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Regulação de sistemas complexos

20 Setembro, 2008

Os sistemas financeiros são sistemas complexos. Os sistemas complexos não têm uma descrição simplificada. Para os descrever é necessário enumerar todas as propriedades dos seus elementos e respectivas relações. Não é possível determinar a priori o que é que um sistema complexo vai fazer por simples inspecção das propriedades dos seus elementos. A regulação de sistemas complexos tem  limites óbvios. Como a descrição do sistema requer uma vasta quantidade de informação, nenhum regulador o poderá conhecer. Como não é possível determinar a priori os resultados de uma intervenção, o regulador não tem como obter obectivos concretos. A tentativa de produzir resultados concretos (por exemplo, juros baixos ou baixa taxa de falências) através de medidas regulatórias resultará quase sempre em resultados totalmente diferentes dos pretendidos. A regulação com objectivos concretos é impossível. A única regulação que é possível é a regulação abstracta, uma regulação que se limite a impor meia dúzia de princípios gerais como o respeito pelos contratos o a responsabilização de cada agente pelos respectivos riscos. Não sabemos quais os resultados concretos exactos deste tipo de regulação, mas sabemos que em geral esses resustados satisfazem os interesses dos participantes no mercado de forma justa e imparcial. Sabemos ainda que estes princípios produzem um padrão espontâneo de auto-regulação cuja qualidade é bastante superior à de um regulador com objectivos concretos.

40 comentários leave one →
  1. lucklucky permalink
    20 Setembro, 2008 23:07

    Se se não se quer tantas falências a óbvia solução é haver menos empresas, menos liberdade e menos mobilidade para as novas empresas nunca podem desafiar as existentes. O crescimento depois é que sofre, mas como vemos por cá 7 anos de crescimento quase zero não são um grande problema comparado com a falência de uma fábrica.

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  2. 20 Setembro, 2008 23:13

    Que empresas, Luck? quem é que está a falar de empresas?

    V.s não sabem o que é finança e depois misturam tudo e andam para aí que nem baratas tontas a dizer disparates.

    Nada disto tem a ver com produção e desenvolvimento da economia e essa sim, é a base. Tudo aquilo em que a finança não serve a economia está a mais- não interessa para ninguém a não ser para quem disso vive.

    E sim, a ideia geral do JM Miranda é básica, não está errada, ainda que não diga nada de concreto. Agora o que é absolutamente irritante e ler-vos a comparar isto com empresas, com fábricas, com tudo o que serve para desenvolver um país.

    A banca não foi feita para criar dinheiro, mas para o emprestar. E mais valia lerem o CN que repetirem disparates onde se mistura finança com economia.

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  3. 20 Setembro, 2008 23:17

    Menos empresas… pois se o mal da banca é ter cigano a mais e daqueles que trabalham na clandestinidade. CDS é isso.

    E vai haver purga e da grande com milhares no desemprego e bem mais falências.

    Se assim não fosse até estas estariam previstas, quando ha´cerca de um ano, os próprios, da banca, já achavam que a coisa estava controlada.

    Que nada- não sabem, não sabiam, nem eles sabem os buracos que têm e mesmo quando os detectam não sabem como se livrar deles.

    Porque precisamente isto não é produção de bens, não é economia- e vive de algo que é factor perfeitamente humano- a confiança. Sem ela são eles próprios que se auto-aniquilam-

    Quanto mais buraco, mais se desconfia e quanto mais se desconfia menos se pode curar- Não vão ser os governos a poderem comprar o que nem eles entre eles conseguem vender.

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  4. 20 Setembro, 2008 23:18

    Zazie,
    .
    O que mete algum medo é aquele seu comentário ao comentário do CN, algo do género “A banca não foi feita para criar dinheiro, mas para o emprestar”, emprestar dinheiro poupado, não dinheiro fotocopiado. Os bancos todos já se esqueceram disso.

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  5. zaiez permalink
    20 Setembro, 2008 23:20

    A zazie é que sabe. Isto devia ser só amibas, nada de organismos complexos que parecem que existem para nada servir. Amiba.

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  6. 20 Setembro, 2008 23:22

    Este factor psicológico misturado com a desproporção e gigantismo que a finança ganhou, a par do endividamente geral de tudo o que é empresa à própria banca é que é o grande problema.
    E não se explica com bíblias ideológicas nem com lutas “esquerda/direita” e muito menos com fezadas naquilo que se andou a acreditar por complexo de se ser crítico.

