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Os pobrólogos

17 Outubro, 2014

Henrique Pinto, ex-presidente da CAIS e actualmente presidente da associação «IMPOSSIBLE – Passionate Happenings» resolveu propror a criminalização da pobreza. As redacções rejubilaram. Há lá coisa mais bonita que criminalizar a pobreza? É que com a criminalização da pobreza a pobreza acabava logo. Está-se mesmo a  ver!

A TVI24 deu grande destaque à proposta de Henrique Pinto e por via disso chegámos à Tânia (nome fictício).
Segundo a TVI a Tânia carrega o peso de 56 anos de uma vida de pobreza. A maior parte dela passada na rua, na prostituição, «um caminho», como lhe chama, que trouxe consigo o HIV. Vive, ou sobrevive, com o apoio social de uma instituição, com 178 euros do rendimento mínimo e um subsídio de 180 euros da Santa Casa da Misericórdia. Gosta muito do quarto que alugou e para o qual paga de renda 290 euros. Feitas as contas, tem 72 euros por mês e pergunta: «Como é possível viver assim? A resposta, difícil, que obriga a refletir, fica para depois »

Portanto Tânia (nome fictício) recebe em apoios sociais 358 euros. Além do tratamento do HIV que aqui não é referido mas que acrescenta muitos zeros a este valor. Mas na concepção de Henrique Pinto o estado devia dar mais. Não se percebe porquê. Devia, pronto.

Esta sexta-feira, vidas como a de Tânia dão o mote ao Movimento Pobreza Ilegal, que pretende responsabilizar os políticos pelas decisões que tornam os pobres mais pobres e vigiar as instituições que não os estão a ajudar como deviam. «O Estado vai gastando no que não é urgente, mas há uma total indiferença para quem está mal. Se há dinheiro para tapar buracos dos bancos, os Governos têm de dar à população os mínimos de qualidade de vida e, se não dão, devem ser responsabilizados por isso», explicou à TVI24 Henrique Pinto, ex-presidente da CAIS e agora responsável pela associação «IMPOSSIBLE – Passionate Happenings», que organiza esta sexta-feira uma conferência sobre «Pobreza e Desigualdade».

E quem dá o dinheiro aos Governos? Porque terão os contribuintes portugueses de dar ainda mais dinheiro à Tânia? E já agora seria à Tânia ou às associações?

A conferência chegou a ter como convidados vários nomes ligados à sociedade e à política, mas, segundo fonte da organização, houve bastante «resistência» ao tema da criminalização da pobreza. «Os partidos à direita estão naturalmente mais fechados, mas arrepia-me que os partidos à esquerda, defensores da causa, fiquem estranhos quando ouvem falar da pobreza criminalizada. Enquanto ela for legal, seremos tolerantes e indiferentes», lamentou Henrique Pinto.

Aqui o Henrique já está arrepiado. Para desarrepiar gostava de ver nas cadeias sabe-se lá quem que fosse acusado por não acabar com a pobreza. A concepção política do Henrique sobre a  direita e a esquerda são comoventes. Só não percebo que causa defende a esquerda no pensar do Henrique.

Crianças são as mais afetadas pelo aumento da pobreza. Para «obrigar o Parlamento a ter que debater esta ideia», a associação vai pedir uma reunião com todos os partidos e lançar uma petição online. Enquanto isso, Tânia continuará a ir à psicóloga da instituição, onde tenta «aceitar o passado e reduzir o tabaco». É esse o seu vício. Chegou a ir à consulta anti-tabágica, mas não conseguiu seguir em frente. «Deixar de fumar não era bom para mim. Faço cigarros para conseguir aguentar», desabafa.

Portanto a Tânia fuma. Terão os contribuintes de pagar o tabaco da Tânia? Parece-me perfeitamente natural que a Tânia fume. Mas já me custa a aceitar como tão natural que se tente culpabiizar o contribuinte por não pagar mais tabaco à Tânia.

