Delegações de Trabalho, sendo que se o regime tivesse prosseguido mais uns anos provavelmente teria sido secretário de estado ou mesmo, quem sabe, ministro de qualquer coisa. Ora, o que ele me disse sobre o regime que serviu e o chefe do mesmo, que ele muito admirava, não demoveu as convicções que tinha e que mantenho sobre o que deve ser um estado civilizado e tolerante, o que, a meu ver, não era exactamente o caso. Isso não fez de mim propriamente um anti-fascista militante, até porque, e já o escrevi no Portugal Contemporâneo, a seguir ao 25A o que eu era exactamente era fascista (já agora, você, pelo 25A, andava por onde?), consequência da tenra idade que tinha e dos ímpetos reaccionários que caracterizam, em regra, a juventude que é verdadeiramente revolucionária. Depois de crescer um bocadinho, mantive sempre o maior respeito pelo meu Pai, a quem sempre escutei e entendi muito bem o que me dizia e os seus pontos de vista, embora continuasse a achar que o Estado Novo não era o modelo de sociedade que escolheria para passar 40 anos… Já mais crescidinho fui particular amigo de algumas personagens de vulto do Estado Novo, com quem falei muito e de quem ouvi muito, e por quem tive – pela maioria, pelo menos – a maior consideração pessoal e intelectual. Entre eles, com particular destaque, o meu muito querido amigo Professor Gonçalves de Proença, que me honrou com uma amizade pessoal de mais de vinte anos, e que tinha sido exactamente Ministro das Corporações de Salazar. Julgo não cometer nenhuma inconfidência nem desonrar-lhe a memória se disser que Gonçalves de Proença era um homem verdadeiramente livre (não exactamente um liberal…) e que, anos depois de findo o regime que servira, acabou por preferir aquele em que morreu àquele que servira.

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 16:40

      Imagino nada, Zazie: não ando assim tão nas nuvens como supõe. Ora veja lá se isto serve: o liberalismo (se quiser, até, o anarquismo capitalista) é uma referência a atingir, sabendo-se que ela mesma é plenamente inalcançável. De resto, se o fosse e quando o fosse, deixaria de ter razão de ser, porque o estado inexistiria e todo o liberalismo se move em função do estado. Agora, coisa distinta é o estado social, tal e qual o século XX cuidou de criar e desenvolver, e que parece que vcs. acham que é coisa intemporal e constante nas sociedades humanas. Uma espécie de direito natural da organização política, ao qual é crime fugir. Calma lá com isso: há formas mais eficientes de organizar uma sociedade politicamente, e que dão resultados mais favoráveis para todos. De resto, a análise histórica de qualquer estado social leva a concluir que ou se reformam profundamente, quase deixando de o ser, ou entram em falência, como já nos aconteceu três vezes nos últimos quarenta anos, porque a recionalidade económica que o assiste pura e simplesmente não existe. Dito de outro modo: a aplicação de recursos no dito estado social é perdulária, porque se permite a recolher muito em nome de uma ideia generosa, recolhendo, aliás, cada vez mais e mais, sem satisfazer, de facto, as necessidades básicas que justificam o contrato social, porque a decisão de aplicação de recursos é essencialmente de raiz política e não económica. Num investimento numa economia de mercado qualquer investidor visa o lucro, sendo este compaginável não apenas em resultado financeiro, note-se bem. Num investimento do estado, em economia de elevado controle público, como sucede entre nós, a racionalidade do investimento público é satisfazer os «clientes» que elegem quem está no poder. mas o que é verdadeiramente notável é quando, por um lado, se exaltam as maravilhas do estado social, e depois se lacrimejam as maldades dos governantes, transcritas em ppp’s, investimentos ruinosos, os conselhos de administração dos amigos, o forrobodó das pts, etc.. Assim, não dá!

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      • 30 Dezembro, 2014 16:44

        Mas com isso também concordo. E no Estado Novo não era assim.

        Mas, Inglaterra que tem fama de ser um país liberal, teve um Estado Social mil vezes maior do que alguma vez tivemos.

        De todo o modo, nesse aspecto acho bom que não se destruam as tradições sociais para tudo se descartar no Estado.

        Por cá não há tradição de “commitment” como noutros países do Norte da Europa.

        Em desaparecendo a caridade cristã é meio mundo a descartar-se no Estado.

        O Estado Social devia ser uma coisa sensata para o imprescindível.

        A nossa tradição de chico-espertice encontrou aí mais um bom local para o saque.

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      • 30 Dezembro, 2014 16:46

        Mas é um assunto em que não sou extremista. O meu modo de vida é completamente liberal e tenho pó a esse vício do “pede ao Estado que o Estado dá”.

