Saltar para o conteúdo

Revisão Constitucional

21 Julho, 2010

A proposta de revisão aqui referida pode ser um bom ponto de partida para o debate, pois inclui muitas ideias interessantes (mas outras nem tanto), apesar de ser notório, em vários pontos, tratar-se de um projecto a várias mãos, do que resultam algumas incongruências. Como o texto ainda não foi aprovado (pelo PSD), deixo aqui alguns tópicos para reflexão, longe dos temas que marcaram as manchetes de hoje: Regionalização, Conselho Superior da República e fiscalização abstracta da constitucionalidade.

– As regiões administrativas mantêm-se praticamente inalteradas (exceptuada a exigência da sua criação simultânea, abrindo-se a porta para a criação de regiões modelo). A questão foi tratada com pinças pelos autores do Projecto: mantém-se o referendo obrigatório, mantém-se o representante do Governo junto de cada região (um sucedâneo do Governo Civil), mantém-se a assembleia regional como órgão de representação das assembleias municipais e não dos cidadãos e até se mantém a participação das regiões na elaboração dos “planos nacionais”, planos que o projecto suprime do texto constitucional… Muito aquém do relativo arrojo de outras partes do texto.

– A proposta prevê um novo órgão constitucional, de consulta obrigatória para a AR e Governo em várias matérias (designadamente nomeação de gestores públicos e reguladores): o Conselho Superior da República.  Sendo composto por cinco membros do Conselho de Estado (dois nomeados pelo PR, três eleitos pela AR) e dois indicados pelo Conselho Superior de Magistratura, não percebo a necessidade de um novo órgão. Não seria mais simples reformular e alargar as competências do actual  Conselho de Estado?

– Na fiscalização abstracta da constitucionalidade, há duas novidades principais:

i) O PR passa a ter o dever de apreciar a conformidade das normas que receba para promulgação não apenas com a Constituição, mas também com os Estatutos da Regiões Autónomas (cuja dignidade quase constitucional é assim reconhecida).

ii) Atribui-se legitimidade ao Bastonário da Ordem dos Advogados para requerer a fiscalização abstracta da constitucionalidade (ou da conformidade com os Estatutos da Regiões).

Atrevo-me a sugerir que se atribua também legitimidade para este efeito a grupos de cidadãos (em paralelo com o já existente poder de iniciativa legislativa). Por outro lado, considerando que as competências do Representante da República se resumem praticamente ao controlo da constitucionalidade e legalidade das normas regionais (cujo número é relativamente escasso), porque não acabar de vez com a figura (em vez de acabar apenas com metade, como faz o projecto) e transferir as respectivas competências para o PR?

6 comentários leave one →
  1. Papi permalink
    21 Julho, 2010 01:11

    Enquanto não se resolver a corrupção entre políticos, os grandes bónus dos gestores públicos e o elefante branco chamado Função Pública não se deveria mexer na constituição.

    Saliento ainda que a educação e a saúde devem continuar gratuitas ou pagas através das taxas moderadoras.

    Temos alguns milhares de milionários a viver em Portugal, todos deveriam ser taxados no máximo da tabela do IRS sem compadrios.

    Regionalização SIM, responsabilização do trabalho dos políticos SIM, alteracção das actuais leis judiciais e aumento da pena penal para crimes graves SIM (não podemos continuar a punir um homicida com 25 anos de prisão sabendo que ao fim de 10 anos estará em liberdade)

    Gostar

  2. tácito permalink
    21 Julho, 2010 02:29


    O Povo estará mais interessado em que a Constituição não permita a imposição de regimes – como o que vigora – sem ser consultado. Os regimes, como a república, e a própria constituição bem como as suas várias alterações deverão ser sufragadas pelo Povo.
    O Povo é soberano e paga para que o sirvam.
    Muita gente entende que a monarquia serve melhor a Nação do que este regime obsceno.

    tácito

    Gostar

  3. Açoriano permalink
    21 Julho, 2010 03:27

    Espero que a nova Constituição consagre uma republica federativa.
    Três estados: Açores, Portugal e Madeira.

    Gostar

  4. Kowalski permalink
    21 Julho, 2010 04:49

    Estado: Défice aumenta 6,6 %

    O défice do Estado atingiu, nos primeiros seis meses do ano, o montante de 7763 milhões de euros, mais 462 milhões do que em igual período do ano passado. Este aumento de 6,6% significa que o buraco do Estado cresceu a um ritmo de 2,5 milhões de euros por dia, revelou ontem a Direcção-Geral do Orçamento (DGO).

    Gostar

  5. piscoiso permalink
    21 Julho, 2010 08:59

    Acho que o Benfica também devia pronunciar-se.

    Gostar

  6. ASC permalink
    21 Julho, 2010 10:07

    E o direito ao trabalho? Fica?!
    Se fica temos de plantar mais umas dessas árvores de onde nasce o trabalho…ou talvez ele caia do céu.

    Gostar

Indigne-se aqui.

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

%d bloggers gostam disto: