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Jornalistas, políticos e poder*

1 Fevereiro, 2010

Em 1934 Afonso Costa já não vivia em Portugal há largos anos mas era ainda um advogado muito influente e um político com uma enorme popularidade. Logo, para um jornal que não queria cortar as pontes com esse sector dos republicanos, era embaraçoso não publicar um texto de Afonso Costa. Mas por outro lado havia que ter em conta que Salazar não gostaria de ver publicada nas páginas de “ O Primeiro de Janeiro” uma enorme entrevista que o jornalista José Jobim fizera a Afonso Costa. Aos homens d’ O Primeiro de Janeiro não ocorreu então melhor ideia do que enviarem a dita entrevista para a censura não para que a mesma fosse aprovada ou amputada mas manifestando  interesse em que a censura impedisse que a entrevista pura e simplesmente fosse publicada. Assim pensavam ficar bem perante os dois lados.

Como se calcula, a entrevista, acompanhada duma carta dos serviços de censura onde se lia “Como esclarecimento interessante, comunico a Vª Exª, que me foi pedido há dias pelo “Primeiro de Janeiro” um tratamento especial para este artigo – o de eu cortar o artigo”, não chegou apenas a  Salazar mas também aos portugueses, pois tudo isto acabou por ser revelado numa nota oficiosa.

A que título se recorda este episódio em 2010? Aquando da polémica entre José Alberto Carvalho e Azeredo Lopes a propósito do afastamento de Marcelo Rebelo de Sousa da RTP calhou que ouvisse “En El Ultimo Trago” de Chavela Vargas. Quem já a ouviu sabe que o refrão ganha uma força espantosa quando Chavela Vargas, com aquela voz de quem viveu muito, diz: “Nada me han enseñado los años/ siempre caigo en los mismos errores/ otra vez a brindar con extraños/ y a llorar por los mismos dolores”. Chavela dizia isto sobre os seus amores e desamores mas na verdade também os jornalistas caem quase sempre no mesmo erro, sendo que o erro dos jornalistas é precisamente o de deixarem de falar com estranhos e passarem apenas a falar quase só com o poder e, às vezes, pelo poder. Quando tal acontece esquecem que o seu compromisso é precisamente com esses estranhos que os lêem, vêem  e ouvem e o resultado é invariavelmente triste como o refrão da canção de Chavela. Como polémica entre José Alberto Carvalho e Azeredo Lopes. Ou como o caso da entrevista a Afonso Costa que O Primeiro de Janeiro quis que fosse censurada para ficar bem perante Afonso Costa e Oliveira Salazar.

*PÚBLICO

32 comentários leave one →
  1. 1 Fevereiro, 2010 11:15

    Excelente!

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  2. nem estranho não estranhar permalink
    1 Fevereiro, 2010 11:16

    Realmente, estamos sempre a chorar pelos mesmos errores.
    Parabéns!

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  3. nem estranho não estranhar permalink
    1 Fevereiro, 2010 11:16

    errores ou dolores.

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  4. Anónimo permalink
    1 Fevereiro, 2010 11:28

    percebi a ideia, apesar do texto só complicar. para a próxima fique só pela ideia e não perca tempo com o texto.

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  5. Anónimo permalink
    1 Fevereiro, 2010 11:32

    nem tinha reparado que o comentário #1 era de um leitor de acordãos. só agora percebi o excelente.

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  6. helenafmatos permalink
    1 Fevereiro, 2010 11:35

    4. Pois é Anónimo o ideal mesmo era que as pessoas como eu deixassem de escrever. Não penso fazer-lhe a vontade. Até pq se eu e outras pessoas que só complicam como é o meu caso deixassem de escrever o anónimo deixava de ter tanto trabalho.

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  7. Outside permalink
    1 Fevereiro, 2010 11:55

    ESTE é um bom post HM.

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  8. Anónimo permalink
    1 Fevereiro, 2010 12:04

    #6 – por mim esteja à vontade, não sou eu que lhe pago.

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  9. Anónimo permalink
    1 Fevereiro, 2010 13:23

    # 6 # 8 Se calhar ficavas era sem o tachinho.

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  10. passadeira vermelha permalink
    1 Fevereiro, 2010 13:25

    ainda ninguém falou do caso de assistencialismo mais gritante dos ultimos tempos: os 65 milhoes de euros que o estado deu ao benfica para fritar em jogadores. assim é facil ser campeão..

