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Então vamos lá trocar umas ideias sobre crescimento

5 Maio, 2012
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Lendo os jornais e vendo as televisões, fica-se sem dúvidas: em Portugal, e na Europa, há dois tipos de políticos. Uns são pela austeridade. Os outros são pelo “crescimento e pelo emprego”. Não é dito, mas está subentendido, que os primeiros devem ser ou sádicos (gostam de fazer mal às pessoas) ou masoquistas (gostam de perder eleições). Os outros, naturalmente, não só são intrinsecamente bons, como visionários. Esta dicotomia devia ser demasiado ridícula para ser levada a sério, mas a verdade é que é. Chega-se até ao ponto de justificar esta estranha situação por Angela Merkel (a alma danada por detrás de tudo o que de mal nos acontece) ter nascido na Alemanha “do Leste” e, pecado ainda maior, ser “protestante”. Não têm de resto faltado comentadores e outras figures ilustres a desfilar pelas televisões para nos ungirem com tão douta explicação.

Nada disto faz sentido – mais exactamente, nada disto faz sentido a não ser como propaganda muito primária. Nenhum político com um mínimo de sentido de sobrevivência prefere a austeridade ao crescimento. O que existe, isso sim, são diferentes visões sobre como estimular o crescimento da economia. E era por aí que as discussões deviam começar.

 

Uma parte do actual equívoco começa numa espécie de axioma que comanda muitos raciocínios: o de que, para haver crescimento económico, o Estado deve gastar mais. Gastar mais em “estímulos”, gastar mais em infra-estruturas, gastar mais a empregar desempregados, gastar mais em prestações sociais. Mais despesa pública, mais crescimento, menos despesa pública, austeridade eterna – é esta a ladainha que se repete um pouco todo o lado.

Portugal é, infelizmente para nós, um excelente exemplo do erro deste raciocínio. Na primeira década do século XXI o nosso país teve o terceiro pior crescimento do mundo apesar dos inúmeros programas de “estímulo” (leia-se subsídios) à economia, de um programa de construção de auto-estradas que nos faz ter uma rede mais densa do que a alemã, de apostas grandiloquentes nas novas tecnologias e nas novas energias. Depois, quando a crise estalou em 2008, o Portugal de Sócrates foi um dos mais entusiastas na adopção de políticas ditas keynesianas, e os resultados são os que estão à vista. Mais: a Espanha construiu o TGV que nós (em boa hora) não construímos e isso também não a salvou; tal como o novo aeroporto de Atenas não salvou a Grécia do colapso.

 

É por isso muito difícil perceber o entusiasmo quase infantil que por aí vai sobre a “agenda para o crescimento” na União Europeia. Mais: chega a ser doloroso verificar que há até quem fale num “novo Plano Marshall”. Para se ter apenas uma ideia, esse plano que tanto ajudou a Europa a recuperar das cinzas do pós-guerra representou o equivalente a cinco por cento do PIB americano na época. Se hoje quiséssemos mobilizar uma montanha de dinheiro equivalente teríamos de ir buscar entre 600 milhões e um milhão de milhões de euros. Em fundos públicos. Sabem o que está a ser negociado em Bruxelas? Um reforço de 10 mil milhões de euros do capital do Banco Europeu de Investimentos. O resto seria alavancagem financeira e fundos privados. Para além da reprogramação de fundos já existentes.

Pelo que, das duas, uma: ou estamos pura e simplesmente perante uma ficção – é preciso falar de crescimento, logo arranja-se uma “agenda para o crescimento”; ou então estamos perante um programa que, ao mobilizar fundos privados para programas públicos (nos documentos da Comissão Europeia sente-se por vezes uma estranha e desagradável ressonância a “parcerias público-privadas”), pode ajudar a criar hoje uma ilusão de crescimento que, amanhã, se traduz em mais peso para as economias e mais pressão sobre os sistemas financeiros.

Bem sei que não é popular dizê-lo, mas o foco tem de continuar a estar nas mudanças necessárias para tornar as economias mais competitivas. O foco tem de estar em reformas semelhantes às que a Alemanha (no tempo do socialista Schroeder) e a nórdica Suécia levaram a cabo nos últimos anos. Até porque, como esta semana explicava em editorial o Financial Times, políticas de estímulo por via orçamental até podem ter algum efeito nos Estados Unidos – uma economia relativamente fechada onde mais gastos públicos se traduzem quase directamente em mais consumo interno -, mas funcionam mal em países pequenos e médios – onde uma parte do efeito se esvai via aumento das importações.

Para muitos políticos é, de facto, duro perceber que não lhes basta porem-se a construir estradas, escolas ou portos para terem mais crescimento e menos desemprego. É verdade que, noutros tempos, em economias menos sofisticadas e em países mais desestruturados, certas políticas públicas ajudaram, e muito, ao crescimento. Fizeram-no, sobretudo, quando ajudaram a retirar barreiras à entrada nos mercados de novos empreendedores – a educação, por exemplo, alarga brutalmente a base de recrutamento de talentos ao criar idênticas oportunidades para todos e não apenas para os filhos das elites. Mas as economias desenvolvidas de hoje já ultrapassaram esse estádio, por assim dizer, de Plano Marshall. O que elas realmente necessitam é que o capitalismo democrático funcione.

 

Fala-se por aí muito dos mercados mas raramente, ou mesmo nunca, se percebe que o que distingue o capitalismo das economias mercantis que o precederam é que este é uma fabulosa máquina de inovação. “Destruição criativa”, chamou-lhe Schumpeter, e estamos sempre a vê-la funcionar: pensem na Apple face à Nokia, nas companhias low-cost face às companhias estabelecidas, na Toyota face à General Motors e por aí adiante. Há países onde, em meia dúzia de anos, se pode passar de experiências nos dormitórios das universidades a um Facebook, e outros (como contava uma reportagem do New York Times sobre a Grécia) onde é necessário entregar uma análise de fezes para abrir um negócio de comércio electrónico.

Nos anos 80 e 90 o mundo desenvolvido saiu da crise e da depressão dos anos 70 graças a reformas que estimularam o investimento privado, a tomada de risco, a flexibilidade e a mobilidade do trabalho e dos capitais. Hoje, por causa de sensação de pânico que se instalou em muitas opiniões públicas, paira a tentação do regresso ao proteccionismo e crescem os pedidos de abrigo sob a asa esfarrapada e endividada dos estados. É essa tentação que deve ser evitada. Tal como se deve discutir as duas propostas pró-crescimento que devolvem realmente às pessoas e às economias espaço para inovar, concorrer e crescer: a nível europeu, a real liberalização do mercado interno dos serviços, abrindo à concorrência o sector onde mais riqueza é produzida na UE; a nível nacional, a redução dos impostos (o que implica fazer emagrecer os governos), deixando assim mais dinheiro na economia para ela poder respirar.

O crescimento sustentável passa por aqui, não passa pelo “crescimento para político inaugurar”. Não nos iludamos.

Público, 4 Maio 2012

42 comentários leave one →
  1. aremandus permalink
    5 Maio, 2012 10:57

    Militares cumprem missão em resort de Cabo Verde

    Parte do contingente militar destacado para a eventual missão de resgate de portugueses na Guiné-Bissau está alojado, há três semanas, num resort turístico de quatro estrelas em Cabo Verde.

    A situação deixou perplexos turistas em férias na ilha do Sal, mas as Forças Armadas garantem que a situação é normal, quando não existem instalações militares adequadas para alojar as tropas. “Foi uma surpresa estar no mesmo hotel do contingente de militares”, testemunha um turista, hospedado no Belorizonte, o melhorresort da ilha do Sal, segundo informação veiculada por agências de viagem.

    Os militares integram a Força de Reação Rápida (FRI) que partiu para a região na sequência do golpe de Estado na ex-colónia. A FRI, que ontem recebeu ordem – depois dos contactos do JN – para começar a regressar (ler texto em baixo) é composta pelas fragatas Corte Real e Bartolomeu Dias, a corveta António Enes (com as respetivas guarnições e fuzileiros a bordo) e o avião de reconhecimento P-3 Orion.

    São 36 os militares afetos à aeronave que estão alojados no resort, situado na primeira linha de mar, perto de Santa Maria. Em sites de marcação de viagens e estadias, o preço diário por pessoa apontava, ontem, para 82 euros (bungalow) ou 113 (quarto).

    É A TAL AUSTERIDADE

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  2. tric permalink
    5 Maio, 2012 11:14

    este vai ser o caminho da Europa…a bem ou mal…
    .
    “Let me suggest the main components of such a change. First, we must get rid of the unproductive and paternalistic social market economy. Second, we should accept that economic adjustment processes take time and that impatient politicians and governments usually make things worse. Third, we should start making comprehensive reductions of government expenditures and forget flirting with solutions based on tax increases.

