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O engodo estatal da habitação acessível

9 Março, 2022

O Estado é proprietário de um vastíssimo parque de terrenos e edifícios que estão devolutos ou abandonados, alguns há várias décadas. Em 2019 o governo, finalmente, lá decidiu tentar arranjar uma solução para rentabilização destes imóveis que, pelo menos em parte, passaria pela sua venda.

O Estado é um péssimo senhorio e esta iniciativa seria apenas uma forma minimamente decente de acabar com a delapidação do património, uma tentativa de indemnizar os contribuintes pela perda de valor dos activos e uma forma de terminar com o empate de dinheiro de impostos retirados aos portugueses em coisas sem qualquer utilidade.

Mas logo veio o Bloco de Esquerda, partido que se notabiliza por ser frequentado por políticos intelectualmente desonestos e manipuladores mal-intencionados, e convenceu facilmente o ministro Pedro Nuno Santos (uma espécie de infiltrado bloquista no governo) a reverter essa decisão. Por isso, em vésperas das últimas eleições autárquicas o Conselho de Ministros mudou de opinião e decidiu afinal atribuir a um instituto público a tarefa de desenvolver o que chamou de “soluções habitacionais” em vários destes imóveis.

É assim que por exemplo no Porto, com surpreendente apoio da autarquia local (supostamente não-socialista) mais dinheiro dos contribuintes vai ser enterrado em vários edifícios militares há muito sem uso para, dizem, criar habitação acessível.

Ora, sabemos que o ministro Pedro Nuno é contra a redução da carga fiscal no imobiliário porque acha que isso não é solução para aumentar a oferta ou permitir preços das casas mais baixos e diz que os malvados dos promotores privados só constroem empreendimentos de luxo porque é o segmento de mercado onde há procura. Acrescenta também o radical governante que a razão do atraso do país no sector da habitação é a falta de mais Estado.

Os portugueses que acreditam nestas teorias delirantes parecem sofrer de dissonância cognitiva ao atribuírem culpas aos agentes errados e quererem resolver os problemas com a sua causa. Assim é por exemplo quando o povo se queixa do elevado preço das casas e da falta de habitação acessível. Num apartamento que se venda por 170.000€ o Estado abarbata ao longo de toda a cadeia de valor da promoção imobiliária mais de 70.000€. Ou seja, o Estado mete nos seus cofres 40% do valor de venda das casas, mas muita gente atribui esta roubalheira à ganância dos promotores imobiliários.

A acessibilidade do preço da habitação não se decreta por lei nem os custos de construção baixam através de varinhas mágicas, como julgam os líricos ou ignorantes governantes e autarcas. Enquanto o Estado não abdicar da brutal carga de impostos que faz incidir sobre um sector onde necessariamente há grande volume de investimento (e por isso apetitoso para cobradores de impostos), os promotores privados apenas conseguem ter um mínimo de rentabilidade vendendo casas a gente rica ou a estrangeiros.

A enorme carga fiscal, a gigante burocracia e regulamentação e a incerteza jurídica e legal no sector, são um enorme travão ao investimento em habitação para a classe média e baixa porque tornam o custo final da construção superior ao preço de venda que os cidadãos podem pagar, embora haja (ao contrário do que diz o ministro) muita procura para este segmento residencial.

Sucede que enquanto o Estado continuar a distorcer o mercado, desalinhando a oferta da procura com sucessivos incentivos e desincentivos artificiais o tema da habitação serve para o debate político, mas não dá casa aos portugueses.

O meu vídeo de hoje, aqui:

10 comentários leave one →
  1. 9 Março, 2022 21:18

    O liberalismo promove o fenômeno de gentrificação das cidades interessantes.
    Gentrificação pode ser bom ou mau.
    Mas não seria excelente uma cidade interessante como o Porto ficar completamente ….gentrificada…?
    Com a deslocalização de pessoal com poucos recursos para outros locais, especialmente casais heterossexuais com filhos. Deviam ser incentivados a arranjar habitação em Castêlo da Maia ou Castelo de Paiva.
    Um Porto cool produto de uma gentrificação intensiva habitado por liberais com grande poder de compra.
    Daí a necessidade do estado socialista fornecer habitação aos intelectuais de esquerda. Para a cultura carago!

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  2. JgMenos permalink
    10 Março, 2022 11:05

    O mercado de arrendamento nunca arrancará sem segurança na cobrança de rendas com, despejos expeditos e responsabilixação pela conservação.

