O dignómetro diz “escravatura”
Há pessoas que são exploradas, com salários abaixo do mínimo, bem abaixo do limiar no dignómetro da Raquel Varela e ao nível de “escravatura” segundo a metodologia de comparação internacional de Pedro Lains, co-adoptada pelo ISCTE e a revista Visão. Esta é uma dessas histórias.
O Manel trabalhou na França, numa indústria imunda de exploração do homem-pelo-homem, a fabricar peças para Citroëns, ao lado de cativos jugoslavos e magrebinos. Estes carros viriam a ser vendidos a ricos comerciantes de baguettes nas padarias de Lille a Aveiro. Quando amealhou o suficiente para construir uma casinha nas Beiras projectada por ilustre engenheiro técnico da zona, pôde dar azo ao seu gosto por azulejos azuis e vermelhos num belo contraste com o cinzento-cimento da cave em fachada triangular.
Ainda novo segundo o índice de desenvolvimento intelecto-laboral de “mão de obra qualificada mas não elegível para upgrade académico para efeitos de CGA“, Manel decidiu abrir uma serralharia mecânica, usando toda a experiência adquirida pelas competências curriculares do suor ú-lá-lá. Situava-se depois do café do Aristides, ali quem monta a rute que leva à rua principal.
O negócio corria-lhe bem, não faltavam pequenas reparações, como soldar cadeiras da escola do tempo fascista, agora inadequadas para crianças expostas aos perigos da globalização desenfreada das cadeias de fast food. Tão bem corria o negócio, que – a pedido da Dona Irene, mãe de Júlio – meteu o petiz de 14 anos na arte, como aprendiz a subsídio de alimentação, apesar da sua experiência laboral ser limitada a gamanço de auto-rádios. Com o tempo, Júlio demonstrou-se um bom torneiro, capaz de lancetar um rodízio de aço em eixo sextavado usando menos tempo que o necessário para abrir a porta de um Citroën Saxo com a corda mi de uma guitarra eléctrica.
Manel foi aumentando o salário a Júlio, para que este não fosse trabalhar para a serralharia do Tóni, maior e com mais um empregado; a tal que fazia gradeamentos para os projectos do engenheiro técnico. Estava tudo a correr às mil maravilhas, com esforço mas com trabalho disponível. Manel até manda vir um daqueles Mercedes brancos, com 10 anos, que se mandam vir da Alemanha, por aquele moço que os vai lá buscar se lhe dermos 500€ a mais, isto fora o gasóleo e as portagens francesas.
Um dia, Manel, sempre pronto a exigir melhores condições, leva uma pedrada de calçada arrancada pelos “troika fora daqui, queremos ser o Djibuti“. Fica incapacitado para trabalhar na serralharia mas pode sempre manter a casa aberta graças ao Júlio, que já domina as limalhas como a Raquel Varela domina o iPad.
Com a redução de produtividade pela passagem de dois a um na labuta, o dinheiro começa a escassear e tem que vender o Mercedes a metade do preço pago. O moço que o foi buscar à Alemanha arranja um bom comprador. Tudo bem, dá para manter a serralharia mais um mês ou dois.
Júlio foi identificado como jovem em risco que não frequenta o ensino obrigatório, isto apesar de daqui a uns anos poder obter equivalência ao 12º ano descrevendo num texto as diferenças entre o sistema métrico e o sistema imperial. Júlio é obrigado a regressar à escola. Manel fecha as portas.
Dois desempregados. Com a Parque Escolar, as cadeiras a serem soldadas são substituídas por robustas peças de design escandinavo, o que permite a melhoria significativa das aprendizagens dos alunos. A serralharia do Tóni não tem muito que fazer, agora que o engenheiro-técnico saltou para o palco televisivo da auto-promoção. Tóni acaba por fechar portas. Número de desempregados: cinco, um dos quais na escola obrigatória.
Moral da história: escondam os auto-rádios e os iPads que o Júlio anda por aí.
O “paraiso” marciano onde TODOS ganhavam o salario minimo….
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Que agradável. Nem são oprimidos pela escolha de marcas e ofendidos visualmente com embalagens coloridas dos neoliberais que nos escravizam com variedade, preços em competição e promoções.
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E nada de crianças a correrem com coisas doces na mão, como robots sem pensamento crítico, completamente dominadas pelo lobby neoliberal do açúcar.
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Este foi um dia de promoçoes tipo Pingo doce em Marte
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O filme foi feito DEPOIS de o stock ja’ estar quase esgotado……….
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Ou seja, o elogio da dignidade enquanto desejada geometria variável?!…
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O YHWH, que é tão bom a tirar conclusões sobre o que não está escrito, hoje está com dificuldades.