    We should also stop the constantly expanding green legislation. The Greens must be prevented from taking over much of our economy under the banner of such flawed ideas as the global warming doctrine. And we should get rid of the centralisation, harmonisation and standardisation of the European continent and start decentralising, deregulating and desubsidising our society and economy. It should be made possible for countries that are the victims of the European Monetary Union to leave it and return to their own monetary arrangements. And we should forget such plans as a European fiscal union, not to mention anti-democratic ambitions to politically unify Europe. We should return to democracy, which can exist only at the level of nation-states, not at the level of the whole continent.” Vaclav Klaus (03/05/2012),
    .
    http://oinsurgente.org/2012/05/05/presidente-vaclav-klaus-o-que-fazer-a-europa/

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  3. Rinka permalink
    5 Maio, 2012 11:27

    Totalmente de acordo.

    Infelizmente, estamos num ponto em que nem uma, nem outra política está a ser feita.
    Para existir liberalização do mercado, é preciso que os impostos baixem e que as leis restritivas e proteccionistas, desapareçam.
    Estamos é a verificar o oposto, aumento de impostos, apoios a práticas de dumping que afectam o mercado livre, o baixar do rendimento disponível para investir etc.
    Portanto, o José Manuel Fernandes, como o Gaspar, o Passos Coelho entre outros defendem a redução do investimento público e o aumento do privado. Expliquem-me como isso será possível na actual conjuntura de um estado que quer é açambarcar (perdoem-me a expressão) os fundos privados que possibilitam esse investimento privado

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  4. tric permalink
    5 Maio, 2012 11:28

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  5. aremandus permalink
    5 Maio, 2012 11:35

    oh afinal o ministro quer a frota naval de volta à metrópole. vamos lá ver se os feijões verdes instalados no resort aceitam!

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  6. 5 Maio, 2012 11:40

    A pobreza em que caímos (a outra, claro (mas qual?)) deve-se exclusivamente ao Sócrates e à sua política económica “expansionista”, decidida porque ele simplesmente gostava de gastar o dinheiro que não tinha nem fazia por ter, dinamizando a economia nacional. Um autêntico desvario. Pensava que a crise era de curta duração. Bom, e ele, lá no BCE, ou Merkel, em Berlim, pensavam o quê? Alguém, aliás, pensava ou pensa alguma coisa de seguro sobre o desfecho da crise? Mais: a nível das empresas, parece dizer-nos o Governo, quem pensa o povo que é para ambicionar um salário razoável e uma vida decente? Ora, assim não se cresce. Assim empobrece-se. Para crescermos, temos, portanto, de inverter a tendência de empobrecimento e … emboprecer ainda mais, deixar a economia em ruínas com a quebra do consumo e aumentar o número de desempregados para um nível tal que muita gente aceite trabalhar por uma tigela de sopa e uns trocados para tabaco e para pagar a luz à EDP. Este é, em suma, o modelo económico do Governo. Todos já percebemos que é perfeito, exatamente o que nos vinha a calhar para sermos felizes e ricos, o que tarda, é certo, mas é normal. Tão normal como ir ao Pingo Doce.
    Para Gaspar, a crise portuguesa, contada a papalvos, é tão simples quanto isto.

    Não existiu qualquer problema com as instituições financeiras internacionais em 2008, ninguém andou a jogar com o dinheiro das pessoas criando produtos virtuais na ganância do lucro e nada disso deu um estoiro. As sucessivas falências de instituições financeiras americanas não tiveram qualquer repercussão na banca europeia nem no crédito aos Estados, às empresas e às famílias. A União Europeia, em pânico, não se decidiu pelo desrespeito temporário dos limites dos défices dos Estados-Membros para poderem fazer face às falências de empresas e bancos e ao consequente desemprego, o que agravou necessariamente a dívida. Nada disso. Foi o Sócrates que, provocatoria e irresponsavelmente, e por opção económica, seguiu esse caminho.
    Isto é muito desonesto, sobretudo tendo em conta a preocupação de redução do défice e do desequilíbrio da nossa balança comercial externa (fatura energética à cabeça) que o primeiro governo Sócrates mostrou, com excelentes resultados, até ao eclodir da crise e que Vítor Gaspar não pode desconhecer. Assim como não pode fingir desconhecer que as prioridades tiveram depois de alterar-se, obviamente. Qualquer um de boa fé o percebe. Para os aldrabões que nos governam agora, o que ele, Sócrates, deveria ter feito era simplesmente recusar-se a apoiar as empresas e os desempregados, deixar falir os bancos, recusar veementemente o plano europeu de relançamento da economia, que concedia estímulos, e, no meio do caos, mandar as pessoas emigrar.
    Mas a desonestidade vai mais longe. Vítor Gaspar, economista do BP destacado no BCE, ignora que a China existe. E que a sua entrada na OMC e abertura ao mundo vieram dinamitar a indústria ocidental ao incentivar a deslocalização de fábricas e ao inundar ao mesmo tempo a economia com produtos a custos imbatíveis. A reconversão da nossa economia, apostando na inovação, na tecnologia, em “clusters” e na qualificação para fazer face à nova realidade, não era, para Gaspar, um processo que estivesse em curso. Nem interessa para o modelo e os esquemas que preenchem a sua cabçeça. Aliás, duvido que Gaspar tenha alguma noção de economia.
    Enfim, a dupla Passos/Gaspar, com todos os indicadores a agravarem-se, decidiu-se pela estratégia mais rasteira disponível no cardápio. No contexto do PSD, tal como o conhecemos, tal estratégia não destoa de outras.

    Já agora que penso nisso, o que disse mesmo Seguro perante esta técnica de venda de teorias económicas a papalvos?

    Concluindo e para não perder o enquadramento internacional: a crise prossegue, sobretudo aqui na Europa, sob comando alemão, e, na alta finança, tudo como dantes. Ninguém ousou ainda separar as atividades de investimento (ou especulação) das de gestão de depósitos. A Goldman Sachs, capaz de enganar impunemente os investidores para seu próprio benefício, continua a reinar, tendo colocado pessoas da sua confiança em lugares políticos chave na Europa. Mas, que interessa isso a Vítor Gaspar? Sócrates é o culpado. Right. Certo.

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  7. 5 Maio, 2012 11:49

    “Portugal é, infelizmente para nós, um excelente exemplo do erro deste raciocínio. Na primeira década do século XXI o nosso país teve o terceiro pior crescimento do mundo apesar dos inúmeros programas de “estímulo” (leia-se subsídios) à economia, de um programa de construção de auto-estradas que nos faz ter uma rede mais densa do que a alemã, de apostas grandiloquentes nas novas tecnologias e nas novas energias”.
    .
    Quem escreve uma coisa destas e acredita nela, andou muito distraído quanto ao que por cá se passou nos últimos 20 anos. Aquilo que foi feito, nada teve que ver com estímulo à ECONOMIA, mas antes com uma série de ajudas a alguns grupos.

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  8. António Joaquim permalink
    5 Maio, 2012 12:02

    Oleo figado de bacalhau.

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  9. tric permalink
    5 Maio, 2012 12:10

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  10. tric permalink
    5 Maio, 2012 12:11

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  11. António Joaquim permalink
    5 Maio, 2012 12:27

    O Snowman dá a resposta
    http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2461837

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  12. Joaquim Amado Lopes permalink
    5 Maio, 2012 12:39

    Muito bem escrito, JMF. Os meus parabéns.

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  13. piscoiso permalink
    5 Maio, 2012 13:23

    jmf1957 diz ter a receita para o crescimento sustentável.
    E já tem carneirada a dar parabéns.
    Coelho deve andar mesmo vesgo, ao não convidar jmf1957 para ministro de qualquer treta.

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  14. neotonto permalink
    5 Maio, 2012 13:42

    “Destruição criativa”, chamou-lhe Schumpeter

    Conho. O altarcinho neoliberal deixa sitio para outros economistas clásicos. Aumenta a familia e a nómina com outros gurús profetas.
    Claro que o tal Schumpeter porque raçoes que nao vem para caso sempre foi um” economista – apestado” no altarcinho- neo.
    Isto foi novedosso ; foi novidade e como tal debe aquí ficar constatado. Que é de camaleoes e de sabios saber acomodarse (ou camuflarse) com a paisagem nos tempos atormentados…

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  15. nuno granja permalink
    5 Maio, 2012 14:13

    assino por baixo

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  16. tric permalink
    5 Maio, 2012 14:42

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  17. PMP permalink
    5 Maio, 2012 16:04

    o JMF não faz ideia nenhuma do funcionamento da economia e da interligação entre o sector privado e o publico num sistema capitalista moderno.
    .
    Numa recessão económica é impossivel ao sector privado ser o motor do crescimento a menos que consiga aumentar as exportações num valor superior á contração do investimento e do consumo privado.
    .
    Mas como grande parte dos países está ou entrará em contração em breve , o crescimento das exportações não será suficiente para evitar a queda do PIB e assim os racios de Divida / PIB piorarão.
    .
    Ainda pior, pois o desemprego tende a aumentar sempre que o crescimento do PIB seja inferior a 1.5%, e como desemprego a aumentar o deficit piora e a confiança do sector privado para investir piora e que reforça a tendência recessiva.
    .
    Logo a única solução válida para a U.E. é ter um politica expansionista, em primeiro lugar com redução significativa dos impostos sobre as empresas e depois sobre o IRS.

