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Ele já é Conde… *

4 Fevereiro, 2008
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Quando era menino resvalei em algumas simpatias monárquicas. Depois cresci. Na adolescência, um episódio foi fatal: dois amigos zangaram-se. Logo tomei partido, porque, esclareci com a limpidez que a idade obrigava, o ‘outro’ se tinha portado como “um imbecil”.
Fui olhado com censura – “devias lembrar-te”, disseram-me, “que, apesar de ter a nossa idade, ele já é Conde”.
Naquela frase sintetizou-se a essência da fé monárquica: eles acreditam piamente que o acaso do nascimento lhes deve propiciar um acervo de privilégios face ao cidadão comum destituído de certificado de ‘pedigree’.

Pergunto – se existem ideais monárquicos, se há uma ‘utopia realista’ feita de princípios que a qualificam enquanto percepção do País, como explicar que os adeptos da monarquia se reduzam aos que julgam ser oriundos de famílias ditas fidalgas?
Em boa verdade, não me recordo de um só monárquico que não avocasse reiteradamente uma suposta ascendência nobre, mesmo remota. E raramente vi outra estirpe para além de pressurosos candidatos a aristocratas.

Não há uma questão de regime entre nós. Também por isso, a imposição constitucional da forma republicana de Governo é escusada e apenas gera capital de queixa. Sou, até, pela realização de um referendo – serviria para que muitos percebessem, de uma vez por todas, a caricatura que são os nossos aspirantes a fidalgos. O que muito beneficiaria a direita política, que tanto tem sofrido com a sua omnipresença irremediavelmente bolorenta.

* Heresias, Correio da Manhã, domingo, 3.II.2008

87 comentários leave one →
  1. frei de jesus's avatar
    frei de jesus permalink
    4 Fevereiro, 2008 13:00

    Deves ter levado uma boa sova do «condinho», ehehehe

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  2. Piscoiso's avatar
    4 Fevereiro, 2008 13:04

    É complicado. Pela leitura do post, é-se levado a pensar que a monarquia é de direita. Basta ver aqui a monarquia do lado, Espanha, em que o governo é de esquerda. Será o rei de direita ? Tanto faz ! É decorativo.

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  3. Desconhecida's avatar
    4 Fevereiro, 2008 13:06

    Meu caro amigo. Sempre tenho respeitado as suas opiniões, no entanto, este seu ultimo post, além de desagradável, é injusto! Conheço muita gente monárquica que não reclama qualquer tipo de nobreza (como isso se justificasse!). Caso você não saiba, e parece-me o caso, existe uma grande distinção entre o folclore monárquico, esse sim, execrável, e um pensamento politicamente monárquico, que assenta em ideias bem definidas e presupostos políticos sérios. Para sua informação, temos várias vezes discutido a abolição dos títulos nobiliários e substituí-los por títulos honorificos, tal como a republica atribui comendas.
    Não me alongo mais, mas recomendo-lhe que não generalize, pois se o fizer está a incorrer no mesmo erro de que o seu bastonário tem sido acusado.
    Cordiais cumprimentos de um monárqico convicto e não folclórico.

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  4. Luis Bonifácio's avatar
    4 Fevereiro, 2008 13:10

    Mais um exemplo de pura demagogia republicana, que continua a atirar areia para os olhos. CAA revela que desconhece em absoluto o movimento monárquico Português. Mas é bom que continue assim, um dia vai ter uma surpresa.

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  5. CAA's avatar
    4 Fevereiro, 2008 13:22

    Piscoiso,

    «É complicado. Pela leitura do post, é-se levado a pensar que a monarquia é de direita.»

    Não é isso – os monárquicos portugueses é que têm causado danos irreversíveis à direita política afastando-os da realidade e das questões a que importa dar resposta e tornando o ar bafiento. Na esquerda, esses efeitos perversos não se fazem tanto sentir.

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  6. CAA's avatar
    4 Fevereiro, 2008 13:27

    Caro O Velho da Montanha,

    «Caso você não saiba, e parece-me o caso, existe uma grande distinção entre o folclore monárquico, esse sim, execrável, e um pensamento politicamente monárquico, que assenta em ideias bem definidas e presupostos políticos sérios.»

    Das muitas centenas de monárquicos (talvez mais) com que me deparei, os dedos de uma mão eram excessivos para nomear aqueles que punham alguma distância de decoro entre si, o seu suposto ‘pedigree’ e esse “pensamento político” de que fala. E, ainda assim, quase todos esses cabiam na qualificação que usei no texto de ‘aspirantes a fidalgos’. Há excepções, raríssimas, como a do meu amigo que aqui costuma comentar António Lemos Soares. Mas são avulsos e pouco representativos que a sua nomeação não teria ressonância na realidade. A a tonalidade principal é a que descrevi, tanto assim que me parece ser quase homogénea.

    O que tentei significar, essencialmente, foi a carência de um ideal monárquico enquanto visão distintiva da realidade e sistema constitucional específico. Não tive espaço para abordar a questão superior da ofensa intrínseca ao P. da Igualdade que essa percepção comporta – já o fiz noutras postas como nas do ’31 de Janeiro’.

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  7. AMI's avatar
    AMI permalink
    4 Fevereiro, 2008 13:29

    Eu sou republicano por princípio.

    Nunca suportaria um regime que sustenta a sua existência sobre a ideia da discriminação à nascença.

    A Monarquia, como ideal, está em permanente contraste com a Meritocracia.

    Portugal soube ultrapassar a Monarquia. Voltar para trás seria uma perda de tempo e um grande erro.

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  8. CAA's avatar
    4 Fevereiro, 2008 13:33

    AVISO:

    Apontar excepções – monárquicos plebeus e sem uma enorme ânsia de protagonismo social ou exclusivamente votados a um ideal desinteressado de afinidades e apelidos de clã -, dada a sua raridade, apenas levam à confissão de que a imensa maioria dos monárquicos não pensa dessa maneira.

    As ‘máximas’, mesmo aquelas que derivam em clichés, nunca são destituídas de fundamento – quando se diz que a excepção confirma a regra está-se a declarar uma evidência. E esta, no caso presente, é que aquilo que faz correr os monárquicos ‘de cá’ é aquilo que descrevo no artigo.

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  9. paranoiasnfm's avatar
    paranoiasnfm permalink
    4 Fevereiro, 2008 13:33

    Gostei 🙂
    Blog interessante 🙂

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  10. Carlos's avatar
    4 Fevereiro, 2008 13:42

    Caro Amorim,

    Não tenho nada contra a República nem contra a Monarquia, meras super-estruturas de fenómenos mais profundos e complexos. Percebo perfeitamente o ponto de vista que Vc. tenta defender e que, obviamente, respeito, embora me pareça que esta questão Monarquia /República é, à partida, uma falsa questão.
    Mas agora – e desculpe-me que lho diga com toda a franqueza – há qualquer coisa no seu “discurso” que soa a falso. O verdadeiro espírito republicano é outra coisa. Faço-me entender?

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  11. CAA's avatar
    4 Fevereiro, 2008 13:49

    Carlos,

    «Mas agora – e desculpe-me que lho diga com toda a franqueza – há qualquer coisa no seu “discurso” que soa a falso. O verdadeiro espírito republicano é outra coisa. Faço-me entender?»

    Claro que sim. Mas o meu propósito no artigo não era delinear o ‘verdadeiro espírito republicano’ – antes desmontar a desproporciada montanha de fantasias realistas com que fomos bombardeados nas últimas semanas. Algumas destas, pelo menos. A fantasia em excesso perturba a lucidez e gera distorções da realidade. Assim, o meu objectivo era o bem comum…

    Sobre o ‘espírito republicano’ falei na semana passada nas postas sobre o 31 de Janeiro.

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  12. luikki's avatar
    4 Fevereiro, 2008 14:10

    por qualquer razão os países mais avançados da europa são monarquias… (excepto a bél…gi…ca e a finlândia)

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  13. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    4 Fevereiro, 2008 14:24

    Sim os países mais avançados da europa como a Alemanha e a França

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  14. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    4 Fevereiro, 2008 14:26

    E o que seria a Inglaterra se nao fosse a monarquia? As revistas e os jornais já tinham ido à falencia, de nada terem para contar.

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  15. MJRB's avatar
    4 Fevereiro, 2008 14:27

    Mr. CAA,

    Mas V. tem “sangue azul” ! Já o tinha nessa época ? Por que não o invocou ? Possivelmente era sócio do FCP, facto que lhe permitia pedir prova ao conde… FCP 1 – Conde 0

    Viva a República !

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  16. CAA's avatar
    4 Fevereiro, 2008 14:30

    MJRB,

    Tem razão – esse é o sangue mais nobre que se pode ter.

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  17. Piscoiso's avatar
    4 Fevereiro, 2008 14:34

    Boa bola !

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  18. AMI's avatar
    AMI permalink
    4 Fevereiro, 2008 14:35

    «por qualquer razão os países mais avançados da europa são monarquias… (excepto a bél…gi…ca e a finlândia)»

    A Finlândia é uma república e a Bélgica não é o melhor exemplo de um país «avançado».

    Países com alto índice de desenvolvimento económico e social e que mantêm regimes monárquicos (Reino Unido, Holanda, Suécia, Dinamarca, etc.) são avançados NÃO POR CAUSA DE terem um regime monárquico, mas APESAR DE!

    Mesmo aqui ao lado em Espanha, existe um movimento republicano muito forte, especialmente na Catalunha, e não é líquido que a monarquia espanhola sobreviva muitos anos após a morte do actual rei.

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  19. AMI's avatar
    AMI permalink
    4 Fevereiro, 2008 14:37

    Luikki,

    Peço desculpa pela precipitação.

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  20. Sofia Ventura's avatar
    4 Fevereiro, 2008 14:51

    Ontem, alguém me dizia que tinha um tio “monárquico”. Perguntei-lhe: a sério? e ele alguma vez te explicou porquê? (- note-se que não se trata de ninguém que, num regime monárquico, gozaria de qualquer privilégio).
    Respondeu-me: não. Quando veio com essa ideia, o assunto tornou-se tabú. Era demasiado confrangedor para qualquer um de nós levá-lo a sério e ninguém queria correr o risco de, inadvertidamente, faltar-lhe ao respeito.