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      • 30 Dezembro, 2014 16:48

        Como v. sabe, no que toca a ensino, não sou minimamente estatista.

        Apenas no que respeita à Saúde é que acho que é preciso apoio.

        Mas nada disso é a vigarice para desbaratar em compra de voto que foi no que deu.

        Agora cartilhas não compro. Apenas pragmatismo. As cartilhas são sempre utopias inúteis.

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      • rui a. permalink*
        30 Dezembro, 2014 16:54

        A Inglaterra teve um Gladstone, mas também um Disraeli. Nos dias de hoje, tem, sem dúvida, um enorme estado social, que, apesar de tudo, diminuiu alguma coisa com as várias passagens pelo governo dos Conservadores. Não obstante, o que a Inglaterra tem e nós não temos, é um admirável sistema jurídico que impõe fortes limites à actuação dos poderes públicos e garante os direitos fundamentais de modo muito mais eficaz do que o nosso modelo romanístico de versão jacobina que temos desde que entrámos na modernidade. A diferença está na na força das respectivas sociedades, uma habituada a viver por si própria e a outra sempre pendurada no poder central (por favor, não me venha com as tretas municipalistas do Herculano, se faz o favor).

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  40. 30 Dezembro, 2014 16:07

    Quanto ao seu pai e para esclarecer qualquer equívoco pensei que era filho de um dos irmãos Albuquerque. Se me enganei peço desculpa.

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 16:41

      E não tem nada que pedir desculpas por se ter enganado na minha paternidade, até porque aquela que tive não desilustra as que me imputou.

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  41. 30 Dezembro, 2014 16:10

    E claro que só refiro isso porque tem o seu nome aqui. Se usasse um pseudo ou apenas o nome próprio nem sequer o mencionaria.

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  42. rui a. permalink*
    30 Dezembro, 2014 16:14

    E já agora, insisto no que lhe disse: o relativo sucesso económico do Estado Novo deveu-se à política de rigor orçamental de Salazar, do que resultou uma das mais fortes moedas do mundo. Dito de doutro modo, o tesouro português e a dívida pública portuguesa eram mais do que confiáveis. Com o estado social inaugurado pelo MC e o inevitável aumento da despesa pública, ainda que limitado pela inexistência de eleições e, consequentemente, a desnecessidade de gastar em compromissos eleitorais despesistas (embora tendo que satisfazer clientelas, como em qualquer regime), a estabilidade do escudo e a economia portuguesa acabariam inevitavelmente por sofrer. A única alternativa seria abrir, de facto, a economia nacional ao estrangeiro e à concorrência, Ultramar, sobretudo o Ultramar, incluído. Mas isso não permitiria a sobrevivência do regime durante muito tempo e MC sabia bem disso.

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  43. 30 Dezembro, 2014 16:17

    O liberalismo é muito bonito como doutrina. Parece-se com o comunismo. E os efeitos são quase os mesmos: domina quem é mais forte. E mantém-.se no poder para sempre.

    No outro dia não sei onde li que demos ( é uma maneira de dizer) demasiado poder aos bancos e estas instituições não são de confiar e por isso têm mesmo que ser reguladas. A bem ou a mal.

    Os exemplos em Portugal provam-no: Oliveira e Costa e Ricardo Salgado, mesmo com regulação ( anémica) conseguiram falir os bancos e prejudicar milhares de pessoas.

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  44. 30 Dezembro, 2014 16:21

    O tempo de Salazar não era o mesmo de Caetano.
    E o prognóstico póstumo sobre o que aconteceria ao regime, com Caetano não é suficiente com os dados que aponta.

    Salazar teria feito o mesmo, provavelmente porque os anos setenta não eram os anos cinquenta.

    A moeda forte pode ser boa numa altura e má noutra. Por exemplo para exportar como aconteceria nos anos setenta e oitenta se continuássemos a ter Caetano, a moeda necessariamente teria que se adaptar a tal, como a Inglaterra fez e outros.

    Quanto ao Ultramar é uma incógnita e admira-me que não haja imaginação para pensar o que poderia ter sido outra forma de sairmos de lá, sem ser como na “descolonização exemplar”.

    A África do Sul não se modificou? Para melhor?

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  45. 30 Dezembro, 2014 16:24

    O que perdemos de essencial em Portugal com o advento da Revolução dos cravos foi qualquer coisa de muito subtil e importante: a nossa identidade que vinha de outrora.

    Aculturamo-nos ao que vinha de fora, dos sistema anglo-saxónico ( até nessa ideia peregrina do liberalismo) e deixamos de dar atenção ao que nos era genuíno. A começar na linguagem e com reflexos evidentes na educação.

