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Regulação mundial III

29 Janeiro, 2008

O leitor panaxginseng escreve o seguinte a favor da regulação mundial:

um argumento simples ee que se queremos um sistema financeiro global, temos que fazer um esforco para colmatar os problemas da supervisao fragmentada por fronteiras, especialmente num sistema que aposta na tomada de risco excessivo e na sua capacidade de o espalhar pelos 4 cantos.

Ora, se bem percebo o argumento, o nosso leitor considera que a melhor forma de lidar com o risco é eliminar a supervisão fragmentada e substitui-la por uma regulação única. De acordo com panaxginseng isso impediria o risco excessivo de se espalhar por todo o mundo. Este argumento é estranho.


A melhor forma de lidar com o risco em grande escala é através da diversidade do comportamento dos agentes. Isso impede que os agentes entrem em sincronia e tornem qualquer crise verdadeiramente mundial. A melhor forma de impedir uma crise a nível mundial é permitir que alguns agentes possam ter a cada momento estratégias minoritárias que impeçam a formação de bolhas. Se existir um regulador único a nível mundial, todos funcionarão pelas mesmas regras e todos seguirão os mesmos erros gerados pelo regulador. Existirá um incentivo para que todos os agentes se imitem uns aos outros. As estratégias minoritárias serão menos compensadoras e até mesmo poibidas por lei. Todos os agentes ficarão sincronizados entre si. O resultado será uma megacrise mundial como nunca existiu antes. Ao contrário do que os defensores da regulação nos querem fazer crer, o risco num mercado não se reduz através monolitismo. Reduz-se permitindo a diversidade, quer do comportamento dos agentes, quer da própria regulação.

9 comentários leave one →
  1. 29 Janeiro, 2008 13:35

    Admitindo que terá razão, mas o João Miranda está a partir do princípio de que um regulador mundial iria substituir por completo os locais. Mas o que se verifica é que, em tudo o que existe a um nível internacional, é que os seus ditames abrangem apenas uma fracção dos normativos que existem. Será um fracção estruturante, verdade! Mas tecnicamente não impede que exista uma diversidade (imagine uma constituição e as ramificações legislativas que se desenvolvem, sempre tendo por base a constituição). Geralmente apenas definem um tronco comum. Como o consenso internacional é extremamente difícil, até acaba por ser um tronco comum “curto” ou bastante abstracto.
    Mas de facto, se um regulador mundial viesse a substituir os locais e regionais – na íntegra -, creio que terá razão.

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  2. JoaoMiranda permalink*
    29 Janeiro, 2008 13:45

    Jam,

    Os reguladores nacionais não seguem já as mesmas regras estruturantes? Que outras regras é que poderiam seguir que não sigam já?

    Por outro lado, o que leva a União Europeia a regular o tamanho dos tomates? Será essa uma regra estruturante? A questão é que a partir do momento em que um regulador mundial existe, esse regulador terá todo o interesse em expandir a sua acção. E se o fizer terá todo o apoio de quem hoje defende a regulação mundial.

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  3. 29 Janeiro, 2008 14:01

    M. Soares vai candidatar-se a lideranca do PCP.
    “[Os comunistas portugueses] Em vez de se prepararem para as grandes batalhas que aí vêm, sindicais e políticas (…), metem a cabeça na areia, como a avestruz, recusam-se a ver as novas realidades do mundo de hoje, em plena transformação e, em lugar de relerem Marx, com os olhos críticos de hoje e terem em conta a tão valiosa experiência adquirida, desde então, continuam apegados à cartilha stalinista e metem-se no bunker, prontos a morrer na sua, com os olhos vendados ao futuro. É lamentável!”
    Mário Soares, “Diário de Notícias”, 29-1-2008

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  4. António Carlos permalink
    29 Janeiro, 2008 14:50

    “A melhor forma de lidar com o risco em grande escala é através da diversidade do comportamento dos agentes. Isso impede que os agentes entrem em sincronia e tornem qualquer crise verdadeiramente mundial.”
    Na sua opinião, a crise actual é verdadeiramente mundial? Se assim é tal deve-se ao facto de existir já um regulador mundial, ou de o comportamento dos agentes (financeiros) já não apresentar diversidade?
    Eu concordo consigo mas considero que neste momento a integração dos mercados de capitais (e a sua complexidade/opacidade) é tal que dificilmente se pode falar de diversidade de comportamentos dos agentes (financeiros): daí a crise global. Há muito que o objectivo primordial do mercado financeiro (tal como eu o entendo) de financiar as empresas me parece ter sido abandonado. Seria interessante se a diversidade de que fala (e que eu apoio) se traduzisse na criação de novos mercados finenceiros “exclusivamente” dedicados ao financiamento das empresas. Como não sei.

