Netos do povo, filhos de cidadãos, nós somos os contribuintes*
Durante boa parte do século XX o povo viu as polícias políticas entrarem-lhe em casa. Depois, com a democracia, os cidadãos acreditaram que tal só podia acontecer em circunstâncias muito especiais. Os contribuintes sabem que isso e muito mais poderá acontecer desde que a ordem emane do fisco.
Perante o desaparecimento de alguém, as polícias consideram que não podem entrar na sua residência. Mas o fisco descobre que a pessoa desaparecida tinha uma pequena dívida fiscal. Aí não há quaisquer impedimentos: o fisco avança, penhora a casa e vende-a por um valor 200 vezes superior à dívida que motivara a penhora.
Em nome da defesa da privacidade, organismos públicos impedem as empresas de divulgar listas de devedores e as autarquias de instalar câmaras de videovigilância. Já para o fisco não existe problema algum: o Ministério das Finanças e a Segurança Social publicam listas de devedores e esperam assim combater a evasão fiscal.
O fisco tem sempre razão. Primeiro paga-se. Depois contesta-se. Pouco a pouco vão-se interiorizando tiques característicos dos autoritarismos: acredita-se que quem contesta é especialmente vigiado e pululam histórias sobre os truques de quem tudo pode. Esta semana foi a telenovela do site para a entrega das declarações do IVA que teria estado em baixo. Para manutenção, segundo os responsáveis das Finanças. Para cobrar multas, segundo aqueles que acham que a data para colocar o site em baixo não foi escolhida por acaso.
Em nome da necessidade de mais verbas para sustentar o Estado Social, a máquina fiscal tem sido dotada de cada vez de mais poderes para sacar dinheiro mesmo àqueles que já não vão beneficiar desse Estado dito social como é o caso dos jovens a recibos verdes no novo Código Contributivo.
Ao contrário do povo de outrora, os contribuintes da actualidade não se revoltam. Afinal os contribuintes são netos do povo e filhos dos cidadãos e acham que a lei os protege. A lei protegia-os de facto de muito mas não de um Estado que se transformou numa máquina ávida de dinheiro. E disposta a tudo para o conseguir. Essa passagem do Estado que se imaginou grande distribuidor e que quis ser família, artista, empresário e que de tanto querer ser o que não pode acabou a não fazer nada do que deve, transformou o Estado numa caricatura de si mesmo: no Estado grande arrecadador não há povo nem cidadãos. Apenas contribuintes.
O contribuinte é desprovido de ideologia e tem no número de identificação fiscal o principal elo entre si e o seu país.
O contribuinte não acredita na Justiça, confunde Negócios Estrangeiros com negócios no estrangeiro e acredita que a selecção de futebol cumpre o lugar outrora reservado às Forças Armadas.
O contribuinte tem duas tabelas para aferir os conceitos de bem e de mal, de verdade e de mentira, de liberdade e de coacção. Uma dessas tabelas é a fiscal. E na prática é a única que conta, pois a outra é vulgarmente designada pelas expressões mais características do léxico contribuinte: o “também pode ser” ou “eu não me meto nisso”.
O contribuinte não tem grande apreço pelas polícias que aliás cada vez mais funcionam apenas no sentido burocrático do termo – abrir processo; tomar nota da ocorrência; registar no sistema; fechar processo; tomar nota da ocorrência; registar no sistema e assim sucessivamente – para evitarem ser confrontadas com eventuais responsabilidades da acção.
O contribuinte sabe que pode mentir nos tribunais e aos médicos a quem pede baixas, reformas e atestados. E também aos professores e aos pais. Pode mentir sempre. Só não pode mentir ao fisco. A verdade e a mentira tornaram-se no resultado obtido no cálculo do IRS. Nos restantes assuntos são apenas uma questão de pontos de vista.
O contribuinte é absolutamente responsável pelas suas dívidas mas não pelos seus actos. Se matar, agredir, violar… será sempre alegado. Terá sempre uma desculpa: era pobre e abandonado, era rico e mimado, a família não era carinhosa, o pai já agredia a mãe, a família é disfuncional, etc… Para o fisco não há alegados, nem disfunções e muito menos a pobreza é desculpa. Para o fisco há crimes que, ao contrário dos outros crimes, ninguém contesta: quem rouba uma televisão é o alegado autor de um provável furto sem qualquer relevância social. Já quem arranja uma televisão e não passa factura é um criminoso que deve ser denunciado prontamente e punido.