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  18. 5 Maio, 2012 16:11

    Anders Borg: Europe’s best finance minister
    «His response to the crash was a permanent tax cut to speed the recovery. At the time, everyone told him it was madness. But Borg is unusual amongst finance ministers, in that he is a trained economist. To him, madness lay in repeating the formula of the 1970s and expecting different results. Last year, Sweden celebrated the elimination of its deficit. It’s perhaps worth mentioning a few other points which I didn’t fit into the interview. »
    http://www.spectator.co.uk/coffeehouse/7790223/anders-borg-europes-best-finance-minister.thtml

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  19. Fredo permalink
    5 Maio, 2012 16:34

    “Então vamos lá trocar umas ideias sobre crescimento”

    Não consegui ler mais que o primeiro parágrafo.
    Não terá outra coisa para a troca?

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  20. 5 Maio, 2012 16:42

    Lê-se, no texto, «…e, pecado ainda maior, ser “protestante”…», como se a referência a esse facto fosse uma idiotice. Pois bem; em 1871 Antero de Quental achava que a opção religiosa era importante no desenvolvimento (ou atraso) dos povos, a ponto de a sua intervenção nas Conferências do Casino ter sido, precisamente, sobre isso: o texto, intitulado «Causas da Decadência dos Povos Peninsulares», devia ser de leitura obrigatória – até porque foi no seguimento dele que sucedeu o facto histórico de as ditas conferências terem sido proibidas.

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  21. Fernando S permalink
    6 Maio, 2012 09:54

    Rinka : “Estamos é a verificar o oposto, aumento de impostos,…, o baixar do rendimento disponível para investir etc.”
    .
    Trata-se de uma observação interessante e que faz pensar.
    Mas não basta deixar mais dinheiro nas mãos dos privados para haver automaticamente mais investimento. O investimento depende certamente da poupança e da sua aplicação produtiva. Mas depende ainda mais da confiança do investidor na existencia de condições presentes e futuras de rentabilidade desse mesmo investimento. O investidor precisa de ter confiança na possibilidade de uma recuperação futura da economia, precisa de ver sinais que o levem a acreditar que serão feitas reformas que libertam a economia dos entraves e dos fardos que prejudicam o seu dinamismo e a sua eficiencia.
    Uma redução de impostos, da carga fiscal, sobre empresas e familias, é certamente uma das condições de rentabilização dos investimentos e, consequentemente, da retoma da confiança dos investidores. Os investidores precisam de ter hoje a convicção de que, tão cedo quanto seja realisticamente possivel, o governo vai reduzir impostos.
    Mas os investidores não são ingénuos, não acreditam em meras promessas para tempos presentes e futuros. Não basta o governo dizer que um dia vai baixar impostos. O governo, para além de apontar para essa possibilidade futura, tem de mostrar pelos seus actos que esta a fazer o necessario para um dia vir a ter condições para poder realisticamente baixar impostos.
    Uma primeira condição poderia ser uma redução importante dos gastos publicos. Esta redução, para além de permitir uma reequilibrio das contas públicas, deveria permitir evitar qualquer aumento de impostos e até abrir caminho a uma imediata primeira redução de impostos.
    Este seria o ponto de vista de alguns liberais mais radicais. Alguns até tendem a considerar que a redução de impostos deve ser imediata e substancial, independentemente e antes de se proceder à desejável redução dos gastos públicos. Segundo eles, uma substancial redução imediata de impostos seria quase de seguida auto-financiada pelo relance da economia e o aumento das receitas fiscais.
    No entanto, esta perspectiva é muito discutivel.
    Embora sem contestar a necessidade de se começar desde já um processo de redução do peso do Estado, há quem tenha sérias dúvidas quanto à possibilidade de o fazer assim tão fácilmente e rápidamente. De qualquer modo, técnicamente viável ou não, a verdade é que não existem actualmente condições políticas para a aplicação de um programa de redução drástica das despesas públicas e do peso do Estado. É desta realidade que se tem de partir. Se, na actual situação de crise grave das finanças publicas, o governo começasse por baixar impostos, os mercados e os investidores ficariam preocupadissimos e alarmados. Os eventuais ganhos imediatos de uma primeira baixa de impostos seriam certamente canalizados para outras paragens e para aplicações não produtivas. Não seriam investidos na economia nacional. O mais certo seria haver ainda mais desinvestimento. Porque, no fim de contas, os investidores seriam os primeiros a antecipar um colapso total das finanças publicas e a subsequente necessidade de um plano de austeridade ainda mais drástico (provávelmente com uma saída do Euro) que tornaria altamente improvavel qualquer retoma da economia nos próximos anos.

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  22. 6 Maio, 2012 12:27

    ou seja, o fernando acha que para se ser liberal no futuro, tem que ser socialista a curto prazo.Querem ver que o socrates estava certo? ahahahahhaha

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  23. 6 Maio, 2012 12:30

    ir. “Se, na actual situação de crise grave das finanças publicas, o governo começasse por baixar impostos, os mercados e os investidores ficariam preocupadissimos e alarmados. Os eventuais ganhos imediatos de uma primeira baixa de impostos seriam certamente canalizados para outras paragens e para aplicações não produtivas. ” E porque ficariam preocupados fernando? o que não nos falta é redução de despesa para ser feita, e o governo não está a fazer nenhuma.Está só a aumentar os impostos.Se o problema é as finanças, então baixe-se a despesa ao mesmo tempo co0rte-se os impostos.Menos impostos, menos despesa.É simples

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  24. Fernando S permalink
    6 Maio, 2012 14:54

    Caro rr,
    .
    Vou deixar de lado as suas provocações e ironias !… (mas pode continuar que não me incomodam … a sério !)
    Quanto ao fundo do problema.
    Se as finanças publicas o permitissem, é obvio que se deveria baixar rapidamente a carga fiscal portuguesa. Não seria suficiente só por si para dar confiança aos investidores. Continuariam a ser indispensaveis reformas estruturais que aumentassem a competitividade nacional e permitissem a rentabilidade dos investimentos.
    Mas a realidade actual é que as finanças publicas estão em situação de ruptura. O pais, e o respectivo governo, não teem neste momento qualquer margem de manobra para baixar impostos. Nem sequer para evitar o aumento de impostos.
    O rr diz que o governo poderia simultaneamente cortar nas despesas publicas e baixar impostos.
    Tecnicamente é sempre possível imaginar uma equação deste tipo. Mas a aplicação prática é muito mais complicada. Impossível no curto prazo.
    Em primeiro lugar porque, mesmo que houvesse vontade política para tal, o corte em certas despesas e a redução no peso do Estado não se faz assim tão rápidamente como isso. Precisamente por ser excessivamente pesado, mexer no aparelho do Estado tem toda uma série de implicações sobre o resto da sociedade e da economia. Se a redução for feita de modo precipitado pode ter consequências negativas graves. E até perversas, tendo em conta o objectivo que se pretende atingir. Algumas delas : o efeito recessivo sobre a economia a curto prazo seria ainda maior do que o actual ; as resistências e contestações políticas e sociais seriam dificeis de ser contidas ; a possibilidade de acção do governo seriam limitadas e estaria em risco a sua própria sobrevivência política e, consequentemente, a aplicação das medidas por ele decididas.
    Em segundo lugar, a situação de ruptura das finanças públicas, obrigou o Estado português a recorrer a financiamentos condicionados. Ou seja, o governo português não pode fazer tudo o que quer. Foi negociado um programa com os credores. Este programa não prevê, e estou certo de que os próprios credores nunca o aceitariam por realismo e prudencia, medidas drásticas de restruturação e, ainda menos, descidas de impostos (alguns membros da Troika sugeriram a descida de um imposto, a TSU, mas à custa do aumento de outro, o IVA).
    Em terceiro lugar, existe uma situação de facto que não permite uma política “liberal radical” (ponho entre aspas porque não considero que o “liberalismo” seja compatível com a irresponsabilidade ou com um qualquer projecto político “revolucionário”). Dito de outro modo, não existem actualmente condições políticas para a aplicação de uma política muito mais “liberal” do que a actual. As coisas são o que são, o país é o que é, o actual governo foi eleito democráticamente. Pela parte que me toca, também gostaria que o actual governo fizesse mais e mais depressa, tanto na restruturação do Estado como nas reformas estruturais na economia. Sempre com a reserva que referi acima, isto é, de que o que o governo poderia ainda fazer de melhor nunca seria suficiente para evitar uma forte política de austeridade, incluindo um aumento imediato de certos impostos (e taxas). Mas tenho presente que o actual governo é o resultado de uma coligação, não apenas de 2 partidos (o que já não é pouco), mas também e sobretudo, de diferentes sensibilidades políticas e ideológicas. Na fase actual, esta coligação é o mais “liberal” que é possível esperar. Para mim, este é também um dado do problema. Não serve de nada estar a esperar e a fazer contas com o que seria a política de um governo imaginário que não existe nem poderia existir nas condições actuais.
    Assim sendo, a prioridade numa política que seja tão “liberal” quanto possível nas condições existentes, é a de estancar a emorragia nas contas públicas actuando simultâneamente na redução das despesas públicas e no aumento de receitas por via das privatizações e do aumento de impostos e taxas. Algo de diferente é demagogia e irresponsabilidade. De resto, a oposição de esquerda também é actualmente contra a austeridade fiscal e também diz que seria possível evitá-la ou moderá-la racionalizando e fazendo economias no funcionamento do Estado (naturalmente, sem reduzir a respectiva estrutura, o que é perfeitamente impossível). A verdade é que o actual governo até vindo a tomar algumas decisões corajosas e impopulares, nas duas frentes acima referidas, apesar de uma forte oposição política e social. Já não seria mau que continuasse nesta via e que não cedesse à tentação de baixar os braços.
    Em simultâneo, e tão rápidamente quanto possível, é desejável que o governo avance com medidas de restruturação da economia, nomeadamente as que não têm uma relação directa com as contas públicas. Trata-se sobretudo de liberalizar. Também aqui nada se faz num dia. E até já foi feita alguma coisa. Mas é apenas o inicio e é preciso continuar. É sobretudo aqui, até mais do que no saneamento das finanças públicas, que o “liberalismo” do governo é e será posto à prova.
    É por todas estas razões que uma descida de impostos não é viável a curto prazo.
    Para que os impostos possam um dia ser reduzidos é indispensável que, antes disso, ao longo de um tempo que não será curto, se consiga ultrapassar a crise das finanças públicas. Esta não é por si uma característica exclusiva de uma política dita “liberal”. Mas é, sobretudo na situação actual do nosso país, uma condição indispensável. Sem finanças públicas equilibradas Portugal não ganha a margem de manobra financeira necessária para implementar e continuar reformas de cariz “liberal”. Esta margem é necessária para haver o tempo e as condições que permitam ir reduzindo o peso do Estado na economia. Esta margem é igualmente necessária para se começar uma progressiva uma redução substancial e sustentada da carga fiscal.

