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Brinde ao fracasso

30 Dezembro, 2013
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Sobre o mais relevante de 2013, várias pessoas apontarão o facto x ou y, a morte de sicrano ou beltrano, a estatística preferida para o preconceito que pretendem validar ou uma série de produtos de entretenimento. Para mim, nada disso é particularmente relevante em relação à subserviência que o português demonstrou pelo fracasso.

Efectivamente, em 2013, tudo o que ficou de capas de jornais, programas de televisão e intervenções de “especialistas” foi o sabor ácido de um povo que anseia pelo seu próprio fracasso. Isto tem duas vantagens: a primeira é que, em caso de “fracasso do fracasso”, não é necessário considerá-lo um “sucesso”; em segundo, permite desvalorizar qualquer esforço efectuado perante a perspectiva de promessa antecipada de um sucesso que todos sabem não passar de um fracasso.

É bastante cómico, se visto de fora.

Brindemos então ao nosso fracasso, ao nosso eclipse civilizacional e à nossa regressão à idade média. Brindemos à nossa extinção, à destruição do país e ao fim derradeiro de qualquer noção vaga de conforto, substituindo-o pelo fétido esgoto da desumanização pela vil austeridade. Só não mexam na pensão do Bagão Félix.

19 comentários leave one →
  1. Tiago's avatar
    Tiago permalink
    30 Dezembro, 2013 10:54

    Mexam em tudo, tudo, absolutamente tudo… nunca nas pensões… ainda bem que vou sair do manicómio! E claro Bom Ano Novo… a fingir que não há problemas 🙂

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  2. Piscoiso's avatar
    30 Dezembro, 2013 11:02

    Desculpe lá qualquer coisinha, mas não brindo fracassos, mesmo camuflados de ironia.
    Brinde lá c’os seus.
    Brindo sim com os que querem sair da merd@ e fazem por isso.

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  3. BorNot2B's avatar
    30 Dezembro, 2013 12:24

    Realmente o fracasso é difícil de digerir… Deve ser culpa do “povo”…

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  4. JDGF's avatar
    JDGF permalink
    30 Dezembro, 2013 12:51

    A mistura de fracasso com pensões tinha de aparecer. Os recalcamentos são difíceis de esconder. Faltou a coragem de associar directamente o ‘fracasso’ ao TC para incensar a meritória acção de um Governo que rema contra uma imensa maré de ‘fracassados’.
    Associar esta narrativa à rabula do ‘fim do protectorado’ seria um bom entretenimento para, no fim de ano, matar o tédio enquanto se joga, p. exº., uma partida de monopólio (sem ‘fracassar’ nas apostas).

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  5. @!@'s avatar
    @!@ permalink
    30 Dezembro, 2013 13:17

    Há um ditado qualquer que reza uma coisa como “de fracasso em fracasso até ao fracasso final” ou algo de parecido. Dá tudo igual ao litro. O Benfica no ano que agora finda ia de vitória em vitória até ao descalabro total. Talvez que passos/portas acerte o andar com a carruagem.

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  6. fado alexandrino's avatar
    30 Dezembro, 2013 13:20

    Para mim o acontecimento do ano divide-se em duas partes que se complementam.
    A primeira foi o Aeroporto da Portela não atingir a saturação que já estava prevista há cinquenta anos, exactamente a altura em que Medina Carreira começou a prever que Portugal iria desaparecer mostrando maravilhosos gráficos.
    Estes também podem ser obtidos junto da NAL.
    Presumo que em 2014, 2020 e um pouco mais além podemos estar a comemorar este 2 em 1.

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    • fado alexandrino's avatar
      30 Dezembro, 2013 13:36

      Peço desculpa, afinal o Novo Aeroporto de Lisboa sempre vai ser construído e eu não sabia.
      Notícia aqui:

      http://expresso.sapo.pt/novo-aeroporto-de-lisboa-vai-avancar=f609185

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      • Alexandre Carvalho da Silveira's avatar
        Alexandre Carvalho da Silveira permalink
        30 Dezembro, 2013 15:21

        EHEHEH! aconselho os péssimistas que aqui se vêm aliviar a clicar na noticia sobre o novo aeroporto. E depois cliquem sobre o OGE; gostei principalmente de duas coisas: o secretário de estado do orçamento garantir que o defice de 2010 era de 7,3% e o ministro da justiça garantir que os cortes salariais tinham uma “forte consistência legal”.
        Mas isto era no tempo em que o PS não enviava o OE para o TC por causa dos cortes salariais, e o Expresso aceitava como garantidas as “garantias” que os membros do governo socialista garantiam. Ainda hoje continuam a garantir tudo e um par de botas, e o Expresso continua a noticiar que se os do PS garantem, então está garantido!

