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Obama no Porto: clap! clap! e o público aplaudiu.

6 Julho, 2018
Post de convidado: José Silva

obama_glasses

Comecemos pelo mais simples: a vinda a Portugal de um ex-Presidente dos EUA para uma conferência é uma optima oportunidade. Seja a pessoa em concreto quem for, é um político com uma experiência ímpar. Ouvi-lo só pode ser enriquecedor. Ou não…

Ninguém percebeu ao certo ao que é que ele vinha cá e menos ainda quem pagou. Vem para uma conferência sobre o clima chamada summit. Hoje tudo o que seja summit é bom e portanto anda bem. E veio pago pelo vinho do Porto e pela Câmara do Porto. Ok, vamos assumir que foi assim…

Oito e meia e era o caos na porta do Coliseu do Porto. A rua estava fechada ao trânsito e parte desta ocupada por protecções metálicas. Ninguém pagou directamente para estar no Climate Change Leadership Summit (é este o nome oficial). Os 3.000 participantes foram todos convidados. Péssima notícia, metade deles decidiu ser pontual. Na barraquinha de entrada, encafuada numa garagem de recolhas do outro lado da rua, era-lhes colocada uma etiqueta no pulso e uma badana ao pescoço com a sua própria foto. Lentíssimo, este processo fez formar filas (bichas, como se diz a Norte) de mais de uma hora.

Era demorada a credenciação (nome local check-in) mas felizmente fácil a entrada: ninguém confirmava se quem entrava correspondia à foto. Já no edifício, um controlo final, tipo aeroporto, “ponha a carteira na máquina” e lá passavam as roupas e carteiras pelo raio x, aqui e ali obrigando a revista a quem se atrevia a passar com algumas moedas no bolso.

A sessão abriu atrasada, está visto. Rui Moreira, o edil Portuense fez uma mini intervenção, sem alusão ao facto de a sala estar a meio pano e mandaram entrar os oradores. As primeiras intervenções marcaram o tom futebolístico do dia: eram tão redondas que podiam estar ali ou num relvado da Rússia. A sala entretanto foi-se compondo e a fila de entrada escoando.

Chegou a hora do almoço. A plateia aliviada. Realmente tinha ido para um evento principalmente social, para ouvir o Obama e ser visto lá. Ter de ouvir duas horas de xaropada sobre o clima já bastava. Os que não tinham lido o convite foram entretanto surpreendidos com uma desagradável surpresa. Não podiam sair para comer uma francesinha ou sequer para ir por moedas no parcómetro. Na conferência do Obama, tal como no inferno (“ó vos que entrais, perdei toda a esperança”), quem entra não sai para almoço. Em contrapartida surgiam por todo o lado uma caixinhas de cartão (lunch box, seus parolos!) que continham a dieta adequada para o amigo do ambiente: massa com queijo, um pão com uma pasta tipo gosma, umas bolachas secas e uma garrafinha de água.

Entretanto o Coliseu encheu. 3.000 pessoas. Empresários de todo o norte com os seus fatos e gravatas reluzentes. Empresárias com vestidos vaporosos, advogados, administração, imensa gente de farda de gala (bombeiros e militares) e muita muita gente simplesmente em bicos de pés para estar no meio do melhor social portuense. O que conseguiram, porque o social é um meio… onde se está.

Uma delícia ver toda esta gente a comer a massa fria com uns garfinhos de plástico (ai o clima summit…). Os mais rodados socialmente conseguiam a proeza de segurar na caixa com uma mão e comer a massa com a outra sem aquilo borrar a camisa toda. Os mais expeditos sentaram-se nos cantos e em toda a escadaria de entrada. Vamos fazer de conta que não conhecíamos ninguém e por isso não citamos nomes. Mas que foi divertido ver deputados, autarcas empresários, tudo democraticamente sentado nos degraus do coliseu a beber aguinha pela garrafa e a picar uma massinha fria com o garfo de plástico, foi.

Dito isto, veio a parte da tarde. A carne do lombo. A sala cheia até galerias, lá em cima. Curiosa democracia esta em que as galerias, originalmente onde se sentava quem pagava o bilhete mais barato, hoje cheias de senhores de fato e senhoras de vestido (os que tinham cunhas mais fracotas, é certo) todos debruçados para ver se conseguiam focar o que se passava lá em baixo.

Enquanto o evento não começava, enquanto lá atrás germinava a expectativa, as filas da frente levantavam-se , como quem diz “estou aqui, estão a ver”. E a gente via. Eram deputados, dois ministros (ambiente e economia) , uma secretária de estado que inaugura tudo e por isso também aqui inaugurava, empresários que aproveitavam para desenrascar um processozinho, autarcas, dirigentes desportivos. Gente portanto… importante.

