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Liberdade de ofender

17 Agosto, 2022

Em 1989 o sinistro Ayatollah Khomeini do Irão anunciou ao mundo a sentença de morte para Salman Rushdie por este ter escrito um livro considerado ofensivo do Islão. O líder religioso supremo da altura mandatou qualquer fiel para a execução da pena em qualquer altura e em qualquer lugar. Assim, há dias, trinta e três anos depois, Salman Rushdie escapou por pouco à morte em consequência de um infame ataque perpetrado por um zelota islâmico.

Mas o mundo e o nosso país está hoje cheio, cheiinho de ayatollahs. Os actuais Khomeini têm Silva, Santos, Ferreira, Costa ou outro qualquer apelido. Os fundamentalistas dos nossos dias chamam-se Afonso, Benedita, Martim, Guilherme ou Carolina.

Hoje, o livro de Rushdie “Versículos Satânicos” nem sequer teria qualquer hipótese de ser publicado. Os editores têm agora por prática a auto-censura e não publicam livros que considerem ter certas palavras indizíveis nem obras que temam possam ferir sentimentos de algum sector mais sensível da sociedade.

Os órgãos de comunicação social têm medo de usar termos que não sejam politicamente-correctos. Nas universidades os professores são coagidos a adoptar um discurso que os maluquinhos activistas raciais, do feminismo, da igualdade de género ou das emergências climáticas considerem próprio.  As redes sociais estão pejadas de trupes e gangs sempre à espreita de denunciar aqueles que têm ideias desalinhadas ou que não se submetem à ideologia progressista. Apela-se à censura e tudo se classifica como discurso de ódio. Na nossa Assembleia da República os deputados aprovam leis e regulamentos travestidos de virtude, mas que na prática pretendem limitar a liberdade de expressão.

Nas relações sociais, hordas de sabujos têm a distinta lata de afirmar à boca pequena que quem usa da sua palavra livremente “provoca” ou “se põe jeito” para reacções intimidatórias ou mesmo fisicamente violentas. Os cobardes e os moluscoides aconselham em vez disso um discurso redondo e o uso de banalidades para não incomodar ou tornar desconfortável o ambiente social instalado.

Parece, portanto, que em Portugal interiorizamos de modo voluntário a lei islâmica. A fatwa, a condenação à morte por blasfémia, é apenas a última etapa e o último grau dos tabús e do «respeitinho» a que nos habituamos. Mas não estamos tão longe disso quanto se possa imaginar. Os «ayatollah khomeini» portugueses estão no caminho para terem as mãos sujas de sangue.

Mas só existe verdadeira liberdade de expressão se houver liberdade de ofender.

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui:

12 comentários leave one →
  1. RC - beirão permalink
    18 Agosto, 2022 10:15

    O quadro aqui pintado pelo Telmo não é um discurso redondo; é o retratos natural e a cores do país e do mundo: basta olhar para a televisão e ver o contorcionismo daqueles e daquelas pobres ‘jornalixos’ para evitarem expressões tão vulgares como etnia cigana, preto, ou outro qualquer léxico proíbido pela censura do politicamente correcto ou do cardápio da ‘cultura cancelada’. Chega a ser confrangedoramente ridículo.
    Os khomeins estão aí á espreita por todo o sítio, de dedo em riste prontos a condenar ao degredo quem ouse, livremente, sair ‘ da caixa ‘.
    É urgente resistir aos ayatollahs do politicamente correcto!

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    • Manuel Lopes permalink
      18 Agosto, 2022 20:18

      “É urgente resistir aos ayatollahs do politicamente correcto!”
      Faço minhas as suas palavras…abaixo o Milhases!!!

      Liked by 1 person

  2. André Silva permalink
    18 Agosto, 2022 11:58

    Um dos melhores artigos de sempre, deveria ser de leitura obrigatória desde o 5.º ano de escolaridade até ao final de qualquer Doutoramento. Outra coisa não seria de esperar do autor, um dos melhores dos melhores que Portugal tem.
    Apenas uma humilde sugestão de correcção: onde o autor escreve “Nas relações sociais, hordas de sabujos têm a distinta lata de afirmar à boca pequena…”, já não é à boca pequena, é mesmo assumido à boca cheia, inclusive por pessoas com altas responsabilidades de Estado. E inclusive por aqui esses cobardes e verdadeiros vermes morais é o que não falta, aliás, não tardarão muito a aparecer.