    E isto é tão óbvio que se pega no jornal e é ler o mesmo bêábá repetitivo e palerma, a papel químico, de quem nem sequer sabe o que é este mundo da finança e muito menos esta crise.

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  7. 20 Setembro, 2008 23:26

    Exacto Ccz. O CN sabe. E o anti-comuna idem. O resto ou está a borrado de medo ou pura e simplesmente não pesca nada do assunto.

    Ninguém. Até mete impressão. E eu já fiz um post com links pelo menos para blogues estrangeiros de gente da banca que pode explicar um pouco do que se trata.

    Porque por cá os ideólogos nunca souberam.- E estou a falar agora porque foi assunto que abordei várias vezes aqui aos blasfemos. Há muitos anos. Precisamente colocando na mesa a questão das crises e o que agora aconteceu.

    E nunca ninguém me disse nada que tivesse o menor interesse. Apenas paranóias que podiam ser dúvidas esquerdistas ou falta de fé no sistema capitalista. Porque isto era assim tudo claro como água, e apenas existiam ciclos naturais de altos e baixos.

    Palermices.- palermices ideológicas por pura burrice e pancada de bíblias decoradas e reactivas contrárias.

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  8. 20 Setembro, 2008 23:29

    As coisas simples são as mais importantes e aquele comentário do CN devia ser obrigatório de se ler.

    Porque diz o simples e tão óbvio que nem se entende que isso já tenha passado à história.

    E o CN é absolutamente insuspeito. É de direita, é liberal e até a dar para o anarquista.

    Embrulhem, os burros.

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  9. 20 Setembro, 2008 23:33

    Está aqui a passagem tão clara, tão lúcida, tão paradoxal que até doi:

    «” CN,

    Mas nesse caso para que serviriam os bancos, no sistema de 100% de reservas.

    Não podiam conceder crédito, e, por conseguinte, não poderiam remunerar os depósitos.

    Para que serviria um banco, então?”

    1. Não serviriam para se apropriar da riqueza auferida pela capacidade de criar e utilizar dinheiro À custa da desvalorização de todos os anteriores detentores de saldos monetários.

    O complexo financeiro-industrial digamos assim, é beneficiado ao ser o primeiro a utilizar as novas quantidades de dinheiro na economia sem que esta se tenha adaptado/reflectido que existe agora os mesmos bens para mais moeda.

    Os prejudicados são os últimos da cadeia, os últimos para onde esse dinheiro chega, clássicamente os do sector primário, como os agricultores.

    2. Os Bancos serviriam para intermedias entre a poupança e o ivestimento. Esse é o papel da Banca

    3. A produção e certificação de moeda não é a papel da Banca.»

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  10. 20 Setembro, 2008 23:41

    Foi no PC

    E o PA e o Ricardo têm feito posts pertinentes com possibilidade para se pensar algo mais do que a aferição das consequências da crise para a saúde da ideologia liberal.

    Que se lixem a porra das cartilhas se nem o assunto se percebe.

    Já basta ter de ler aquelas imbecilidades do JPP e do Rui Ramos e até do VPV ou ouvir Marcelos.

    (o debate no Insurgente também se recomenda).

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  11. 20 Setembro, 2008 23:43

    É claro que nestas alturas é melhor nem abrir blogues esquerdalhos porque já se sabe que a revanche dos ignorantes ainda é pior.

    Mas também não se “come” cartilhas esquerdalhas. Mal é viver-se demasiado do ar e de palavras.

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  12. 20 Setembro, 2008 23:45

    Por acaso abri alguns e parecia que se estava no PREC

    ehehe

    Mas os esquerdalhos entendidos (os entendidos a sério) até sempre tiveram razão em muita crítica que apontavam no que a finança tinha descambado.

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  13. 20 Setembro, 2008 23:59

    Ou seja , é igualzinho ao euromilhões e outro qualquer jogo de azar. Deve ser por isso que naquelas imagens da bolsa quase não se vê mulheres : fazer depender a alimentação dos filhos de um qualquer número premiado? só mesmo uma grande maluca.

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  14. Anónimo permalink
    21 Setembro, 2008 00:04

    Esquerdalha é uma palavra mais bonita que direitralha.