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  25. rami permalink
    6 Maio, 2012 15:02

    fernando s já ouviu na curva de laffer? é que ela desmente tudo que voce disse sobre os impostos

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  26. 7 Maio, 2012 08:36

    Reblogged this on arrecadação.

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  27. Fernando S permalink
    12 Maio, 2012 22:45

    rami,
    .
    Não conheço a sua idade e portanto até pode ser que me engane redondamente … Mas olhe que estatisticamente até ha uma forte probabilidade de eu ja ter ouvido falar (e lido) da (sobre) a curva de Laffer antes mesmo de voce nascer !!…
    O que, mesmo sendo verdade, obviamente que não me da nem mais nem menos razão nesta discussão !
    .
    Para responder à sua afirmação, e para não me repetir, trancrevo a seguir uma parte de um comentario que fiz hoje num outro post aqui no Blasfémias (https://blasfemias.net/2012/05/11/insuportavel-disse-ele/) e onde também faço uma alusão à tese de Laffer (que, diga-se de passagem, eu não contesto e até perfilho, desde que se verifiquem determinadas condições, diferentes das que caracterizam a situação que vive actualmente o nosso pais) :
    .
    . (inicio da citação)
    “Voce [o meu interlocutor, que também invoca a tese de Laffer] não esta a ter em conta o tempo. Nem a dura realidade das coisas, de resto.
    Neste momento não ha qualquer margem para baixar impostos a curto prazo. Estamos numa situação de ruptura financeira. Para podermos ter acesso a algum dinheiro estamos sujeitos a um programa que impede qualquer baixa de impostos. E ainda bem. Porque, se assim não fosse, afundariamos ainda mais a situação. Neste momento, a curto prazo, menos impostos significa certamente menos receitas para o Estado. Não é aceitavel. Não é aceitavel para os credores. Mas não é sequer aceitavel para o pais. Seria pura irresponsabilidade.
    .
    Mas, mesmo sendo inviavel, admitamos o cenario “louco” de uma redução de impostos. A historia da curva de Laffer não se aplica assim de qualquer maneira e em quaisqueres circunstancias. Mesmo estando reunidas condições favoraveis, é indispensavel um periodo de tempo durante o qual a redução de impostos é feita, os agentes economicos reagem ao estimulo, as decisões de investimento são tomadas e implementadas, os efeitos sobre o crescimento do produto fazem-se sentir, o Estado começa a arrecadar mais receitas. Nada disto acontece a curto prazo.”
    .
    A curto prazo, (…), é prioritario reduzir o déficit e o ritmo de crescimento da divida. Conseguir “apenas” isto ja seria um primeiro sucesso. Que nos daria provavelmente algum tempo para podermos recuperar algum controlo sobre as nossas finanças e começar a pensar em algumas medidas de incentivo fiscal. Mas aqui ja estariamos para além do curto prazo.”
    . (fim da citação)
    .
    .
    Recomendo também a leitura do que diz o “anti-comuna” sobre a curva de Laffer num outro comentario no post que linko em cima.

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  28. rami permalink
    12 Maio, 2012 23:56

    então, há que haver marxismo a curto prazo para haver liberalismo no longo? eu também não sei se voce ja ca estava quando nasci, mas a minha experiencia diz-me que aqui em portugal essa converseta do curto prazo e dos amanhãs que cantam não passa de uma treta para enganar otários.Que em portugal só se sobe impostos, nunca os descem.Uma opção fácil.Serão a classe média e baixa a pagar as favas.Não fernandos, voce não é convincente.Também lhe vou vou deixar umas citações:
    -“Anda por aí muita falsa indignação com as declarações de Pedro Passos Coelho sobre o desemprego. O que é pena, porque o que não falta nelas (ou pelo menos, naquilo que delas as televisões deram a conhecer) são motivos para que essa indignação fosse genuína. Consta que o Primeiro-Ministro terá “pedido aos portugueses” que adoptassem uma “cultura de risco” e que encarassem o desemprego “como uma oportunidade de mudarem de vida”. Percebo o que Passos Coelho quer dizer. E teria toda a razão em dizê-lo se Portugal se pudesse orgulhar de uma economia, como se diz agora, “dinâmica”. O problema é que não é esse o caso.
    Em Portugal, na conjuntura actual, perder o emprego não abre qualquer oportunidade. Cria, apenas e só, dificuldades. O problema do desemprego em Portugal só com muita má vontade poderá ser descrito como um de uma série de gente com “falta de iniciativa” que prefere ficar em casa a “arriscar”, recebendo subsídios em vez de um salário. Na realidade, com empresas a fecharem, dificuldade em contratar, e uma incerteza quanto ao dia de amanhã maior do que as contas bancárias, encontrar um novo emprego não é uma questão de vontade e “iniciativa”, é quase um milagre. E claro que algumas dessas pessoas poderiam “arriscar” abrir o seu próprio negócio. Mas por muita “cultura de risco” que se possa ter, para abrir um negócio é preciso também dinheiro. E quem é que vai conseguir obter um empréstimo nas circunstâncias actuais? e que perspectivas é que há de que esse negócio possa ser bem sucedido?