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  21. Pêndulo's avatar
    Pêndulo permalink
    4 Fevereiro, 2008 15:11

    A ideia de alguém à nascença ser condenado a uma determinada profissão causa-me asco. Tanto asco como a escravatura.
    Pode um rei dedicar-se em pleno ao exercício de uma profissão? Pode um rei ser gay? Pode sequer um rei expressar algum tipo de posicionamento político do género esquerda/direita/centro ?
    Podemos nós condenar uma criança a abdicar de uma vida normal apenas porque cresceu num determinado útero?
    Eu não me arrogo a tal poder condenatório.

    (detesto ter de inserir o e-mail para comentar. Parece-me coisa de controleiros)

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  22. Desconhecida's avatar
    Micas permalink
    4 Fevereiro, 2008 15:19

    Pêndulo Diz:
    4 Fevereiro, 2008 às 3:11 pm

    Não é preciso inserir o email p comentar…

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  23. alice goes's avatar
    alice goes permalink
    4 Fevereiro, 2008 15:21

    Independente da republica x monarquia, o que mais me doí é ter que pagar, e lá se vão 33 anos(?) pensões, privilégios, etc… a ex-presidentes, que saem dos impostos de todos, quando os próprios não estão a laborar.
    Outra situação: um rei, quando lá chega, foi durante anos preparado para estar apto a conhecer seu país sob todos os aspectos, representa-lo com dignidade. Urge lembrar que Portugal só foi grande com os reis e é cada vez mais nanico com os presidentes…Os últimos então…
    A republica, tem um defeito de estilo pois que ao escolherem uma pessoa de um determinado partido, esse leva consigo todo esse programa, sem que muitas vezes esteja apto a ver o país com a abragência necessária ao bem da nação no seu todo. Depois aparecem os “golpes”…
    Portugal de hoje com os índices de probidade que tem, não vai a lugar nenhum!
    Pessoalmente não nasci como monarquista, mas hoje, face aos exemplos da pouca vergonha que grassa na Lusitânia, acredito que um regime acima dos partidecos que nos governam será a esperança de Portugal não desaparecer enquanto identidade própria, como nortenha, vejo o Portugal profundo definhar, sem sol da esperança a nascente!

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  24. bene's avatar
    bene permalink
    4 Fevereiro, 2008 15:21

    “Foge, cão, que
    ainda te fazem conde!”

    não é o que disse o nosso
    dandy do Porto, entre os maiores
    das letras da nossa terrinha, Almeida Garrett?

    se não, foi, então,
    “foge, cão, que te fazem barão!”

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  25. bene's avatar
    bene permalink
    4 Fevereiro, 2008 15:24

    e ora, então, querem dizer vosmecês que o nosso altíssimo descendente do Afonso Henriques, o Senhor Don… qual é o nome?… é assim já meio gaguinho de nascença, o coitado?!

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  26. alice goes's avatar
    alice goes permalink
    4 Fevereiro, 2008 15:40

    Sr Pêndulo, mesmo ao lhe causar asco, já pensou quantos profissionais qualificados o são porque seus papas os incitaram a uma profissão X ou Y? E desempenham suas funções na perfeição! E realizam-se profissionalmente!
    Alem disso, se um determinado herdeiro, nas monarquias modernas, pode resignar antes da 1ª investidura…

    Obs: … assim de momento, quem tem cariz, é capacitado, inspira confiança para ser um condigno representante da nação?
    Ando a procura… para votar…
    que republica é essa que não tem gerado lideres confiáveis?
    imagine que estamos em guerra e trocamos, por votação livre e democrática, um general ou almirante por um biólogo ou arquitecto?

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  27. Sofia Ventura's avatar
    4 Fevereiro, 2008 15:49

    «um rei, quando lá chega, foi durante anos preparado para estar apto a conhecer seu país sob todos os aspectos, representa-lo com dignidade.»

    Pois é, mas quando o pau nasce torno… não há formação milionária que nos valha!

    Por outro lado, o que se quer é que um Chefe de Estado Repúblicano também seja bem formado, culto… mas que tenha consciência que: (i) não tem nenhum cargo vitalício – ou anda na linha, ou vai com os porcos (na realidade, mais ou menos); (ii) é um inter pares e a defesa da causa pública, em última instância, mais o onera com o dever de responder perante os concidadãos do que lhe garante qualquer benesse que não decorra do estrito exercício da sua função (na realidade, mais ou menos).

    Mais ou menos, porque as deturpações são fáceis e tentadoras. No entanto, se na república há o risco da: (i) manipulação das massas; (ii) oportunismo; na monarquia, não há, sequer, a necessidade de tentar manipular seja quem for – porque tudo é uma inevitabilidade adquirida e a questão do oportunismo só não se coloca porque, à partida, são reconhecidos uma série de privilégios (uns mais relevantes que outros, mas todos muito sintomáticos), na minha óptica, inaceitáveis.

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  28. Sofia Ventura's avatar
    4 Fevereiro, 2008 15:50

    Repúblicano = republicano

    (antes que apareça aí aquele senhor que gosta de corrigir as minhas gralhas)

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  29. Nelson's avatar
    4 Fevereiro, 2008 16:35

    Claro que falar mal da monarquia ou do movimento monárquico tinha de descambar! Eles andam aí.

    Sou republicano convicto e 100% apoiante quer da remoção da renúncia à monarquia na nossa constituição, quer de um referendo sobre o sistema que os portugueses pretendem. Vote-se a monarquia de uma vez, acabam-se as manias.

    Em relação aos monárquicos, não conheço muitos; conheço uma dúzia. 1 deles não é pedante. Os outros 11…

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  30. frei de jesus's avatar
    frei de jesus permalink
    4 Fevereiro, 2008 17:03

    Três «adivinhas» :

    Que nome se dará ao «passe de mágica» que junta eleitorados opostos – que nem esgotam a representação nacional – na metafísica do «Presidente de todos os Portugueses» ?

    E que nome se dará aos partidos políticos que não podem nem devem imiscuir-se na eleição presidencial(para não “macular” a independência do titular do topo do Estado na plutocracia que representam) e mesmo assim o fazem descarada e reiteradamente ?

    A quantos titulares da Presidência da República, no activo ou aposentados, pagamos nós honorários e gordas mordomias ?
    Um,
    Dois,
    Três,
    Quatro,
    Ou se Deus não acode,
    Cinco ?

    Beijinhos do «Tio»,
    Frei de Jesus

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  31. bene's avatar
    bene permalink
    4 Fevereiro, 2008 17:12

    ó frei, deixe lá, que tamém as paga ao prícioe e à pricesa mais ò namorado dela e ò outro príncipe e mais princesa, com outros, que reis costumam ter filharada à toa, se nada mais fazem…

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  32. Desconhecida's avatar
    António Lemos Soares permalink
    4 Fevereiro, 2008 17:27

    Meu caro amigo;

    Sobre o seu texto, oferece-me dizer com todo respeito, o seguinte:

    1.º – A “estória” do amigo conde – que já conhecia desde o nosso interessante debate de 2005 – parece-me, sinceramente, um não argumento. É o mesmo que dizer: eu não vou a médicos porque, certa vez, conheci um clínico que não passava de um idiota. Desde esse dia, zanguei-me de vez com a medicina…! Posso estar doente, mas não frequento hospitais!
    O que é que o seu amigo conde tem a ver com a questão do regíme político português? Se o seu amigo fosse um génio, ou um santo, ou um herói…, Seria o Sr. Dr. Carlos de Abreu Amorim favorável à Monarquia? Tenho muita pena que o seu amigo o tenha inflenciado tanto e tão mal.

    2.º – Não reclamo qualquer tipo de pertença a algum tipo de nobreza portuguesa ou estrangeira. Portanto, se não conhecia algum monárquico destes, a mim me conhece! Sou monárquico, apenas e só, por convicção! A nobreza só me interessa se for a de espírito, que é a única e verdadeira! Qualquer um pode ser o mais nobre que há, desde que, em República ou em Monarquia, se comporte (ou pelo menos se tente comportar sempre!) da melhor maneira possível!

    3.º – Sobre a famigerada alínea b do artigo 288 da C.R.P. devo dizer-lhe que, considero hoje, tratar-se de uma falsa questão. Se houver Monarquia em Portugal, a forma de governo só poderá ser … A republicana! Aliás, esta foi, segundo penso, a forma de governo que sempre existiu em Portugal, salvo o período despótico de Pombal. O que pretendo é que a República (não esta, mas a 4.ª!) tenha como Chefe de Estado um Rei. Isto é claro, se o Povo Português livre e soberano, assim o decida depois de consultado em Plebiscito Nacional.

    4.º – A Monarquia que proponho para o País é a que seja a mais livre de todas as Repúblicas! O que se quer ou, pelo menos o que eu quero, é que o Rei, enquanto personificação humana da Pátria, possa ser, porque não eleito, o mais tenaz e livre defensor das liberdades da República!

    5.º – Num tempo em que: O ruído do Mundo se tornou ensurdecedor! O transitório triunfou sobre o perene! A mudança se tornou estranha e alucinante! Acredito, desde os 13 anos até hoje que: É tempo de UM se impor pelo Silêncio! É tempo de UM aceitar o transitório, tão só, como defesa do Eterno! É tempo de Um admitir a mudança, como garantia da eternidade da Pátria!

    É Tempo de UM ser REI de Portugal!

    António Lemos Soares.

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  33. CAA's avatar
    4 Fevereiro, 2008 17:47

    Caro António Lemos Soares,

    A tal ‘estória, como diz, é importante porque é representativa – é um exemplo entre muitos. Se quase todos os médicos que consultasse lhe dessem esse tipo de resposta que refere, então era capaz de formular um juízo negativo acerca dos médicos portugueses, não é verdade? E o meu amigo sabe muitíssimo bem que a esmagadora maioria – e não somente os mais roncantes – dos monárquicos lusos são-no pelas razões que referi.

    Quanto a si, António, no meu comentário da 1.27h (https://blasfemias.net/2008/02/04/ele-ja-e-conde/#comment-2382) já o tinha apontado como a excepção que confirma a infeliz regra.

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  34. Sofia Ventura's avatar
    4 Fevereiro, 2008 17:55

    «que o Rei, enquanto personificação humana da Pátria, possa ser, porque não eleito, o mais tenaz e livre defensor das liberdades da República!»

    Como é que isto funciona?

