Brinde ao fracasso
Sobre o mais relevante de 2013, várias pessoas apontarão o facto x ou y, a morte de sicrano ou beltrano, a estatística preferida para o preconceito que pretendem validar ou uma série de produtos de entretenimento. Para mim, nada disso é particularmente relevante em relação à subserviência que o português demonstrou pelo fracasso.
Efectivamente, em 2013, tudo o que ficou de capas de jornais, programas de televisão e intervenções de “especialistas” foi o sabor ácido de um povo que anseia pelo seu próprio fracasso. Isto tem duas vantagens: a primeira é que, em caso de “fracasso do fracasso”, não é necessário considerá-lo um “sucesso”; em segundo, permite desvalorizar qualquer esforço efectuado perante a perspectiva de promessa antecipada de um sucesso que todos sabem não passar de um fracasso.
É bastante cómico, se visto de fora.
Brindemos então ao nosso fracasso, ao nosso eclipse civilizacional e à nossa regressão à idade média. Brindemos à nossa extinção, à destruição do país e ao fim derradeiro de qualquer noção vaga de conforto, substituindo-o pelo fétido esgoto da desumanização pela vil austeridade. Só não mexam na pensão do Bagão Félix.

Mexam em tudo, tudo, absolutamente tudo… nunca nas pensões… ainda bem que vou sair do manicómio! E claro Bom Ano Novo… a fingir que não há problemas 🙂
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Desculpe lá qualquer coisinha, mas não brindo fracassos, mesmo camuflados de ironia.
Brinde lá c’os seus.
Brindo sim com os que querem sair da merd@ e fazem por isso.
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Realmente o fracasso é difícil de digerir… Deve ser culpa do “povo”…
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A mistura de fracasso com pensões tinha de aparecer. Os recalcamentos são difíceis de esconder. Faltou a coragem de associar directamente o ‘fracasso’ ao TC para incensar a meritória acção de um Governo que rema contra uma imensa maré de ‘fracassados’.
Associar esta narrativa à rabula do ‘fim do protectorado’ seria um bom entretenimento para, no fim de ano, matar o tédio enquanto se joga, p. exº., uma partida de monopólio (sem ‘fracassar’ nas apostas).
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Há um ditado qualquer que reza uma coisa como “de fracasso em fracasso até ao fracasso final” ou algo de parecido. Dá tudo igual ao litro. O Benfica no ano que agora finda ia de vitória em vitória até ao descalabro total. Talvez que passos/portas acerte o andar com a carruagem.
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Para mim o acontecimento do ano divide-se em duas partes que se complementam.
A primeira foi o Aeroporto da Portela não atingir a saturação que já estava prevista há cinquenta anos, exactamente a altura em que Medina Carreira começou a prever que Portugal iria desaparecer mostrando maravilhosos gráficos.
Estes também podem ser obtidos junto da NAL.
Presumo que em 2014, 2020 e um pouco mais além podemos estar a comemorar este 2 em 1.
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Peço desculpa, afinal o Novo Aeroporto de Lisboa sempre vai ser construído e eu não sabia.
Notícia aqui:
http://expresso.sapo.pt/novo-aeroporto-de-lisboa-vai-avancar=f609185
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EHEHEH! aconselho os péssimistas que aqui se vêm aliviar a clicar na noticia sobre o novo aeroporto. E depois cliquem sobre o OGE; gostei principalmente de duas coisas: o secretário de estado do orçamento garantir que o defice de 2010 era de 7,3% e o ministro da justiça garantir que os cortes salariais tinham uma “forte consistência legal”.
Mas isto era no tempo em que o PS não enviava o OE para o TC por causa dos cortes salariais, e o Expresso aceitava como garantidas as “garantias” que os membros do governo socialista garantiam. Ainda hoje continuam a garantir tudo e um par de botas, e o Expresso continua a noticiar que se os do PS garantem, então está garantido!
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Para fugir a lugares-comuns em relação aos factos mais significativos do ano 2013, vi-me na obrigação de apreciar acontecimentos mais próximos de mim do que o governo alemão de Portugal.
Assim, considero um dos acontecimentos do ano a contratação do extremo-direito do Blasfémias, Vítor Cunha. Era um lugar que estava disponível e o Constantino Rodrigo, apesar de brasileiro, provavelmente devido a lesão, defendeu mal o lugar, cedendo com facilidade aos contra-ataques das equipas adversárias.
Outro acontecimento significativo: apesar das prestações, Vítor Cunha não conseguiu chegar à seleção nacional, vulgo governo, nem na última e recente convocatória.
Mas é de louvar o esforço. Mérito é mérito, havendo de um dia ser reconhecido.
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Mais prosaicamente, atendendo à abordagem do Vítor, e vendo-o humildemente aproximar-se do pensamento de Bertold Brecht, aqui lhe dedico, à laia de Bom Ano de 2014, um pedacinho do poema “A solução”:
“O povo perdeu a confiança do governo
E só à custa de esforços redobrados
Poderá recuperá-la. Mas não seria
Mais simples para o governo
Dissolver o povo
E eleger outro?”
Bertold Brecht
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Como dizia o meu amigo Jardel, o Vítor é um jogador de equipa, não de selecção.
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Assenta-lhe bem o sentido de humor, Vítor. Parabéns.
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“Jogador de equipa” numa frase dita por um liberal, é obra 🙂
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O Brecht tinha dias. Por isso prefiro este Brecht:
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Ou esta versão, mais doméstica, digamos assim…
http://www.youtube.com/watch?v=X4IzqG7oP18
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Boas propostas, Alexandre. Mas parece-me que um Brecht não substitui o outro, mesmo juntando Kurt Weill, os Doors ou Lotte Lenya. Deve ser a isto que se chama coexistência pacífica. 🙂
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“Efectivamente, em 2013, tudo o que ficou de capas de jornais, programas de televisão e intervenções de “especialistas””
Para mim o jornalismo limita-se a ser a discussão sobre o que fazer com o dinheiro que se tirou aos outros e ao que se pediu emprestado…
Quantas empresas e empregos não nasceram por causa deste jornalismo que dá esperança às pessoas de conseguirem prosperar sem nada criarem?
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Curiosamente …
“2013 é um ano de ganhos nas principais bolsas mundiais. A Venezuela é o grande destaque, mais do que triplicando de valor.”
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Quanto ao contributo da esmerada iniciativa privada que manieta o país remeto para o folhetim “PQP vs. Ricardo Salgado: o fim de uma bela amizade”.
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Podias resumir toda a tua prosápia na frase do ano – o meu falhanço é o falhanço país – Passos XXVII ( em alusão à idade a que este belo figurão se dignou a comprar um despertador e começar a trabalhar).
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