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 16:44

      O nosso liberalismo foi tudo menos «anglo-saxónico». Antes tivesse sido, mas, infelizmente, foi francês. Como, de resto, infelizmente também, o conservadorismo salazarista andou muito distante dos Burkes e dos Tocqueville (este era francês, mas verdadeiramente anglo-saxónico, do ponto de vista intelectual), tendo preferido os reaccionários franceses, como Maurras.

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      • 30 Dezembro, 2014 16:51

        eehhe

        Ia dizer isso. Da patranha da Liberdade, Igualdade, Fraternidade, passámos para a patranha de xuxialismo ou papão neotonto.

        O modelo do Estado Novo era genuíno mas esse continua a ser tabu, até por aqui.

        A Revolução Francesa foi continuação por outros meios da patranha teórica e republicana do liberalismo.

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 18:57

      Sobre a educação, quer melhor referência que o Veiga Simão? Donde vem esta malta quase toda que ocupou a 5 de Outubro nos últimos 40 anos? São discípulos de quem?

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      • 30 Dezembro, 2014 19:03

        É verdade. Depois tiveram o Rui Grácio e a coisa foi por aí fora.
        Mas, os programas e forma de organização do ensino não era o descalabro do actual.

        É mesmo o campo em que se pode medir a degradação do país.
        Juntaram a igualdade obrigatória por causa da luta de classes e espatifaram o resto em nome do “sucesso”.

        Ainda acabam a dar autógrafos, tal é o “sucesso escolar”.

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 19:08

      «Mas, os programas e forma de organização do ensino não era o descalabro do actual.»

      Corrigindo: «Mas, os programas e forma de organização do ensino AINDA não era o descalabro do actual.». Mas lá chegaríamos, Zazie. Como, aliás, chegámos.

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  46. 30 Dezembro, 2014 16:43

    O pensamento económico de Caetano era este:

    ” O Estado, na maioria dos casos, não se intromete na vida económica: é chamado a intervir nela. Umas vezes em defesa do consumidor; outras para disciplina na produção. Ou para normalização de um comércio desordenado. Ou para facilitação de crédito de fomento, que não pode ser dispensado sem se saber como bem porquê. E sempre para dotar o País daqueles elementos básicos, a que se chama agora infra-estruturas, sem os quais não é possível instalar as unidades produtivas em condições satisfatórias a assegurar a fácil circulação das pessoas e bens.
    Nem hoje se pode afastar o Estado das relações entre empresários e trabalhadores, como árbitro equitativo do interesse nacional e da justiça distributiva. Sustentamos que o lucro é legítimo- como fruto da iniciativa descobridora de novas oportunidades de utilidade e fontes de emprego, e recompensa da organização da empresa e dos serviços de capital. Mas para a formação do lucro contribuem o Estado e as autartquias locais, contribuem os trabalhadores: é justo que retribua em impostos e em melhoria da condição operária a parte que a esses factores corresponda.
    Antes de tudo, o Estado, porém, permite o desenvolvimento da vida económica e o desenrolar normal das actividades sociais em que garanta a segurança das pessoas e bens. ”

    Discurso proferido por Marcello Caetano em 24 de Junho de 1973 em Aveiro.

    Haverá quem não entenda correctamente o que Marcello queria dizer? Há alguém capaz de fazer um discurso destes hoje em dia? O caquéctico desmemoriado que anda por aí a dizer baboseiras depois de ter sido presidente da República era capaz de um discurso destes?

    E o que ficou dito pouco tem a ver com liberalismo, mas será que o liberalismo pode contestar a validade dessas afirmações?

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 16:47

      «O Estado, na maioria dos casos, não se intromete na vida económica: é chamado a intervir nela. Umas vezes em defesa do consumidor; outras para disciplina na produção. Ou para normalização de um comércio desordenado. Ou para facilitação de crédito de fomento, que não pode ser dispensado sem se saber como bem porquê. E sempre para dotar o País daqueles elementos básicos, a que se chama agora infra-estruturas, sem os quais não é possível instalar as unidades produtivas em condições satisfatórias a assegurar a fácil circulação das pessoas e bens.»

      José, vc. tirou isto do programa eleitoral do António Costa? Olhe que se não, pergunte-lhe o que ele acha disto e verá a resposta. Tenha lá paciência, mas ultrapasse essas banalidades que tanto nos têm prejudicado ao longo da nossa História.

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  47. 30 Dezembro, 2014 16:50

    Banalidades? E que propõe como novidade?