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A Ermelinda que é de etnia cigana faz o mesmo que o Herói Martim e vende depois na feira do relogio “nao tem é face book nem anda no st julians mas esta a tratar disso para ir ao pros e contras e ter um post do VC no blasfemias.
Podemos estar tranquilos. Portugal tem futuro
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Mande-me o contacto da Ermelinda.
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A Ermelinda como boa cigana não tem morada permanente. Pode encontra-la na feira do relógio ou de carcavelos. Tem é de lhe comprar uns óculos ray ban que ele também manda vir do mesmo distribuidor das t shirts.
Tenha cuidado com o Jacinto – o marido que ele nao gosta de estranhos
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VC e os demónios da escravatura que o atormentam . Todos nos sabemos que o liberalismo e a escravatura sao unha com carne. A propósito convém ler
May 05, 2011
King’s College London,
Liberalism: Slavery, imperialism and exploitation
A panel discussion with Domenico Losurdo, Robin Blackburn and Richard Seymour
A panel discussion and book launch for Liberalism: A Counter-History with Domenico Losurdo, Robin Blackburn, Richard Seymour and chair Stathis Kouvelakis.
Hosted by the European Studies Department in association with Verso Books
In this definitive historical investigation of the formation of liberalism from the eighteenth to the twentieth centuries, Domenico Losurdo overturns complacent and self-congratulatory accounts by showing that, from its very origins, liberalism and its main thinkers—Locke, Burke, Tocqueville, Constant, Bentham, Sieyès and others—have been bound up with the defense of the thoroughly illiberal policies of slavery, colonialism, genocide, racism and elitism. Losurdo probes the inner contradictions of liberalism, also focusing on minority currents that moved to more radical positions, and provides an authoritative account of the relationship between the domestic and colonial spheres in the constitution of a liberal order.
The triumph of the liberal ideal of the self-government of civil society—waving the flag of freedom, fighting against despotism—at the same time feeds the development of the slave trade, digging an insurmountable and unprecedented gap between the different races.”—Domenico Losurdo
Domenico Losurdo is Professor of Philosophy at the University of Urbino, Italy and the author of many books, most recently Liberalism: A Counter-History.
Robin Blackburn teaches at the New School in New York and the University of Essex in the UK. He is the author of many books, including The Making of New World Slavery, The Overthrow of Colonial Slavery,and The American Crucible.
Richard Seymour is the author of The Liberal Defence of Murder and The Meaning of David Cameron. He runs Lenin’s Tomb.
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Esse texto é losurdo.
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VC. A corrente de transmissao marciana estende-se desde o CC(CP), onde compilam os textos a “publicar”, ate’ ao Blasfemias……
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Eles estao-se nas tintas para o absurdo. O que interessa e’ passar a “mensagem”…..
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Olha, o Marx não gostava de judeus. Daí o comunismo ser parecido com o nazismo. Ou daí, que se calhar há outras explicações…hmmmm
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Qual o problema que o Duarte tem com o liberalismo? Se não serve, DENTRO do liberalismo pode fundar uma comuna ou outra coisa qualquer. Na realidade dentro do liberalismo só se sujeita a ele quem quer …
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Você tem jeitinho. Ainda o hei-de ver a escrever um argumento para o João Canijo.
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“Júlio demonstrou-se um bom torneiro, capaz de lancetar um rodízio de aço em eixo sextavado usando menos tempo que o necessário para abrir a porta de um Citroën Saxo com a corda mi de uma guitarra eléctrica.”
– As coisas que o Vítor sabe; eu, se não fosse o comando, já nem com chave sabia abrir a porta do carro.
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De resto, é uma bonita e terna história de um “empresário” mecânico falhado, que não se apercebeu que hoje já não é possível manter uma oficina com martelos e alicates sujos de óleo por causa das ultraliberais multinacionais, da tecnologia e das exigências dos consumidores.
Vítor, se conhece o Manel diga-lhe que compre um café, empreendimento mais vulgarmente utilizado por grande parte daquela geração de ex-emigrantes, sempre fica em casa com os pastéis de bacalhau, se não os vender.
Ao Júlio, deixe-o ir para a escola, coitadinho. Senão, ainda lhe acontece o mesmo que ao Manel. 😉
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O paraiso onde TODOS tinham o minimo para uma “vida decente”. Segundo as teorias marcianas, claro……
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Ao ritmo que o desemprego sobe e a economia cai, os velhos tempos da urss, vão-nos parecer prósperos.
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Como se pode escrever uma barbaridade dessas?!