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  35. MJRB's avatar
    4 Fevereiro, 2008 18:12

    Bem… na eventualidade de num ano próximo (por Referendo, sff !) “isto” voltar à Monarquia, e dado que um tal ex-CEO da PT, não sei quê Costa é “conde” desde há poucos anos, dado também que Zé Castelo Branco é “conde” vindo da “night sex-and porno-sociality”, prevejo que com mais dinheirito e sabujice, teríamos como novos “condes” o Herman José(tanto, tanto que ele deseja sê-lo), mais a Lili Caneças, mais a Cinha, mais o Malheiro, mais o Filipe Vieira…
    E depois, perante eles, o povo-povo que tanto gosta dos “famosos” baixaria a voz e curvaria a cabeça ? Daria primazia ao lugar ?
    Respeitaria as criaturas ? — creio que sim, com o hábito suportado pelo sorriso alarve depois do autógrafo recebido.
    (Isto não é uma caricatura).

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  36. Desconhecida's avatar
    António Lemos Soares permalink
    4 Fevereiro, 2008 18:44

    Cara Sofia Ventura;

    Se quiser: leia os textos que fundamentam a Restauração Portuguesa de 1640, veja, entre outros, “A Justa Aclamação do Sereníssimo Rei de Portugal Dom João o IV”, GOUVEIA, Francisco Velasco de; pense também no que se passa nas várias Monarquias europeias e pergunte-se, por um instante, onde é que a República funciona melhor? Onde se é mais livre? Onde se tem mais direitos?

    António Lemos Soares.

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  37. frei de jesus's avatar
    frei de jesus permalink
    4 Fevereiro, 2008 19:05

    O primeiro dos monárquicos a denunciar o “folklore”, com a insistência de largos anos (o que talvez já tenha surtido algum efeito) foi Miguel Castelo Branco no seu blog «Combustões». Há muitos mais entre «Cartistas» e Liberais.
    A Sofia Ventura se quiser saber «como é que isso funciona», pode começar por aqui :

    http://www.causaliberal.net/documentosLAS/Elementos.htm

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  38. Sofia Ventura's avatar
    4 Fevereiro, 2008 19:07

    caro António,

    Sou absolutamente sensível à sua remissão para experiências políticas comparadas. Confesso, contudo, quanto à “A Justa Aclamação do Sereníssimo Rei de Portugal Dom João o IV” – que não li, de facto – que sou pouco receptiva a argumentos de autoridade.

    Ainda, parece-me, é o António que tem o ónus de demonstrar que é em monarquia, e em consequência do facto de Chefe de Estado não ser eleito e ter antes posto vitalício, que este é “o mais tenaz e livre defensor das liberdades da República!”

    Presumo que o António entenda que é em monarquia que a República melhor funciona. Com todo o respeito, à parte do valor estilístico da afirmação, parece-me, por um lado, que a asserção carece de demonstração; e, por outro, que é contraditória nos seus próprios termos.

    Tenho sérias dúvidas que nos regimes de monarquia constitucional a que faz referência, a defesa dos direitos e liberdades dos cidadãos se deva em, larga medida à circunstância de, constitucionalmente, serem dotados de um Chefe de Estado vitalício e com atribuições “simbólicas”.

    Caso o António tenha paciência para demonstrar as premissas sobre as quais constrói a sua posição – sem ironia – fico-lhe agradecida.

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  39. frei de jesus's avatar
    frei de jesus permalink
    4 Fevereiro, 2008 19:09

    Peço desculpa, não tinha lido o texto de António Lemos Soares.

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  40. Desconhecida's avatar
    4 Fevereiro, 2008 19:17

    Como era fatal, o insulto e intolerância assentaram arraiais neste “post”. Realmente acho triste, pois eu sempre tolerei e discuti civilizadamente com os meus amigos republicanos.
    Aceitei o comentário que CAA fez ao meu comentário com gosto pelo exercicio do raciocínio, já que lhe reconheço inteligencia e cultura, embora não concordando com muitas das suas opiniões.
    Sobre as minhas razões, escuso-me de as expor perante público tão mal educado e sectário, no entanto não posso deixar de referir que nenhum regime resiste a 100 anos de intoxicação ideológica, por outro lado nunca ouvi o tema debatido públicamente, portanto tenho a humildade de não me pronunciar olimpicamente sobre o que pensa o Povo Português.

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  41. Sofia Ventura's avatar
    4 Fevereiro, 2008 19:21

    Frei de Jesus,

    The more the merryer. Não peça desculpa. Participe.

    Quanto ao texto que “linkou” e apenas pude ler ainda na diagonal (prometo que leio depois com mais calma), retiro, exemplificativamente, o seguinte excerto:

    «NESTE SENTIDO, a solução norte-americana de um presidente eleito em vez de um monarca hereditário não me parece o mais apropriado nem o mais “ortodoxo” do ponto de vista da boa doutrina constitucional de Hume e de Burke.»

    Pergunto eu: não há qualquer coisa de errado em fundamentar um regime político com o facto de esta ou aquela situação ser a mais ortodoxa com esta ou aquela DOUTRINA constitucional?
    E se essa doutrina constitucional datar de há mais de 2 séculos atrás, não será prudente considerar que muita experiência se terá reunido, muita circunstância se terá alterado que justifique diferente posição.

    Mais uma vez, aponto a fraqueza do argumento da autoridade – é que contra o advogado de uma determinada solução, facilmente, se encontram dois ou três da que se lhe opõe.

    «Se, nos Estados Unidos, o sistema da eleição do chefe de Estado não tem tido consequências tão desastrosas como noutras sociedades é porque a separação de poderes é aí muito mais efectiva do que na generalidade dos ordenamentos jurídico-políticos contemporâneos. Essa separação de poderes foi, aliás, um puro decalque do molde inglês do século XVIII que inspirou as reflexões de Montesquieu sobre o assunto: o executivo presidencial é perfeitamente inspirado no governo de gabinete do Rei, tal como a sua clara separação do legislativo.»

    AH…! Então não é por o “cargo” ser vitalício que a defesa dos direitos e liberdades dos cidadãos são mais aguerridamente defendidos; é porque se adopta um sistemka de separação de poderes.
    Mas quanto a este, presumo que quase todos nós – monárquicos e republicanos – estamos de acordo. Eu, por mim, não o ponho em causa.

    Mas aproveito a deixa e pergunto-lhe, Frei Jesus, qual seriam, para si, as atribuições constitucionais de um Rei, que reinasse por cá?

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  42. Revoltado's avatar
    Revoltado permalink
    4 Fevereiro, 2008 19:26

    Caro CAA,

    Que eu saiba, uma monarquia não implica a de existência de uma aristocracia. Se não me engano, uma aristocracia pode ser hereditária ou meritocrática. Pelo que conheço das genealogias, quase toda a gente encontrará um rei, um aristocrata ou um fidalgo entre os seus antepassados, nem que seja por uma “via torta”. Do que observo nos dias de hoje nos países ocidentais, somente na Inglaterra, tão prezada pelos liberais, ainda há direitos feudais exercidos por aristocratas. Penso que o debate aqui feito está a se concentrar em detalhes caricaturais e a deixar de lado qualquer aprofundamento da questão. Ou seja, é pura propaganda, dos dois lados. Que tal debater as vantagens e desvantagens dos vários modelos? Um debate nos moldes de Aristóteles em sua Política seria bem vindo e provaria à esquerda, mais uma vez, que somos superiores àqueles imbecis.

    Um abraço.

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  43. Sofia Ventura's avatar
    4 Fevereiro, 2008 19:28

    Raios, era “merrier”.

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  44. MJRB's avatar
    4 Fevereiro, 2008 19:47

    Revoltado,

    eu sou um “leve” descendente de D. Manuel I, meus avós paternos foram republicanos (e de que maneira!!), meus pais são republicanos (tudo isto está devidamente escrito na “árvore”) e eu sou republicano.
    E esta ?

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  45. Sofia Ventura's avatar
    4 Fevereiro, 2008 19:55

    http://31daarmada.blogs.sapo.pt/1349763.html

    Ora aqui está um belo exemplo de como seria, de facto, possível uma monarquia sem elites.

    Ou, como possível título: O triste a quem fugia o pé para o chinelo.

    PS1: ponho aqui o comentário, porque o autor do texto eliminou essa possibilidade no blogue de origem.

    PS2: o link para a wikipédia quanto ao que seja forma de governo diz: «Em ciência política, dá-se o nome forma de governo (ou regime político, ou sistema político) ao conjunto de instituições políticas por meio das quais um Estado se organiza de maneira a exercer o seu poder sobre a sociedade.»

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  46. MJP's avatar
    MJP permalink
    4 Fevereiro, 2008 19:56

    Post infantil. Então porque o menino “já é conde” pode-se pensar que a monarquia é responsavel por essa parolice? Meta-se entre os míudos de hoje e verá que na resolução de conflitos aparece o “é jogador do Benfica” ou “entrou nos Morangos”… Tudo monárquico?
    Quando falta categoria intelectual ao avaliador, todas os rótulos são válidos. Ou já se esqueceu do “o meu pai é polícia” e “o meu é chefe de polícias”?
    Quanto a um referendo haveria muitas surpresas dado o estado da república. Convicções monarquicas verdadeiras são poucas e é pena. O debate só engrandeceria a nossa república. Mas se os argumentos para o debate forem do calibre deste post, então é melhor não se falar do assunto.

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  47. MJRB's avatar
    4 Fevereiro, 2008 20:03

    MJP,

    venha o debate público ! Pelo qual eu e muitos amigos ansiamos há muito para esclarecermos tudo, verdadeiramente tudo, para que a questão e objectivos fiquem cristalinos !
    Só aceitamos esse debate público, se nele participar activamente D.Duarte ! E Câmara Pereira — por que será ?

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  48. frei de jesus's avatar
    frei de jesus permalink
    4 Fevereiro, 2008 20:06

    … como a professora do Carlinhos que, sabendo-o filho de um agente do KGB, lhe concede que os crocodilos voam, mas “voam muito baixinho”, ehehe

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  49. Desconhecida's avatar
    Jacinto Bettencourt permalink
    4 Fevereiro, 2008 20:11

    Cara Sofia Ventura,

    Presumo, portanto, que discorda da distinção entre forma de governo e regimes e sistemas de governo. Pode saber-se porquê?

    Cumprimentos,

    Jacinto Bettencourt

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  50. Desconhecida's avatar
    Jacinto Bettencourt permalink
    4 Fevereiro, 2008 20:14

    Cara Sofia Ventura,

    Aproveito para lhe sugerir que reveja aquilo que diz sobre aquilo um texto que deve ter lido apressadamente, e a precipitação que cometeu ao insultar-me de forma leviana. Fica a recomendação, de um monárquico para um republicano.