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    • 30 Dezembro, 2014 16:51

      Ora, quem havia de ser: as múmias do neotontismo pencudo

      eheehhehe

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 17:02

      Caramba, José: tanto e tão pouco! Desde logo, menos estado e muito mais mercado, sendo que isto assim dito é pouco. Mas é um princípio muito salutar de conversa e que até pessoas inteligentes como vc. se recusam encarar, de tal modo estão viciadas em séculos de estatismo. Privatizar quase tudo o que tem o estado, descer impostos violentamente, negociar com os credores, como se faz em qualquer empresa com a tesouraria esganada, mas viável (o que um país tem obrigação de ser), acabar com todas as alcavalas que, a partir do estado e pagas pelos contribuintes, servem as clientelas partidárias, modificar profundamente o sistema eleitoral, deitar a actual Constituição ao lixo e fazer outra com não mais do que 10 artigos, um sobre os direitos fundamentais, outro sobre o sistema de governo e outro sobre o sistema de justiça (bem vistas as coisas, três chegariam…), onde a palavra «economia» fosse proibida, abrir verdadeiramente todos os sectores económicos à concorrência nacional e estrangeira (não se preocupe com os empresários portugueses, que certamente conseguiriam encontrar as suas oportunidades de negócio bem melhor do que num mercado onde o estado controla quase tudo), etc. e tal. É verdade que os custos a pagar por uma mudan ça abrupta de paradigma, para um país tão estatizado como o nosso, seriam elevados. Mas, pergunto-lhe, eles não são altíssimos com o actual modelo e com o que nele gastamos em impostos perdulários? O que vc acha do estado da segurança, da justiça, da saúde e da educação públicas?

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  48. 30 Dezembro, 2014 16:52

    A diferença entre estas banalidades social-democratas de Caetano e as de António Costa é apenas uma: aquelas banalidades eram o espelho da realidade. As banalidades de Costa são apenas as de um desejo.

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  49. 30 Dezembro, 2014 16:55

    V. consegue definir o liberalismo que defende noutra asserção diferenta da do “laissez faire laissez passer”?

    Tem algo mais subtil e elaborado que se compreenda em frases curtas como aquelas que transcrevi de Marcello Caetano?

    Duvido muito.

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  50. 30 Dezembro, 2014 16:58

    Melhor ainda: esta forma de entender a sociedade e governar em conformidade deu provas e bons frutos.

    O liberalismo alguma vez deu provas de alguma coisa?

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 17:03

      Que tal a Revolução Industrial, o século XIX e o mundo ocidental do século XX, apesar de muito mal tratado por muitos lados, nas últimas décadas? Ou acha que a nossa civilização e o conforto que ela nos trouxe é fruto do socialismo e do estado?

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  51. 30 Dezembro, 2014 16:59

    Por mim, acho que deu: a Goldman Sachs é uma das maiores firmas financeiras do mundo e manda em governos. Diz-se que arruinou a Grécia. É isso que será desejável?

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 17:06

      A Grécia é que se arruinou a si mesma, José! Tem alguma dúvida disso? Vale a pena justificar as ineficiências e os erros de um país que teve ditaduras de generais, pasoks, índices absurdos de corrupção e bandalheira, e um estado social que pagava tudo e mais alguma coisa para alegrar o pagode com papões? E mesmo que a GS tivesse encomendado o enterro, vc acha que um país decente e uma sociedade normal se deixam assim enterrar?

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  52. Miguel D permalink
    30 Dezembro, 2014 17:05

    “Quanto ao Ultramar é uma incógnita e admira-me que não haja imaginação para pensar o que poderia ter sido outra forma de sairmos de lá, sem ser como na “descolonização exemplar”.

    Totalmente de acordo. E este exercício não é inútil, ao contrário do que se pode pensar. É essencial para interiorizarmos que hoje e sempre há alternativas (vide euro, UE, etc) e que acomodarmo-nos ao “não há alternativa” não é necessariamente sinal de sensatez, nalguns casos pode ser o caminho mais rápido para o buraco.
    A minha resposta quanto ao Ultramar parte da realidade no terreno.
    Temos x províncias ultramarinas, 3 delas em guerra. Nestas 3 temos igualmente diferenças: em Luanda e Lourenço Marques vive-se um estilo de vida mais próximo do da Metrópole do que da maior parte de Angola ou Moçambique.
    Assim, uma descolonização diferente partiria sempre da autodeterminação dos povos através de uma consulta expressa e monitorizada pela ONU ou OUA. Os resultados das cidades de Luanda ou Lourenço Marques poderiam implicar uma solução distinta daquela a adoptar para o resto de Angola ou de Moçambique, onde a opção pela independência seria quase certa (para não falar na Guiné).
    Em Cabo Verde e em Timor obrigámos aqueles povos a uma independência que nunca quiseram (não conheço outro caso parecido na história mundial), em S. Tomé dificilmente optariam pela separação, mas admitamos que sim.
    Chegaríamos a 2015 um país estranho mas fruto de uma real autodeterminação: Continente e regiões autónomas da Madeira, Açores, Cabo Verde, Luanda, Lourenço Marques e Timor. Todas estas juntas não chegam a metade da maior província ultramarina francesa existente nos nossos dias, a Guiana. E não parece que a França esteja sujeita ao despotismo de académicos.
    Passámos de um regime autoritário mas herdeiro de um legado histórico e sensível ao interesse nacional, para outro democrático, mas em que o próprio espaço de soberania (e até 82, as próprias bases de convivência) foram fixados sem a vontade livremente formada dos cidadãos.