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  3. André Silva permalink
    18 Agosto, 2022 12:02

    “Mas só existe verdadeira liberdade de expressão se houver liberdade de ofender.”
    Ou dito de outra forma pelo Professor Jordan B Peterson (e tradução livre minha): “Para poderes pensar pela tua própria cabeça, tens de correr o risco de seres ofensivo.”. Até por aqui aparecem muitos que pensar pela própria cabeça é impossível, desconfio seriamente que pelo prosaico motivo de que dentro da cabeça é só serradura, 1 neurónio que seja nem vê-lo…

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    • Atento permalink
      20 Agosto, 2022 15:09

      “Para poderes pensar pela tua própria cabeça, tens de correr o risco de seres ofensivo.”

      Não seja por isso, André, cá estou eu a correr o risco:

      Como todos os cretinos da direita (ou da esquerda), v. julga que repetir máximas do Peterson, do Carlson e outros que mal deve conhecer – Friedman, etc. – o torna especial.

      Mamões como o Peterson adoram carneirinhos assim: são vocês que lhes dão milhões de views, que lhes compram os livrecos, que lhes enchem o cu com fortunas obscenas.

      E como todos os otários, v. julga pertencer à pequena elite dos que sabem a verdade; dos que produzem e valem mais que os outros; dos que ‘pensam pela sua cabeça’; isto enquanto lambem e enchem o cu a mamões.

      Que tal, ofensivo q.b. ou demasiado suave?

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      • André Silva permalink
        22 Agosto, 2022 10:37

        Depois do saltar o usual e repetido até ad nauseum “blábláblá mamões blábláblá mamóes blábláblá mamões…” (desconfia-se seriamente aqui de um trauma de infância…), não me ofendeu nada, apenas demonstraste publicamente aquilo que eu escrevi: dentro da tua cabeça é só serradura, 1 neurónio que seja nem vê-lo…
        Espero que assim continues para divertimento geral aqui do pessoal. É sempre divertido termos um bobo da Coorte, por isso keep on the good work!

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  4. Andre Miguel permalink
    18 Agosto, 2022 12:08

    É ler “Direito a Ofender” de Mick Hume, está lá tudo.

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  5. JgMenos permalink
    18 Agosto, 2022 15:37

    Liberdade de ofender deve ler-se ‘liberdade de exprimir ideias que ofendem’.
    Tudo mais, certo!

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  6. lucklucky permalink
    18 Agosto, 2022 17:20

    “Os editores têm agora por prática a auto-censura e não publicam livros que considerem ter certas palavras indizíveis nem obras que temam possam ferir sentimentos de algum sector mais sensível da sociedade.”

    Isto é absultamente falso. Os editores e jornalistas não têm pejo nenhum em usar a palavra “negacionista” e ofenderem todos os que não professam a religião neo-marxista.

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  7. 18 Agosto, 2022 19:05

    «Os editores têm agora por prática a auto-censura e não publicam livros que considerem ter certas palavras indizíveis nem obras que temam possam ferir sentimentos de algum sector mais sensível da sociedade.»

    Inteiramente verdade, e disso já fui testemunha – e «alvo» – mais do que uma vez.

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  8. Manuel Lopes permalink
    18 Agosto, 2022 20:00

    Absolutamente de acordo! Se duvidas houver basta ouvir o Milhases a propósito de certa festa e de quem não alinha com palhaços.
    NA MOCHE !!!

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  9. Arlindo da Costa permalink
    25 Agosto, 2022 02:21

    Infelizmente nas nossas democracias «liberais» ou no «Ocidente» alargado, não existe a liberdade de ofender como havia no final do século XIX.

    Existe sim : cancelamento cultural, xenofobia, ditadura do politicamente correcto e ai quem vá contra a Narrativa Oficial dos Factos que todos os dias é produzida no Complexo Industrial Comunicacional vigente…

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