    Cumprimentos,

    Jacinto Bettencourt

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  51. Sofia Ventura's avatar
    4 Fevereiro, 2008 20:22

    «Tem, no entanto, razão o insigne republicano quando diz que «[n]ão há uma questão de regime entre nós». Não há, de facto. E não há por uma razão simples: a monarquia não é um regime mas uma forma de governo.» JB

    «Em ciência política, dá-se o nome forma de governo (ou regime político, ou sistema político) ao conjunto de instituições políticas por meio das quais um Estado se organiza de maneira a exercer o seu poder sobre a sociedade.» link para a wikipédia

    As minhas objecções ao seu post, Jacinto, são a deselegância com que se dirige ao seu opositor.
    Abre alas, ao que qualifica, depois, como insultos que lhe são dirigidos de forma leviana.

    Se quiser explicar: (i) que atribuições e competências incumberia ao monarca; (ii) em que medida o facto dessas lhe serem atribuídas (por ter um cargo vitalício) constituem uma mais valia – por contraposição a um Chefe de Estado eleito, podemos ter essa discussão.

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  52. Desconhecida's avatar
    António Lemos Soares permalink
    4 Fevereiro, 2008 20:31

    Cara Sofia Ventura;

    Se me der licença, o tentarei fazer. A República de que falo, é a “Res publica”, enquanto coisa pública. Nunca houve Monarquia onde não houvesse República neste sentido: A Monarquia só pode existir se a República existir e gozar da melhor saúde.
    A grande vantagem de uma Monarquia Constitucional reside, a meu ver, precisamente no facto do Chefe de Estado não ser eleito! Se reparar, há imensas entidades que não sendo eleitas funcionam, por norma, muito bem: Família; Juizes; Forças Armadas, etc. A grande vantagem que têm os Reis é que são independentes em face de outros poderes da sociedade. Deles não dependem!Mesmo não sendo eleitos (sendo que houve Monarquias electivas, como é o caso da Polónia) os Reis de Portugal, foram quase sempre (salvo durante o século XVIII e uma pequena parte do XIX) aclamados em Cortes;
    Outra vantagem da Monarquia é o facto ser um regime mais ecológico. Ecologia significa “conhecimento da casa”; ora um regime monárquico tem literalmente a ver com a “casa” (Pátria!) e a sua história, cultura e identidade. Só um pequeno exemplo; quando em 1988, se festejaram os 500 anos da dobragem do Cabo da Boa Esperança por Bartolomeu Dias, o então Presidente da República Portuguesa recusou-se a viajar à África do Sul por razões políticas conjunturais, embora graves (o Apartheid!); um ano depois, o mesmo Presidente, viajou alegremente para França para festejar 200 anos de uma Revolução que, a Portugal directamente, apenas trouxe: morte, destruição, saque, miséria, delapidação. Um Rei de Portugal se existisse à época, só poderia, por se identificar com a Pátria, agir de forma precisamente inversa;
    Mais uma vantagem; nos dias de hoje, perante processos como a globalização e a integração europeia, um pequeno País como Portugal, tudo teria a ganhar em se distinguir dos demais através da instituição monárquica. Repare no caso dos países do Benelux: todos são pequenos, ricos (coisa que eu adorava que Portugal fosse!) e vivem em Monarquia. Isso é mais um factor que garante a sus independência recíproca;
    Vantagem que, apesar de tudo, não considero tão relevante, prende-se com os custos do regíme português. Repare neste exemplo: Portugal é, infelizmente, muito mais pobre do que a Espanha. Mesmo assim, gasta – e nem sequer falo de eleições presidenciais, pois são um custo inevitável das Repúblicas – com a Casa Presidencial (seja lá o que isso for) mais do dobro do que a Família Real espanhola;
    Vantagem relevante é também a da experiência adquirida; o exemplo da Rainha de Inglaterra é o melhor. Já imaginou o capital de conhecimentos que alguém, que foi educado para uma “profissão” (neste caso, a penosa e dificil que é a de reinar!), adquire ao fim de mais de 50 anos? Já pensou nas mudanças que o mundo sofreu? E as alterações que o Reino Unido viveu ao longo deste hiato temporal? Só uma coisa se manteve, porque se soube adaptar: a Rainha!
    Outro ponto favorável à Monarquia, prende-se com a projecção internacional dos Países. Quando discuto esta questão, coloco uma pergunta retórica mas interessante; Adimitindo que o Reino Unido e a Alemanha são países de dimensão e importância aproximada, como se chamam os respectivos Chefes de Estado?

    Cara amiga; muito mais vantagens há nas Monarquia mas, neste momento, um jantar com amigos republicanos impede-me de as expor. Amanhã, se quiser, podemos continuar a debater este assunto muito interessante.

    Cumprimentos monárquicos:

    António Lemos Soares.

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  53. Desconhecida's avatar
    Jacinto Bettencourt permalink
    4 Fevereiro, 2008 20:37

    Cara Sofia Ventura,

    Temos, portanto, um problema, neste caso seu; é que aquilo que eu penso da pessoa (refiro-me à pessoa pública e aos textos) a quem me dirigi, e aquilo que ela certamente pensa de mim, foram já objecto de postes e comentários anteriores. Digo-lhe, aliás, que tive algum cuidado ao escrever este post, cuidado que entendi que CAA não merecia noutras ocasiões. Acrescento que esta questão da fidalguia é incompreensivelmente recorrente em CAA (tornando-se, mesmo, matéria indigna e confrangedora, para além de sinal de uma evidente desonestidade intelectual), e precisa de levantar um ponto final, sobretudo vinda de alguém que tem responsabilidades enquanto docente.

    Teria todo o gosto em discutir consigo as virtudes e defeitos da república. Mas talvez este não seja o lugar próprio. Talvez nem seja necessário. Sabe, um dos grandes problemas do país – na minha opinião, claro está -, prende-se com o facto de andarmos constantemente a discutir coisas sérias em conversas de café (ou mais recentemente, em caixas de comentários), muitas vezes pelo prazer de discutir, e a experimentar, aleatoriamente, no país real, aquilo que o bom senso não recomenda e que a generalidade dos países rejeitou. Foi assim que alguém decidiu que a república era uma boa ideia. Outros povos, dotados de menos de ansiedade e de cidadãos um pouco mais sérios, resistentes e experientes, não cairam em semelhante asneira. Proponho, por isso, mesmo a indefectíveis republicanos como, presumo, ser o caso da Sofia, que pondere um pouco sobre o que diz não saber; verá não só que sabe a resposta às suas perguntas, como descobrirá que, dificilmente consegue escrever oito parágrafos seguidos e sustentados sobre a sua posição. Verá, também, que as posições de todos os intervenientes são razoáveis e, espero, que a todos une desinteressada preocupação pelo país. Assim espero.

    Cumprimentos,

    Jacinto Bettencourt

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  54. Desconhecida's avatar
    Jacinto Bettencourt permalink
    4 Fevereiro, 2008 20:42

    Caro António Lemos Soares,

    Lendo-o, recordo uma passagem de Francisco Sousa Tavares, datada de 1957:

    «Assim é uma Pátria. Como um meio de os homens se enlaçarem, e morrerem a vida da maneira mais bela. Fruto do acaso e da vontade, da ambição, da luta, da história e da espada, uma Pátria traz consigo um modo de viver e ser, um estilo, uma verdade, um caminho qualquer. Flui como o rio, cresce e muda, evolui e transforma-se, e permanece a mesma. Os homens que nela se conhecem, amam e convivem, trazem em si sinais comuns, e símbolos de confiança mútua. Como os hebreus, transportam de geração em geração a arca da aliança e o candelabro dos sete braços. Como solar da família, cresce, renova-se, muda o travejamento, introduz os sinais da civilização e perpetua na face os sinais do tempo, o selo inapagável dos homens que morreram, e guarda no milagre dos alicerces e das pedras mestras o segredo do reconhecimento tácito, do viver comum, do milagre do sangue, do amor, e da vida».

    O ser monárquico representa uma forma particular de estar em casa, sentir o dever e estar com o outro. É, pois, e como diz, uma questão ecológica (ou interpretando Heraclito, ética).

    Cumprimentos,

    Jacinto Bettencourt

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  55. nuno castelo-branco's avatar
    4 Fevereiro, 2008 21:02

    Não vale a pena perdermos tempo a perorar acerca da autêntica lavagem cerebral habilmente ministrada pelos senhores doutores A. Costa e A. Salazar. Conhecemos a coisa de cor e salteado. No entanto, estes “republicanos” de gema, esquecem-se da nobreza da república, isto é, os tais comendadores do 10 de Junho. Estes sim, têm o verdadeiro poder: o do tráfico de influências, dos jeitos e fosquinhas aos amigos a colocar aqui e ali; aqueles que transitam – a mobilidade – do ministério, para a E.P. ou para este ou aquele banco (e vice-versa); aqueles que são “assessores” deste e dos outros Venerandos; aqueles que do alto do púlpito do tribunal, ditam a nova moral (ninguém os elegeu para tal); last but not least, façam a lista, bastante longa, das iniquidades e tratos de polé a que a “república” submeteu Portugal inteiro. A violência, incompetência, censura e cerceamento das liberdades públicas, corte drástico dos cadernos eleitorais, ruína económica, derrota estrondosa em todas as frentes em 1916-18, corrupção total do aparelho do Estado nas mãos do Costa e capangas; ameaça da SDN em colocar as colónias portuguesas sob mandato internacional, tal o descalabro político e financeiro a que aquele regime nos levou; e para não nos alongarmos muito, falem também das hordas de canalhas assassinos que controlavam as ruas das cidades, matando e roubando a bel prazer. falem da camioneta Fantasma, do Dente de Ouro, da Leva da Morte, da Formiga Branca, da legião Vermelha e principalmente, dos milhares e milhares de presos políticos. Pesquisem os jornais estrangeiros da época 1910-26 e tentem saber o que se passava verdadeiramente naquele Portugal esmagado. Pensem o que terá provocado os famosos 48 anos. pensem nisso um pouco, porque esses, são TAMBÉM república. afinal de contas, aquela república ordeira, costumeira e com muito respeitinho que a burguesia do prp lisboeta queria e que conseguiu. Bravo!
    Quanto à terceira e espera-se última, é o que todos sabem. Que se vá embora e depressa. até o general Eanes já lhe escarrou em cima. Um ex-presidente que vem reconhecer que a Monarquia Constitucional é a melhor forma de representação do Estado. Para muitos não é novidade, já o sabemos há décadas. mas como há por cá quem pense que é mais esperto e livre que os vizinhos, tudo deve continuar na mesma.
    \Só uma pergunta e para terminar:
    – perguntem o porquê da razão dos governos em Espanha cumprirem os mandatos até ao fim (6 presidentes do conselho em 33 anos de democracia).
    Resposta possível: não há Venerandos para fazer arranjinhos aos amigos do partido. Lá não se dissolvem parlamentos para os bancos não verem aumentada a sua carga fiscal. cá é o que se sabe. Gozem bem a coisa, bem merecem o que têm

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  56. Sofia Ventura's avatar
    4 Fevereiro, 2008 21:22

    Primeiro António, obrigada pela sua resposta; segundo, não vá eu esquecer-me a final, sinceros cumprimentos republicanos para si e o desejo de farto e agradável repasto.