    Miguel D

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    • 30 Dezembro, 2014 18:29

      Desta vez fiquei banzado.
      Então de Moçambique ficava ligado à Metrópole apenas Lourenço Marques.
      E eu que vivia há vinte anos em Quelimane era integrado no Novo Mozambique e a Beira com o seu magnifico porto por onde saia todo o inland ficava para os chineses que lá eram maioritários.
      As plantações da Sociedade Agrícola do Madal (que era suíça) tirava-se á sorte.
      A Sena Sugar Estates dona de uma das maiores plantações de açúcar do Mundo, que muito jeito deu à Metrópole e que era inglesa ficava, naturalmente, como enclave da Coroa.
      As plantações de chá de Gurué e Milange, das maiores e melhores do Mundo, e cujo era totalmente exportado para Londres ficavam também para a Coroa.
      Resta a copra e o caju que eram feudos de indianos e da Companhia do Boror que embora com este nome era estrangeira.
      Aliás não havia quase nada nacional (leia-se Metrópole) de bom por lá.
      Pensando bem e ainda que LM tivesse a Costa do Sol, o Polana e o Zambi era capaz de não ser grande anexação para o tal Grande Portugal do Futuro.
      Pense melhor.

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      • Miguel D permalink
        30 Dezembro, 2014 19:24

        O Sr. fica banzado por defender-se que as pessoas deviam ter sido ouvidas sobre o seu futuro? Ou que Lourenco Marques tinha características demográficas, sociais e econômicas bastante distintas do resto de Moçambique? Engana-se, nada de delírios de Grande Portugal, era mesmo só respeito pelos cidadãos e pela história. Sobre o grande porto da Beira ou a lagosta de Pemba só posso dizer que parecem bem e desejar boa sorte.
        Pressuponho que entregar aqueles territórios e gentes a bandos perdidos nos matos de Tete ou Cabo Delgado como representativos dos moçambicanos parece-lhe mais sensato.
        Disclamer: nunca pus os pés em África nem tenho ‘experiência africana’ na família

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      • 30 Dezembro, 2014 19:27

        Fado, você está a esquecer-se do Monteiro & Giro que seria, no início dos 70, a maior empresa de Moçambique e que se poderia considerar como um grupo moçambicano.

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      • 30 Dezembro, 2014 19:37

        Um milhão de desculpas LR
        A minha Mãe trabalhava lá.
        Grande Lindolfo Pinto Monteiro, às seis da manhã já estava a trabalhar.
        Ainda aqui na Metrópole pensavam no que era a Coca Cola já ele tinha aberto o primeiro super mercado de Moçambique.
        O fabuloso Hotel Chuabo, toda a envolvente em flats de várias tipologias (vivi numa).
        Que saudades.
        Obrigado.

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  53. 30 Dezembro, 2014 17:08

    “Que tal a Revolução Industrial, o século XIX e o mundo ocidental do século XX, apesar de muito mal tratado por muitos lados, nas últimas décadas?”

    isso é válido para todos os países ocidentais e estamos a falar de Portugal . São todos liberais?

    Os escandinavos são liberais?

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 17:12

      Quando é que tivemos a nossa RI, José? Quanto aos escandinavos, no que se refere, por exemplo, à educação, aos direitos de propriedade, às regras da concorrência, à organização industrial, às regras laborais, etc., são muitíssimo mais liberais do que alguma vez nós fomos.

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  54. 30 Dezembro, 2014 17:10

    “A Grécia é que se arruinou a si mesma, José! ” Verdade, claro. O Goldman Sachs, epítome máximo desse tipo de liberalismo que não compro, só ajudou um bocado. Um pedaço. Quase tudo, em matéria de descalabro financeiro.

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 17:14

      Por que diz vc. que a GS é uma empresa que corporiza o liberalismo? Por acaso uma empresa multinacional, que vive na sombra dos governos dos estados, com ministros e governantes nos seus altos quadros, para manipular os mercados em seu favor será uma boa referência de uma economia de mercado?

