Sem Rumo
O primeiro debate entre os líderes partidários, que colocou frente-e-frente Sócrates e Portas, foi uma evidente demonstração da impossibilidade de Portugal vir a ser alguma vez um país de primeira linha. Sócrates e Portas passaram metade do debate numa viva disputa para decidir quem deu mais a quem e quem quer dar mais a quem no futuro. Uma competição acesa pelo título de grande distribuidor.
Ambos parecem ignorar que a redistribuição de riqueza faz-se, em primeiro lugar, pelo emprego. É uma redistribuição automática e justa, em que não se tira a uns para dar a outros. O aumento do nível de vida dos detentores de piores salários faz-se pela pressão no lado da oferta no mercado de trabalho e será apenas essa pressão elevada que permitirá reduzir o desemprego a níveis residuais, algo que já aconteceu em Portugal durante muitos anos do final do século passado.
A pressão no lado da oferta está dependente do investimento. O investimento precisa de fundos disponíveis e de investidores confiantes. Os fundos são os lucros dos investimentos anteriores e as poupanças de todos nós. No entanto, toda a lógica económica parece ser demasiado complicada para estes dois. O que discutiram é quanto mais vão sacar à economia que ainda funciona para distribuir em apoios ditos sociais. Qual dos dois tem mais vontade de matar a galinha dos ovos de ouro. Um diz mata o outro esfola. Um gaba-se da cabidela, o outro da perna assada.
A única solução para gerir as contas do estado nesta cenário de saque permanente de recursos de uma parte da economia para oferecer a outra, é a fonte da sanha fiscal que, diga-se, ambos prosseguiriam para satisfazer as suas ambições de reizinhos da caridade com o dinheiro dos outros. E como se já não bastasse esta paranóia despesista e mal direccionada, temos um governo e um candidato a primeiro-ministro que está empenhadíssimo em endividar-nos a todos numa série de investimentos destrutivos.
Aqueles 7.000 milhões que vão ser agora subtraídos à economia para construir uma obra inútil como o TGV, nunca se transformarão em riqueza distribuível. Pelo contrário, vão consumir lucros de outros investimentos para suportar os seus próprios prejuízos. São o produto de uma ilusão post-keynesiana da obra pública cujo impacto positivo aparente dura só o período de construção. É notória a incapacidade de distinguir obras públicas essenciais e benéficas do disparate anunciado. A Auto-Estrada para o Algarve ou a A1 foram obras benéficas. Todos os anos, há milhões de pessoas e empresas beneficiadas por uma rede básica de estradas. A A1 ou a A2 pagam-se facilmente, quer pelo efeito das portagens, quer pelo benefício acumulado para a sociedade. Antes da A2, não havia melhor alternativa. O TGV para Madrid, pelo contrário, pretende substituir uma alternativa muito mais económica – o avião. E só poderá concorrer com o avião, transferindo riqueza da sociedade para os futuros, poucos, passageiros do TGV.
Se um insiste neste disparate, o outro também pensa que sabe como é que se faz: em vez muito dinheiro a poucos, quer dar pouco dinheiro a muitos. Quer exportar – ainda há quem imagine que só enriquecemos vendendo o produto do nosso trabalho para fora. Portas sabe sempre mais e melhor do que os mercados em que é que os empresários devem investir – e por isso está sempre disposto a tirar os lucros dos que têm sucesso para alimentar os mais incapazes.
O nosso futuro só pode estar em investimentos que gerem lucro. Esses, nunca é o estado a fazer nem a decidir. Mas para que esses investimentos apareçam, tem que haver confiança, justiça eficaz, alívio da pressão fiscal. Precisamos de menos estado e não de mais estado. Não precisamos do Sócrates que tira a todos para dar aos grandes nem de Portas que tira a metade para dar à outra metade.
Dos 5 partidos com expressão eleitoral, dois, são os tontos do costume, em luta por comunismos mitigados, em pleno no século XXI. O PS continua a demonstrar ser um partido estatista irreformável. Em 4 anos e meio, agravou as contas do estado, aumentou todos os impostos e disparou a dívida pública para valores inimagináveis. Foi uma gestão trágica, com a desculpa da crise, como se o PS não estivesse estado no poder em 11,5 dos últimos 14 anos e tivesse alguma vez, feito algo diferente. Tudo pelo estado, tudo para o estado. Impostos, impostos e mais impostos. O PS é o partido número um da sanha fiscal. Meias-verdades, mentiras inteiras e propaganda em cada frase. Portas, é o discurso de quadratura do círculo. Eu distribuo mais do que tu, enquanto diminuo os impostos e acabo com o défice.
Resta o PSD, liderado pela senhora do ‘já cá canta’. Por lá, pululam em lutas internas alguns dos piores e mais indesejáveis políticos desta geração. Tal como o PS, é prisioneiro duma anti-elite autárquica poderosa. Mas na prática, também é o único partido com capacidade de governo que nos pode surpreender pela positiva. Já o fez, uma vez. Poderá fazer outra. Não acredito muito, mas é o que me resta.
É o que me resta a mim também…não há outra alternativa!