    Isto dito (e sem prejuízo de resposta em diferido – percebo, perfeitamente, que valores mais altos se levantam):

    1. «A Monarquia só pode existir se a República existir e gozar da melhor saúde.»

    A Res publica (e se o meu fraco latim não me atraiçoa estamos a falar da “coisa pública”), na medida em que reflecte a necessidade de organização social é, efectivamente, pressuposto de qualquer regime político (ou forma de governo) – seja ele monárquico ou republicano.
    Que seja quando a republica goza de maior saúde que se possa viver em monarquia, eu diria, é uma questão se sorte. Se um mau governo republicano contribuir para a causa monárquica, então, a monarquia surge, precisamente, quando a Res publica mais doente anda.

    2.«A grande vantagem de uma Monarquia Constitucional reside, a meu ver, precisamente no facto do Chefe de Estado não ser eleito! Se reparar, há imensas entidades que não sendo eleitas funcionam, por norma, muito bem: Família; Juizes; Forças Armadas, etc.»

    O António reconhecerá que:

    a) é quando passa a haver maior paridade entre os cônjuges (nomeadamente, quando a mulher passa a ter meios de subsistência próprios e, paulatinamente, vai afastando o estigma da mulher leviana), que a instituição família vive mais precária.
    Se vivo bem com isso? Pessoalmente, prefiro acreditar que o meu compromisso é para a vida (ser-se republicano não é, de todo, expurgar todo e qualquer romantismo das nossas vidas). Mas se me perguntar se preferiria que as mulheres se mantivessem na dependência dos maridos, responder-lhe-ia, prontamente, que não. Cada fracasso é uma fatalidade. E a viva entre iguais tem dessas coisas.

    b)Quanto aos juízes, não partilho do seu optimismo (mas por razões que se prendem, muitas vezes, com fraca formação ou grosseira incompetência – embora com isto não esteja a generalizar).
    Mas, vistas bem as coisas, a autoridade do juiz não lhe vem do seu carácter não electivo, mas da sua INDEPENDÊNCIA. Pelo que, se a república (o regime político) nos demonstrou alguma coisa, foi que, tem instrumentos para – pelo menos em tese (mas isso serioa assim sob qualquer forma de governo) – investir alguns dos seus órgãos da indepência cujas suas funções pressupõem.

    c) os militares, parece-me, não são um bom exemplo. São organizações que, historicamente e pela sua própria natureza, são estruturas muito hieraquizadas – do que de mais próximo se tem de uma ditatura, em democracia. E aqui registo que há, mais recentemente, uma maior tendência para democratizar a organização militar… mas não vamos por aí, não é o assunto e é deveras complicado.

    Se vir bem, todos estes três exemplos têm latentes uma mesma ideia: a de AUTORIDADE.
    Eu não me revejo num sistema político paternalista, que me dite o que é melhor para mim. Menos ainda, se não tiver dado qualquer voto de confiança àquele a quem cabe conduzir a Res publica e, assim, os meus interesses.
    Veja bem, não estou a substimar a necessidade do exercício da autoridade na prossecução do interesse público; estou, isso sim, a excluir a possibilidade do interesse público ser defenido de forma autoritária.

    3.«Outra vantagem da Monarquia é o facto ser um regime mais ecológico. Ecologia significa “conhecimento da casa”; ora um regime monárquico tem literalmente a ver com a “casa” (Pátria!) e a sua história, cultura e identidade. (…)Um Rei de Portugal se existisse à época, só poderia, por se identificar com a Pátria, agir de forma precisamente inversa»

    Vai perdoar a brincadeira, António, mas não é por me chamar Sofia que sou detentora de todo o conhecimento. Um bom monarca, conhecerá, com certeza, em minudência a sua casa – como um bom Presidente da República ou chefe de governo; inversamente um mau monarca é, sem qualquer validação pelos seus pares (que, de facto, não o seriam – e isto para mim é grave!)um dispêndio de recursos e uma nódoa política.
    Dir-me-á: e isso não se aplica a um mau Presidenteda República ou chefe de governo? E eu digo-lhe: com certeza, mas pelos erros eleitorais, respondemos todos nós quantos votamos (é o princípio da responsabilidade) e, ciclicamente, podemos remover dos seus lugares aqueles que se revelaram maus gestores da coisa pública.
    No caso concreto que cita – não discutindo agora a bondade da sua posição – quem lhe garante que um qualquer Rei de Portugal teria tido opção diferente? Boas e más decisões políticas tê-lo-as todos nós – a menos que o António, subcreva a ideia de uma inspiração divina dos monarcas, mas aí é que tinhamos o caldo da nossa discussão entornado.

    4.«Mais uma vantagem; nos dias de hoje, perante processos como a globalização e a integração europeia, um pequeno País como Portugal, tudo teria a ganhar em se distinguir dos demais através da instituição monárquica. Repare no caso dos países do Benelux: todos são pequenos, ricos (coisa que eu adorava que Portugal fosse!) e vivem em Monarquia. Isso é mais um factor que garante a sus independência recíproca»

    Aqui, confesso, não percebo se o que o António pretende dizer é que, em monarquia, Portugal seria mais próspero.
    Se não for,não vejo em que é que Portugal ganharia em distinguir-se como uma monarquia; se for, a minha interpretação mais benévola é que o António ou tem exacerbada fé nas capacidades económicas dos monárquicos ou substima os condicionalismos que nos constringem e que não têm nada a ver com o nosso regime político.
    Bons e maus governantes – e não bons monárquicos e maus republicanos (e vice versa) – parece-me a única destrinça possível.

    5.«Vantagem que, apesar de tudo, não considero tão relevante, prende-se com os custos do regíme português. Repare neste exemplo: Portugal é, infelizmente, muito mais pobre do que a Espanha. Mesmo assim, gasta – e nem sequer falo de eleições presidenciais, pois são um custo inevitável das Repúblicas – com a Casa Presidencial (seja lá o que isso for) mais do dobro do que a Família Real espanhola»

    Quanto aos cálculos comparativos, não me pronuncio porque os desconheço, em absoluto.
    Quanto ao facto da eleição de um Chefe de Estado ter encargos ciclicos adicionais, parece-me, é o custo de se ter uma democracia mais completa, mais realizada.
    Não lhe vou dizer que a Inglaterra ou a Espanha não são Estados democráticos, mas digo-lhe, com certeza, que até certo ponto, são Estados com uma “perturbação dissociativa da personalidade” ou, mais saudavelmente, tem um entorse brutal nos princípios em que assentam. Eu acredito, mesmo, que todo o homem nasce igual (enfim, retira-se o exagero declamatório e é isso). E acredito que todo o homem deve participar activamente na conformação do seu destino. E acredito que todo o homem deve olhar para o vizinho em paridade. E, sobretudo, a vida já é tão triste que me recuso a acreditar que devamos nascer para uma sociedade em que o sítio de onde vimos tem uma relevância incontornável na determinação do sítio para onde havemos de ir.

    6.«Já imaginou o capital de conhecimentos que alguém, que foi educado para uma “profissão” (neste caso, a penosa e dificil que é a de reinar!), adquire ao fim de mais de 50 anos? Já pensou nas mudanças que o mundo sofreu? E as alterações que o Reino Unido viveu ao longo deste hiato temporal? Só uma coisa se manteve, porque se soube adaptar: a Rainha!»

    Pergunto eu: é possível “educar” alguém para ser um bom Chefe de Estado. Lembro-me de um artigo em que um jornalista dizia que, na faculdade, tinha fugido dos cursos sobre “o papel da mulher”, porque entendeu que a melhor maneira de conhecer e opinar sobre o assunto era ter um conhecimento transversal de outras matérias.
    E quando o sal não salga? Quando a matéria não é boa? São 50 anos de conhecimentos acumulados, ou 50 anos de um Estado estagnado?
    Nesta perspectiva, a causa monárquica é boa para os viciados no jogo – uma autêntica rouleta russa.

    7.«Outro ponto favorável à Monarquia, prende-se com a projecção internacional dos Países.»

    Pois… mas isso não será porque as monarquias evoluiram para um regime de excepção. I.e., não são claramente mais “exoticas” quer as repúblicas? Que suscitem curiosidade não quer dizer, necessariamente, que sejam invejadas ou, sequer, respeitadas.

    Sofia

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  57. Sofia Ventura's avatar
    4 Fevereiro, 2008 21:27

    «Sabe, um dos grandes problemas do país – na minha opinião, claro está -, prende-se com o facto de andarmos constantemente a discutir coisas sérias em conversas de café»

    Com todo o respeito, Jacinto, por estas e por outras é que estamos “worlds apart”.
    Preferirá o Jacinto que outros discutam estas coisas por si em lugares mais próprios; ou estará crente que as poderá o Jacinto discutir nesses lugares.
    Eu, por mim, que não tenho qualquer vocação ou ambição pública, discuto tudo o que me diz respeito onde ocorrer estar na altura.

    De qualquer modo, achará que estou a ser injusta, mas deste trecho retirei inúmeras ilações quanto ao porquê de ser monárquico e a causa real não saiu, aos meus olhos – naturalmente, nada enaltecida.

    PS: não comento picardias. Acho feio. Mas poupem-nos.

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  58. MJRB's avatar
    4 Fevereiro, 2008 21:35

    Miss Sofia Ventura,

    estou a acompanhar os seus comentários, com os quais concordo. À distância, porque não quero envolver-me A SÉRIO neste local sobre o caso República vs Monarquia ou Monarquia vs República.

    Há muita gente que gostaria de ser monárquico… Há muita gente que gostaria de ostentar um título no seu prédio, na rua, na região, no país….mas se o tentasse fazer no Mónaco ou na Dinamarca seriam olhados de soslaio ! Não existiam, simplesmente !…

    A propósito, aconselho aos comentadores a leitura do artigo de Rui Tavares no “Público” de hoje.