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  15. António Parente permalink
    21 Setembro, 2008 00:29

    João Miranda

    http://www.bis.org/publ/work259.pdf?noframes=1

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  16. 21 Setembro, 2008 00:29

    Tanto palavriado para dizer o que já vinha no livro de Arthur Block – A Lei de Murphy – ISBN 9727480039

    Sistemas complicados produzem resultados inesperados.
    O comportamento total dos grandes sistemas não se pode predizer

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  17. Anónimo permalink
    21 Setembro, 2008 00:42

    Este post é assim uma espécie de liberal a assobiar para o lado perante as consequências desastrosas da falte de regulação…
    E não me venham com essa treta de a regulação ser responsável pela actual crise financeira. Nenhuma regulação obrigava a dar crédito de 5ª categoria, a fazer investimentos com alavancagens perigosas, a fazer naked short selling, etc etc etc

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  18. Anónimo permalink
    21 Setembro, 2008 00:48

    “A tentativa de produzir resultados concretos (por exemplo, juros baixos ou baixa taxa de falências) através de medidas regulatórias resultará quase sempre em resultados totalmente diferentes dos pretendidos.”

    Olha o João Miranda a candidatar-se ao Nobel da Economia!
    Economistas de todos os países, rasgai as vossas vestes e os manuais de Economia!
    Mexer em taxas de juro? Valorização/desvalorização da moeda?
    Nunca! Não se esqueçam da Lei JM da Economia: isso “resultará quase sempre em resultados totalmente diferentes dos pretendidos.!

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  19. lucklucky permalink
    21 Setembro, 2008 00:50

    Zazie não entende pevas.

    Os buracos acontecem porque foi emprestado dinheiro para desenvolver a economia.

    O buraco aconteceu porque se emprestou demasiado a quem tinha poucas probabilidades de pagar o empréstimo.

    E isso aconteceu porque várias entidades políticas nos EUA queriam expandir o crédito para toda a gente ter casa.

    Eles até tinham a Fannie Mae com a Missão Social de expandir o “affordable housing”. Leia aqui:

    Quanto mais livre um sistemas for mais potencialidade tem de crescer porque há mais tentativas. Como há mais tentativas há também mais falhas.
    Sem a facilidades do sistema financeiro actual não haveria o crescimento mundial actual.

    O problema que ocorreu deveu-se simplesmente a crédito demasiado barato.

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  20. JoaoMiranda permalink
    21 Setembro, 2008 00:52

    Caro anónimo,

    A questão que tem que responder é: qual é a regulação que pode impedir que os bancos efereçam a clientes de 5ª categoria? Qual é a regulação que poderá impedir que as financeiras façam alavancagem? Vai proibir a alavancagem? Não será fácil contornar essa proibição? Quanto ao naked short selling, vai ser proibido? E depois como é que se faz gestão de risco? E qual é a ideia? Impedir que as acções caiam até ao seu valor real?

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  21. lucklucky permalink
    21 Setembro, 2008 00:52

    “Nenhuma regulação obrigava a dar crédito de 5ª categoria”

    The Community Reinvestment Act (CRA) was established by Congress in 1977. The Act requires that deposit-taking financial institutions offer equal access to lending, investment and services to all those in an institution’s geographic assessment area-at least three to five miles from each branch. In the case of large banks with many branches, the geographic area may encompass an entire county or even a state.

    Before the CRA, many bankers excluded low-income neighborhoods and people of color from their lending products, investments, and financial services – a practice known as “redlining”. Community activists coined the term when they discovered that the failure of banks to make loans in some low-income neighborhoods was so geographically distinct, that it was easy to draw red lines on maps to delineate the practices.

    In the 1970s, activists in Chicago and across the country brought strong pressure on banks to lend equitably to all those in their communities. Since its passage, the CRA has been used across the United States to win tens of billions of dollars in new lending, investments, and services for communities. The National Community Reinvestment Coalition tracks more than $1 trillion dollars in community reinvestment pledges nationally. These pledges are explicit investments in equitable development goals, and finance many tools in this toolkit.

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  22. JoaoMiranda permalink
    21 Setembro, 2008 00:54

    ««Olha o João Miranda a candidatar-se ao Nobel da Economia!
    Economistas de todos os países, rasgai as vossas vestes e os manuais de Economia!
    Mexer em taxas de juro? Valorização/desvalorização da moeda?
    Nunca! Não se esqueçam da Lei JM da Economia: isso “resultará quase sempre em resultados totalmente diferentes dos pretendidos.!»»