Tânia tem um diagnóstico de osteopenia, precursora da osteoporose. É a mesma instituição que a ajuda com os medicamentos. A família não pode, devido a problemas financeiros e de saúde. Tânia quer, mas não pode trabalhar. Tentou receber uma pensão de invalidez, que não lhe foi atribuída. Com o 8º ano, faz umas formações «que aparecem» e ganha «alguns trocos» que dão para viver: «Não digo bem, mas melhor».

Quem paga/dá os medicamentos à instituição? Já agora o Henrique também quer criminalizar a família da Tânia? É que problemas financeiros e de saúde podem ser invocados pela maioria esmagadora das famílias. Aquelas que tomam conta das suas ‘Tânias’ e as outras. E aqui chegamos a outro ponto da questão: a Tânia quererá trabalhar mas não pode. Não se sabe porquê mas não pode. Mas note-se recebe dinheiro por formações. Já agora as formações são pagas por quem? E são formações em quê? Assim contas por alto a Tânia recebe apoios sociais 358 euros; tratamento do HIV; tratamento da osteopenia; consulta de psicologia e dinheiro por formações. Para um Estado que dá pouco…

O apoio que recebe de uma instituição social não é suficiente para tirar Tânia da pobreza. «Há pessoas que estão 10 anos numa organização e entram pobres e saem pobres. Queremos que as organizações ajudem mais. Há recursos, há dinheiro, que não estão a servir para apoiar as pessoas», denunciou Henrique Pinto.

Mas tirar pessoas da pobreza é dar-lhes dinheiro para que não sejam pobres? Ainda um dia se fará o balanço do papel que ideias como as propaladas por este senhor tiveram na manutenção na pobreza das pessoas que pretenderam ajudar. De tudo isto só me resta uma certeza: em cima da sua desgraçada vida as ‘tânias’ ainda têm de justificar o mundo dos pobrólogos, uma gente que vive de lamentar a pobreza e culpar os outros.

27 comentários leave one →
  1. Júlia's avatar
    Júlia permalink
    17 Outubro, 2014 10:28

    «em cima da sua desgraçada vida as ‘tânias’ ainda têm de justificar o mundo dos pobrólogos, uma gente que vive de lamentar a pobreza e culpar os outros.»

    Está tudo dito.

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  2. Castrol's avatar
    Castrol permalink
    17 Outubro, 2014 10:36

    Bem vistas as coisas, as Tânias deste País, são o ganha pão de Henrique Pinto, especializado em “associações de caridade”!

    O contribuinte, além de pagar os custos com as Tânias, ainda sustenta os Henriques Pintos que vivem à custa delas.

    O Estado Social no seu melhor…

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    • anónimo's avatar
      anónimo permalink
      17 Outubro, 2014 12:27

      Exactamente.
      Aliás, basta ver o número de associações-fundações sustentadas pelo OGE para tratar de criancinhas que ficariam mais baratas ao contribuinte caso fossem tratadas em serviços públicos. E basta aferir a relação de ex-mulher, filha, sobrinha, etc. das Presidentas com alguém que usa ou tenha usado avental com muitos enfeites.
      Noutros tempos, os irmãos que faziam filantropia – e gente com muita dignidade houve nessa função – chegavam-se à frente com o respectivo património.
      Agora, os modernos irmãos (e familiares) chegam-se à frente com o património dos contribuintes e, já agora, vivem do cargo filantrópico que exercem.
      Cambadinha de parasitas descarados….

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    • MG's avatar
      17 Outubro, 2014 23:49

      O negócio da caridade é dos melhores negócios que existem. Isso e a invenção do self service e o negócio da reciclagem.

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      • MG's avatar
        17 Outubro, 2014 23:56

        ah e claro o negócio do “faça voce mesmo” ., que é uma versão IKEA self service. Pague o mesmo que por uma mobilia já montada , e tenha o “prazer” de a montar voce mesmo …

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  3. zazie's avatar
    17 Outubro, 2014 10:43

    Cambada. Há uns anos queriam os pobres ainda mais pobres para terem revoltados para a Revolução.