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  59. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    4 Fevereiro, 2008 22:24

    «É complicado. Pela leitura do post, é-se levado a pensar que a monarquia é de direita.»
    Piscoiso

    Eu, por acaso, nunca coheci ninguém de esquerda que fosse monárquico.
    Não dá para fazer um inquérito ali na banda esquerda (ou direita), à laia de arrastão?

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  60. Sofia Ventura's avatar
    4 Fevereiro, 2008 22:24

    o último anónimo sou eu.

    Sofia

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  61. MJRB's avatar
    4 Fevereiro, 2008 22:46

    Miss Sofia Ventura,

    esqueceu-se de D.Fernando Mascarenhas. De esquerda moderada. Bastante inteligente e culto. D. Duarte se comparado com ele…
    e “Dom” a sério !

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  62. Frederico da Silva Dias's avatar
    4 Fevereiro, 2008 22:46

    Intriga-me de forma visceral as falsas dicotomias – quais polos de um espectro redutor neste caso da realidade socio-política. Como já tive oportunidade de dizer a alguém da Causa Real, esta esqueceu que ser rei nunca foi coisa fácil, de todo automática por uma qualquer alínea heredo-familiar menor e, evocando o Mestre de Avis, temos de aceitar que existiam n candidatos ao trono e um colectivo pouco previsível escolheu aquele que viria a ser D. João I. Neste país de fraca memória pois que houve reis que deixaram obra e assim validaram o seu percurso. Interrogo-me quem, nos ultimos cem anos, será lembrado sem apupos nem incursões nos sete pecados que por aqui de mortal nada têm, constituindo-se até como exemplo para o cidadão que não é mais que o Zé Povinho do Bordalo e , por mais banda larga, nestes cenários estreita as vistas e envergonha um pais milenar e é chacota naquela Europa que sempre nos “amou”. Mais, não “papo grupos” agora lobbies com aventais mais ou menos escondidos e decididamente sou contra assassinatos políticos ou não. Um regicídio é um acto infame assim como qualquer homicídio. Orquestrado ou não pela Carbonaria ora veja-se o berço ensanguentado desta república. Por coisa menor começou a II Grande Guerra. E depois há que ter treino. Nem o Lauro Dérmio pode ser presidente nem o Duque de Bragança alguma vez rei pois seria uma ofensa estético-conceptual-e-mais-ainda. Num actual casting para presidente ou rei a gaita é que pareceria um concurso de beleza com umas gajas pilosas e celulíticas. Continuo convicto que por falta de café, coisa catalítica do Iluminismo, há este parlapié que lembra os debates sobre o esférico em que se defende o clubismo e os carretos saltitam num derby entre os azul/brancos e os verde/encarnados. Os valores liberais (divisão de poderes, liberdade de expressão, respeito pelos tarecos de cada um e já agora chamar as coisas pelos nomes com atitude), saber se a democracia tem um score mais alto porque é mais participativa, mais eDemocrática, mais informada, mais diligente, mais deliberativa numa corticalidade abrangente, mais referendária e assim mais purista é coisa de pateta. Entretanto e inversamente, tal como no Pingo Doce em que podemos ir lá dizer que o Tide está mais barato no Hipermercas vejam se me vão lembrando se na Europa dos 27 há algum que esteja pior que nós em qualquer coisada relevante para animar a malta. Saudações social-democráticas e queira Deus ou a Mãe Natureza que o pessoal comece a fazer um exame de consciência.

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  63. AMI's avatar
    AMI permalink
    4 Fevereiro, 2008 23:07

    Sofia,

    Os meus parabéns pelas respostas!

    Eu gostaria apenas de acrescentar que as monarquias europeias que ainda subsistem conseguiram sobreviver precisamente por se terem tornado irrelevantes em termos de poder governativo.

    São figuras decorativas, toleradas porque são politicamente invisíveis. Em sociedades cada vez mais heterogéneas, dinâmicas, informadas e participativas, o papel de líder da tribo revela-se não só anacrónico mas desadequado.

    Nada nos garante que muitas das monarquias europeias contemporâneas acompanhem o caminhar da história rumo ao próximo século (Reino Unido e Espanha são exemplos de regimes monárquicos que podem não sobreviver muitos anos aos actuais monarcas).

    A nossa república está longe de ser perfeita mas não vejo como poderia ser melhorada com um retrocesso à monarquia.

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  64. Tino's avatar
    4 Fevereiro, 2008 23:36

    Senhor CAA

    Há vários argumentos contra a monarquia.

    Mas esse de que só conhece monárquico que invocam títulos é demasiado fruste para alguém que arvora tão elevados títulos académicos. A menos que ande muito mal acompanhado…

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  65. Desconhecida's avatar
    Sem Anestesia permalink
    4 Fevereiro, 2008 23:56

    O meu rei é maior que o teu.
    Bla bla …

    Até hoje ainda não vi um argumento válido a favor da monarquia: não tem nenhuma vantagem que qualquer sistema republicano não consiga reproduzir.
    Nem uma vantagem que não seja de todo possível encontrar numa república. Algo diferenciador e que traga vantagens efectivas ao povo servido por tal regime. (Qualquer coisa que vá além de coisas vazias como: prestígio, unidade nacional e outras “vantagens” similares)

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  66. Samuel de Paiva Pires's avatar
    5 Fevereiro, 2008 00:19

    Um breve comentário, ao correr da pena:

    Sejam um pouco mais pragmáticos. Querem que não existam elites numa monarquia? então isso significa que não as há em República? Hmm já liam umas coisinhas, assim um tal de Marx, um tal de Michels, um tal de Pareto…leriam sobre a Lei de Ferro da Oligarquia, a Vanguarda que é a Elite que sempre conduz as massas, esse tipo de coisas…Elites sempre existiram, existem e sempre continuarão a existir. É uma lei sociológica, e é normal que assim seja. Já Platão e Aristóteles diziam o mesmo e distinguiam as elites como os aristos (os melhores) e os que tinham alma de ouro.

    Quanto à suposta igualdade que os republicanos costuma advogar contra a monarquia, aqui deixo um link para um post meu que talvez achem interessante: http://estadosentido.blogspot.com/2008/02/da-igualdade-que-os-republicanos.html

    Quanto a regimes ou formas ou sistemas de governo. Isso na wikipédia realmente não tem muita credibilidade. Como tenho que sair agora, mais tarde posso-me dar ao trabalho de explicar as diferenças.

    Até à próxima

    SPP – monárquico convicto que não se arvora de presunções de estatuto artificial – e a este respeito podem ler isto http://estadosentido.blogspot.com/2007/10/uma-monarquia-para-portugal.html

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  67. frei de jesus's avatar
    frei de jesus permalink
    5 Fevereiro, 2008 02:10

    No «Abrupto» :

    «(…)mais um teste para a tese de Kissinger de que cada vez mais as condições para se ser eleito presidente nada têm a ver com as condições para se exercer bem o seu cargo».
    (JPP)

    Cá está, um monárquico que se ignora … ehehehe

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  68. The Studio's avatar
    5 Fevereiro, 2008 02:13

    Quando leio que o argumento do CAA contra a Monarquia é o de que na sua juventude se deparou com algum pateta que pensa que os condes têm razão por ser condes… bem, penso que o CAA se terá enganado na “tag”. Este texto deveria estar classificado como “Humor” e não como “Política nacional”. Se eu me deparasse com alguém que alegasse ter razão pelo facto de ser conde… eu iria desatar a rir-me da mesma maneira que fiz ao ler este texto do CAA. As piadas não são para discutir, pois não? Ou o CAA está mesmo à espera que este seu “argumento” seja levado a sério?

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  69. frei de jesus's avatar
    frei de jesus permalink
    5 Fevereiro, 2008 02:20

    «Até hoje ainda não vi um argumento válido a favor da monarquia: não tem nenhuma vantagem que qualquer sistema republicano não consiga reproduzir».

    Pois olhe o PR interroga-se amargamente acerca da reprodução dos portugueses. Uma tal desgraça só pode ser republicana. Falta de «tésão».

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  70. POS's avatar
    5 Fevereiro, 2008 02:23

    Como escrevi há dias no meu tasco,

    «(…)A ideia de aristocracia, algo que apenas existe no universo fantasista das revistas cor-de-rosa, é, na realidade, algo que escapa à natureza de sociedades que evoluíram para caminhos de liberdade e representatividade, sonhando com a ainda não atingida igualdade de oportunidades. Ser nobre nesse universo virtual, porque nada enquadra a nobreza à luz do Direito, é descender dos que primeiramente foram nobilitados, e esses são, ao longo do curso dos tempos, os que mataram mais, os que roubaram mais, os que serviram fielmente ou os que compraram a honraria do trato e da isenção. Hoje, matar não nobilita. Tomar pela força também não. Explorar também não. Subornar também não. Essas coisas podem dar proventos, mas não conferem honra, não configuram ideais de nobreza no sentido moral que podemos associar ao termo. Há alguns, porém, que assim não entendem, aqueles que ainda vivem ressabiados, agarrados a anéis de brasão, a retratos de tetravôs abastados, a ícones de um passado que acreditam correr-lhes nas veias. Muitos deles são monárquicos, usam bigodes farfalhudos e gostam de touradas.(…)»

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  71. Desconhecida's avatar
    António Lemos Soares permalink
    5 Fevereiro, 2008 02:55

    Cara Sofia;

    Não lhe vou responder, neste momento, a todas a suas apreciações interessantes e inteligentes sobre este tema. Amanhã, ou melhor, ainda hoje, mas mais tarde, fá-lo-ei, se mo permitir, com o maior gosto. No entanto, gostaria de deixar uma pequena nota sobre a questão de saber se a Monarquia é de “Direita” oude “Esquerda”.
    Segundo creio, outra das vantagens da Monarquia é que não é de “Direita” ou de “Esquerda”. O Rei é, por natureza, imparcial. Rei, quer dizer precisamente: “Aquele que julga imparcialmente”. A Monarquia é muito anterior a essa ultrapassada querela ulterior a 1789.
    Mesmo assim lhe tenho de dizer que, um monárquico português só pode ser, quanto a esta específica matéria da forma de regime, em Fevereiro de 2008, de “Esquerda”… Porquê? Porque ser republicano em Portugal é, na actualidade, defender o regíme vigente, defender a inacção, o conservadorismo; ou seja, é a República que representa a “Direita”; defender a Monarquia para o País, neste ou num futuro momento, só pode ser optar pela mudança, pela inovação, pelo progresso, i. e., ser objectivamente de “Esquerda”…
    Mais lhe digo: se estudar com atenção a História de Portugal, verá que a nossa sobrevivência como Nação só se explica pela união, humana, perene, umbilical, entre o Rei e a Ordem Popular. Foi o Povo que fez do jovem Afonso Henriques Rei dos Portugueses em Ourique; foi o Povo que sustentou a realeza de D. João I em 1385; Foi a “arraia miúda” que se encheu de glória em Aljubarrota; foi a gente do Povo que descobriu o mundo inteiro; foi a resistência dos Populares durante 60 longos anos que permitiu aclamar D. João IV em 1640; foi a gente do Povo que venceu os franceses no Buçaco; foi o mesmo Povo que, no dia 5 de Outubro de 1910, se despediu em lágrimas da sua Família Real nas Praias da Ericeira, mesmo ameaçado pelos poucos mas violentos republicanos lisboetas…

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  72. MJRB's avatar
    5 Fevereiro, 2008 03:59

    Um povo desgraçado e desprezado pela monarquia e por vinte anos de reinado tratado como “piolheira”, despede-se “em lágrimas” da “sua” “Família” Real ?
    Sinceramente, Mr. A.Lemos Soares,
    nessa época como noutras já havia arregimentação de imberbes, tolinhos, carpideiras, e o resto é conversa com alguns crentes na Corte à mistura !… Foi o povo-povo que se deslocou à Ericeira ? Em 1910 ? V. não sabe os efeitos que a “novidade” das revolução têm sobre os povos ?