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Do Julio a ultima que ouvi é que tinha ido à televisão e penetrado numa casa dizem cheia de segredos ou num programa que mete pós uma coisa a modos que ai-podes podes mas e que ainda tentou mandar um adeus mesmo em cima do corte da emissão porque tinham ultrapassado o numero de créditos e que os patrocionadores não tinham conseguido reverem-se em tal salgalhada que já não percebiam se eram de cima ou de baixo é assim a vida agora dizem-nos para poupar trabalhar pagar e tudo com grande sacrificio e denodo porque os mercados assim o querem e isso não entendo porque vou todos os dias ali ao de S.Domingos e peixe quando se vê é de segunda e a fruta nota-se que passou por muitas mãos a coitadinha e é tudo tão caro tão caro que até parece que estou a ser roubado.
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“,”
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Os mercados são os outros. És tu, também.
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Vou ficar marcado???? Isto é tão traumatizante.
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Hmmm… é ou não escravatura, estagiários a fazerem trabalho de professor em certas universidades e institutos?
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É perguntar à Raquel Varela, que ela é que é desse meio.
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O VC é mais tshirts , bate chapas e bazar chines
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E o Duarte, é mais conhecimento estratégico de investigação académica subsidiada?
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Prefiro La Fontaine, que estou com sede.
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Mais vale isto que o desmprego (dizem os liberais)
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/patrao-abusaria-de-filha-de-funcionario-sob-promessa-de-manter-posto-de-trabalho-do-pai-1595163
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Esse patrão, mutualizou a miúda. Soa a socialista.
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Isto é selvajaria pura e dura e é de mau gosto brincar com o assunto. Por acaso, talvez tenha faltado mais iniciativa privada e menos ação do Estado, de modo a que uma sachola bem acente na cabeça do abusador, tornasse inútil a ação da polícia e do tribunal.
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Se o Manel fosse esperto, tinha contratado aí uns seis a 100,00 € por mês e arrebentado com a concorrência.
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É melhor que estar desempregado
Patrão abusaria de filha de funcionário sob promessa de manter posto de trabalho do pai
MARIANA OLIVEIRA 22/05/2013 – 13:33
Abusos a menina de 13 anos ter-se-ão prolongado por cinco anos. Juiz determinou prisão preventiva do suspeito.
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Isso, Duarte, é fantástico. É bonito ver que a sua esquerda regozija-se com abusos em prol da propaganda anti-liberal. Parabéns.
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Já viu novas sobre o grande criador e investidor Martim, Vítor?
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Mande o link completo, Fincapé. Sei que é do Facebook, mas assim é difícil.
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Só me pagam para mandar isto. 🙂
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Foi o que arranjei a partir de um comentário mais abaixo. Um dos comentários na página do link tem mais informação. Como para mim passou tudo a fazer mais sentido, coloquei o link. Tinha gostado mais da “utopia” do grande criador e investidor. Pode ser que este link seja apenas de invejosos e maldosos esquerdistas. 😉
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A ironia vc só é compreendida por pessoas com um minimo de inteligência.
Deixe lá!
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Dispenso essa inteligência.
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Que gozo que deu ver a falência da indústria do ocidente :http://bandalargablogue.blogs.sapo.pt/383452.html
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A direita e seus correlogionários, tendo em conta os seus ideais, poderia ser muito feliz no Bangladesh, onde o salário mínimo ronda os 29 euros/mês.
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Vá para lá, vm. Lutar pela igualdade e essas coisas complexas das humanidades. Leve internet para continuarmos a falar.
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Obrigado pela sugestão. Mas neste momento estou muito mais solidário com a causa os-gajos-que-ganham-485 €-estão-a-arruinar-o-País.
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Que injustiça! Troca por uma luta por gente que segundo o seu critério está 16x melhor? Já não há idealistas sem internet.
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Vitor se eu fosse idealista tinha-lhe dito que o 16x melhor é pior que os 10 melhores da Europa.
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E que os 10 piores da Europa?
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Sim, é sempre possível ver o copo meio vazio.
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Para os liberais 29 euros é muito. Alimentação e dormida (pouca) chega.
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“Dispenso essa inteligência”
Já tínhamos reparado. Nao se canse que depois dói-lhe a cabeça.
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Aos bocadinhos vão chegando aonde querem:
1.º Fomentar o desemprego.
2.º Fomentar ainda mais desemprego.
3.º Mais desemprego ainda.
4.º Finalmente, incutir a doutrina que perante o descalabro do n.º de desempregados, é uma sorte tremenda trabalhar pelo salário mínimo.
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O Manel trabalhou na França (…)
Que fabuloso texto, repleto de arte, sentido de humor e tristeza …
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Este texto é uma verdadeira obra prima. Junta realismo, inteligência e bom senso. Se ainda fizesse parte das minhas actividades profissionais (formador na área do empreendedorismo), utilizá-lo-ía ( informando o autor, claro !) para fomentar a discussão sobre uma série de temáticas que “giram” à volta desse tema. Obrigado V.C..
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