    Agora usam os pobres para sacarem impostos e viverem muito bem à conta da “intenção”.

    Esta é a maltosa que fala sempre em tom acintoso da famigerada “caridadezinha”.

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  4. zazie's avatar
    17 Outubro, 2014 10:49

    A “caridadezinha” que o Barata Moura cantava a gozar com as donas da Linha e da canasta e que agora é o retrato destes pascácios das ONGs.

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    • Reclamemos Prostitutas's avatar
      Reclamemos Prostitutas permalink
      17 Outubro, 2014 11:48

      E que bem me lembro desse senhor quando frequentava uma das melhores casas da Linha. E abichava.

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      • zazie's avatar
        17 Outubro, 2014 12:13

        Mentira. Não acredito. Não é necessário vir com calúnias.

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  5. naco's avatar
    naco permalink
    17 Outubro, 2014 11:17

    Se acabarem com os pobres é o desemprego que aumenta . Os pobres são a razão da existência para muita gente

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  6. Aladdin Sane's avatar
    Aladdin Sane permalink
    17 Outubro, 2014 12:10

    Muitos anos depois veio Vitor Cunha desmontar (melhor, desconstruir, que soa mais arty) a proposta do candidato Manuel João, “uma atrás de cada pinheiro”.

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  7. Procópio's avatar
    Procópio permalink
    17 Outubro, 2014 12:23

    À atenção de Henrique Pinto.
    É possível eliminar a pobreza e a desigualdade?
    http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4186064
    Analogias a partir do lixo
    http://devirnomadeviagem.blogspot.pt/2012/11/a-boca-do-lixo-em-napoles-secondigliano.html

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  8. manuel's avatar
    manuel permalink
    17 Outubro, 2014 12:35

    As associações ,ONG,e a chamada economia social além de serem causas respeitáveis também incorporam muita chulice. Nada que a gente não saiba e não detete pelo cheiro nauseabundo.

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  9. fado alexandrino's avatar
    17 Outubro, 2014 14:11

    Esta “Tânia” faz lembrar as inúmeras personagens com que a Clara Ferreira Alves tropeça a cada passo que dá no estrangeiro e mesmo em Portugal onde passa de vez em quando uns dias.
    Outra coisa.
    Outro dia vi o empacotamento e despacho para os países africanos onde alguns falam português de produtos de primeira necessidade e algumas guloseimas conforme explicou o maioral, tudo muito arrumadinho, era para ajudar os pobrezinhos.
    Aposto que nem um grão de arroz chegou aquelas boquinhas.

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  10. gastão's avatar
    gastão permalink
    17 Outubro, 2014 14:35

    Vejam lá a Tânia fuma com o nosso dinheiro! Se fosse esperta montava uma ONG (tipo aquela onde trabalhou o Coelho) e fumava com o dinheiro dos europeus. Se calhar até dava para charutos.

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  11. FGCosta's avatar
    FGCosta permalink
    17 Outubro, 2014 15:42

    Talvez criar um Ministério da erradicação da pobreza (exceto a de espírito), e colocar á frente o Henrique Pinto. Assim quando alguém tivesse que ir preso, não só já se sabia quem prender, como ele iria dentro sem protestar..

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  12. Tiradentes's avatar
    Tiradentes permalink
    17 Outubro, 2014 16:12

    Tudo começou quando a dialéctica materialista transformou a caridade em caridadezinha, dando-lhe o nome de solidariedade social.
    À conta dela as velhas senhoras serigaitas do movimento nacional feminino foram substituídas por estes prostitutos/as intelectualizados na aparência que vivem por conta dos necessitados.

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  13. Tiro ao Alvo's avatar
    Tiro ao Alvo permalink
    17 Outubro, 2014 16:22

    Então não aparece ninguém, por aqui, a defender o homem? Será só a comunicação social tradicional que lhe dá ouvidos? E quem diz ouvidos, diz antenas…

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  14. Luís M's avatar
    Luís M permalink
    17 Outubro, 2014 17:27

    Mais um muito bom texto, Helena Matos.