O contribuinte é aquele que vive num tempo em que a mão dura, autoritária e muitas vezes prosélita do Estado lhe chega pelas Finanças. São os empresários que contestam o Governo e que acabam a ser objecto de especial interesse das inspecções de Finanças. São as multas incomportáveis, como aquelas que estão a ser cobradas em Espanha aos donos dos restaurantes que se recusam a acatar a actual Lei do Tabaco daquele país, lei essa que é de tal modo enlouquecida que para lá de condenar à falência inúmeros estabelecimentos já interfere no conteúdo das peças teatrais, algumas delas, como Hair, com características de época que obrigam a que se fume em cena. E proíbem mesmo que se fume em casa. Ou seja, aquilo que os cidadãos rejeitaram como censura – alterar argumentos teatrais – impõe agora as multas das inspecções como inevitabilidade. E quem não pagar a multa, não tem licença, se não tem licença o sistema não aceita a senha e sem senha não há password e volta tudo ao princípio.
O contribuinte, convém não esquecê-lo, esforça-se acima de tudo por não arranjar chatices. Contestar politicamente tinha prestígio. Era um frente-a-frente entre quem contestava e quem era contestado. Já ter impostos ou multas em falta é uma abominação. Ainda por cima uma abominação impessoal que confronta o faltoso com o sistema. Por isso o fisco não tem limites. Criámos um monstro que mais cedo ou mais tarde teremos de enfrentar – um fisco omnipotente – e gerámos uns seres profundamente perturbantes: os contribuintes.
*PÚBLICO (adaptado)
“Mas o fisco descobre que a pessoa desaparecida tinha uma pequena dívida fiscal. Aí não há quaisquer impedimentos: o fisco avança, penhora a casa e vende-a por um valor 200 vezes superior à dívida que motivara a penhora.”
Esta história está nitidamente mal contada.
Em princípio a casa foi colocada sob a alçada de um fiel depositário e foi a qualquer tipo de leilão.
Uma imigrante ucraniana (segundo a TV) licitou a casa por uma ninharia e sem a ver! Sem a ver? Quando é que alguém faz isto? E quem era o fiel depositário? Como é? O fiel depositário tem a obrigação de mostrar o bem aos interessados.
Não existia? Não mostrou?
E, já agora, a falecida foi intimada pelas finanças?
Ninguém sabe… só se sabe que a casa mudou de mãos por uma ninharia!
Não quero lançar suspeitas mas acho que este caso devia ser devidamente investigado.
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Tenho dito e repito: o socialismo conduz inevitavelmente a um novo fascismo.
Foi, portanto, a esse novo fascismo que já se chegou em Portugal, graças ao PS do licenciado num domingo de Agosto.
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OMO LAVA MAIS BRANCO.
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Curiosamente, há uma excepção à regra:
Trata-se do grupo de cidadãos que querem dar dinheiro ao Estado… e que este não cobra:
Só aqui à minha porta há uma mão-cheia deles – e até estou até a vê-los da janela… [AQUI]
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quem lhe disse que há cidadãos?
existem contribuintes
e a rataria que os devora
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“Não quero lançar suspeitas mas acho que este caso devia ser devidamente investigado.”
.
É pá, então investiga lá e depois vai para o RAIO que te parta.
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“Só aqui à minha porta há uma mão-cheia deles – e até estou até a vê-los da janela… ”
.
C. Medina Ribeiro mostra abundantemente (no seu blog) ter grande vocação para polícia de giro. Por que não se inscreve?
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“Em nome da necessidade de mais verbas para sustentar o Estado Social…”
Não estrague o post com incorrecções. Aqui não existe nem nunca existiu um Estado Social. Embora existam alguns pontos de contacto como o SNS, a “coisa” que aqui funciona/funcionou tem outro nome. Chame-lhe o que quiser, mas confundir isto com um Estado Social é falsear a questão.
No resto dou-lhe inteira razão.
