Todos diferentes, mas parecidos
O Rui Albuquerque tem alguma razão sobre as origens do liberalismo em Portugal. Tanto o quase inexistente liberalismo, como todas as outras ideologias, incluindo o conservadorismo, têm origens externas. A única excepção foi o isolacionismo corporativista da primeira metade do Estado Novo com os resultados que se conhecem, mas já lá vamos.
Lamentando quebrar o romantismo da visão do Rui Albuquerque e do Pedro Arroja, parece-me normal que grande parte das boas ideias sejam produzidas fora do país. Não por nenhuma incapacidade nacional em pensar bem, mas simplesmente pela força dos números. Mesmo grande parte dos pensadores liberais portugueses inspiraram-se em autores estrangeiros. Portugal tem menos de 1% da população dos países desenvolvidos. Mesmo assumindo que tem a mesma proporção de pessoas a pensar nestes assuntos, e ignorando os pensadores de países menos desenvolvidos, é de esperar que 99% das boas ideias surjam fora de Portugal. Claro que algumas ideias podem ser boas num contexto cultural e não noutro. Nesse sentido é mais provável que alguém conhecedor de um contexto cultural seja capaz de gerar um sistema de ideias mais de acordo com esse contexto. Quanto mais marcadamente diferente for uma cultura, menos sucesso terão ideias importadas. Mas as culturas não são absolutamente diferentes, nem a Portuguesa é de tal forma diferente de outras europeias que não possa lá ir buscar inspiração, caso contrário não existiria aquilo que hoje se chama civilização ocidental (não vale a pena discutir aqui, até porque tenho objecções metodológicas ao seu trabalho, mas vale a pena ver a obra de Geert Hofstede – um estrangeiro, desculpem – para perceber isto melhor).
Importar ideias de fora sem aplicar o filtro cultural é um erro. Querer ignorar aquilo que é pensado lá fora, quando a estatística nos diz que é de lá que virão parte das grandes ideias, é um erro ainda maior. Foi esse, aliás, o erro que Salazar cometeu na primeira parte do Estado Novo e que ainda hoje estamos a pagar. Foi apenas nos anos 60 quando abandonou a única ideologia relevante puramente portuguesa e deixou-se levar por ideias estrangeiras, como a industrialização ou o livre comércio, que o país deu o salto em termos de desenvolvimento. Foi a aceitação de ideias estrangeiras que gerou o bem-estar económico que permitiu salvar milhares de crianças que morriam antes do primeiro ano de idade e tirar da miséria boa parte da população. Salazar descobriu tarde que apesar de sermos todos diferentes, somos suficientemente parecidos para podermos importar ideias de fora com bons resultados.
Não sei se o liberalismo anglo-saxónico se adapta perfeitamente a Portugal. É provável que não. Em algumas discussões com colegas do Partido Libertário (um grupo de malta porreira ao qual estão convidados a juntarem-se) defendo isso muitas vezes. A discussão das armas, do padrão ouro ou do federalismo faz pouco sentido na realidade portuguesa, mesmo que seja predominante na americana onde o moderno movimento libertário tem as suas origens. Já outras ideias adaptam-se perfeitamente, haja quem tenha o tempo, a energia e a vontade de as comunicar nos jornais, nos blogues ou em campanhas eleitorais.
Li “isolacionismo corporativista da primeira metade do Estado Novo e não vou ler mais nada.
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Ainda li isso de se importar a conservação da tradição.
Tadinhos dos povos que têm de comprar tradição de fora.
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A Monarquia foi inventada em Portugal?
Há paredes culturais mas elas são porosas.
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Também ainda li os resultados que se conhecem e eu não conheço resultados da política da primeira metade do Estado Novo que tenha sido de tal modo nefasta que ainda se apanha com ela.
Se calhar foi escaparmos à guerra.
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E adeuzinho que não li nem vou perder tempo a ler mais nada, depois desta introdução que diz tudo.
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“Importar ideias de fora sem aplicar o filtro cultural é um erro”.
Desculpe, o que se importa ou é falso ou maléfico, desde os macdonalds às unha gel.
Vegeta-se num sítio onde as ideias não têm qualquer valor. Setenta por cento quer a barriguinha cheia, uma reforminha e bola. Qual ideia qual carapuça?
Vinte e nove vírgula nove trabalha para os sustentar, para sobreviver e proteger a filharada até aos quarenta ou mais. Alguns lá fogem do degredo.
Os restantes do partido A, B ou C fingem discutir entre si, sacam o que podem, cada um à sua maneira e dormem tranquilos. Sabem colocar os seus representantes na central de negócios graças aos lorpas que ainda votam convencidos que o papelinho importa.
Lá nas alturas pairam aves de rapina que falam línguas esquisitas.
Esses de facto controlam. Às vezes mandam os seus emissários que raramente sorriem.
Os lucros gordos e as rendas amealham, mesmo sem saberem ao certo donde vêem.
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Raro exemplo de quem tem ideias. Não vale de nada, mas ainda há quem as tenha.
https://www.publico.pt/2018/07/13/sociedade/entrevista/estamos-a-desacreditar-o-sistema-em-funcao-do-incumprimento-reiterado-dos-tempos-de-resposta-1837282
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Sobre o “liberalismo” em Portugal não vou fazer qualquer consideração.
Somos um país “suis generis” e, no que toca a “liberalismo”, nem vale a pena falar. A IL, por exemplo, é do mais comuna que existe e continuamos a discutir liberalismo
De uma maneira geral, não costumo discutir liberalismo. Porque em Portugal nunca existiu na sua plenitude.