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  11. Marafado de Buliquei-me permalink
    1 Fevereiro, 2010 13:40

    Dª Helena:

    Já se percebeu, que se Marcelo Caetano fosse 1ª Ministro, V.Exª., não deixaria de o incensar… !

    Por isso, presunção e água benta, cada um toma a quantidade que quer.

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  12. helenafmatos permalink
    1 Fevereiro, 2010 13:46

    11. E que tal umas revisões de História? O Marcelo caetano cai aqui a que título? Se seguir o meu conselho não se esqueça de procurar documentar-se sobre as avenças e outras tenças que vários jornalistas recebiam do regime

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  13. Anónimo permalink
    1 Fevereiro, 2010 14:08

    #9 – qual tacho meu?

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  14. Marafado de Buliquei-me permalink
    1 Fevereiro, 2010 14:18

    E que tal umas revisões de História? Revisões … LOL !

    O Marcelo caetano cai aqui a que título?
    Porque me apetece qualificar a jornalista e a sua linha !
    Ou há dúvida ?

    Quanto ao seu conselho…
    Só os ricos escrevem o que querem, os proletários, escrevem por encomenda.

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  15. 1 Fevereiro, 2010 14:25

    Excelente post!

    Só é pena não se perceber nada.

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  16. per caso permalink
    1 Fevereiro, 2010 14:27

    Quando isso acontece, é que esquecem que o seu compromisso é com esses estranhos que os lêem, contentes de, serviçais do poder, dançarem ao ritmo de gente vendida por querer.

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  17. silent people permalink
    1 Fevereiro, 2010 14:31

    Este pequeno excerto diz tudo par

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  18. silent people permalink
    1 Fevereiro, 2010 14:31

    Este pequeno texto diz tudo ..sobretudo para quem pensa saber de tudo dontrolar tudo e todos…

    Só Chegamos a Ser uma Parte Mínima do que Poderíamos Ser….

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  19. 1 Fevereiro, 2010 14:39

    «No Jornal da Tarde da RTP1 de ontem, passava incessantemente a mensagem: Parque Escolar cria 30.000 empregos e Parque Escolar recupera cem novas escolas. Ao ver a notícia que o governo procurava passar, esperei que a mensagem se transformasse: Parque Escolar é bom, Parque Escolar é plusbom, Parque Escolar é dupliplusbom ou Criticar a Parque Escolar é estar contra as escolas (…)
    http://www.5dias.net/2010/01/31/30-000-empregos/#comments

    “O Governo, debaixo da ideia que reconstruir escolas é boa politica, até inatacavel, está a patrocinar a maior negociata de que há memoria em Portugal. Tem servido para tudo: encher os amigos de dinheiro publico atraves das adjudicações sem concurso publico. Desde os projectos, até à construção propriamente dita. Um autentico escandalo. Agora, quando se perdem 100 mil empregos por ano, veem os pantomineiros do costume dizer que esta história criou 30 mil postos de trabalho. Isto quereria dizer que as empresas que estão envolvidas neste negocio da china não existiam, pois não tinham empregados, e que foram criadas especificamente para isto. E se calhar algumas até foram.”

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  20. Marafado de Buliquei-me permalink
    1 Fevereiro, 2010 14:42

    A compra de submarinos e armamento imprestável, é bem melhor !

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  21. 1 Fevereiro, 2010 14:46

    Parque Escolar: sobre a criação de emprego

    Aproveito para deixar um comentário, não enquanto parte dos 80% acima referidos até porque não é a idade que nos aproxima, os interesses são distintos e são exactamente esses interesses que nos lixam.
    Escrevo enquanto prestadora de serviços num atelier há 3 anos, inserida numa equipa que desenhou 5 escolas e está a meio da 6ª escola.
    As condições de trabalho são regradas, vencimento baixo, exigência alta e negação de vinculo e obrigações sociais mínimas por parte do patrão.
    Há 3 anos atrás achava que o problema da profissão era a dependência do privado, hoje concluo que já nem a adjudicações de obra publica nos salva.
    Mas e a nossa entidade reguladora? essa investe a organizar exposições no estrangeiro promovendo ateliers como aquele onde trabalho.
    EU GOSTAVA QUE ME DISSESSEM ONDE ESTÁ A SAÍDA… PARA EU FUGIR DAQUI PARA FORA.
    http://www.5dias.net/2010/01/28/parque-escolar-sobre-a-criacao-de-emprego/#comments

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  22. 1 Fevereiro, 2010 14:56

    A minha tia Azarenta leu e tresleu o post, prestando-se a explicitar-me o que a doutora Helena deu à estampa.
    Diz ela, Azarenta, que não se pode estar de bem com Deus e com o Diabo, o seja, Afonso Costa e Oliveira Salazar, ou vice-versa.

