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Vuvuzelas e Buzinões!*

20 Junho, 2010
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Este mês de Junho tem-nos proporcionado um certo descanso mental. Temos o Mundial de futebol, disponibilizando-nos, por breves instantes, algum stress alternativo em relação à crise, à bancarrota, às Scut’s e aos PEC (os anunciados e os que se antevêem). O futebol pode funcionar como uma preciosa e oportuna distracção mental, oferecendo-nos uma alternativa noticiosa às vicissitudes (cada vez mais deprimentes) da nossa vida política. É uma questão de liberdade de escolha: sofrer com algo diferente, para além da triste realidade política em que submergimos. Poderemos (durante alguns instantes) desfrutar de outros pretextos para as nossas más disposições (ou mesmo depressões).

Ora, através da imprensa, ouviu-se já o coro habitual de queixas contra a “opressão do futebol”. Opiniões e sentimentos legítimos, mas, para mim, injustificados. Além disso, reveladores de alguma irreflexão, nada consentânea com um tom de (auto) superioridade intelectual que, habitualmente, se pressente nesse tipo de queixume. Em primeiro lugar, hoje em dia, o nosso panorama mediático e televisivo, permite-nos escolher e compor diferentes menus noticiosos. Com a facilidade de um clique, poderemos fugir da tal putativa opressão. Trata-se de não ter medo da liberdade (de escolha) e das suas implicações. Por outro lado, o futebol é, actualmente, muito mais do que um simples entretenimento: será, no nosso quotidiano, o único elemento de “coesão nacional” que se vislumbra.

Tanto mais valioso, quanto mais o (nosso) Estado é centralizador e “opressor” dos interesses próprios das populações. Internamente, a paixão aguda em torno das disputas clubistas acaba por ser uma uma espécie de vuvuzela para a expressão simbólica das nossas identidades (locais, regionais e culturais). Essa paixão será tanto mais intensa quanto menos respeitadas forem, no plano do Estado nacional, essas identidades. Todos poderemos discutir e antagonizarmo-nos a propósito dos nossos clubes (representantes das nossas comunidades, nem que sejam culturais, de afectos e simpatias). No entanto, todos (os que assim discutem) projectam-se, comummente, no mesmo palco da representação dessas suas identidades que é o futebol.

A selecção nacional, por seu turno, permite que nos sintamos, entre nós e apesar das nossas diferenças, ligados a uma ideia de comunidade partilhada (ainda que, porventura, mais romântica do que real): a portuguesa.

O som do futebol talvez seja, nos dias que correm e a Norte deste Portugal centralista, o único contraponto ao som dos buzinões!

* Grande Porto (Semanário), Ed. 18.06.2010.

6 comentários leave one →
  1. Desconhecida's avatar
    Cucu permalink
    20 Junho, 2010 22:12

    Não fora o estilo civilizado e pensaria que esta posta era do CAA.

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  2. Desconhecida's avatar
    Guarda Abel permalink
    20 Junho, 2010 22:41

    Vamos rebentar com tudo isto!

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  3. chocoscomtinta's avatar
    chocoscomtinta permalink
    20 Junho, 2010 23:10

    PMF diz: “A selecção nacional, por seu turno, permite que nos sintamos, entre nós e apesar das nossas diferenças, ligados a uma ideia de comunidade partilhada (ainda que, porventura, mais romântica do que real): a portuguesa.”

    Mais, mas muito mais, romântica seria se os portuguêses se dedicassem a tocar as VULVADELAS em vêz das vuvuzelas.

    Era vê-los a correr que nem uns desalmados e a marcar golos…..

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  4. Desconhecida's avatar
    20 Junho, 2010 23:43

    E depois da visita do Papa e da festa do futebol temos o enterro do Saramago

    Papa, Futebol e Saramago respectivamente.

    A pátria reencontra-se.

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  5. Desconhecida's avatar
    Centrista permalink
    21 Junho, 2010 10:48

    Portugal = colónia de Lisboa

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  6. Francisco Castelo Branco's avatar
    22 Junho, 2010 00:04

    Graça á Vuvuzela conseguimos não pensar nas desgraças do país.

    Depois do Mundial, Socrates vai andar a vuvuzelar por todo o lado

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