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  5. JoaoMiranda permalink*
    29 Janeiro, 2008 14:57

    ««Na sua opinião, a crise actual é verdadeiramente mundial? Se assim é tal deve-se ao facto de existir já um regulador mundial, ou de o comportamento dos agentes (financeiros) já não apresentar diversidade?»»

    Os agentes financeiros não se encontram totalmente coordenados. Basta ver que a zona euro não segue totalmente o dólar. Existe coordenação entre alguns mercados financeiros que é facilitada pelo facto de diferentes regiões estarem sujeitas às políticas monetárias de um número reduzido de bancos centrais.

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  6. panaxginseng permalink
    29 Janeiro, 2008 16:55

    Meu caro, nunca haveraa um regulador mundial…

    O problema que temos que lidar ee com o facto de que num sistema financeiro internacional, a eficaacia de cada supervisor estaa dependente da eficaacia

    Se o autor nao encontra razao para regulacao ou supervisao prudencial, entao voltamos uma pancada de anos atraas para lhe explicar a falha de mercado (ee um termo teecnico e nao um argumento contra o quer que seja – adveem do desfasamento entre custos privados e custos sociais – externalidade), aa luz do que se aprendeu com os avancos da economia de informacao dos uultimos 30 anos (na verdade, as instituicoes avancaram primeiro para resolver problemas oobvios, e os economistas racionalizaram depois).

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  7. JoaoMiranda permalink*
    29 Janeiro, 2008 17:08

    Caro/a panaxginseng,

    O que se aprendeu com a economia da informação foi que instituições centralizadas não resolvem problemas de informação dispersa.

    Ah, e tente não discutir o assunto a partir do dogma da regulação e das falhas de mercado habitual. É esse dogma que eu contesto e é esse dogma que se espera que o/a panaxginseng justifique e defenda nesta discussão. Partir do princípio de que o seu dogma é óbvio e inatacável não contribui em nada para defender a sua posição.

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  8. Curiosamente permalink
    29 Janeiro, 2008 18:44

    O leitor panaxginseng escreve o seguinte a favor da regulação mundial:
    “se queremos um sistema financeiro global, temos que fazer um esforco para colmatar os problemas da supervisao fragmentada por fronteiras, especialmente num sistema que aposta na tomada de risco excessivo e na sua capacidade de o espalhar pelos 4 cantos”

    Curiosamente, falha quando diz “se queremos um sistema financeiro global”. Quem lhe diz que queremos ? Quem é o plural ? Já perguntou às pessoas ?

    Segundo, se existe problemas nacionais, eles existirão a nível global-internacional ! Curiosamente , é obvio.
    Não consta que haja soluções nacionais, em qualquer mercado. Se não há soluções nacionais, como quer avançar para um controle mundial ? Isso seria o mesmo que dizer, que em caso de catástrofe, essa seria não nacional mas sim mundial.
    O risco seria muito maior, pois a falta de diversidade evitaria encontrar soluções, ou parar uma crise nacional.

    É o mesmo que em barragens, se uma falha ao menos que as outras funcionem. Dizer que todas tem que estar centralizadas e numa só torre, é um absurdo que qualquer engenheiro e perito de segurança, até um bombeiro, lhe dirá não fazer sentido.

    Terceiro , se diz que se aposta em tomadas de risco excessivos, esses riscos sem “barragens” nacionais e até locais, serão facilmente um diluvio se só houver um regulador global.

    Ou seja, se nem os reguladores nacionais conseguem operar eficazmente, como quer um regulador internacional ?
    O que é melhor ? Ter uma muralha da china, ou vários castelos ?

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  9. Carmex permalink
    30 Janeiro, 2008 15:47

    Deixem-me só esclarecer que o Panaxginseng se chama João Pedro Farinha (deviam ter ido ao blog e visto isso lá,ai, ai, ai…). É, portanto, um menino. Economista brilhante do Asian Development Bank, em Manila (daí a falta de acentos) e grande adepto da regulação da economia (como também já teriam percebido se, again, tivessem ido ao Farmácia, onde eu e o meu querido Panax nos andamos a desentender sobre este assunto – mas só sobre este e mais dois ou três).

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