    – E o José Alberto Carvalho e o Azeredo Lopes? – perguntei a destempo, enquanto ela, Azarenta, ia pôr água ao lume para fazer o chá de que está dependente, um Akbar Gold do Sri Lanka.

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  23. 1 Fevereiro, 2010 15:02

    tudo aquilo em que Sócrates toca se transforma em…

    Para os mais incautos ou os mais optimistas, a renovação do parque escolar parecia ser uma das poucas iniciativas aparentemente aproveitáveis, no que toca ao sistema educativo, de que os governos de José Sócrates deram mostras.

    Pois bem, verifica-se agora que até isso se está a revelar um imenso fiasco, um “flop” monumental, à mistura com as proverbiais ”obscuridades” em matéria de utilização dos dinheiros públicos.

    O caso tem as respectivas análises e denúncias
    http://www.5dias.net/2010/01/23/parque-escolar-requalificacao-ou-oportunidade-perdida/

    http://www.educar.wordpress.com/2010/01/24/convite-aceite/

    E assim vamos ficando instruídos sobre como se desgoverna este país.

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  24. 1 Fevereiro, 2010 15:10

    O Joio e o Trigo
    Maria Filomena Mónica
    01 de Fevereiro de 2010

    Não vou comentar os artigos que os Prof. Doutores José Alberto de Azeredo Lopes e Maria Estrela Serrano, doutorados pela Universidade Católica do Porto e pelo ISCTE, escreveram, a propósito do anunciado encerramento do programa de Marcelo Rebelo de Sousa e do texto que, sobre tal assunto, aqui publiquei. O leitor teve acesso directo ao que povoa aquelas cabeças.
    Para o caso de não se ter apercebido suficientemente do que se tratava, esclareço: a coberto da defesa do «pluralismo ideológico», a ERC pretende intervir na programação da TV estatal, de forma a favorecer o governo do dia. Apesar dos seus doutoramentos – abstenho-me de dizer o que quer que seja sobre a qualidade das instituições que os concederam – não penso que estes indivíduos tenham o prestígio suficiente para estar à frente de uma entidade que exige uma cultura geral invulgar, uma elevada capacidade intelectual e uma independência política à prova de bala. (…)
    http://www.ionline.pt/conteudo/44677-o-joio-e-o-trigo

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  25. spameiros de serviço permalink
    1 Fevereiro, 2010 15:40

    A piscoisada lacaia continua a teclar excremento.
    O marado do bulicao também não perde uma para aliviar o intestino.

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  26. 1 Fevereiro, 2010 16:01

    Não percebo nada de economia e isso complica-me sempre as contas..
    Ora 30.000 postos de trabalho.. 100 escolas a recuperar.. .
    3 000 postos de trabalho por escola.. e durante quanto tempo?
    Estarão a recuperar o covento de Mafra? Também é, ou já foi escola.. Gostava de perceber.

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  27. 1 Fevereiro, 2010 16:04

    Desculpem… São 300 postos de trabalho por escola.. enganei-me!
    .O resto está certo..

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  28. o império do crime permalink
    1 Fevereiro, 2010 16:17

    O que dará uma mérdia de 10 pessoas para assentar cada tijolo,ou 5 pessoas às cavalitas para evitar a sobreocupação da área de trabalho,partindo do princípio de que essas 300 são trabalhadores…

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  29. António Lemos Soares permalink
    1 Fevereiro, 2010 18:42

    Interessante texto da Helena Matos.
    Discordo apenas da ideia que transmite sobre a suposta «popularidade» de Afonso Costa…! O Povo detestou-o desde a primeira hora e até ao último dia da sua execrável vida. Na minha querida Terra dizia-se, por exemplo, assim:

    «Com as barbas do Afonso Costa
    mandamos fazer um pincel,
    para limpar as botinas
    do querido D. Manuel!»

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  30. Golp(ada) permalink
    1 Fevereiro, 2010 19:54

    Mário Crespo sai do JN.
    Era de esperar nesta “democracia” em que vozes incómodas, são silenciadas.

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  31. ADÉRITO permalink
    22 Fevereiro, 2010 02:08

    A SORTE DO SÓCRATES É A MADEIRA LAVO.SE TODO

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  32. ADÉRITO permalink
    22 Fevereiro, 2010 02:14

    A SORTE DO SÓCRATES É A MADEIRA LAVOU-SE TODO

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