Nos USA é uma “ideologia” totalmente de esquerda, na Europa é ambivalente.
Nos USA é soccer, na Europa é football.
Não perco muito tempo a discutir o sexo dos anjos.
Desculpem.
.
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Quanto à troca de posts entre o rui a., CGP e Vitor Cunha, passou-me completamente ao lado.
Qualquer um deles acha que vivemos num país decente. E não vivemos. E eles todos se esqueceram disso.
Continuamos ao ritmo que a esquerda acha que devemos andar. E ainda há, em 2018, século XXI, pessoas que caiem nestas armadilhas.
Depois não se queixem.
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E sim, é para o rui a., CGP e Vitor Cunha.
Acordem.
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Pode não ser um país decente, mas é um país onde se pode comer decentemente, ir a uma praia decente e escrever umas coisas decentes (espero eu) sem chatices. Também é um país onde, se sugerir que alguém mate o Rui A. e o CGP por delito de opinião, serei, muito decentemente, considerado chanfrado de todo, e isso parece-me muito decente.
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Oh Vitor, que violência… eu também gosto do meu país e até gosto de vcs os três.
Mas esta discussão sobre liberalismo não tem ponta por onde se pegue.
Como me estou a deitar agora, vou ficar por aqui.
☺
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Ah, mas, JMS, eu nunca discuti liberalismo, eu só discuti o quão estes novos partidos liberais merecem o meu desprezo. 🙂
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Completamente.
Só um maluco podia acreditar em debates teóricos de ideias liberais por twitter.
E só um chanfrado idêntico podia ter esperanças que por aí é que ia aparecer a Direita que não existe em Portugal, começando logo por dizerem que são liberais por oposição aos conservadores (o que quer que eles sejam ou onde estejam com expressão política)
O liberalismo sempre se opôs ao socialismo, ou fez que era diferente disso. Tira Estado, mete Estado, como dizia o PA.
Nunca o liberalismo foi oposição a conservadorismo.
Pela simples razão que o que se opõe ao conservadorismo é o progressismo. No extremo é o progressismo revolucionário.
Portanto, isto é um grupinho de progressistas que vai ser tomado pela escardalhada das causas do mundo_às-avessas e do anarquismo.
Eu até já os vi por aqui- Lavouras e Madeiras já estão de orelha arrebitada. Nem me admirava nada que não venham a ser os chefes e o CGP fique para as dicas de twitter.
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Não me admiraria nada de nada que ainda conseguissem financiamento do Soros.
O BE já a deve ter e o PAN também e isto tem todos os ingredientes de espatifar ainda mais nacionalidade e tradição de civilização que agrada ao lobby da Open Society.
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Vitor, completamente de acordo com a sua resposta das 08:11.
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Um verdadeiro liberal puro e duro (ortodoxo se quiserem) pensa, demora a pensar, “alinhava” conclusões e afinal concorda sem hesitar com o AC-DC: os passos cambaleantes, fracos, indecisos, falsos, mais as paragens com o corpo amparado, os gestos, as expressões faciais do Juncker não estavam sob efeito duma bebedeira, bezaina, mas sim, segundo o ami Costa, consequências duma dor ciática.
Uma dor ciática não provoca aquele comportamento, ó AC-DC/idiota útil !
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“todas as outras ideologias (…) têm origens externas. A única excepção foi o isolacionismo corporativista da primeira metade do Estado Novo”
Charles Maurras + Doutrina Social da Igreja
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Um partido liberal tem possibilidade de vingar em Portugal.
A intensidade ou a dose de liberalismo óptima para convencer os portugueses a aderir é a pergunta que os libertários devem procurar responder.
É como as virtudes ou defeitos do ser humano. Não há pessoas 100% honestas, leais, corajosas, perseverantes etc. As virtudes e defeitos acompanham cada um de nos em camadas. Podemos ser essencialmente honestos, mas não o somos inteiramente em qualquer situação. Podemos ser essencialmente corajosos, ate encontrarmos uma situação em que perdemos a coragem.
Assim, os lideres que o quiserem fazer vingar o liberalismo devem apresenta-lo na medida certa.
Ir à televisão , de chofre, e defender a privatização dos rios, a venda de órgãos pelo melhor preço etc, apesar de chamar a atenção, afasta 99,99% de pessoas que, não fora esse estado tão, digamos, evoluído, do liberalismo, podia fazer escola.
Os liberais podem aprender com os socialistas utópicos. A serio, não estou a brincar. Ao contrario dos socialistas científicos (Marx, Engels), os socialistas utópicos consideram que o caminho para o socialismo se faz caminhando. Sem rupturas. À l’horita. Um passo de cada vez.
Dar um salto revolucionario liberal, de supetão, não pode dar resultado algum , excepto se for coisa imposta pela força, como o socialismo cientifico. Mas isso de conquistar o poder pela força, sem a aceitação popular, tem sempre os dias contados.
E depois há um problema a resolver. Um problema de imagem. Não sei porquê mas, o liberalismo foi associado ao estado novo. Para os portugueses fascistas salazaristas e liberais é tudo a mesma coisa. É uma associação manhosa que a esquerda portuguesa conseguiu estabelecer usando pontos mínimos de contacto, como a política de moeda forte do Salazar.
Isso prejudica fortemente a imagem que o liberalismo tem em Portugal.
Desassociar o liberalismo ao salazarismo seria um passo essencial.
Rb
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“Toda verdade é fácil de entender depois de desvendada, a questão é desvendá-la.” [Galileo Galilei]
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