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Como todos os intervenientes são um bocadinho socialistas, o espectáculo do frente-a-frente está direccionado apenas para que os debatentes (quando não concordam em tudo) exibam a sua capacidade de passar rasteiras ou de lhes sobreviver.
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Excelente.
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Mas quem é que quer um Portugal de primeira linha? Melhor, o que é um país de primeira linha?
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“O nosso futuro só pode estar em investimentos que gerem lucro”
Frase interessante. Exactamente que tipo de lucro é que nos trará para a primeira linha? Será o lucro financeiro? Isso já existe abundantemente. Basta olhar para os bancos…
E o lucro que se obtém investindo na Educacao, Cultura, Saúde, Justica, etc… Outros lucros menos imediatos e mais díficeis de contabilizar? Também nos trarão um futuro risonho?
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««E o lucro que se obtém investindo na Educacao, Cultura, Saúde, Justica, etc… Outros lucros menos imediatos e mais díficeis de contabilizar?»»
Se é difícil de contabilizar como é que sabe que é lucro?
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O verdadeiro altruismo seria ver quanto os partidos do poder estariam dispostos a redistribuir entre os cidadãos se eles também fossem obrigados (na mesma percentagem) a redistribuir os votos que recebem pelos partidos mais pequenos.
A “justiça social” também se devia fazer pela redistribuição de poder!
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Oi internacionalistas e bons homens de esquerda eternos lutadores pelos pobres e deserdados e pela justiça social causada pelo capitalismo explorador e predatório neoliberalista:empliquem-me lá o que consideram por “POVO”!Porra que estou farto de pedir definição e nada!Não me querem converter é?A vossa amada constituição(podem limpar-lhe o rabinho) feita em 1975 com assembleia cercada tinha cá um “povo”.Agora só um parvo e cego não vê que existe outro “povo”.E cada vez menos capitalistas.E cada vez menos contribuintes.Portanto têm que definir o que é POVO e o que é que defendem de facto.Preto no branco.Á escuta…
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Oi internacionalistas e bons homens de esquerda eternos lutadores pelos pobres e deserdados e pela justiça social causada pelo capitalismo explorador e predatório neoliberalista:expliquem-me lá o que consideram por “POVO”!Porra que estou farto de pedir definição e nada!Não me querem converter é?A vossa amada constituição(podem usá-la para limpar o rabinho) feita em 1975 com assembleia cercada tinha cá um “povo”.Agora só um parvo e cego não vê que existe outro “povo”.E cada vez menos capitalistas.E cada vez menos contribuintes.Mas mais esquerda, sob diversos formatos.Portanto têm que definir o que é POVO e o que é que defendem de facto.Preto no branco.Á escuta…
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No que respeita às lideranças políticas nacionais, batemos no fundo.
http://intransmissivel.wordpress.com/2009/08/07/dilema/
E porque não esta sugestão:
http://intransmissivel.wordpress.com/2009/09/03/promessas-e-programa/
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#6,
Por experiência.
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4 milhões de portugueses trabalham no duro para sustentar os outros 6 milhões que vivem dependentes dum estado dominado por demagogos , ignorantes e alguns ladrões !
Dos 6 milhões pelo menos metade devia trabalhar se estivessemos num país minimamente decente . Como os partidos representados na assembleia da republica assim o não entendem os portugueses não devem votar em tal gente , pois não respondem ao essencial do estado que é :
1º Defesa e segurança de pessoas e bens ( cada vez há menos)
2º Sistema de justiça a funcionar ( neste momento pura e simplesmente não existe)
3º Criação de condições de liberdade e justiça que proporcionem o investimento e consequentemente a criação de riqueza e de emprego.
Como os governantes socialistas têm feito exactamente o contrario destes requisitos , assim como socias democratas, temos assim um futuro muito dificil á nossa frente!
Não votem nesses ignorantes , votem nulo ou branco ( perigoso pela falcatrua) ou abstenham-se , não colaborem nesta pantomina!
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O artigo é muito bom.
Tem dois grandes erros.
O senhor trata Sócrates e Portas pelos nomes próprios e á outra verdadeira alternativa chama à sua dirigente senhora do ‘já cá canta’
Isso mostra a sua ética.
O outro é que estes debates
são para o povinho ouvir de raspão, não são nem para o senhor, nem para os seus colegas do Blasfémias nem para a maioria dos comentadores.
Eles sabem isso e sabendo-o mostram-se mais espertos que o senhor ao atingir o público que querem.
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Sem rumo… totalmente de acordo! Triste país em que sucessivos governos ao invés de tornarem o custo do trabalho mais barato, e por essa via permitir às empresas que contratem mais e com melhores contrapartidas financeiras, aumentam sistematicamente a carga fiscal de empresas e funcionários para pagar um número sempre crescente de subsídios de desemprego e rendimentos mínimos…. Já viram as recentes alterações tributárias? È um autentico desespero para cobrarem mais e mais. Enfim, qualquer dia terei que emigrar.
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15, e acha que se conseguem elevar acima desse discurso? Tenho as maiorias dúvidas, tendo em conta a praxis governativa das últimos governos.