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  55. 30 Dezembro, 2014 17:12

    É muito simples de entender: empresta, empresta, empresta. Gasta, gasta, gasta. Agora paga. Não tens com quê? Pede mais emprestado. Vendas ilhas…

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 17:16

      E pediram emprestado para quê? Aposto que se fizer uma análise da dívida pública grega lá encontrará sólidos vestígios do seu estado social…

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  56. 30 Dezembro, 2014 17:13

    “são muitíssimo mais liberais do que alguma vez nós fomos.” Não será mais do que éramos em 1974

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 17:15

      José, em 74 já esses países elegiam democraticamente, por sufrágio universal e não controlado pelo governo, os seus representantes. Não esqueça que o liberalismo não é uma simples doutrina económica…

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  57. 30 Dezembro, 2014 17:15

    A nossa Revolução veio com o código napoleónico, por exemplo e a definição da propriedade. Veio com a mudança na distribuição agrária. Veio com a abolição da pena de morte ( fomos os primeiros, viva!), veio com o jacobinismo de Afonso Costa.

    Ainda quer mais Revolução? Tem a do Maio de 68 que aqui pegou de estaca porque só líamos franceses.

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 17:18

      Pois foi: veio com o Código Napoleónico e sem a máquina a vapor…

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      • 30 Dezembro, 2014 17:21

        Ia jurar que sem máquina a vapor por outros liberalismos laicos setecentistas….

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 19:06

      E o Código Napoleónico já cá estava há muito, mesmo antes do Napoleão ter nascido. Como, aliás, em França, como o Tocqueville bem demonstra.

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  58. 30 Dezembro, 2014 17:19

    Em 1974 Portugal era tão ou mais liberal do que a maioria dos países da Europa. Mesmo com o tal “condicionamento industrial” que foi uma necessidade conjuntural, acho que as empresas privadas tinham mais liberdade nessa altura do que jamais tiveram. Menos burocracia, menos regulamentação de Estado etc etc E até menos, mas muito menos impostos.

    Não era assim?

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  59. 30 Dezembro, 2014 17:20

    “sólidos vestígios do seu estado social…” Claro, reformas aos 50, subsídios para tudo etc.

    Mas…quem emprestou? quem incentivou o descalabro previsíbvel? A Grécia era um país da UE…

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  60. 30 Dezembro, 2014 17:21

    “sem a máquina a vapor…”

    Pois nas nos anos cinquenta no Porto havia mais indústria que hoje, E sem ser a vapor.

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  61. 30 Dezembro, 2014 17:23

    Não se esqueça que por cá, até certa altura, até o Banco de Portugal era privado…

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 19:02

      Mas a emissão de dinheiro passou a ser um monopólio seu, controlado pelo estado, a partir de 1887, e isso é que é fundamental. Não esqueça que um mercado livre não se basta com a existência de algumas empresas privadas: é necessário que o acesso seja livre, para evitar os oligopólios e permitir a verdadeira concorrência, sem o que toda a economia é uma fraude.

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  62. 30 Dezembro, 2014 17:40

    Sobre o fenómeno da máquina a vapor não ter chegado cá, há um livro recente – Why the west rules for now, de Ian Morris, já traduzido entre nós- que mostra como foi, comparando logo no início uma suposta inversão de estatuto entre a China de então e a Inglaterra colonial.

    Há outro que me parece valer a pena ler- The German Genius., de Peter Watson, não traduzido por enquanto e que mostra como a Alemanha é um portento cultural e económico desde o séc XVII e como influenciou muito.

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  63. rui a. permalink*
    30 Dezembro, 2014 19:05

    Em relação ao caminho de ferro recomendo vivamente a Maria Filomena Mónica e a sua biografia política do Fontes Pereira de Melo. Mais uma vez, foram os socialistas, representados pelo Oliveira Martins, que se opuseram ao caminho de ferro, porque era perigoso para a indústria nacional. Tem sido graças a este ancestral proteccionismo que as coisas nos têm corrido muito bem, concorda?

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  64. António permalink
    30 Dezembro, 2014 21:33

    Excelente discussão à volta deste post. Talvez a melhor e mais didática discussão sobre um post que alguma vez vi neste blogue. Também não me sinto particularmente inclinado para comprar um suposto “liberalismo e mercados” em estado 100% puro. Quanto a Marcelo Caetano, Salazar e a revolução não posso falar com percepção real pois não vivi aquele tempo em idade adulta. Contudo, é minha convicção que os Socialistas (Mário Soares à cabeça) amparados sempre que necessário pela muleta dos Comunistas permitiram um rumo que conduziu este nosso País a ser aquilo que infelizmente é hoje, ou seja, uma nação falhada. A história poderia ter sido bem diferente se o elemento sorte nos tivesse destinado outros protagonistas.