    Hoje em dia é mais que consensual que as intervenções sobre os mercados têm consequências não pretendidas. Nem vejo onde está a dúvida.

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  23. Anónimo permalink
    21 Setembro, 2008 01:18

    anti-comuna sobre a crise financeira

    A realidade é esta. A maioria dos que defendem a ordem espontânea não compreendem mesmo como funciona mesmo o mercado nem tão pouco fazem ideia do que ele é mesmo capaz. Depois, para cúmulo da desgraça, acreditam sinceramente na boa “moral” e capacidade de decisão de todos os agentes do mercado. O que lhes faz acreditar que o mercado tudo resolve sem custos nem dor. Esquecendo-se eles que as massas em ebulição, sobretudo lidando com a ganância, a ambição e a cobiça geram manias e pânicos consequentes. As massas humanas não tomam decisões racionais quando envolvidas em processos de decisão que envolvam determinado tipo de escolhas.

    Não pretendo dizer que os que estão de fora do sistema sejam incompetentes a analisar os processos envolvidos no mercado só porque estão de fora. Pelo contrário, por vezes até conseguem compreender melhor determinados processos e até evoluções se estiverem ausentes do processo. Mas que me custa ver determinadas profissões de fé nos mecanismos de mercado como se fosse uma fé… Custa. É uma espécie de religião mas diferente. E então quando invocam papas e tudo, é que me deixa desconcertado.

    O que me parece é que existem muitas assumpções para determinadas profissões de fé no mercado de livre e espontânea vontade que são erradas, na minha opinião. A começar pela tentativa de compreensão do fenómeno do crescimento inerente ao incremento da produtividade, fruto das inovações, novas técnicas, etc. É que qualquer crescimento da produtividade e/ou do produto económico gera em si bolhas. Estas bolhas devem e podem estoirar, já que incorporam no seu estoiro a correcção dos, digamos, desequilibrios gerados durante a fase do optimismo.

    Mas mesmo aqueles que acreditam que são saudaveis estas implosões das bolhas centram-se demasiado no ciclo económico dos negócios quando temos mais que esse ciclo, importante sem dúvida, mas até nem o mais importante. É que os demais ciclos podem trazer consequências gravosas de destruição de capital e quedas na produtividade se mal compreendidos e até geridas.

    Outro dos postulados errados, herdados do pensamento keynesiano, é a crença num equilibrio geral permanente. Na verdade num mercado aberto e livre nunca existe um equilibrio permanente. Ele está sempre em evolução e move-se mais de acordo com o que o Kaldor defendia e bem. E estas mudanças podem ser violentas já que o processo de crescimento, mesmo que natural, tem carácter geométrico e que interrompido também gera um crescimento negativo também geométrico, provocando convulsões no mercado abruptas e sob ambientes dominados pelo caos.

    É evidente que se vivermos sob uma permanente criação de dinheiro do nada, as amplitudes do crescimento da massa monetária estão artificialmente a exponenciar a procura agregada, que temporariamente eleva a sensação de bem-estar. Mas os seus custos, tarde ou cedo, gerarão as sementes do seu colapso. E quanto maior o crescimento artificial induzido pela criação do dinheiro do nada maior o colapso futuro, algures no tempo. Porque é impossível sustentar um crescimento da dívida com os actuais crescimentos da produtividade e, tarde ou cedo, terá que ser gerada dívida para pagar dívida e nessa altura o colapso está próximo ou já em funcionamento.

    Mas por outro lado, é errado pensar que os agentes económicos são sempre excelentes a tomar decisões. Tanto não o são que geram demasiadas vezes bolhas. E geram tantas bolhas e perigosas quanto maior for o grau de liberdade na esfera de acção de alguns agentes. Os capitalistas não estão no mercado para gerar bem-estar. Estão para acumular capital e o concentrar. E quanto mais eficientes forem a rentabilizar o seu capital mais depressa criarão monopólios e oligopólios, prejudiciais ao chamado bem-estar comum. Logo, a sociedade deve ter regras bem definidas no sentido de limitar concentrações de capital, dominios de mercado, estabelecer regras tanto quanto possível justas e iguais para todos e fazer funcionar o mercado eficazmente, e melhor.