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PARA LER E MEDITAR
Entrevista de um professor chinês de economia, sobre a Europa, o Prof. Kuing
Yaman – que viveu em França:
1. A sociedade europeia está em vias de se auto-destruir. O seu modelo
social é muito exigente em meios financeiros. Mas, ao mesmo tempo, os
europeus não querem trabalhar. Só três coisas lhes interessam:
lazer/entretenimento, ecologia e futebol na TV! Vivem, portanto, bem acima
dos seus meios. Porque é preciso pagar estes sonhos de miúdos…
2. Os seus industriais deslocalizam-se porque não estão disponíveis para
suportar o custo de trabalho na Europa, os seus impostos e taxas para
financiar a sua assistência generalizada.
3. Portanto endividam-se, vivem a crédito. Mas os seus filhos não poderão
pagar ‘a conta’.
4. Os europeus destruíram, assim, a sua qualidade de vida empobrecendo.
Votam orçamentos sempre deficitários. Estão asfixiados pela dívida e não
poderão honrá-la.
5. Mas, para além de se endividar, têm outro vício: os seus governos
‘sangram’ os contribuintes. A Europa detém o recorde mundial da pressão
fiscal. É um verdadeiro ‘inferno fiscal’ para aqueles que criam riqueza.
6. Não compreenderam que não se produz riqueza dividindo e partilhando mas
sim trabalhando. Porque quanto mais se reparte esta riqueza limitada menos
há para cada um. Aqueles que produzem e criam empregos são punidos por
impostos e taxas e aqueles que não trabalham são encorajados por ajudas. É
uma inversão de valores.
7. Portanto o seu sistema é perverso e vai implodir por esgotamento e
sufocação. A deslocalização da sua capacidade produtiva provoca o
abaixamento do seu nível de vida e o aumento do… da China!
8. Dentro de uma ou duas gerações ‘nós’ (os chineses) iremos ultrapassá-los.
Eles tornar-se-ão os nossos pobres. Dar-lhes-emos sacas de arroz…
9. Existe um outro cancro na Europa: existem funcionários a mais, um emprego
em cada cinco. Estes funcionários são sedentos de dinheiro público, são de
uma grande ineficácia, querem trabalhar o menos possível e apesar das
inúmeras vantagens e direitos sociais, estão muitas vezes em greve. Mas os
decisores acham que vale mais um funcionário ineficaz do que um
desempregado…
10. Vão (os europeus) direitos a um muro e a alta velocidade…
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Quanto é que a Helena declarou ao fisco?
Durante quanto tempo mais vai bramir a propósito do caso da senhora morta, mesmo sabendo que nesse caso o fisco agiu e se rege por normas exactamente iguais às que haveria se a Helena Matos tivesse uma dívida ao CAA ?
Quanto recebe por exibir ignorância?
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Muitíssimo bem escrito!
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E, pelos vistos, quem comentou antes de mim é fiscal das finanças…
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Por pontos:
1. Há um filme excelente que retrata essa situação …o fisco avança, penhora a casa e vende-a por um valor 200 vezes superior à dívida que motivara a penhora..
Este aki: http://www.imdb.com/title/tt0315983 (Jennifer Connelly, Ben Kingsley, Ron Eldard…)
2. Sites em baixo: em tese, o dono do site nunca o põe “em baixo”. O que o faz ‘crashar’ é um número gigantesco de acessos simultâneos (como tentar enfiar o Rossio na Betesga…) que é o equivalente ‘legal’ de um DDOS (Dedicated Denial of Service) que é ‘ilegal’ e pode ser feito por um a meia dúzia de gajús.
3. Do lado da receita, a única maneira de a aumentar é… essa mesma. Para isso aquele tipo que veio do BCP instalou mecanismos de averiguação e cobrança que são inflexíveis, quando nós aki esrávamos alegremente habituados ao laxismo ou a escapar pelos ‘loopholes’ da lei.
Experimentem não pagar ou tentar aldrabar o IRS nos EUA, são apanhados num instante e vão presos.
Relevando que os aumentos de impostos têm efeitos perversos na economia, e por vezes são de uma injustiça gritante.
4. Estou de acordo básicamente (e axo graça) com o que omeça por O contribuinte… descontada alguma liberdade poética.
🙂
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O Raio
Posted 18 Fevereiro, 2011 at 09:45 | Permalink
Já escrevi o mesmo em vários sitios. Fui logo insultado.
Onde é que estará o dinheiro da diferença entre a dívida e a venda?