    Para além de que realmente muita gente não tem qualquer possibilidade de “arriscar”. Seria importante que Passos Coelho não se esquecesse de que, quando fala do desemprego em Portugal, está a falar em grande medida de uma série de pessoas que não viram apenas o seu emprego a desaparecer – antes viram desaparecer toda e qualquer perspectiva de de exercerem qualquer actividade. Pessoas que trabalhavam em indústrias que perderam por completo toda a sua competitividade com o exterior, que se tornaram obsoletas, que nunca mais regressarão ao nosso país; e pessoas que não têm (no horrível termo burocrático dos nossos dias) “competências” para procurarem empregos noutras áreas; ou que por terem 40, 45, 50 ou mais anos, são consideradas demasiado velhas por “empreendedores” como os que enchem os discursos de Passos Coelho; que, pura e simples, foram deixadas para trás pelo andar da carruagem. Essas pessoas, mudaram mesmo de vida. Mas essa mudança foi efectivamente uma tragédia para elas, e não lhes abriu qualquer oportunidade.
    Mas se Passos Coelho quer realmente que os portugueses vejam o desemprego como uma oportunidade, tem bom remédio. Porque é dele e dos seus colegas de Governo que isso depende. A única forma de o desemprego deixar de ser, para muita gente, algo de permanente, mas apenas algo de temporário, e dee as pessoas procurarem aproveitar as oportunidades que lhes possam surgir e criar as que não estão imediatamente ao seu alcance, é o Governo realizar uma série de reformas que até agora ainda não passaram do papel, ou nem sequer nele foram escritas. Quando for mais fácil contratar, quando as empresas e as pessoas puderem canalizar as suas receitas para o investimento em vez de para o pagamento de impostos, quando criar uma empresa deixar de ser um pesadelo e a economia for realmente “dinâmica” o suficiente para o risco que as pessoas correm possa valer a pena.
    Mas para isso, o Governo terá de, em vez de se limitar a fazer discursos, realmente fazer essas reformas. Até lá, as únicas oportunidades que existem são as que Passos Coelho perde de estar calado.”
    -E agora fernando, mais outra citação no mesmo blog(insurgente) que gostei imenso:facto do PS ser incompetente e irresponsável quando esteve no governo, não é desculpa para a incompetência deste governo
    -“Não foi reduzido o numero de entidades públicas, não foram renegociadas as PPP’s e as “rendas” excessivas, não foi privatizada a RTP e os impostos sobre as PME’s foram aumentados em vez de reduzidos e não foi reduzida a TSU nos sectores transacionáveis.
    Os reembolsos e pagamentos do estado continuam com atrasos enormes.
    Assim o PIB vai cair demasiado em 2012 e o desemprego disparou, reduzindo a cobrança fiscal e aumentando a despesa social.”
    A blogger maria joao marques escreveu isto também em relacao ao governo
    “A concordância de Vítor Gaspar significa, como todos percebem, uma avaliação positiva da actuação de Teixeira dos Santos enquanto ministro das finanças e não apenas (apesar de também) inépcia política. Ora como esta actuação se pautou por aumentos de impostos e crescimento da despesa pública e como a actuação de Vítor Gaspar se tem concretizado em aumentos de impostos e, afinal (e não interessa nada a desculpa da RTP; no antigamente de Teixeira dos Santos a despesa pública também subia por isto e por aquilo) com crescimento da despesa pública, como medidas concretas para a diminuição da despesa pública como a extinção ou fusão dos milhentos institutos públicos (só um exemplo) continuam por concretizar (Manuela Ferreira Leite, que fez uma primeira tentativa neste campo com alguns resultados, demorou bem menos tempo), só podemos concluir que a política financeira de Vítor Gaspar, e, em consequência, a do governo, é e pretende ser uma continuidade da política de Teixeira dos Santos. O que, parecendo que não, explica muito dos maus indicadores económicos depois das eleições do ano passado.
    Começa a ser tempo de assumir que Vítor Gaspar foi uma má escolha para as Finanças.”
    Comentários (7)


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  29. Fernando S permalink
    13 Maio, 2012 11:16

    rami,
    .
    Pelos vistos a minha referencia à sua suposta pouca idade foi incorrecta e infeliz e penalizo-me por isso …
    Era um modo de lhe dizer que conheço a curva de Laffer praticamente desde que foi apresentada, no final dos anos 70. De qualquer modo, embora formulada de outras maneiras, a ideia de que demasiado imposto mata o imposto é antiquissima na historia do pensamento economico.
    A questão não é conhecer ou não a curva de Laffer. Nem sequer é estar ou não de acordo com a ideia geral. Trata-se antes de ter em conta que as teorias se aplicam em determinadas condições e que as condições de aplicação desta teoria não são as que se verificam actualmente em Portugal.
    Vejo que o rami faz parte dos muitos que, da direita à esquerda, ignoram pura e simplesmente o factor tempo na analise economica e social.
    .
    As suas notas sobre o meu suposto “marxismo de curto prazo” e sobre a “treta para enganar otários” dizem muito sobre o modo simplista e sectario como o rami opina sobre estes assuntos.
    .
    Relativamente às citações que faz, tenho ideia de as ter ja lido nos ultimos dias. São certamente comentarios interessantes, escritos com talento, e onde até se dizem varias coisas com as quais concordo. Em particular, a necessidade de reduzir despesas publicas e de fazer reformas estruturais de sentido liberal.
    Mas não concordo com tudo o que é dito e, sobretudo, com as ilacções politicas mais criticas relativamente à actuação do governo actual.
    Eu não sei se o governo actual é tão “liberal” quanto seria desejavel (provavelmente não é) e se vai ou não fazer todas as reformas de fundo que o nosso pais precisa (provavelmente não vai). Mas penso que é ainda cedo para se poderem tirar conclusões a este respeito e que, portanto, muitas criticas que lhe são feitas nestes comentarios são exageradas e extemporaneas.
    Apesar de o não ter convencido, julgo que expliquei nos comentarios anteriores por que é que penso assim.
    .
    Muito embora não faça processos de intenções, e não ponha em causa as convicções “liberais” do rami e destes comentadores muito criticos do governo actual, não posso deixar de notar uma grande convergencia nestas criticas, inclusivé no que se refere aos impostos, com a argumentação actual da esquerda em geral, do PS de Seguro ao BE de Luçã, passando pelo PCP de Jeronimo.
    Esta convergencia nas criticas não anula de modo nenhum as enormes diferenças ideologicas e politicas que certamente existem entre este tipo de “liberais” e a esquerda “socialista”.
    Mas é um sinal da inconsequencia politica deste tipo de tomadas de posição.
    Por outras palavras, tendo em conta que não representam nenhuma alternativa “liberal” viavel ao actual governo, ao juntarem as suas vozes às da oposição de esquerda na campanha de oposição e descredibilização do actual governo, estes “liberais” estão objectivamente a contribuir, mesmo que marginalmente, para um eventual falhanço politico deste governo, para uma crise politica de consequencias imprevisiveis (tipo Grécia), para uma mais do que provavel substituição deste governo por outro mais à esquerda e, forçosamente, ainda mais “iliberal”.
    Eu não estou nessa !!

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  30. rami permalink
    13 Maio, 2012 12:58

    1º:explique lá o que é isso do curto prazo e porque é que voce diz que aumentando impostos diminui-se o défice.
    Porque isso foi o que sócrates fez.Tanto entre 2005 e 2008 , e nos ultimos tempos do governo com os pecs.Eu continuo a dizer que o governo até agora nao fez mais que enher chouriços no dominio das ppp e na reforma do estado.Voce pensa de outra maneira, mas é o que eu muitos pensamos.No meu caos esperava muito mais deste governo

    “Muito embora não faça processos de intenções, e não ponha em causa as convicções “liberais” do rami e destes comentadores muito criticos do governo actual, não posso deixar de notar uma grande convergencia nestas criticas, inclusivé no que se refere aos impostos, com a argumentação actual da esquerda em geral, do PS de Seguro ao BE de Luçã, passando pelo PCP de Jeronimo.
    Esta convergencia nas criticas não anula de modo nenhum as enormes diferenças ideologicas e politicas que certamente existem entre este tipo de “liberais” e a esquerda “socialista”.
    Mas é um sinal da inconsequencia politica deste tipo de tomadas de posição.
    Por outras palavras, tendo em conta que não representam nenhuma alternativa “liberal” viavel ao actual governo, ao juntarem as suas vozes às da oposição de esquerda na campanha de oposição e descredibilização do actual governo, estes “liberais” estão objectivamente a contribuir, mesmo que marginalmente, para um eventual falhanço politico deste governo, para uma crise politica de consequencias imprevisiveis (tipo Grécia), para uma mais do que provavel substituição deste governo por outro mais à esquerda e, forçosamente, ainda mais “iliberal”.”:
    -Não, nós não somos iguais aos partidos da esquerda, na medida em que não apoiamos fiscalidade alta como eles apoiam e promovem.Quem está a ser igual a eles é voce e o psd

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  31. Fernando S permalink
    13 Maio, 2012 15:58