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  65. sem permalink
    30 Dezembro, 2014 21:57

    Broncos!!!!!!!!!!!!!!Sabem lá a miséria que se vivia no antes do 25 de abril,principalmente os pobres que eram carne pra canhão, embarcando nos “paquetes do tempo , mas nos porões morriam por lá e por lá ficavam para defender uma terra que não era sua (deles militares) mancebos sem preparação morriam de susto só ao disparara um obus . e não se esqueçam que Salazar arrecadou muito ouro à custa da II guerra,vendendo conservas para um lado , e tungsténio para outro,entendeis tanto de política como eu de missa!!!!.

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  66. manuel permalink
    30 Dezembro, 2014 21:57

    Parabéns RUI A: um bom post e uma boa discussão. Deu gosto ler .

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 23:36

      Obrigado, Manuel, mas o mérito é essencialmente da Zazie e do José, que lançaram o debate e mantiveram-no muito bem.

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  67. 30 Dezembro, 2014 22:01

    “Tem sido graças a este ancestral proteccionismo que as coisas nos têm corrido muito bem, concorda?”

    respondo assim:

    Em 1976 na faculdade de Direito de Coimbra um professor comunista chamado Aníbal Almeida ( um tipo interessante e de quem não perdia uma aula por valer a pena) colocou uma pergunta num “frequência” assim: ” o que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos. Comente”.

    E eu comentei.

    Percebe onde quero chegar? Nenhum país deixou de ser proteccionista sempre que tal foi necessário. E não há países liberais.
    Portugal de todos os regimes sempre foi proteccionista. Era o que mais faltava , não o ser.

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  68. 30 Dezembro, 2014 22:03

    “sem”:

    foi o fassismo não foi? Maldito fassismo.

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  69. 30 Dezembro, 2014 22:06

    rui a:

    também queria que a emissão de moeda fosse liberalizada?

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 23:46

      Claro que sim. É um bem de mercado como qualquer outro e, de resto, já o foi. A moeda é um meio de troca, como vc sabe. Vale pela confiança que se tem no emissor. Entendi isso perfeitamente quando fui à Republica Dominicana e, na minha ingenuidade, ofereci uma excepcional gorjeta a um motorista que me levou não sei onde. Um pequeno pormenor: a gorjeta era em moeda local. Sabe o que ele fez? Agradeceu cerimoniosamente, mas não a aceitou. Em face disso tirei 5 dólares do bolso e com algum receio, porque não entendi imediatamente a rejeição dele, estendi-a para lha dar. Parecia que lhe estava a oferecer o bilhete premiado do euromilhões! Posto isto, caro José, se alguma coisa tem prejudicado os países e a moeda é o monopólio estatal da mesma, de resto muito recente em termos de história do dinheiro. Graças a esse monopólio, o governo usa o dinheiro para fazer o que lhe convém e, com isso, gera uma coisa chamada inflação, à qual os governos mais sensatos reagiram nas últimas décadas autonomizando os bancos centrais, isto é, a emissão do dinheiro. Todavia isso não chega, porque as políticas de incentivo ao crédito são outra forma de fabricar dinheiro que os governos utilizam para melhorar os seus índices de popularidade. Sem qualquer pretensão de lhe ensinar seja o que for, recomendo-lhe vivamente que tenha alguma abertura de espírito em relação ao tema e leia o que sobre ele escreveram o Mises, o Hayek e o Rothbard. Terei o maior gosto de lhe facultar alguns elementos se tiver, de facto, interesse nele, acreditando sinceramente que passará a ver a coisa de um outro modo.

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    • rui a. permalink*
      31 Dezembro, 2014 00:20

      Confesse lá que gostou da comparação com o nosso amigo…

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    • rui a. permalink*
      31 Dezembro, 2014 00:22

      E ninguém aqui propõe mundos perfeitos, nem homens novos, Zazie. Já lhe disse: o liberalismo é uma referência a. A política e o mundo do possível são outra coisa. Mas devemos exigir o impossível, para conseguirmos o desejável… E olhe que não se diz aqui nada que não seja razoável, a não ser num país tão viciado em estatismo como o nosso sempre foi! Aí dou a mão à palmatória…

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      • 31 Dezembro, 2014 00:33

        O Buble Project tem gravuras e textos deliciosos. Aconselho-o a dar uma espreitadela porque, ao contrário do que os ancap têm a mania de dizer, a finança não começou na América.

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      • rui a. permalink*
        31 Dezembro, 2014 00:37

        Vou ler as suas bolhas, Zazie, com o maior cuidado e atenção. Agora, toca de preparar o fim do ano! Abraço,

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      • 31 Dezembro, 2014 00:38

        Abraço, Rui.

        V. é sempre um gentleman.

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  70. Euro2cent permalink
    30 Dezembro, 2014 22:20

    Eu não gosto de contradizer convicções religiosas, mas tal como a dos marxistas, a fé cega dos liberais é tocante e assustadora. Ignora dados históricos, condições objectivas, antecedentes culturais. Roça mesmo a categoria de “cargo cult”: aqueles ali têm liberalismo e máquinas a vapor, logo nós se tivermos liberalismo teremos máquinas a vapor.

    Não é nada assim que tudo isto funciona, como dizem nas internetes.

    (Ah, também ignora consequências futuras. Que importa extinguir um país, se os futuros ocupantes do lugar deixado vago tiverem máquinas a vapor?)

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    • rui a. permalink*
      30 Dezembro, 2014 23:47

      A sua contribuição para o debate foi de enorme substância.

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  71. 31 Dezembro, 2014 10:50

    Em epílogo:

    Isto prova a insuficiência dos blogs como veículos de discussão de ideias em modo apropriado. Para além de algumas reflexões que podem ser interessantes, torna-se muito difícil, também por inadequação do meio e por eventual insuficiência de quem alvitra opiniões escritas chegar a conclusões que permitam abalar ideias já feitas.

    Estas pequenas discussões podem abrir algumas pistas de reflexão se houver quem se interesse por isso, mas dificilmente as pessoas mudam de opinião apenas com base nestas trocas de comentários.

    A verdadeira reflexão não se compadece com estes pequenos apartes ou até contribuições interessantes para um debate sempre aberto: liberalismo versus social-democracia.

    Quanto a leituras e por causa destas ideias, já há alguns anos comprei na FNAC um livrito de bolso da Folio, com mais de 850 páginas de Catherine Audard- Qu´est-ce que le libéralisme?

    Comecei a ler na altura ( não anotei a data mas tem mais de meia dúzia de anos) e agora surgiu a vontade de voltar a ler.
    É por isso que estas discussões valem: para potenciar um “saber mais”. Só isso.

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    • 31 Dezembro, 2014 11:23

      È verdade mas também é um facto que sem este distanciamento virtual e até uso de nick name estas conversas eram impossíveis.

      Por outro lado, em matéria de fontes, o Portadaloja é o único local do género. Não há nenhum revista, nenhum jornal que faça trabalho semelhante.

      No máximo vão é lá roubar e depois vendem.

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  72. 31 Dezembro, 2014 11:39

    É exactamente por isso que sinto a obrigação de colocar imagens com textos que sustentam o que escrevo e porque escrevo. Não me basta a minha opinião sem mais, como vejo por todo o lado nos blogs.

    Quem quiser ler pode concluir o que concluo ou outra coisa diversa. Porém, tem os factos ao dispor. A interpretação dos mesmos é que pode variar, Contudo, como se costuma dizer, contra factos os argumentos são difíceis.

    Esta discussão começou por causa de Marcello Caetano, a única que me faz vir aqui comentar.

    E há um facto que precisava de ser melhor divulgado para se entender como cosneguimos ser estúpidos como povo, ao não correr com aqueles que nos desgraçaram: em Julho de 1974 havia vários capitalistas portugueses ( alguns ainda por cá andam) que queriam investir no nosso país que era o deles, 120 milhões de contos, certa de 20 mil milhões de euros.

    O MFA e as forças políticas de esquerda de então recusaram essa oferta pública de investimento.

    Porquê?

    Se o Expresso um dia destes publicasse na primeira página essa informação de que aliás deu conhecimento na época embora alinhando pelos que não queriam tal ( e Marcelo Rebelo de Sousa fazia parte do Expresso de então) o que seria de discussão pública sobre a esquerda portuguesa?

    É evidente que os dois cretinos que dirigem o Expresso nunca poriam tal coisa na primeira página…

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  73. António permalink
    31 Dezembro, 2014 15:07

    Os blogues poderiam ser um excelente veículo de debate entre os cidadãos. Infelizmente as caixas de comentários dos blogues estão em grande parte eivados por um espírito quase de matilha a soldo de forças politicas e este postal é o exemplo disso mesmo, ou seja, quando o debate mostra elevação e substância veja-se à excepção do José e da Zazie quantos comentários apareceram, até os que habitualmente comentam neste blogue desapareceram misteriosamente. É certo que um blogue por si só é algo redutor mas quando existem posts bem elaborados e pertinentes e quando os comentários são feitos com elevação e substância penso que os blogues são interessantes. Afinal um blogue além de contribuir para a cidadania também tem que servir para divertir um pouco.

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  74. 31 Dezembro, 2014 15:33

    Um blog, para mim e neste nível tem a mesma importância que uma conversa numa roda de amigos em que as pessoas se escutem com elevação.

    E isso já é muito.

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