Tenho saudades dos maricas
Sim, leu bem. Saudades dos maricas, de bichas, de abafa-palhinhas, de paneleiros, de fufas, veados, sapatonas… Eram pessoas boas, das que não andavam aí a impor normas, só a defenderem a liberdade individual de os deixarem em paz sem julgamentos colectivos. Eram pessoas com dúvidas, com angústias sobre se o seu estilo de vida notoriamente fora da norma podia ser compatível com o culto religioso e com uma salutar convivência com a família. Eram defensores acérrimos da liberdade individual e do extraordinário direito a não ser julgado por ninguém na sua vida pessoal.
Agora só temos LGBT(x)s chatos, puritanos, massacradores da realidade. Os velhos não andavam aí a “desafiar normas”: entendiam perfeitamente que o estado default de qualquer animal é o da heterossexualidade, pelo que compreendiam serem eles os fora da moda social, os marginais. Aceitavam a marginalidade, não impunham ficções sobre a normalidade.
Eu também sou um marginal. Também não me enquadro na pasmaceira do centrão progressista nem no aberrante saudosismo romântico de um liberalismo utópico ou no tosco conceito idílico da fada-do-lar. Eu sou um perfeito paneleiro político. Um bicha social que rejeita os -ismos todos. Mas, garanto, um LGBT(x)s é que não sou.
Precisamos de mais marginais. De sistémicos está o inferno cheio.
‘paneleiro não foi parido
foi cagado’
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Texto arrebatado e eloquente.Compreendo-o perfeitamente e já somos dois!
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O Vítor está farto da intolerância do totalitarismo politicamente correto. Nisso, estou consigo.
Quanto ao termo ‘marginal’, penso que se deve ter cuidado…
É-se marginal face à Lei, não face à Moral vigente.
Vai daí que me parece que quem foge à norma dos comportamentos sociais não é nenhum marginal, será um excêntrico, um ‘fora da caixa’, um revolucionário…
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Marginal porque está na margem. Se as palavras adquirem significado mais restrito isso só indica o estreitamento da latitude de expressão e logo da comunicação.
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Compreendo… Como a Marginal de Cascais.
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Meio século de vida profissional. Já como ‘chefe’ tive sob minha responsabilidade vários homossexuais dos dois sexos. Nunca houve qualquer problema.
À minha frente os outros/as nunca fizeram qualquer comentário sobre a vida dos anormais. Porque sabiam que levavam logo uma reprimenda minha (nos cornos).
Assim é que é mandar…
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“Eu sou um perfeito paneleiro político. Um bicha social que rejeita os -ismos todos.”
Isto soa falso, uma espécie de solidariedade ou empatia forçada. Estar alheado da política mainstream, não ir em grupos ou rejeitar estereótipos não é como ser homossexual. O estigma, o impacto social e as potenciais consequências são bastante diferentes. Não é preciso ser homossexual para perceber isso.
Como comparação também não resulta: ou se é estritamente heterossexual ou não; qualquer outra opção é vista como anormal. Mas é normal ser-se comuna, fanático do mercado, ou apolítico. É (ainda é) normal rejeitar a histeria PC e rejeitar o conservadorismo. A maioria, aliás, está algures no meio.
Chamar-lhe maricas, bicha ou paneleiro continua a ser um insulto. Chamar-lhe ‘marginal’, no sentido desalinhado e excêntrico e tal, soa fresco e irreverente.
Quanto ao resto de acordo, embora a imposição da ‘nova normalidade’ pareça vir mais da elite intelectualóide pseudo-esquerdista, os profissionais da ofensa, do que da maioria dos homossexuais, que só querem viver a sua vida.
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Pode soar como quiser, mas a minha opinião, como a dos outros, não está sujeita à validação dos outros, pelo que como lhe soa é para mim bastante irrelevante.
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Ainda bem que avisa: andava convencido de que os meus comentários influenciavam as pessoas e mudavam o mundo. Fico desenganado.
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Não creio que andasse. Contudo, importante seria que a atitude de expectativa de outros pelo comentário que pode mudar o mundo e que, como tal, necessita de resposta, deixasse de existir.
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Pode-se sempre chamar-lhes “filipe” que os outros filipes não se vão sentir insultados.
Ao que nós chegamos, chamar boi a um boi é insulto.
Um branco, perdão, um não preto, a não querer que se trate um preto por preto, parece o Michael Jackson, que queria ser não preto. Seria racista?
Mais logo digo-te o resto que estou a pensar, se me apetecer, mas só depois de ler o que escreveste.
Bai bai fofura riqueza.
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Ser-se estritamente heterossexual não será anormal? A maior parte da população inicia-se nas práticas sexuais através da homossexualidade: i.e., consigo mesmo.
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É muito bom ler o que eu penso escrito por alguém que escreve muito melhor do que eu o faria. Declaração de interesses: 82 anos, hetero, com amigos “marginais” que nunca me incomodaram nem eu a eles. Alguns já cá não estão e sinto a sua falta: pessoas inteligentes, cultas e com um enorme bom senso.
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