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  3. Atento permalink
    10 Março, 2022 13:26

    “…os promotores privados apenas conseguem ter um mínimo de rentabilidade vendendo casas a gente rica ou a estrangeiros.”

    Um mínimo de rentabilidade, diz o direitinha. Um mínimo.

    É assim que descreve a absurda, obscena, grotesca mama em roda livre de fundos, promotores, ‘investidores’, senhorios e outros mamões, a começar pela inevitável Banca, num bem tão essencial como a habitação.

    Deve ser para mamar o ‘mínimo’ que um T1 em Lisboa com 30m2, +- o tamanho dum roupeiro dos heróis do direitinha Telmo, custa hoje mais de 200.000 euros. Ou uma renda de 1000€, um salário médio em Portugal.

    Claro que se os impostos fossem menores – ou nenhuns, como Deus quer – nada disto acontecia, garante o Telminho: era uma maravilha. Os ‘investidores’ abdicavam de ricos, de estrangeiros, do Airbnb… abdicavam da mama!

    E os senhorios, os felizes tugas que hoje vivem de rendas absurdas por casas normalíssimas ou medíocres, graças ao ‘mercado’ de especulação e extorsão, abdicavam da rica vidinha que levam à conta dos infelizes inquilinos. Claro!

    É, aliás, com dor e sofrimento que cobram estas rendas; tudo por culpa do Estado. Por vontade deles estavam a trabalhar e a produzir, não a chular e a viver à conta dos outros. Como choram a cada renda. Pobres senhorios!

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  4. Weltenbummler permalink
    10 Março, 2022 14:49

    aguardo a s declarações dum ‘Marques’ para mencionar os ‘putines de Lisboa’

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  5. Weltenbummler permalink
    10 Março, 2022 15:03

    BUROCRACIA ESTATAL: POLÍTICA Y POLÍTICAS PÚBLICAS* por Oscar Oszlak
    El tema del poder burocrático ha sido tratado en la literatura desde varias perspectivas. Rourke (1984), por ejemplo, considera que el poder de las burocracias deriva principalmente de dos fuentes: “(1) la habilidad para crear y satisfacer a grupos de votantes (constituencies); y (2) las habilidades técnicas que controlan y pueden aplicarse a resolver complejas cuestiones de política pública”. Al mismo tiempo, la burocracia es percibida como la única institución permanente del poder ejecutivo y por esa razón “disfruta de un cierto grado de autonomía” (Cayer y Weschler, 1988). Según sintetizan Ripley y Franklin (1982) “los burócratas no son neutrales en sus preferencias de políticas, ni son controlados plenamente por fuerzas externas. Su autonomía les permite negociar exitosamente para conseguir buena parte de sus preferencias”. Por lo tanto, las limitaciones de su poder constituyen una cuestión central. Rourke (1984) argumenta que sus límites no sólo surgen de las presiones competitivas externas, sino también de factores relacionados con la forma en que las organizaciones operan y los burócratas se comportan dentro de su propio hábitat (competencia entre burocracias; restricciones internalizadas, códigos de ética, procedimientos internos, evaluación de desempeño y representatividad). A su vez, la productividad burocrática (esto es, eficiencia más efectividad en términos de Ilchman y Uphoff) ha sido relacionada al grado de éxito que este aparato institucional alcanza en el logro de los objetivos y políticas que justifican su existencia

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  6. voza0db permalink
    10 Março, 2022 20:58

    Para o gado boçal tuga uma tenda de cartão chega e sobra…

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    • carlos rosa permalink
      11 Março, 2022 10:33

      Tu é que és gado boçal, voz do diabo.

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      • voza0db permalink
        11 Março, 2022 22:58

        Vai pedir uma antes que esgotem…

        pois pelos vistos só os ucranianos é que interessam!

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  7. Weltenbummler permalink
    11 Março, 2022 09:40

    os políticos vivem em palácios com mentalidade de cozinha da mãe
    comemora-se o 11 de março

    Liked by 1 person

  8. 14 Março, 2022 15:54

    Vamos fazer de conta senhor Telmo, que caso o Estado não abarbatasse todo esse valor, os promotores imobilários mesmo podendo vender a casa por 170 mil euros, se limitariam como monges em abstinência a controlar a sua gula, cobrando apenas 100 mil.

    Toda a gente sabe que, a crise financeira de 2008 do sub prime, foi apenas um pequeno desvio do comportamento virtuoso franciscano dos agentes económico-financeiros mundias.

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