“O nosso futuro só pode estar em investimentos que gerem lucro”. Substituiria lucro por “valor para a sociedade”. O relevante é a criação de valor, e não obrigatoriamente o lucro. De que nos serviu os lucros do BPP se deixou um buraco enorme para ser tapado por todos?
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Há posts que nem sequer deviam gerar controvérsia, simplesmente porque dizem tudo.
Este é um deles.
Parabéns, JCD.
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Muito boa análise
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15, e acha que se conseguem elevar acima desse discurso? Tenho as maiorias dúvidas, tendo em conta a praxis governativa das últimos governos.
Não sei.
Mas sei que se quiser ser presidente do (ponha aqui o nome de um clube de futebol) devo dizer a quem pode votar em mim que vou comprar muitos jogadores e prometer títulos.
Se for para lá falar de defices e planeamento com rigor sou corrido á batatada.
E é outro que vai para presidente.
Quem é que quer isso?
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Subscrevo.
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“E o lucro que se obtém investindo na Educacao, Cultura, Saúde, Justica, etc… Outros lucros menos imediatos e mais díficeis de contabilizar? Também nos trarão um futuro risonho?”
Essa tem sido a propaganda dos Madoff’s Sociais – do PCP ao CDS-. Nestes 30 anos os investimentos em Educação pelos contribuintes não têm parado de aumentar, quais foram os resultados desses investimentos?
Miseráveis e como consequência altamente especulativos.
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Socrates, usa e abusa até à nausea o argumento estúpido: ” O sr quando esteve no governo…” O que fez o seu governo?”……” Nos conseguimos… o vosso governo.. o que fez?…
Haja alguém que o cale replicando: – ” O sr PM foi responsável pelo Ambiente durante 10 anos… logo, podemos depreender que o ESTADO CALAMITOSO DAS ARRIBAS DA NOSSA COSTA MARITIMA SAO DA SUA RESPONSABILIDADE…
Acho bastaria este argumento para o fazer mudar a “agulha”
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“Mas na prática, também é o único partido com capacidade de governo que nos pode surpreender pela positiva. Já o fez, uma vez. Poderá fazer outra. Não acredito muito, mas é o que me resta.”
Talvez. Mas eu prefiro preparar o futuro e votar num dos pequenos partidos moderados. Se o BE conseguiu 10% em menos de 10 anos, talvez daqui a 15 anos um desses partidos dê um governo a sério ao país.
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Excertos do debate (que escrevi, também, no Arrastão e Jugular, mas infelizmente não foram … como devo dizer … seleccionados):
Paulo Portas: “Depois cometeu erros com as leis penais (…) essas leis aumentaram a intranquilidade (…) e o senhor já o devia ter reconhecido, e tem um relatório, que não mostra, da avaliação das leis penais.”
Constança Cunha e Sá: “E esse relatório de facto não apareceu ainda”
(…)
Sócrates: “Eu compreendo que alguém atribua a alteração das leis penais a um pico de insegurança. Não foi o caso.”
Paulo Portas: “ai não, ai não, então mostre o relatório, então mostre o relatório.”
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Paulo Portas: “Depois cometeu erros com as leis penais (…) essas leis aumentaram a intranquilidade (…) e o senhor já o devia ter reconhecido, e tem um relatório, que não mostra, da avaliação das leis penais.”
Constança Cunha e Sá: “E esse relatório de facto não apareceu ainda”
(…)
José Sócrates: “Eu compreendo que alguém atribua a alteração das leis penais a um pico de insegurança. Não foi o caso.”
Paulo Portas: “ai não, ai não, então mostre o relatório, então mostre o relatório.”
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Paulo Portas: “O Primeiro-ministro, para resolver o problema da insegurança no Cacém ou na Damaia, vai até ao Iraque. E de caminho coloca muito mal o Ministro dos Negócios Estrangeiros dele, que teve exactamente a mesma posição que eu tive. Não foi em entrar em guerra porque Portugal não fez nenhuma participação militar durante o conflito.”
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Paulo Portas: “Vou-lhe falar do Cacém, vou-lhe falar da Damaia e vou-lhe falar de Setúbal (…) Sabe quantos elementos tem a polícia na Esquadra do Cacém? Tem 56 efectivos para 60 000 pessoas. Agora divida os 56 efectivos por 5 turnos e veja quanta gente lhe fica: 11 pessoas, que ainda têm de fazer tarefas administrativas, têm de fazer investigação criminal e ainda têm de fazer averiguações de penhora. Para proteger 60 000 pessoas. Sabe quantos efectivos tem a polícia na Damaia Sr. Primeiro-ministro? 40. Para proteger 21 000 pessoas. Divida por 5 turnos e veja quantos efectivos lhe sobram: 8. Para proteger 21 000 pessoas.”
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Paulo Portas: “O CDS propôs, no Parlamento … certo? … que o julgamento rápido dos presos em flagrante delito fosse feito em 48 horas. Os senhores votaram contra. Era a medida mais importante para repor a confiabilidade e para contrariar a impunidade. É as pessoas saberem que um meliante é detido em flagrante e é julgado efectivamente, em vez de sair em liberdade. Porque é que votou contra?”
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