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  73. Carlos's avatar
    5 Fevereiro, 2008 04:36

    Mas quando falamos de Monarquia ou Republica, estamos a falar exactamente do quê?
    Parece-me que há muita confusão e fantasia nalgumas cabeças.
    Não creio que a questão mereça grande discussão, mas se a quiserem discutir a sério terão (incluindo o CAA) de abandonar as visões maniqueístas.
    Curiosamente, não há muito tempo em França, Allain Touraine chamava a atenção com grande perspicácia e algum humor para o fenómeno do aparecimento de “monarquias republicanas” e de “repúblicas monárquicas”. Só como ligeiro apontamento, recordarei que algumas das primeiras monarquias eram electivas (caso visigótico) e que, por exemplo, na Noruega não existe nobreza no sentido em que aqui tem sido mencionada.
    Quanto a manias de títulos, brasões e outras snobeiras do género – que nada têm a ver com a Ciência Política – existem e continuarão a existir por muitos longos e bons anos em toda a Europa (Itália, França, Alemanha, Irlanda, Polónia, etc.) mas em versões adaptadas a idiossincrasias bem diferentes da lusitana…

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  74. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    5 Fevereiro, 2008 09:09

    Atenção! A nossa monarquia da I Dinastia também era electiva. Daí que fomos a primeira nação da Europa a testar (e com bons resultados que culminaram com O momento áureo da nossa história) este tipo de governação.

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  75. Desconhecida's avatar
    António Lemos Soares permalink
    5 Fevereiro, 2008 11:10

    Caro MJRB;

    A verdade é que, quem esteve com as lágrimas a correr, no dia 5 de Outubro de 1910, foram os pescadores da Ericeira! A novidade revolucionária de que fala foi sentida, pouco depois, quando de Lisboa chegaram de automóvel alguns republicanos armados (os poucos que havia na verdade já estavam armados!) que insultaram e espancaram o Povo, porque este nada fizera contra o seu Rei… A novidade manter-se-ia durante 16 penosos anos de terrorismo de Estado e abriria as portas a outra novidade para a época; o Estado autoritário que atrasou Portugal por 48 anos…
    É interessante que o jornal de Coimbra onde Salazar iniciou a publicação de alguns textos políticos se chamava precisamente: “Novidades”…

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  76. MJRB's avatar
    5 Fevereiro, 2008 11:50

    Caro Mr. António Lemos Soares,

    De acordo.
    E é muito interessante re-analisar, sempre, a desconfiança de Salazar face à monarquia. Ou se quiser, ao comportamento de certos monárquicos.
    Ainda hoje há muitos resquícios de Salazar na sociedade portuguesa…

    Meus avós paternos estiveram na Rotunda, e não só !….

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  77. MJRB's avatar
    5 Fevereiro, 2008 11:52

    Acresce que meus avós estão numa “arvore” monárquica, “ramo” D.Manuel I, mas eram uns republicanos mais do que convictos !….Bastante activos !

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  78. Desconhecida's avatar
    Jacinto Bettencourt permalink
    5 Fevereiro, 2008 12:21

    Cara Sofia Ventura,

    Peço-lhe, novamente, que não faça juízos precipitados. Eu não represento nem falo em nome da Causa Real, nem a Sofia fala, por exemplo, em nome da Comissão de Projectos para a Comemoração do Centenário da república. Quanto à sua crítica, só posso desejo-lhe maior sorte na busca de interlocutores que considere de melhor cepa mas, sinceramente, não vejo utilidade em debatermos algo cujas conclusões a Sofia preparou de antemão.

    O que me deixa curioso em toda esta polémica é violência com que pessoas tão democráticas (so they say) reagem àquilo que consideram um fantasia de um punhado de aristocratas bolorentos sem representação política. Eu, monárquico, justifico a minha violência verbal com um século de mentiras, farsa, crimes e decadência. Eu defendo uma posição acossada, enganada e — não há outra forma o dizer — derrotada, em tal medida que muitos a remetem para o tal domínio da fantasia. Mas o que justifica a agressividade dos republicanos, dos chamados vencedores? Talvez exista algo por detrás da fantasia que una bem mais pessoas do que inicialmente se pensa. E talvez seja isso que assusta aqueles democratas “sui generis” e que impede a consolidação de um ideal republicano em Portugal. Sabendo que discorda, não posso deixar de lhe dizer isto, Sofia: Portugal é uma república sem republicanos.

    Cumprimentos,

    Jacinto Bettencourt

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  79. Desconhecida's avatar
    António Lemos Soares permalink
    5 Fevereiro, 2008 13:08

    Cara Sofia;

    Desculpe, por favor, a minha retirada da conversa de ontem.
    Na verdade, quando escreveu: “valores mais altos se levantam”, tinha toda razão. A Família: essa sobrevivente, velha e desprezada instituição deste País, foi mais pungente para mim, do que a nossa agradável conversa.
    Vou, pois, responder a algumas da suas questões.

    Diz a Sofia: “Eu não me revejo num sistema político paternalista, que me dite o que é melhor para mim. Menos ainda, se não tiver dado qualquer voto de confiança àquele a quem cabe conduzir a Res publica e, assim, os meus interesses”.

    Respondo: Concordo plenamente com a sua opinião. Na verdade, sou monárquico por causa deste seu argumento. Não dei qualquer voto de confiança ou outro voto de qualquer género, a quem quer que fosse, para impor de maneira paternalista e autoritária a República como limite material a uma possível revisão da Constituição. Ao Rei, não cabe conduzir a República no sentido da governação! Isso é coisa dos Partidos. Ao Rei cabe representar a Comunidade numa perspectiva anterior às naturais divisões políticas. A Monarquia parte do que é comum, para permitir todas as diferenças de opinião. O Rei é, para mim, o ponto de Arquimedes, de uma República evoluída e livre.

    Diz a Sofia: “No caso concreto que cita – não discutindo agora a bondade da sua posição – quem lhe garante que um qualquer Rei de Portugal teria tido opção diferente? Boas e más decisões políticas tê-lo-as todos nós – a menos que o António, subcreva a ideia de uma inspiração divina dos monarcas, mas aí é que tinhamos o caldo da nossa discussão entornado”.

    Respondo: Não subscrevo qualquer inspiração divina do Rei! O que parece existir em Portugal é, pelo contrário, uma qualquer e estranha “inspiração divina” da República que, ao fim de quase 100 anos, nunca se dignou a questionar a população sobre o que ela pensava sobre a forma de regíme. Conto-lhe um pequeno episódio sobre bandeiras; quando em 1911 se deu a primeira incursão monárquica, os companheiros de Henrique de Paiva Couceiro, arvoraram na sua campanha uma bandeira azul e branca, mas… Sem a coroa real! Porquê? Porque defendiam um plebiscito nacional sobre o tema que debatemos…

    Diz a Sofia: “E eu digo-lhe: com certeza, mas pelos erros eleitorais, respondemos todos nós quantos votamos (é o princípio da responsabilidade) e, ciclicamente, podemos remover dos seus lugares aqueles que se revelaram maus gestores da coisa pública”.

    Respondo: Isso não é o que distingue Monarquia e República. O seu argumento distingue, sim, Democracia e Estado autoritário. Em Repúblicas como as de Cuba, ou como da antiga União Soviética, alguém, alguma vez, pôde remover dos seus lugares aqueles que se revalaram maus gestores de alguma coisa? E no nosso republicano Estado Novo, quem removeu o Dr. Salazar e companheiros da governação? Onde essa remoção política se faz de maneira pacífica e natural é, por exemplo, no Reino Unido ou na Noruega.

    Diz a Sofia: “Aqui, confesso, não percebo se o que o António pretende dizer é que, em monarquia, Portugal seria mais próspero”.

    Respondo: É mesmo isso que pretendo dizer. O melhor exemplo que se pode dar é o caso de Espanha. Compare a prosperidade dos espanhóis, desde 1975, com a nossa desde o mesmo ano.

    Diz a Sofia: “Nesta perspectiva, a causa monárquica é boa para os viciados no jogo – uma autêntica rouleta russa”.

    Respondo: Jogar mesmo é ter um sistema político em que os candidatos à Presidência da República se dizem independentes e são, ao mesmo tempo, apoiados por Partidos Políticos. No primeiro mandato, os Presidentes portugueses fazem tudo para apoiar os governos (vg., Eanes, Soares e Sampaio), no 2.º mandato, tudo fazem para derrubar o mesmo governo que antes apoiaram. Na verdade, já não há possibilidade de reeleição…!

    Minha cara amiga Sofia; despeço-me – como díria o Engenheiro Sousa Veloso – com amizade, até uma próxima oportunidade. Outra Sofia, esta de apenas 21 meses e com bastante espírito reivindicativo, apela a minha presença.

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  80. Sofia Ventura's avatar
    6 Fevereiro, 2008 01:15

    Boa noite António,

    Sempre com boas razões para se escusar às nossas conversas. Quanto à pequenina Sofia, se aos 21 meses já se faz assistir com tamanho afinco, isso diz-me que está no bom caminho.