    Os mercados devem ser livres. Abertos e concorrenciais. Mas os seus agentes devem ser vigiados. E até limitados. Porquê? Porque, durante processos de crescimento, eles assumem riscos demasiados. É verdade que faz parte dos capitalistas assumirem riscos. E serem recompensados pelo bom êxito da gestão desse risco. Só que quando assumem demasiados riscos eles põem terceiros também em risco, que estes não o desejam. E se terceiros são afectados pelo risco gerado por alguns capitalistas, seja risco sistémico ou até sectorial, cabe à sociedade criar mecanismos para que o riscos dos agentes económicos não se tornem demasiado grandes que afectem terceiros ou o sistema como um todo.

    Mas infelizmente poucos entendem esta premissa importante. Compartimentar risco de molde a que uma das partes do sistema ao colapsar não crie ondas de propagação de risco sistémico a terceiros involuntárias. Mas explicar isto aos que estão de fora dos mercados? É díficil. Porque não entendem do que estamos a falar e até costumam ser arrogantes, como se conhecessem muito bem o mercado. Os que se negavam a aceitar que o risco existente dentro dos balanços da banca era até ignorado pelos gestores bancários, são agora os que batem palmas a intervenções do governo, para salvarem a pele dos banqueiros.Mais. Esta crise que vivemos é elucidativa. Mostra que os agentes económicos, quando assumem determinados riscos, nem eles próprios têm consciência do risco real que assumem. O que mostra que as decisões dos agentes do mercado não são tão racionais e excelentes como muito ignorante prega aos quatro ventos, como fossem leis escritas em tábuas. É o que faz ler bíblias e postulados de determinados “papas” mas sem um pensamento crítico sobre aquilo que lêem. São os copistas. Debitam as cartilhas que decoraram do que lêem. E depois até desejam, de um modo corporativo, tipo agremiação medieval, definir quem é liberal e quem o não é.

    Voltando ao início. Falta a muitos defensores dos mercados livres a capacidade para entenderem mesmo como funcionam os mercados. Não o sabem e pensam que só porque decoraram alguns livros e analisaram alguns gráficos simples lá publicados, do tal equilibrio entre oferta e procura, que gera o famoso preço, e voilá: Temos doutores especializados em mercados livres. Sejam financeiros ou não. Que se há-de fazer?

    anti-comuna
    via portugalcontemporaneo

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  24. 21 Setembro, 2008 01:27

    Como comentário deixo um post do Ferrão.Org que diz quase tudo do que eu penso sobre regulação dos mercados:

    «Há muito tempo que se diz: ‘Deixem que os mercados tomem conta de si próprios’ e que ‘já não há necessidade de mais transparência’.
    Hoje já demos um passo em frente, pois são os próprios Estados Unidos da América (EUA) e Reino Unido (RU) a reclamar: ‘Sim, precisamos da mais transparência, precisamos de novos padrões para as instituições de regulação’.
    Não aceito a visão de que os mercados financeiros se auto-regulam. Aliás, oposeram-se durante demasiado tempo à introdução, pelos governos dos EUA e do RU, de regulamentos para a actividade bancária.
    Para além dos regulamentos nacionais, precisamos também de acordos que barrem a especulação financeira irresponsável

    Angela Merkel, citada por Deutsche-Weller em 20 de Setembro de 2008

    Etiquetas: Alemanha, especulação financeira, finanças, neoliberalismo

    António Chaves Ferrão»

    E afirmo: Ruptura com o capitalismo que não tem ponta por onde se lhe pegue!

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  25. 21 Setembro, 2008 01:34

    Miranda,

    “Sabemos ainda que estes princípios produzem um padrão espontâneo de auto-regulação cuja qualidade é bastante superior à de um regulador com objectivos concretos”. Tens algum exemplo?? Já agora que seja compatível com a ideia de democracia….

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  26. 21 Setembro, 2008 11:09

    lucklucky:

    Eu posso não entender pevas mas ainda leio e converso com quem está por dentro e há muitos anos que sabia o que nem v.s agora sabem ou conseguem entender,

    Tu é que fazes parte daqueles que não só não sabe como tem fé que aquilo que não sabe é assim.

    Vi muitos desses tolinhos aquando de Chernobyl. Também iam lá em visita e depois até apitavam à chegada, de tal modo a contaminação radioactiva. Mas negavam- não havia crise- aquilo era radioactividade comuna- da boa- amiga do povo- não podia fazer mal à saúde.

    Assim estão v.s com a corda.

    É que o monstro da finança já nada tem a ver com essa necessidade básica de emprestar à custa de poupanças. E os jogos de pura ganãncia tornaram-se de tal modo sofisticados que nem as próprias instituições conseguem saber os prejuízos que têm.