A parte da tarde começou, aliás como a da manhã sob o diapasão de Catarina Furtado, num vestido vermelho quente, falando naquele seu inglês Festival da Canção para a plateia exclusivamnte portuguesa.

Não veio logo a estrela da tarde,foi precedida por um curioso orador que se apresentou como assessor do Presidente Obama e que mais tarde o entrevistaria com perguntas difíceis.

E pronto, seriam uma três e tal, lá veio o senhor Obama no meio de uma enorme salva de palmas. Dois sofás, ele e o senhor assessor.

A oratória fácil de Obama foi facilitada pela tendência futebolista iniciada de manha: perguntas redondas, chuto de cá para lá e respostas redondas. Acha que os jovens devem seguir a carreira política? Sim, veja o exemplo maravilhoso do Mandela. Acha que as empresas devem tomar iniciativas por causa do clima? Claro, isso é maravilhoso, etc e tal. E as organizações internacionais? Ah isso é muito importante. (faça-se justiça, não elogiou Guterres possivelmente com medo que fosse demais). Aqui e ali uma alusão ao seu sucessor que a plateia inteligentemente interpretava como sendo Trump e respondia com palmas ou com sorrisos de aprovação. Ninguém percebeu que a última pergunta era a última. Era só mais uma igual às outras. E portanto o assessor lá teve de dizer que acabou e a plateia brindou o orador com uma salva de palmas a que ele magnânimo respondeu “obrigado”. Saiu e com ele saíram os seguranças que passaram o tempo todo de costas para o palco a ver o público (esses é que se divertiram).

Acto contínuo entra a impagável Catarina. Como as palmas para o Obama esmoreciam diz ela: “clap, clap” e o público aplaudiu fervoroso. Empresários, deputados, membros do governo, esta Catarina tem o país nas mãos.

O aplauso foi fervoroso e cheio de vontade de sair, é claro, que já se fazia tarde e a estrela principal já tinha saído do palco.

Dá-se então o episódio do dia (não foi o Obama, não!). Sobe ao palco o Ministro do Ambiente (o da voz da rádio) e faz um imenso discurso em inglês. Momento supremo: um Ministro do governo a fazer um discurso em inglês para 3000 portugueses, todos eles sem excepção a querer ir tomar uma cerveja lá fora. Enquanto as filas de trás saiam discretamente (“com licença, com licença”) dos pobres da frente faziam o que podiam: pegaram nos telemóveis em massa e começaram a divagar pela net em busca de refúgio.

Foi penoso. Era uma Quaresma sem Páscoa. O homem falava (tem bom inglês) e nem uma alma lhe prestava atenção.

Mas enfim, lá passou, foi indolor e voltou a Catarina ao palco para dizer não sei o quê em inglês.

Não ouvi, saí antes da multidão. Cá fora estavam a distribuir lápis. Sim lápis.

E com isto perdi o Uruguai França.

Fim de post de convidado: José Silva
30 comentários leave one →
  1. Minhoto permalink
    6 Julho, 2018 18:27

    Ou seja uma autêntica parolice!

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    • Paulo Valente permalink
      6 Julho, 2018 19:44

      Mas a verdade é que houve um parolo que foi convidado e esteve presente. E deve ter batido palmas e sorrido muito para que o voltem a convidar para o “social”.

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  2. Minhoto permalink
    6 Julho, 2018 18:29

    Nada evoluímos do tempo do Eça

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  3. 6 Julho, 2018 18:33

    Querem exibir, e outros/as ver e ouvir durante 1 hora, a 5, 20, 40 metros uma indiscutível superstar planetária ? Pagam caro. Onde está o problema e a novidade ? O Ronaldo vai ganhar 30 milhões/mês…

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  4. Mario Figueiredo permalink
    6 Julho, 2018 18:39

    A França ganhou.

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  5. João Miranda permalink
    6 Julho, 2018 19:23

    Tudo isto é tão fraco e vulgar…….boa sorte.

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  6. Filipe Costa permalink
    6 Julho, 2018 19:42

    Engraçado, passei o dia a trabalhar e também não vi o Uruguai-França, nem sabia do Obama, nem quero saber.

    O Brasil está a perder 2-0.

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  7. Arlindo da Costa permalink
    6 Julho, 2018 19:42

    Foi uma honra para a cidade do Porto!

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    • JMS permalink
      6 Julho, 2018 21:25

      Foi uma honra para o parolo do Arlindo e uma vergonha imensa para a magnífica cidade do Porto.

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      • Abílio Santos permalink
        7 Julho, 2018 11:51

        Eh pa, calma. Nem foi honra para o Arlindo nem vergonha para a cidade. A vida continuou tranquila na cidade apesar de… Nao foi necessário adoptar as prácticas latino-americanas de LX para receber pop stars e chefes de estado, portanto, tudo porreiro por aqui.