    No que ao tema que nos ocupa respeita, não vou ser exaustiva – mesmo porque, estou certa, teremos outras oportunidades para discutirmos este ou outros assuntos.
    Em todo o caso, deixe-me gabar-lhe a elegância com que expõe os seus pontos de vista e a serenidade com que os põe à discussão. Uma coisa é certa, já conseguiu aquilo que não imaginei fosse possível: por-me a discutir a hipótese monárquica sem preconceitos.

    Isto dito,

    Quanto aos limites materiais à revisão constitucional, são coisa de somenos. Houvesse um forte movimento monárquico e a hipótese de vivermos em monárquica seria sempre passível de ser equacionada – fosse pela via da reforma da actual CRP, fosse pela feitura de outra constituição. Não estou, contudo, em crer que os portugueses aspirem a um sistema monárquico.

    Tem, no entanto, razão no que diz (na medida em que defende um sistema de monarquia constitucional) que ao Rei não caberia governar – e, portanto, não seria ele a dispor sobre os assuntos de interesse público. Na sua visão das coisas ao monarca caberia “representar a Comunidade numa perspectiva anterior às naturais divisões políticas. A Monarquia parte do que é comum, para permitir todas as diferenças de opinião. O Rei é, para mim, o ponto de Arquimedes, de uma República evoluída e livre.”.
    Em rigor, é, precisamente, essa a função atribuída ao nosso Presidente da República – representa (toda) a comunidade, de forma apartidária (o que não é o mesmo que dizer acéfala), acrescentando, em relação aos monarcas nas monarquias constitucionais (penso, mas admito estar enganada), um importante papel fiscalizador que se manifesta, em última instância, na possibilidade de pedir a fiscalização da constitucionalidade dos diplomas produzidos pelo executivo e parlamento e na possibilidade de exercer o direito de veto, embora condicionado, das políticas governativas. O PR tem, em Portugal, um papel mais interventivo do que, eventualmente, guardaria para um monarca, mas, pessoalmente, nem acho isso mal. Acho até que é benéfico. Não fosse assim, e a nossa democracia funcionaria pior, porque menos vigiada.
    Pelo que, nos reduzimos – na essência – à nossa divergência inicial, que é: se o Chefe de Estado deve ou não ser eleito.
    À semelhança do que alguém escrevia mais acima, eu também acho que a afirmação da ideia republicana da electividade do representante máximo da comunidade é uma questão de princípio. Eu, que nunca vivi noutro regime, jamais me poderia sentir cidadã livre, sabendo, à partida, que não teria (dentro da normalidade sistémica) uma palavra a dizer acerca daqueles que por mim respondem. Agora correndo o risco de soar a falso, confesso que ontem me pus a pensar sobre este assunto e o meu ímpeto reaccionário (invertemos o prisma da discussão) reacendeu-se quanto realizei que, aceitar este estado de coisas, seria também aceitar que os meus filhos nascessem predestinados a “não representar a sua comunidade”. A predestinação – e está a ver a ironia do meu nome também ser ventura – é algo com que não vivo nada bem. Pode parecer coisa sem importância (a grande probabilidade é que não lhes interessasse), mas o que é certo (e por isso é que dizia que é uma questão de princípio), é que não encontro justificativa para que não possam nascer livres de serem o que bem entenderem, desde que o façam de forma séria e consciente.

    Amigo António, obrigada pela conversa.

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  81. frei de jesus's avatar
    frei de jesus permalink
    6 Fevereiro, 2008 05:14

    «(…)sabendo, à partida, que não teria (dentro da normalidade sistémica) uma palavra a dizer acerca daqueles que por mim respondem(…)».

    Os portugueses têm uma enorme dificuldade em distinguir as ilusões das realidades.
    É assim … e talvez seja mesmo por essa razão que, em Portugal, os regimes só caem de podres.
    Pacientemos mais um pouco.

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  82. frei de jesus's avatar
    frei de jesus permalink
    6 Fevereiro, 2008 05:20

    Nem de propósito :

    – «Aqui há dois dias disse-o com reserva. Agora, outra voz, mais esclarecida, esclarecedora e responsável repete-o: se o regime não arrepia caminho e não promove o aprofundamento da democracia, do Estado de Direito, a selecção dos mais capazes e probos, está destinado ao colapso. Digo-o sem vacilações: prezo a liberdade, os meus direitos individuais e os dos meus concidadãos para não advogar soluções que apenas repetiriam erros tremendos do passado. Não quero o meu país governado por ditadorzinhos, nem a minha casa devassada por polícias broncos, nem os jornais submetidos a censura, nem cargas policiais, nem cadeias cheias, nem tribunais políticos, nem ajustes de contas. Amo a liberdade e penso não haver motivo para a suprimir, mas também não quero que Portugal continue a ser a vergonha da Europa, com as suas bolsas de pobreza, subdesenvolvimento, analfabetismo, corrupção, favoritismo e essa impatente, quase abjecta, classe política sem classe alguma que teima em roubar-nos o futuro e lançar-nos no abismo. Dizem que a ave de Minerva levanta voo ao anoitecer. Neste crepúsculo de regime, que se levante a esperança, companheira da sabedoria, do bom-senso e da liberdade».
    (Miguel Castelo Branco, in «Combustões»)

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  83. Desconhecida's avatar
    Anónimo permalink
    6 Fevereiro, 2008 07:13

    Só sei que dado os acontecimentos do regicídio em que mataram o rei de Portugal e dos Algarves, o Algarve foi discretamente anexado por Portugal (em face da apatia dos algarvios), na medida em que os acontecimentos culminaram com a implantação da república em Portugal.
    E até hoje não fizeram um referendo para saber se o Algarve deveria fazer parte da Republica Portuguesa.

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  84. rodasnepervil's avatar
    rodasnepervil permalink
    6 Fevereiro, 2008 07:34

    CAA,
    Sinceramente, não quero insultar.
    Parece é que você quer ser ou fazer figura de parvo.
    .

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  85. Desconhecida's avatar
    António Lemos Soares permalink
    6 Fevereiro, 2008 08:56

    Bom Dia Sofia;

    Regresso ao nosso debate por breves momentos, já que, a estas horas, a Sofia (a minha) descansa ainda depois de muitas brincadeiras carnavalescas e, sobretudo, antes do seu espírito revindicativo, muito vivo e muito português, poder desafiar a alquebrada resistência parental.

    Diz a Sofia: “Quanto aos limites materiais à revisão constitucional, são coisa de somenos. Houvesse um forte movimento monárquico e a hipótese de vivermos em monárquica seria sempre passível de ser equacionada – fosse pela via da reforma da actual CRP, fosse pela feitura de outra constituição”.

    Respondo: Estou, em parte, de acordo consigo. Penso até (contra a posição maioritária dos nossos constitucionalistas), que hoje a actual Constituição permite mesmo a restauração da Monarquia! Porquê? Porque o que se limita numa possível revisão constitucional, no artigo 288, é a forma republicana de governo! Ora, havendo Monarquia, a forma de governo seria naturalmente (como a meu ver quase sempre foi, aliás, em Portugal) a republicana! O que se alteraria seria, sim, a forma de regime.

    Diz a Sofia: “Não estou, contudo, em crer que os portugueses aspirem a um sistema monárquico”.

    Respondo: O grande problema é que os portugueses nunca puderam aspirar, ou deixar de aspirar, a alguma coisa nesta matéria. Os monárquicos tentam, desde 1911 imagine, realizar um Plebiscito sobre a questão do regíme. Conclusão: já se vai na 3.ª República, passaram quase 100 anos, e … Nada feito! Por isso, e apesar do que antes disse sobre a possibilidade de restauração (eu prefiro dizer reinstauração) da Monarquia, seria de todo interesse que a alínea b do artigo 288 da actual C.R.P., fosse suprimida.

    Diz a Sofia: “Em rigor, é, precisamente, essa a função atribuída ao nosso Presidente da República – representa (toda) a comunidade, de forma apartidária (o que não é o mesmo que dizer acéfala), acrescentando, em relação aos monarcas nas monarquias constitucionais (penso, mas admito estar enganada), um importante papel fiscalizador que se manifesta, em última instância, na possibilidade de pedir a fiscalização da constitucionalidade dos diplomas produzidos pelo executivo e parlamento e na possibilidade de exercer o direito de veto, embora condicionado, das políticas governativas. O PR tem, em Portugal, um papel mais interventivo do que, eventualmente, guardaria para um monarca, mas, pessoalmente, nem acho isso mal. Acho até que é benéfico.

    Respondo: Não concordo com a ideia de que o Presidente da República represente toda a comunidade! O Presidente, porque eleito, representa a percentagem dos que nele votaram e durante certo hiato temporal (em Portugal são 5 anos). Penso que a figura Real é muito mais abrangente!
    O Rei representa, para mim, a totalidade e a eternidade! A totalidade; porque mesmo os que fazem parte de grupos minoritários (desde logo, os que perderam as eleições legislativas ou outras), encontram no Rei quem os represente da mesma maneira que a maioria é representada. A eternidade; pois o Rei é, em si mesmo, o Passado (todos os que foram Reis de Portugal antes dele), o Presente (ele próprio como Pessoa) e o Futuro (a expectativa de continuidade colectiva, representada na descendência).

    Minha cara Sofia; muito lhe agradeço as suas interessantes apreciações e inteligente discussão. Foi uma VENTURA conversar consigo. Até sempre.

    António Lemos Soares.

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  86. CAA's avatar
    6 Fevereiro, 2008 12:24

    Por razões sobre as quais nem quero especular, a terça-feira de Carnaval proporcionou um enorme debate acerca do tema deste artigo.
    Só queria esclarecer o seguinte: neste texto, não quis rebater todo o argumentário pró-monárquico (nem tenho espaço para isso – 1500 caracteres incluindo espaços). Apenas narrei um episódio que foi o remate final nas minhas simpatias de tenra infância. Há muitos outros e mais sólidos argumentos que desfavorecem a crença monárquica – volto a referir as minhas duas postas acerca do 31 de Janeiro (https://blasfemias.net/2008/01/31/31-de-janeiro-de-1891/) bem como, as minhas Heresias de dia 27 de Janeiro:

    Mais do que uma questão de datas

    De qualquer modo, assinalo que a questão que coloquei, sintomaticamente, quase não foi abordada: apenas recebeu resposta de meia dúzia de comentadores e outro tanto de pessoas que me escreveram narrando os seus casos.

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