    Outra coisa- quem me diz isto é de dentro- trabalha precisamente na City.

    Para mim não é novidade, razão pela qual há muito que chatevava os triunfalistas basbaques dos ideólogos que ainda falavam da finança como na sua pré-história.

    Mesmo agora dentro da crise os erros continuam a não ser controláveis por milhentos motivos.

    Posso dar um exemplo- os modelos matemáticos feitos pelas grandes cabeças de Harvard ou Oxford- (a banca está cheia de géniozinhos fugidos da ciência) foram feitos para funcionarem em estabilidade.
    Perante um panorama oposto, usarem os mesmos modelos só podia levar a mais buracos. Muitos aconteceram precisamente por isto.

    Porque eles próprios usaram os tais mecanismos de auto-regulação- mas de auto-regulação sem caos. E seria preciso criar modelos matemáticos opostos.

    Isto já para não falar no gigantesco factor psicológico que permite a troca de fundos e dinheiro.

    E se o crédito baixo existiu foi precisamente para safarem o excesso de liquidez que, de outro modo, não conseguiam despejar.

    E agora, têm de inventar ainda mais “produtos” fáceis, inventando de novo necessidades para despacharem o que é de alto-risco como se fosse sem risco.

    E, se pensas que não é assim e julgas tu que percebes um corno desta merda- pega nos artigos que eu linkei no cocanha e desmonta-os.

    Desmonta tu o que dizem os grandes experts da finança, já que te julgas habilitado para isso por te terem outorgado a bíblia de qualquer facção de ideologia liberal.

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  27. 21 Setembro, 2008 11:17

    E o que eu disse nem ia a tanto- ia apenas à tua gigantesca bacorada de leres este post do JM como se se tratasse de empresas e de economia.

    E repito- a base do desenvolvimento é a economia- a economia não consiste em alavancar dinheiro do ar. Consiste na produção dos bens necessários ao mundo.

    E é por isso que países sem forte base económica, onde se prefere jogar na bolsa e fazer mera especulação (como inglaterra- que está atolada de ricos na falência que se julgavam ricos por viverem hipotecados para venderem casas uns aos outros) são os que correm maior perigo.

    Porque bastaria fazer o exercício oposto- de que serve muito dinheiro se ele nem é investido em nada produtivo?

    Ou pior- de que serve especulação que até leva à falência grandes empresas que estavam perfeitamente saudáveis?

    Ou outra- para que serve tanta gente a fazer o mesmo que poderia fazer 1/3 dela com os benefícios necessários para a economia.

    Ou ainda outra- para que raio se mistura a finança com a economia e depois os grossistas ainda apanham com os efeitos dos erros deste gigantismo que não foi da sua responsabilidade?

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  28. 21 Setembro, 2008 11:24

    Já que sabes tanto e gostas de chamar ignorante aos outros- desmonta lá este texto

    Prova lá que o idiota não percebe nada destas coisas, ainda que seja um expert.

    E prova lá o mesmo em relação a este outro texto.

    (e eu não estou sequer a defender a privatização que os EUA fizeram. Antes pelo contrário, também a questiono muito. Tens lá no PC as perguntas que deixei.
    Agora o que não digo é que este mundo é assim cor-de-rosa, como ainda há pouco tempo o JM andava a dizer, com postes de tal modo bacocos e inocentinhos que até o maradona gozou. Isto era tudo assim uma cena à equilíbrio biológico e a finança vivia apenas das acções do valor real das empresas (o Jaquinzinho chegou-me a dizer- assim- à letra- este disparate há uns bons anos).

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  29. 21 Setembro, 2008 11:33

    E essa do problema que ocorreu se dever puramente a crédito barato é lapalissada. Porque o problema, como muito bem diz o PA já estava anunciado desde 72 quando se começou a criar dinheiro do ar.

    E se aquele crédito foi barato foi por pura necessidade do sistema em despachar o excedente que criou.

    Essa treta de moralismo à comuna a dizerem que a culpa ainda foi dos pobrezinhos que lixaram os bancos que só foram beneméritos é que é conversa esquerdalha e tolinha, às avessas.

    Puro moralismo tosco de quem nem sabe porque motivo se andou a fazer dos americanos proprietários daquilo que nem poderiam pagar se não tivessem ofertas à “dona branca”.