    Rami,
    .
    O déficit já foi diminuido em 2011. Tudo indica que vai ainda baixar no final de 2012. É a previsão do governo. Mas, pelos vistos, tanto a União Europeia como os mercados consideram esta hipóteses como credível.
    Nesta primeira fase, no curto prazo, esta diminuição está a ser conseguida através da redução de despesas do Estado e também através de aumentos de impostos.
    Repito. Ao contrário do que o rami afirma, o déficit está a baixar, em parte por diminuição de despesas, em parte com (e apesar de) aumentos de impostos.
    É verdade que a economia está em recessão e que, por esse facto, a matéria colectável é inferior à que seria se não estivesse. Mas o aumento das taxas de imposição entretanto verificado mais do que compensa a perda.
    De qualquer modo, a economia já tinha entrado em recessão antes dos aumentos de impostos, incluindo os feitos com o governo Socrates. Não foram nem são os recentes aumentos de impostos a causa principal da recessão. A principal causa próxima da recessão foi a crise internacional. E a principal causa de fundo da recessão foram os anos e anos de políticas económicas erradas dos governos anteriores. Incluindo, naturalmente, uma carga fiscal elevada e em crescimento. Sim, a carga fiscal já era elevada, mesmo antes dos aumentos mais recentes.
    É evidente que o modelo economico portugues tem de ser mudado, essencialmente no sentido de dar mais competitividade à economia. E, nesta mudança, a redução da carga fiscal deve ser um dos principais objectivos.
    Mas não é a prioridade. Não pode ser, infelizmente.
    Os erros acumulados ao longo de décadas não se corrigem de um dia para o outro. Nem sequer de um ano para o outro. É preciso tempo, são necessários anos. E é necessário percorrer uma série de etapes. Primeiro é preciso apagar o fogo, depois limpar o terreno, e de seguida reconstruir a casa. Não é “conversa para otários”. É a dura realidade. “Otários” são antes os que acreditam ingénuamente que é possível resolver um crise profunda de um dia para o outro e sem custos.
    A prioridade é combater o déficit. Só depois de resolvida a crise das finanças públicas é que faz sentido mudar a prioridade para a competitividade. E só nesta altura é que uma redução significativa e sustentada de impostos é realista.
    Para combater o déficit é mesmo inevitável algum aumento de impostos e taxas. Esperemos que não seja necessário ir ainda mais longe, que se fique por aqui. Mas ainda é cedo para excluir em definitivo a necessidade de novos aumentos.
    Para combater o défict de forma sustentável e virtuosa para a economia é sem dúvida fundamental reduzir despesas públicas, reduzir o peso do Estado.
    Alguma coisa tem estado a ser feita pelo governo actual. Sobretudo no que se refere a prestações sociais e a remunerações de funcionários. Que são a componente principal da despesa pública (não são as mordomias dos políticos, as fundações, etc).
    Não é verdade que o actual governo está a fazer apenas o que fez o governo Sócrates. Durante muito tempo o governo Sócrates aumentou despesas e não fez reformas. Este governo está a fazer exactamente o contrário.
    É pouco ? É sim senhor. Podia-se fazer mais ? Técnicamente, certamente. Mesmo sabendo que não é tão fácil como alguns imaginam reformar um sistema estatal pesado e implantado na sociedade. Mas politicamente é algo de muito arriscado. O que tem sido feito já tem provocado um aumento rápido do descontentamento das pessoas e suscita uma oposição política muito forte. Imagine-se o que seria, pelo menos nesta fase, se o governo tivesse ido ainda mais longe. O risco é que este tipo de medidas, que tocam muita gente, que por sinal pertence precisamente às classes médias e urbanas que tanto preocupam o rami, aumentem de tal modo o descontentamento e a impopularidade do governo que este acabe por cair e se entre numa crise política sem fim ou que dê lugar a um governo ainda menos reformador.
    Não esquecer que a principal ameaça para a sobrevivência deste governo não são os seus críticos “liberais”. Que pouco reresentam e que pouco contam na correlação de forças políticas e sociais. A verdadeira oposição vem antes da esquerda e de todos aqueles que se opõem a uma verdadeira reforma da economia portuguesa.
    Nesta fase, o mais importante é que este governo se aguente e possa continuar a levar a cabo o plano da troika e uma política de saneamento das contas públicas e de reformas estruturais na economia.
    Pelo menos a única esperança realista neste momento é que este governo consiga aguentar-se e tenha sucesso na resolução da crise das finanças públicas.
    Até porque esta é uma primeira condição para que possam ser implementadas e prosseguidas outras políticas mais ambiciosas : de restruturação e redução do aparelho de Estado, de redução de despesas, de liberalização da economia, de redução de impostos,etc.
    Sim, de redução de impostos e da carga fiscal. Logo que possível, de modo realista e sustentável. Apenas nestas condições faz sentido voltar a falar da “curva de Laffer” !
    Mais vale tarde e bem do que nunca ou depressa e mal !
    Esta é a grande diferença entre uma via mais liberal de reforma realista do nosso modelo económico e uma política de esquerda que deixaria tudo por resolver e teria consequências negativas duradouras para o país !

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  32. rami permalink
    13 Maio, 2012 16:37

    De qualquer modo, a economia já tinha entrado em recessão antes dos aumentos de impostos, incluindo os feitos com o governo Socrates. Não foram nem são os recentes aumentos de impostos a causa principal da recessão. A principal causa próxima da recessão foi a crise internacional. E a principal causa de fundo da recessão foram os anos e anos de políticas económicas erradas dos governos anteriores. Incluindo, naturalmente, uma carga fiscal elevada e em crescimento. Sim, a carga fiscal já era elevada, mesmo antes dos aumentos mais recentes.”: Então porque é que o pec IV foi chumbado?Voce dá-me razão quando eu digo que as politicas são as mesmas

    “Não foram nem são os recentes aumentos de impostos a causa principal da recessão. A principal causa próxima da recessão foi a crise internacional. “:
    Não, infelizmente é culpa nossa.De um mau modelo economico.Veja o que o medina carreira diz sobre isso.

    “É evidente que o modelo economico portugues tem de ser mudado, essencialmente no sentido de dar mais competitividade à economia. E, nesta mudança, a redução da carga fiscal deve ser um dos principais objectivos.
    Mas não é a prioridade. Não pode ser, infelizmente.
    Os erros acumulados ao longo de décadas não se corrigem de um dia para o outro. Nem sequer de um ano para o outro. É preciso tempo, são necessários anos. E é necessário percorrer uma série de etapes. Primeiro é preciso apagar o fogo, depois limpar o terreno, e de seguida reconstruir a casa. Não é “conversa para otários”. É a dura realidade. “Otários” são antes os que acreditam ingénuamente que é possível resolver um crise profunda de um dia para o outro e sem custos.
    A prioridade é combater o déficit. Só depois de resolvida a crise das finanças públicas é que faz sentido mudar a prioridade para a competitividade. E só nesta altura é que uma redução significativa e sustentada de impostos é realista: ” A prioridade é combater o défice sim.Mas isso só se consegue com crescimento, lamento dize-lo, e isso só se consegue com politicas fiscais e reformas adequadas, pelo que reduzir impostos e diminuir o défice é completamente compativel.Isto é : o 1ºobjectivo só se consegue se o outro for atingido.E há que moderar a austeridade.Não pode ser tudo a incendiar-se á bruta.E nós já sabemos como essa história dos impostos vai ficar: nunca se vão reduzir.Isso que voce pensa é mero wishful thinking ingenuo.
    “Alguma coisa tem estado a ser feita pelo governo actual. Sobretudo no que se refere a prestações sociais e a remunerações de funcionários. Que são a componente principal da despesa pública (não são as mordomias dos políticos, as fundações, etc).
    Não é verdade que o actual governo está a fazer apenas o que fez o governo Sócrates. Durante muito tempo o governo Sócrates aumentou despesas e não fez reformas. Este governo está a fazer exactamente o contrário.”: O que vc diz aqui também não é bem verdade. De 2005 a 2007 reduziu-se o défice apenas com aumento de impostos.Seguiu-se uma politica de gastos entre 2009 e 2010, e em 2010-2011, retomou-se a austeridade com os pecs que aumentaram a fiscalidade.Voce até pode achar que é necessario, mas não pode negar o óbvio: que as diferenças entre uma e outras são diminutas.

    “É pouco ? É sim senhor. Podia-se fazer mais ? Técnicamente, certamente. Mesmo sabendo que não é tão fácil como alguns imaginam reformar um sistema estatal pesado e implantado na sociedade. Mas politicamente é algo de muito arriscado. O que tem sido feito já tem provocado um aumento rápido do descontentamento das pessoas e suscita uma oposição política muito forte. Imagine-se o que seria, pelo menos nesta fase, se o governo tivesse ido ainda mais longe. O risco é que este tipo de medidas, que tocam muita gente, que por sinal pertence precisamente às classes médias e urbanas que tanto preocupam o rami, aumentem de tal modo o descontentamento e a impopularidade do governo que este acabe por cair e se entre numa crise política sem fim ou que dê lugar a um governo ainda menos reformador.” Mas isso é um risco sempre presente em todos os governos.E sinceramente todos os governos teem é de pensar na economia e no pais, não nas eleições.

