Teoria e Prática*

Em tempos, tive um (excelente) professor de economia que não se cansava de rebater a distinção, muito corrente, entre “teoria” e “prática”. Não há melhor teoria do que uma boa prática, nem melhor prática do que uma boa teoria – dizia ele. Cada vez mais, compreendo a vacuidade daquela pretensa distinção, sobretudo quando é invocada para justificar erros de análise ou comportamentos que denotam uma profunda ignorância, teórica e prática. Muitas vezes, os insucessos de uma determinada ação ou os erros (“colossais”) de previsão de certas políticas, justificam-se, precipitada e correntemente, como resultado de um excesso de teoria, como se esta pudesse, porventura, existir, ignorando a realidade. Ora, em última instância, mais não são do que incompetência….

Desde anteontem, temos assistido na imprensa internacional a uma preocupante disputa entre o FMI e a Comissão Europeia, na sequência da divulgação, pelo Wall Street Journal, de um relatório daquele Fundo, sobre o resgate da Grécia. O FMI, pelos vistos, reconhece erros de análise e diz, agora, que o plano foi mal feito. Pelo meio, critica a Comissão, acusando-a de só pensar no cumprimento das “metas europeias”. Esta, já replicou e ameaçou divulgar, igualmente, um relatório sobre o trabalho do FMI e da “troika” que – sublinha – é meramente técnica e, tendo sido implementada recentemente, não tem experiência na gestão desta “nossa” crise atual. Este episódio, prenunciando cenas de próximos capítulos (não de uma novela, mas sim de uma verdadeira tragédia grega), só comprova aquilo que já todos intuíamos: incompetência e desnorte daquelas Instituições. Se quisermos ser simpáticos – e provavelmente superficiais – essa gritante incompetência resultará, também, de um desconhecimento da realidade sobre a qual atuam. Dir-se-ia, precipitadamente: um excesso de teoria, levado a cabo por técnicos (teóricos) fundamentalistas, sem conhecimento da realidade. Confusão entre tecnocracia e política. E como dizia Fernando Henrique Cardoso, “para um Estadista, a economia não é ciência, é navegação”.

No Porto, chegou um novo candidato: Nuno Cardoso. A reentrada, em cena, de um ex-presidente da Câmara, merece sempre relevo. Já foi acusado (pelo PS) de ir prejudicar artificialmente Manuel Pizarro, favorecendo Menezes. Novamente, creio que, bem vistas as coisas, são teorias que podem estar a esquecer um pormenor: a realidade. Esta nem sempre (para não dizer “nunca”) se sujeita a análises e esquemas teóricos, desenhados por antecipação. Cardoso até poderá tirar votos (muitos ou poucos) a todos, baralhando, na prática, as contas e a teoria….

* GRANDE PORTO, semanário, sexta-feira, 7 de Junho de 2012.