        Entre os parolos do Porto que pagam para ver o Obama e os de Lisboa que se exibem em eventos planetários, tipo… Globos de Ouro da SIC… ou andam na fantochada Madonna e outros VIP’s LX, quem serão os provincianos? Parolos todos, sem dúvida.

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      • Ana Chau permalink
        7 Julho, 2018 20:18

        Ahahah! Na mouche

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      • Ana Chau permalink
        7 Julho, 2018 20:20

        Ahahahah! Na mouche

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    • 6 Julho, 2018 21:25

      eh,eh,eh, arre burro.

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    • Euro2cent permalink
      6 Julho, 2018 21:50

      Não é que seja a primeira vez que se rende a mercenários estrangeiros …

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  8. Minhoto permalink
    6 Julho, 2018 22:11

    E o ministro do ambiente ensinou ao Obama a grande solução da engenharia hidráulica que é encher albufeiras a cisterna? Há cada gênio…
    Portugal não passa disto.

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  9. Juromenha permalink
    6 Julho, 2018 23:11

    Pategos, irremediavelmente pategos…

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  10. colono permalink
    6 Julho, 2018 23:55

    sejamos francos:
    Se o Obama fosse branco… as carpideiras do BE , já o tinham arrasado!

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  11. A. R permalink
    7 Julho, 2018 00:08

    Não percebo como um queniano nascido numa palhota pode ser alvo desta adoração ou culto de personalidade típico da esquerda:
    1) Deixou pelo caminho um notável número de cadáveres que conheciam a sua situação
    2) Desprestigiou os EUA e arruinou uma série de alianças por todo o Mundo
    3) Ajudou à criação do Estado Islâmico
    4) Apoio as primaveras árabes e por uma unha negra o Egipto não foi um local de massacre para os milhões de cristãos que ainda lá vivem
    5) Colaborou com o Irão e com o terrorismo do Hezzbollath
    6) Abandonou os cubanos fugidos à tirania castrista com quem colaborou
    7) Atacou a Líbia à revelia do congresso e da ONU
    8) Incitou ódio racial
    9) Envolveu-se num incontável número de escândalos
    10) Apoiou uma anormal que anda sempre de boca aberta como túnel do Marão
    11) Negou o visto a cristãos perseguidos no médio oriente
    12) Abandonou diplomatas à morte
    13) Desarmou e humilhou as forças armadas americanas
    14) Foi uma desgraça económica

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    • André Miguel permalink
      7 Julho, 2018 02:15

      É negro e de esquerda, logo santo.

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      • Paulo Valente permalink
        7 Julho, 2018 22:13

        De esquerda? Mas algum dia houve um presidente norte-americano de esquerda?
        Que raio de afirmação ridícula.
        Há tipos que já nem ao espelho se devem reconhecer…

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    • Artista Português permalink
      7 Julho, 2018 08:35

      Os portuenses deviam erguer-lhe uma estátua! Foi graças à “Primavera Árabe” que o imobiliário e o turismo no Porto sairam da fossa. 500 mil euros não é nada!

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    • 10 Julho, 2018 14:36

      Falta a parte de que é casado com um transexual (alcunha de Big Mike entre os serviços secretos americanos). Só mais uma prova de que a Comunicação Social pode manter ou destruir quem quiser com as suas mentiras

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  12. 7 Julho, 2018 01:02

    Apenas um reparo, por acaso não recebeu m email de resposta à sua inscrição, com indicação da não possibilidade de sair do recinto durante a hora do almoço? É que eu recebi…

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  13. 7 Julho, 2018 01:03

    I MUST say that The Ex-President of the United States of North America , His Excellency Barack Obama DID NOT SAY ANITHING NEW.
    He Shoud GO TO SPAIN AND Tell Them They SHOULD NOT EXPLORE URANIUM They Are Doing It at The Border to Portugal Which Will POLUTE Douro River . Portugal HAS URANIUM.But We Do NOT Explore It Because of The Evironment.
    We DO NOT NEED Lessons Just Go To Where They Need Them .
    All the Luck.
    Rita Corrêa da Silva

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  14. singularis alentejanus permalink
    7 Julho, 2018 11:12

    “bichas como se diz a Norte”, pois aqui no meu Alentejo, as bichas continuam a ser bichas, essas outras bichas chamamos-lhe pandeleirotes, Logicamente se só tiver a 4.ª classe, porque ser for universitário sobe á categoria de gay.

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  15. Margarida Cardoso permalink
    7 Julho, 2018 21:46

    Pergunto-me se este cavalheiro esteve de facto no Coliseu. Que relato azedo e longe da realidade.

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