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é fado não saber ‘ler’ a ironia: a diferença será remetida para o além, para a morada da falecida através de cheque
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Não sei o que é pior: se é que assina contratos destes
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=469269
se quem diz que o fisco actua “Em nome da necessidade de mais verbas para sustentar o Estado Social”.
Ou será que o TGV e as outras PPPs todas também são Estado Social? Já me esquecia dos direitos sociais que exigem que se pague BPN, blindados, submarinos,…
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Os beneficiários do alegado Estado Sucial tem sido invarialvelmente as classesltas, as grandes corporações, a banca, os escritórios de advogado de luxos por causa das «letras pequeninas» dos contratos, o alto funcionalismo, os gestores públicos, os partidos corruptos e uma vasta nomenklatura da classe politica de quase todos os partidos.
Toda esta corja tem sugado os contribuintes pobres e desprotegidos.
Acabar com esta mama e denunciar todos os contratos que o Estado outorgou danosamente com essa gente é imperativo, sob pena de Portugal tornar-se uma república confiscatória.
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“Os beneficiários do alegado Estado Sucial tem sido invarialvelmente as classesltas”
Pois têm. E isso justificava os altos impostos que pagavam. E tinham os mesmo hospitais que os pobres. Que beneficiavam também do estado social. E pagavam muito menos impostos do que os ricos. E atenuava-se a desigualdade.
Agora com estas políticas afastam-se as classes altas da educação e dos hospitais do estado. Que já se podem degradar à vontade, reduzir serviços, etc. Os impostos dos ricos continuam a ir para os mesmos de sempre, através destes contratos “simpáticos”. E os pobres ficam sem nada. Tudo pela “nova justiça social”, claro.
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Fantástico este desfilar arrogante de ignorância.
Compreende-se porque está o país assim- todos têm certezas absolutas sobre tudo, mesmo sobre aquilo de que nunca ouviram falar na vida.
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Caro Manuel Silva
Com a sua sabedoria vamos todos certamente aprender. Quer partilhá-la?
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Tina,
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Acredite de mim, o Professor Kuing estava a falar da exposição de Xangai e do seu impacte, juntamente com os Jogos Olímpicos, na construção de uma nova China. A palavra Europa nem é mencionada. Ademais, o senhor nem se chama Kuing. e foi tudo uma brincadeira de um bretão, que deu o nome semissonante a um dos bidcoitos da sua terra ao dito chinês. O melhor de tudo á que se acreditou.
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Dieclaimer: falo mandarim. E nunca ri tanto na minha vida.
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Francisco Colaço
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O Sociallismo comprou os Portugueses. Agora vende-os barato.
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Já partilhei em anterior post sobre o tema.
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O «Lucklucky» é um asno.
Em Portugal, onde é que há «socialismo»?
A haver «socialismo» só mesmo entre o alto patronato e o sindicatos dos bancos.
Se o Sócrates é «sociallista» eu sou a Madre Teresa!
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Descobrimos a verdadeira identidade do nosso Arlindo: esta semana é a Madre Teresa. Na semana passada entrava pelos lados do Intendente com o nome de Marlene Dietrich. Há um ano era a Zza Zza Gabor.
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(Não leves a mal. Não resisti. ;-))
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Manuel Silva,
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Tem absoluta certeza do que diz?
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Tenho.
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Então, «Compreende-se porque está o país assim- todos têm certezas absolutas sobre tudo, mesmo sobre aquilo de que nunca ouviram falar na vida.»
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(Pois, metem-se a jeitp!)
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E quem lhe disse que nada sei sobre o assunto? Lá está a confirmação do que eu disse-fala-se do que não se sabe.
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Pi-Erre escreveu:
“É pá, então investiga lá e depois vai para o RAIO que te parta.”
Ai, ai, este Pi-Erre trabalhará nas Finanças e terá um interesse no assunto? Será “amigo” da tal ucraniana que comprou o andar?
Tina sobre o Professor chinês:
O discurso deve ter sido inventado por um qualquer comentador pois não me parece discurso de chinês.
Acho aquilo um embuste. Mesmo com o video de youtube. O logo da CCTV não é bem assim.
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Que tristeza… E deixarmos de pagar? NÃO PAGAMOS!… NÃO PAGAMOS!… NÃO PAGAMOS! NÃO PAGAMOS!!!!!!!!!!
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