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  7. Fincapé's avatar
    Fincapé permalink
    30 Dezembro, 2013 14:08

    Para fugir a lugares-comuns em relação aos factos mais significativos do ano 2013, vi-me na obrigação de apreciar acontecimentos mais próximos de mim do que o governo alemão de Portugal.
    Assim, considero um dos acontecimentos do ano a contratação do extremo-direito do Blasfémias, Vítor Cunha. Era um lugar que estava disponível e o Constantino Rodrigo, apesar de brasileiro, provavelmente devido a lesão, defendeu mal o lugar, cedendo com facilidade aos contra-ataques das equipas adversárias.
    Outro acontecimento significativo: apesar das prestações, Vítor Cunha não conseguiu chegar à seleção nacional, vulgo governo, nem na última e recente convocatória.
    Mas é de louvar o esforço. Mérito é mérito, havendo de um dia ser reconhecido.
    ————-
    Mais prosaicamente, atendendo à abordagem do Vítor, e vendo-o humildemente aproximar-se do pensamento de Bertold Brecht, aqui lhe dedico, à laia de Bom Ano de 2014, um pedacinho do poema “A solução”:

    “O povo perdeu a confiança do governo
    E só à custa de esforços redobrados
    Poderá recuperá-la. Mas não seria
    Mais simples para o governo
    Dissolver o povo
    E eleger outro?”
    Bertold Brecht

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    • vitorcunha's avatar
      vitorcunha permalink*
      30 Dezembro, 2013 14:40

      Como dizia o meu amigo Jardel, o Vítor é um jogador de equipa, não de selecção.

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      • Fincapé's avatar
        Fincapé permalink
        30 Dezembro, 2013 15:13

        Assenta-lhe bem o sentido de humor, Vítor. Parabéns.

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      • Portela menos um's avatar
        Portela menos um permalink
        31 Dezembro, 2013 02:25

        “Jogador de equipa” numa frase dita por um liberal, é obra 🙂

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    • Alexandre Carvalho da Silveira's avatar
      Alexandre Carvalho da Silveira permalink
      30 Dezembro, 2013 15:25

      O Brecht tinha dias. Por isso prefiro este Brecht:

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      • Alexandre Carvalho da Silveira's avatar
        Alexandre Carvalho da Silveira permalink
        30 Dezembro, 2013 15:33

        Ou esta versão, mais doméstica, digamos assim…

        http://www.youtube.com/watch?v=X4IzqG7oP18

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      • Fincapé's avatar
        Fincapé permalink
        30 Dezembro, 2013 18:06

        Boas propostas, Alexandre. Mas parece-me que um Brecht não substitui o outro, mesmo juntando Kurt Weill, os Doors ou Lotte Lenya. Deve ser a isto que se chama coexistência pacífica. 🙂

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  8. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    30 Dezembro, 2013 15:22

    “Efectivamente, em 2013, tudo o que ficou de capas de jornais, programas de televisão e intervenções de “especialistas””

    Para mim o jornalismo limita-se a ser a discussão sobre o que fazer com o dinheiro que se tirou aos outros e ao que se pediu emprestado…

    Quantas empresas e empregos não nasceram por causa deste jornalismo que dá esperança às pessoas de conseguirem prosperar sem nada criarem?

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  9. PPM's avatar
    PPM permalink
    31 Dezembro, 2013 17:58

    Curiosamente …

    “2013 é um ano de ganhos nas principais bolsas mundiais. A Venezuela é o grande destaque, mais do que triplicando de valor.”

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  10. PPM's avatar
    PPM permalink
    31 Dezembro, 2013 18:00

    Quanto ao contributo da esmerada iniciativa privada que manieta o país remeto para o folhetim “PQP vs. Ricardo Salgado: o fim de uma bela amizade”.

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  11. jmvale's avatar
    jmvale permalink
    31 Dezembro, 2013 19:16

    Podias resumir toda a tua prosápia na frase do ano – o meu falhanço é o falhanço país – Passos XXVII ( em alusão à idade a que este belo figurão se dignou a comprar um despertador e começar a trabalhar).

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