    E mais- quem é que as inventou e ganhou milhões com a fraude?
    Quem é que provocou este último estádio de uma crise anunciada?

    Simplesmente desta vez ela não é mais uma- foi o próprio sistema financeiro que se colocou em causa como nunca tinha colocado- precisamente porque desde 72 que vinha a criar o monstro incontrolável.

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  30. 21 Setembro, 2008 11:42

    A regulção vai ser simples- milhões para o desemprego; muito mais falências em série, legislação para o que é pura ciganice sem lei nem roque- e a finança voltar ao início- áquilo para que foi feita- numa escola muitíssimo mais pequena e com base em poupanças reais.

    Vai ser ceifar e ceifar tudo o que está a mais.

    Quanto ao padrão de moeda ouro, como diz o CN não faço ideia e creio que é utopia, ainda que pudesse fazer sentido.
    Mas isso era uma mudança histórica quase a dar para o civilizacional.

    Mas parte do que ele diz, como aqueles paradoxos de falsas transações para aumento de capital sem ter existido qualquer transação acredito que vão ter de ir à vida, mais cedo ou mais tarde, quando as crises começarem a repetir-se e for o próprio sistema ocidental a ficar em risco.

    Agora o assustador é ver-se como os terceiro mundistas estão a seguir as pisadas do Novo Mundo e fazerem o mesmo sem sequer precisarem de se industrializar ou criar as condições sociais mínimas para os povos.

    E aí vai ser jogo de nababo alimentado a petróleo e quero ver no que vai dar com esta treta toda ligada por globalização.

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  31. A. R permalink
    21 Setembro, 2008 13:00

    Os sistemas complexos tendem a ter vários modelos complexos. Estes modelos complexos passam por uma cascata de modelos simples que tendem aos resultados que os seus criadores pretendem e tendem a ser baseados em dados conseguido pelos mesmos. Um prestigiado cientista de uma universidade de Milão disse-me a rir “If the experimental data from others fits my models it is good data if not it is bad data……… I am joking”

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  32. lucklucky permalink
    21 Setembro, 2008 17:42

    Zazie trouxeste alguma prova que as falências tenham sido por alguma outra razão que o não pagamento de empréstimos?
    E depois misturas Ouro,Moeda que não tem nada que ver com o assunto directamente e só lateralmente com a intervenção do Estado.

    Eu não disse que foram só os pobrezinhos os culpados, todos beneficiaram do crédito barato ou não me viste a referir os 1% de juros do FED noutros posts? Mas a legislação para os pobrezinhos tornou qualquer peneira sobre empréstimos mais díficil.
    E se olhares para a dimensão das coisas: a Fannie Mae aquela empresa “ultraliberal” com Missão Social “affordable housing” e administração ligada ao Partido Democrata na qual mesmo o próprio Bush podia nomear 5 ou 6 dos Administradores dos total de 18 e que com regras de empréstimos diferentes de todas as outras no mercado tinha metade do mercado de empréstimos para Habitação = 6$Trilions de 12$T(fonte wiki).

    Agora responde-me a isto: Sem Fannie Mae e Community Reinvestment Act, Juros a 1% uma bolha desta dimensão tinha acontecido?

    A minha resposta: podia porque a maioria das pessoas investem no que está a dar. Mas seria de muito menor dimensão e talvez até não déssemos por ela. Afinal estão sempre a explodir bolhas na economia.

    Isto já foi em 2000:

    The Trillion-Dollar Bank Shakedown That Bodes Ill for Cities
    Howard Husock
    The Clinton administration has turned the Community Reinvestment Act, a once-obscure and lightly enforced banking regulation law, into one of the most powerful mandates shaping American cities—and, as Senate Banking Committee chairman Phil Gramm memorably put it, a vast extortion scheme against the nation’s banks. Under its provisions, U.S. banks have committed nearly $1 trillion for inner-city and low-income mortgages and real estate development projects, most of it funneled through a nationwide network of left-wing community groups, intent, in some cases, on teaching their low-income clients that the financial system is their enemy and, implicitly, that government, rather than their own striving, is the key to their well-being.(…)

    http://www.city-journal.org/html/10_1_the_trillion_dollar.html

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  33. 21 Setembro, 2008 20:49

    Saltou. Tinha para aí um testamento de resposta que se perdeu.

    Agora não vou repetir.

    Eu nunca disse, nem ninguém o diria que a causa próxima não foi mortgate.