    “Até porque esta é uma primeira condição para que possam ser implementadas e prosseguidas outras políticas mais ambiciosas : de restruturação e redução do aparelho de Estado, de redução de despesas, de liberalização da economia, de redução de impostos,etc.
    Sim, de redução de impostos e da carga fiscal. Logo que possível, de modo realista e sustentável. Apenas nestas condições faz sentido voltar a falar da “curva de Laffer” !
    Mais vale tarde e bem do que nunca ou depressa e mal !
    Esta é a grande diferença entre uma via mais liberal de reforma realista do nosso modelo económico e uma política de esquerda que deixaria tudo por resolver e teria consequências negativas duradouras para o país ”
    Mas isso que o governo está a fazer é a via esquerdista.Não reconheço nenhum liberalismo realista nisso.Ou se é socialista ou se é liberal.Pura e simplesmrnte issso

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  33. rami permalink
    13 Maio, 2012 16:41

    já agora desculpe-me se me esqueci de colocar o : nalguns pontos

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  34. rami permalink
    13 Maio, 2012 17:05

    quanto á curva de laffer, voce pode pensar o que quiser, mas mais taxas não significam mais impostos.Mais canas de pescas nao conseguem mais peixe.Porque as taxas influenciam a economia e as pessoas.O seu erro é pensar que o défie não se resolve sem competitividade.Eu não sou menos defensor de sanear as contas do que voce.Entendo é que tem de se sanear as contas sem prejudicar a economia, porque só garantindo esta é que se garante a primeira.Ou seja ambos conceitos não são oposição mas sim complementam-se

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  35. rami permalink
    13 Maio, 2012 19:47

    *perdao mais uma vez, que se resolve*

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  36. Fernando S permalink
    13 Maio, 2012 21:23

    rami : “Então porque é que o pec IV foi chumbado?”
    .
    Não percebo !… O PEC IV foi chumbado porque o PSD considerou que o governo socialista já não tinha credibilidade para continuar a propôr planos insuficientes, com medidas que não aplicava, e com objectivos acabava sempre por não cumprir.
    Neste aspecto, e embora ainda seja cedo para tirar conclusões definitivas, o actual governo tem-se revelado muito mais credivel.
    No mínimo, cortou despesa e tem vindo a baixar o déficit.
    O que o actual governo não inverteu na política anterior foi o aumento dos impostos. Na verdade ainda os aumentou mais.
    Mas era inevitável para fazer frente ao “buraco” deixado pelo governo anterior. Teria sido irresponsável e suicidário não o fazer.
    .
    .
    rami : “… infelizmente é culpa nossa.De um mau modelo economico.”
    .
    Mas foi o que eu disse a seguir !!… Que a causa de fundo foram as políticas e o modelo económico. No longo prazo. Mas é inegável que o que agravou repentinamente o desequilibrio das finanças públicas, num prazo mais curto, foi a crise internacional : a recessão importada reduziu significativamente as receitas fiscais. Depois, Portugal sofreu mais do que muitos outros paises sobretudo por duas razões, de ordem interna. Primeiro, devido aos erros passados, o governo não tinha margem financeira para acomodar a diminuição das receitas fiscais e a economia não tinha competitividade suficiente para retomar o crescimento quando a crise internacional se atenuou. Depois, o governo fez exactamente o contrário do que devia ter feito, aumentou ainda mais as despesas públicas, com o argumento keynesiano de que para combater a crise era preciso o Estado gastar e investir mais.
    .
    .
    rami : “A prioridade é combater o défice sim.Mas isso só se consegue com crescimento…”
    .
    Bom, o que voce diz aqui é uma contradição nos termos… A prioridade ou é o déficit ou é o crescimento. Não podem ser os dois ao mesmo tempo. Pelo menos, no curto prazo, como tenho vindo a repetir. Para combater o défict tem de reduzir as despesas públicas e aumentar as receitas públicas por via fiscal. Estas duas políticas são desfavoráveis ao crescimento. Sempre a curto prazo. Reduzir impostos não teria efeitos a curto prazo, nem sobre o crescimento, nem sobre as receitas fiscais (a sua “curva de Laffer” não funciona a curto prazo). E afundaria ainda mais o déficit. Um verdadeiro suicidio. Nenhum outro país com problemas de endividamento, mesmo menores do que os de Portugal, o fez ou o está a fazer. A outra via para relançar o crescimento é aumentar as despesas públicas. Mas, também aqui, seria um suicidio. Mas é o que as esquerdas defendem. De resto, as esquerdas, demagógicas e anti-económicas como são, propõem tudo ao mesmo tempo : aumentar despesas, reduzir impostos, é o seu “moderar a austeridade”. E prometem no final, menos déficit e mais crescimento. Uma maravilha ! No fim de contas, com a excepção do discurso sobre a redução das despesas públicas, que é a sua “varinha mágica”, é quase idêntico ao que o rami defende !
    .
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    rami : “E nós já sabemos como essa história dos impostos vai ficar: nunca se vão reduzir.Isso que voce pensa é mero wishful thinking ingenuo.”
    .
    Não sei se os impostos se vão reduzir um dia. O que sei é que, para poderem existir um dia condições para os reduzir, não podem ser reduzidos agora. “Wishful thinking ingénuo” é acreditar que o possam ser. Primeiro, a curto prazo, temos é de controlar as finanças públicas e ganhar verdadeira soberania fiscal, que não temos agora por estarmos sujeitos a um programa de ajuda. Depois, do curto para o médio prazo,temos de continuar a reduzir despesas, temos de ir diminuindo progressivamente o peso do aparelho de Estado, temos de continuar e aprofundar as reformas estruturais da economia (privatizações, liberalizações, etc). A médio prazo, todas estas medidas combinadas devem contribuir para o aumento da competitividade da economia e para relançar o crescimento económico (esperando que o exterior ajude por via das nossas exportações). Nesta altura, que é impossível dizer agora exactamente a partir de quando, dentro de quantos anos, será então possível reduzir globalmente e significarivamente a carga fiscal. Naturalmente, quanto mais depressa e quanto maior for o sucesso das outras políticas, mais rápidamente poderá ser iniciado o processo de baixa de impostos. De resto, nada obsta a que, ao longo de todo este percurso, certos impostos possam ser reduzidos e outros aumentados. O mais importante é que o conjunto contribua no final para uma melhoria da competitividade das empresas e do rendimento disponível das famílias. E que estes resultados sejam sustentados a mais longo prazo.
    .
    .
    rami : “De 2005 a 2007 reduziu-se o défice apenas com aumento de impostos.Seguiu-se uma politica de gastos entre 2009 e 2010, e em 2010-2011, retomou-se a austeridade com os pecs que aumentaram a fiscalidade.Voce até pode achar que é necessario, mas não pode negar o óbvio: que as diferenças entre uma e outras [políticas dos governos Sócrates e Passos Coelho] são diminutas.”
    .
    Os governos PS priviligiaram sempre o aumento de impostos e o aumento do endividamento público. Como diz, para financiar reduções do déficit (entre 2005 a 2007) e aumentos das despesas (sempre, até 2010). Até 2010 nunca fizeram nenhum esforço para reduzir despesas públicas. Os planos de austeridade em 2010-2011, com alguns cortes nas despesas públicas e novos aumentos de impostos, foram a excepção final. Foram já uma tentativa desesperada de fazer face à já indisfarçável ruptura financeira do Estado. Os planos até representaram uma mudança relativamente ao despesismo anterior e iam na boa direcção. Mas chegaram tarde, foram manifestamente insuficientes no que se refere à redução de despesas, não tinham qualquer reforma estrutural, e o governo mostrou que não tinha condições para aplicar sequer os seus próprios planos. Perdeu qualquer credibilidade, interna e externamente. O plano negociado com a troika, quando já se adivinhava que o governo perderia as eleições, corrigiu as principais insuficiências dos planos do governo PS. Em particular, em termos de um corte de despesas muito mais importante, da introdução de reformas estruturais, e, “the last but not the least”, de um ainda maior agravamento da austeridade, nomeadamente com novos aumentos de impostos.
    O actual governo, com apenas 1 ano de exercício, tem vindo a aplicar este plano. E tem-no feito respeitando o essencial das medidas e dos objectivos nele previstos. Nalguns aspectos, indo até mais longe. Não sou eu quem o diz : são os membros da troika, são muitos observadores e economistas nacionais e internacionais, são os próprios mercados.
    Esta é uma diferença importante relativamente ao governo anterior.
    .
    .
    rami : “Mas isso [que cortes radicais e imediatos nas despesas do Estado possam provocar descontentamento e levar a uma crise política e à substituição deste governo por outro ainda menos reformador] é um risco sempre presente em todos os governos.E sinceramente todos os governos teem é de pensar na economia e no pais, não nas eleições. “
    .
    Parece-me que o rami não percebeu bem o que pretendi dizer (culpa minha).
    O problema não é ganhar as próximas eleições.
    O problema é ter tempo e condições e para levar a cabo um programa de reformas necessárias na economia e no país.
    “Partir a loiça” e ser mandado para casa não é “pensar na economia e no país”. É irresponsabilidade e é estúpido.
    Mas, pelos vistos, o rami e outros “liberais exigentes e intransigentes”, parecem não considerar indispensável o respeito pelo programa que foi negociado com a troika, e, em última instância, parecem preferir ter um governo PS de José Seguro (eventualmente apoiado pelo BE e pelo PCP) a um governo PSD/CDS com uma liderança e a composição mais próxima das ideias liberais que jamais e em tempo algum existiu em Portugal.
    .
    .
    rami : “Não reconheço nenhum liberalismo realista nisso.Ou se é socialista ou se é liberal.”
    .
    Já tinha percebido que o rami é um purista maniqueista do “ou tudo ou nada” !!
    Claro que o resultado mais provável é o “nada”. E ainda bem, porque o “tudo liberal” (?!…) levaria certamente ao despotismo e à guerra civil.
    De facto o seu “liberalismo” (e não só) tem pouco ou nada a vêr com o meu !