    De facto, não sei por que razão, há algumas pessoas que julgam que uns têm o direito a receber tudo e outros têm o dever de pagar tudo. Uns têm só direitos outros só responsabilidades. E, numa sociedade livre e democrática, onde está a responsabilidade de cada um em tratar da sua vida e de contribuir para a sociedade, que todos temos para connosco e para com os outros?

    A pobreza é uma tragédia de que a Humanidade infelizmente não se livrará tão cedo. Não tenho a presunção de saber qual a solução para acabar com a pobreza, mas sei que não se resolverá apenas com esmolas (venha o dinheiro de onde vier).

    O que me parece justo é que o dinheiro deve ser de quem o produz para fazer com ele (porque é sua propriedade, porque o arranjou com o seu esforço) o que entender. Depois de contribuir com a sua devida parte para as despesas necessárias e comuns do país, não devem terceiros poder impor a cada um (pessoa singular ou colectiva) como deve ser gasto o dinheiro que não é deles.

    Gostaria de sublinhar que, em meu entender, o sr. Henrique Pinto parece estar focado na árvore e não estar a ver a floresta. Que há quem julgue que, por muito nobres que sejam ou julguem ser as suas intenções, não admitem que sobre os mais diversos assuntos haja quem pense de forma diferente ou que proponha coisas diferentes das suas. Que hoje a solidariedade, enquanto prática e actividade institucional, está sufocar o sentimento humano da caridade.

    Por último gostaria de saber se, pelo facto de sermos convocados para contribuir para que as ‘Tânias’ tenham algum dinheiro no bolso, podemos perguntar-lhes em troca sobre as oportunidades que tiveram e sobre as escolhas que foram fazendo ao longo da sua vida e se ao menos poderemos escolher quem, do nosso ponto de vista, merece que se tire aos nossos filhos para lhes dar a eles.

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    • gastão's avatar
      gastão permalink
      17 Outubro, 2014 19:45

      Eu já escolhi os meus pobres. Os outros que morram numa valeta!

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  15. lucklucky's avatar
    lucklucky permalink
    17 Outubro, 2014 18:09

    O 25 de Abril foi feito para acabar com os ricos por isso já estamos mais perto do objectivo de sermos todos iguais, isto é , pobres.

    A igualdade só se atinge pelo menor denominador comum.

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  16. Juromenha's avatar
    Juromenha permalink
    17 Outubro, 2014 18:15

    Ainda há quem se lembre do Barata Tonta….
    Não tão tonto assim, que não fizesse pela vidinha…

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  17. BELIAL's avatar
    18 Outubro, 2014 11:18

    Sem esquecer a “peregrinação interior” , em que alçada baptista tratou o terma

    1 – Pobreza: só certificada – como a carne alentejana.
    2 – Ou carimbada, como os ovos – lembram-se?

    🙂

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  18. JCardoso's avatar
    JCardoso permalink
    29 Julho, 2016 12:54

    É este o Henrique Pinto?
    Para a pobreza propõe a criminalização, não sei de quem, para os terroristas que nos matam ao virar da esquina propõe o diálogo.
    Com gente desta é por isso que o mundo está tão perigoso. E ainda ganham dinheiro para andar a dizer destas baboseiras.

    http://sicnoticias.sapo.pt/opiniao/2016-07-26-Terror-no-mundo-a-analise-de-Nuno-Rogeiro-e-Henrique-Pinto

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  19. Rui Gabriel's avatar
    20 Outubro, 2016 11:59

    Pode-se tentar tirar a pessoa da pobreza, mas a guerra só está ganha quando se tira a pobreza de dentro da pessoa:
    . Criação de Oportunidades + treino + responsabilização pela própria vida + desenvolvimento pessoal + cultura da liberdade e da independência + espiritualidade, cultura e educação financeira
    Estas são as ferramentas para tirar a pobreza da pessoa e a única forma de tirar a pessoa da pobreza.

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