    Simplesmente isso foi o despoletar; os motivos não são os que vs. dizem (os empréstimos foram do interesse dos bancos e do governo e quem andou a lucrar com isto foi quem vendeu gato por lebre, emprestando dinheiro a partir do ar- sem haver poupança equivalente.

    O resto, se queres compreender porque motivo é bem diferente de um simples ciclo de crise, tens de querer aprender.

    Eu, como não me contento com explicações tolas, procuro informação- deixei aí alguns links mas há muito mais.

    Há até excelentes debates onde o CN explica muita coisa.

    Quem quer compreender lê, pensa, pergunta, informa-se. Quem não quer escreve artigos balofos para o jornal ou debita anormalidades na tv (JPP/Marcelo).

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  34. 21 Setembro, 2008 20:51

    O ouro como moeda de troca e moeda única é outra coisa- eu própria disse que é ideia um tanto utópica do CN.

    Não misturei- referi isso. Tens aí os links, os debates, se estás interessado conversa com ele.

    Curioso que nunca te vi entrar em nenhum debate- nem sequer no Insurgente.

    Ou já sabes tudo, ou não queres saber nada.

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  35. 21 Setembro, 2008 21:07

    A pergunta estúpida v. é que pensam que são os pobrezinhos que criaram a crise quando quem precisou de pobrezinhos para despachar o excedente e pagar défices externos não foram eles.

    Apenas isto. De facto, pode-se dizer que se os pobres ainda vivessem num estado de probreza como antigamente- onde nem sequer poderiam usufruir de necessidades mínimas sem uma vida inteira de trabalho, quanto mais terem rapidamente a crédito muita coisa, os bancos não tinham estes clientes.

    Pois não. Mas foi precisamente por terem estes clientes que todo o bicho careta se meteu a jogar e a fazer de banqueiro em cenas cada vez mais mafiosas.

    O caso das CDS, que o Ricardo até diz que são a dar para o “clandestino” uma vez que nem cotadas na bolsa estão, não é apenas feito por gente de fora dos grandes bancos.´É e sempre foi feita pelos próprios em sectores diversificados de alavancagens e “seguros”.

    A questão de fundo é apenas esta- ganhou-se balúrdios e conseguiram criar sistemas matemáticos que transformavam ar em cifrões.
    Tudo isso foi feito com cada vez mais intervenções do próprio sistema finaceiro para além do próprio mercado. De forma cada vez mais sofisticada.

    Ao ponto que depois, em começando a falhar numa ponta já ninguém sabia sequer o que também tinha aí agarrado.

    E só isto explica algumas falências e vendas de gigantescos bancos que deverião ter capacidade de resistir a uns meros casos de titulos marados nos EUA.

    Não resistiram- não se deram sequer conta do buraco que tinham. Tentaram defender-se e aí ainda provocaram mais buracos (caso do uso dos modelos matemáticos feitos para tempos de crescimento e não para momentos opostos) e depois a coisa contaminou-se e vai-se contaminar à própria economia.

    Pela simples razão que a dependência da banca é geral.

    Quanto aos governos tentarem aparar estas quedas tenho mesmo muitas dúvidas porque todos já assistimos a injecções de dinheiro e falências no dia seguinte. Puro deitar pela janela fora dinheiro dos contribuintes.~

    E tenho mais dúvidas porque isso só teria algum sentido se houvesse dados da própria dimensão da crise e dos bancos que estão com a corda na garganta.
    Não há. O diagnóstico não se pode fazer. As intervenções são ao calhas e é um facto que estão a mudar as regras do jogo numa fase em que a cura é a falência.

    Esta é a posição de muitos de dentro. E nunca se ira´saber porque o primeiro que diga, está liquidado. Ninguém lhe vai comprar nada. Este factor psicológico é o principal e não há modelo matemático que o traduza.

    Não existe qualquer fórmula de previsão de crises. Existe apenas fórmulas de potenciar lucros e cada vez maiores, com mais truques, mais jogos, mais risco. Consquências- nenhuma previsão.
    Afinal andava tudo a ganhar há décadas. E quando havia crise não era o sistema a ficar em causa, como agora ficou.

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  36. 21 Setembro, 2008 21:08

    deveriam e outras gralhas

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  37. 21 Setembro, 2008 21:35

    Olha, mais.

    http://www.webofdebt.com/articles/its_the_derivatives.php

    è lixado, ainda por cima quem publica estas coisas nem esquerdalho.

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