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  37. rami permalink
    14 Maio, 2012 00:06

    Mais uma vez posso deitar abaixo os seus argumentos fernando.Mas vamos entao por partes
    ” Não percebo !… O PEC IV foi chumbado porque o PSD considerou que o governo socialista já não tinha credibilidade para continuar a propôr planos insuficientes, com medidas que não aplicava, e com objectivos acabava sempre por não cumprir.
    Neste aspecto, e embora ainda seja cedo para tirar conclusões definitivas, o actual governo tem-se revelado muito mais credivel.
    No mínimo, cortou despesa e tem vindo a baixar o déficit.
    O que o actual governo não inverteu na política anterior foi o aumento dos impostos. Na verdade ainda os aumentou mais.
    Mas era inevitável para fazer frente ao “buraco” deixado pelo governo anterior. Teria sido irresponsável e suicidário não o fazer”.:
    -em feito uns cortezitos de chacha, desculpe-me a sinceridade, fazendo amaior parte através das receitas, á boa maneira de sempre.Em relação ao pec IV não á nada de novo.Mudou-se só as moscas.

    “Mas foi o que eu disse a seguir !!… Que a causa de fundo foram as políticas e o modelo económico. No longo prazo. Mas é inegável que o que agravou repentinamente o desequilibrio das finanças públicas, num prazo mais curto, foi a crise internacional : a recessão importada reduziu significativamente as receitas fiscais. Depois, Portugal sofreu mais do que muitos outros paises sobretudo por duas razões, de ordem interna.
    Primeiro, devido aos erros passados, o governo não tinha margem financeira para acomodar a diminuição das receitas fiscais e a economia não tinha competitividade suficiente para retomar o crescimento quando a crise internacional se atenuou. Depois, o governo fez exactamente o contrário do que devia ter feito, aumentou ainda mais as despesas públicas, com o argumento keynesiano de que para combater a crise era preciso o Estado gastar e investir mais.-“Já não estou tanto em desacordo, ai no histórico da crise.Mas aumentar impostos não é liberal.

    “om, o que voce diz aqui é uma contradição nos termos… A prioridade ou é o déficit ou é o crescimento. Não podem ser os dois ao mesmo tempo. Pelo menos, no curto prazo, como tenho vindo a repetir. Para combater o défict tem de reduzir as despesas públicas e aumentar as receitas públicas por via fiscal. Estas duas políticas são desfavoráveis ao crescimento. Sempre a curto prazo. Reduzir impostos não teria efeitos a curto prazo, nem sobre o crescimento, nem sobre as receitas fiscais (a sua “curva de Laffer” não funciona a curto prazo). E afundaria ainda mais o déficit. Um verdadeiro suicidio. Nenhum outro país com problemas de endividamento, mesmo menores do que os de Portugal, o fez ou o está a fazer. A outra via para relançar o crescimento é aumentar as despesas públicas. Mas, também aqui, seria um suicidio. Mas é o que as esquerdas defendem. De resto, as esquerdas, demagógicas e anti-económicas como são, propõem tudo ao mesmo tempo : aumentar despesas, reduzir impostos, é o seu “moderar a austeridade”. E prometem no final, menos déficit e mais crescimento. Uma maravilha ! No fim de contas, com a excepção do discurso sobre a redução das despesas públicas, que é a sua “varinha mágica”, é quase idêntico ao que o rami defende ” : Não há contradição nenhuma, pelo contrario, é através da economia que se gera receitas,e .Como eu lhe disse mais receitas não significa mais impostos necessariamente.Não teria efeitos a curto prazo porque? Mas com uma economia em fanicos , que receitas é que se gera oh fernando? essa é que é a questão.E suicidio economico depende.Voce ao reduzir os impostos, para manter a estabilidade fiscal tem também que reduzir na mesma proporção ou mais ainda as depsesas do estado, não pode manter no mesmo nivel a despesa não.E o governo aqui está bastante lento e preguiçoso.Quanto ás esquerda, creio que o fernando está mais proximo delas, porque elas também acreditam no aumento de impostos.E o fernando s ai parece coincidir com elas

    “Não sei se os impostos se vão reduzir um dia. O que sei é que, para poderem existir um dia condições para os reduzir, não podem ser reduzidos agora. “Wishful thinking ingénuo” é acreditar que o possam ser. Primeiro, a curto prazo, temos é de controlar as finanças públicas e ganhar verdadeira soberania fiscal, que não temos agora por estarmos sujeitos a um programa de ajuda.”: Wishful thinking é pensar que a simples colecta de impostos aumenta a receita mesmo no curto prazo.Não há nenhuma dicotomia entre austeridade e crescimento mas tem de se escolher as medidas.Há que fazer o trabalho na reducao da despesa do estado que o estado não faz.A história diz-me que a redução dos impostos não vai acontecer quer melhore quer não.Sempre foi assim.E em portugal a historia e comum repetir.-se

    “Os governos PS priviligiaram sempre o aumento de impostos e o aumento do endividamento público. Como diz, para financiar reduções do déficit (entre 2005 a 2007) e aumentos das despesas (sempre, até 2010). Até 2010 nunca fizeram nenhum esforço para reduzir despesas públicas. Os planos de austeridade em 2010-2011, com alguns cortes nas despesas públicas e novos aumentos de impostos, foram a excepção final. Foram já uma tentativa desesperada de fazer face à já indisfarçável ruptura financeira do Estado. Os planos até representaram uma mudança relativamente ao despesismo anterior e iam na boa direcção. Mas chegaram tarde, foram manifestamente insuficientes no que se refere à redução de despesas, não tinham qualquer reforma estrutural, e o governo mostrou que não tinha condições para aplicar sequer os seus próprios planos. Perdeu qualquer credibilidade, interna e externamente. O plano negociado com a troika, quando já se adivinhava que o governo perderia as eleições, corrigiu as principais insuficiências dos planos do governo PS. Em particular, em termos de um corte de despesas muito mais importante, da introdução de reformas estruturais, e, “the last but not the least”, de um ainda maior agravamento da austeridade, nomeadamente com novos aumentos de impostos.
    O actual governo, com apenas 1 ano de exercício, tem vindo a aplicar este plano. E tem-no feito respeitando o essencial das medidas e dos objectivos nele previstos. Nalguns aspectos, indo até mais longe. Não sou eu quem o diz : são os membros da troika, são muitos observadores e economistas nacionais e internacionais, são os próprios mercados.
    Esta é uma diferença importante relativamente ao governo anterior.”: Poucas ou nenhumas diferenças.Duvido que hayek ou mises estivessem de acordo com isso .Mas nem é preciso estes senhores.O que oiço dos economistas é que vamos ter de renegociar o memorando.O Medina carreira até já admite esta hipotse.Leia também paulo trigo pereira.Um conselho: leia os posts do ricardo arroja no insurgente.Ele ao longo do ano tem feito posts sobre a economia e o governo que retratam bem aquilo que falo.DIgamos que ele especifica melhor o ponto que eu estou a querer chegar.

    Mas, pelos vistos, o rami e outros “liberais exigentes e intransigentes”, parecem não considerar indispensável o respeito pelo programa que foi negociado com a troika, e, em última instância, parecem preferir ter um governo PS de José Seguro (eventualmente apoiado pelo BE e pelo PCP) a um governo PSD/CDS com uma liderança e a composição mais próxima das ideias liberais que jamais e em tempo algum existiu em Portugal.”O que nós liberais “insurgentes” achamos é que há outras opções que o governo devia seguir já e que era possivel.Privatizar rtp, despedir já funcionarios publicos, e renegociar ppps e rendas de energia.Sinceramente um ou outro governo parecem-me socialistas.Um é socialista mais rapido, e outro mais lento.

    Parece que sim, fernando.Não há muita materia que estemos de acordo.É a vida.
    .

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  38. Fernando S permalink
    14 Maio, 2012 00:20

    rami : “Parece que sim, fernando.Não há muita materia que estemos de acordo.É a vida.”
    .
    Parece que sim, rami !
    Ja nos estamos a repetir …
    Até uma proxima e boa noite !

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  39. rami permalink
    14 Maio, 2012 00:35

    mas ressalvo que foi bom trocar impressoes consigo fernando s, isso nao esta em causa.Pode o pais estar em crise, mas a democracia enquanto existir é para ser vivida.E um dos seus valores mais bonitos eé a pluralidade de opinioes.
    Igualmente

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  40. PMP permalink
    14 Maio, 2012 01:10

    Alguem pode conferir se estes dados estão certos :
    .
    Exportações :
    2008 – 55,8 milhões de euros
    2011 – 60,6 milhões de euros

    Crescimento em 3 anos = 8% , ou seja cerca de 2,5% ao ano , ou seja zero crescimento descontando a inflação ?

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  41. Fernando S permalink
    14 Maio, 2012 10:40

    rami : “foi bom trocar impressoes”
    .
    Plenamente de acordo.
    Vamos ver como evolui a situação nos proximos tempos, que de resto depende também do que se esta a passar a a nivel europeu, e pode ser que venhamos a ter mais elementos para relançar esta troca de impressões.

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