Angie (I) – paixão ou governação.
O sucesso eleitoral de Angie é sintetizado nesta “peça” de o “Público”: “Mãos sem granders entusiasmos, (mas) seguras”.
É assim que a generaldiade dos alemães encaram a sua actual Chanceler. O factor segurança ( é fundamental). Não creio que as eleições de hoje na Alemanha – que confirmarão Merkel como Chanceler (independentemente da geometria que, dessas eleições, sair, em termos de coligações) – tenham, fora da Alemanha e, nomeadamente, em países como Portugal e Grécia – uma importância decisiva. Pelo menos, em termos de mudanças políticas imediatas.
Em termos europeus, reforçarão a tendência para uma europa, a prazo, (ainda) mais germanizada; uma europa que, sob o ponto de vista institucional e político, terá no reforço da integração – como habitualmente é pensada, no sentido de uma arquitectura que favoreça e imponha mesmo uma dinâmica de solidariedade pró-federal clássica (Eurobonds, etc.) – um período de impasse que acabará por culminar ou na trasmutação da natureza da integração (política), tal como a fomos conhecendo (método “Monnet”) até há alguns anos atrás ou então, em nada … ou seja, na institucionalização e na normalização do “impasse” e, portanto, num estado de perda relativa e progressiva de “presença” na vida e nas vicissitudes dos seus Estados-membros.
A ideia de solidariedade da Chanceler e do seu eleitorado alemão é a de que essa ajuda não será negada (pela Alemanha), desde que os países ajudados sigam o caminho alemão, “façam como nós”. Não se pode criticar; é, novamente e em termos externos, para o eleitor alemão, o caminho da segurança (façam aquilo que já conhecemos). Daí que Merkel tenha rejeitado aquilo que ela apelida uma “falsa solidariedade” para com os Estados intervencionados e tenha prometido, sobre eles, manter a “pressão”. “Ou seja, admite continuar a ajudar os parceiros europeus que precisam, mas mantém as exigências de que esses mesmos países prossigam os seus esforços de consolidação orçamental e as reformas estruturais”. Obviamente, compreendidas, queridas e feitas à alemã… Note-se que a consolidação orçamental tem, aqui, um sentido claro: a consolidação pelo caminho seguido (e conseguido) pela Alemanha, há cerca de dez anos atrás…. Claro que, entretanto, o mundo mudou, o sistema financeiro (em rigor, a sua dinâmica) mudou também e as condições não serão mimetizáveis da Alemanha de então (e de agora), para o resto da Europa.
Mas, ainda assim, quem (na perspectiva do eleitor médio e medianamente razoável e informado) troca um modelo que conhece, por algo que, mesmo em termos especulativos e académicos, não passa de um conjunto de hipóteses teóricas, em “modelo” e que, por muito imaginosas ou fundamentadas cientificamente, mais não são, em concreto e na óptica do eleitor, experimentalismos, alternativas desconhecidas (nunca viu ou viveu os seus efeitos). “Mãos seguras”, mesmo que sem grandes entusisasmos…
Enfim, as coisas não são entusiasmantes, apaixonantes, mas a paixão talvez não seja chamada para a governação (da Alemanha e da europa)… pelo menos, talvez não seja valorizada pelos eleitores que a guardarão (e bem?) para outras coisas da vida!
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“…Note-se que a consolidação orçamental tem, aqui, um sentido claro: a consolidação pelo caminho seguido (e conseguido) pela Alemanha, há cerca de dez anos atrás…. Claro que, entretanto, o mundo mudou, o sistema financeiro (em rigor, a sua dinâmica) mudou também e as condições não serão mimetizáveis da Alemanha de então (e de agora), para o resto da Europa“…
O caminho seguido pela Alemanha há 10 anos atrás nada têm a ver com as circunstâncias dos países actualmente sob intervenção internacional e muito menos com as condições político-financeiras. Citar a Alemanha de há 10 anos (da época Gerhard Schröder ?) para ao de leve sugerir diferenças mas logo a seguir mergulhar cegamente nos pressupostos que caracterizaram o modelo sugeriso, é uma autêntica ‘trapalhada’.
Estas análises comparativas são sistematicamente inquinadas por um preconceito oculto que se pretende atingir. O caminho é sempre o mesmo: discutir e analisar para chegar a um ‘destino’ pré-determinado. Por quem? Nunca lhe vemos os rostos, nunca participamos na discussão, nunca teremos hipóteses de os escrutinar.
O mais parecido – embora ainda substancialmente diferente pela existência de 2 blocos político-militares e ‘outro’ contexto financeiro – seria a Alemanha no período imediato pós-II Guerra.
E nessa altura a ‘resposta’ terá sido diferente perante o descalabro que os alemães designam como ‘Stunde Null’ (hora zero).
Ninguém contesta a necessidade de consolidação orçamental e o controlo da dívida pública. Os portugueses já perceberam isso e mostraram-se dispostos a fazê-lo desde que compreendam e acreditem no ‘plano’.
Para o conseguir precisam de um Plano de Ajuda Financeira (como a então RFA precisou). Até aqui tudo bem. O problema é que – deixando de lado a necessidade do ‘haircut de 1953’ – existiu na Alemanha de então uma ‘receita’ que funcionou, foi renegociada, adaptada, permitindo que o desenvolvimento económico e subsequentemente a pujança financeira, ‘apagasse’ as sequelas sociais e financeiras, terríveis consequências do devastador conflito mundial.
Falta a actual chanceler explicar como espera que funcione a ‘austeridade’, em termos de crescimento económico e de modelo social. A sensação que se expande dia a dia, sem explicita demonstração contraditória, é que o modelo ‘germanizado’ poderá – com sangue e suor – desembocar num equilíbrio orçamental (nem ‘isso’ parece garantido’) mas sobre essa pírrica vitória, não restará pedra sobre pedra. E, no meu entender de leigo na matéria, para esse ‘peditório’ será cada vez mais difícil arregimentar contribuintes.
Na verdade, começa a ser notório que precisamos da nossa ‘hora zero’ ou, pelo menos, de atrasar algumas horas, no frenético relógio de um intempestivo ‘ajustamento’ em curso. O problema é não existirem (cá dentro e lá fora/UE) políticos com legitimidade, competência e credibilidade suficiente e publicamente reconhecida para uma tão rigorosa e hercúlea ‘tarefa’.
Todavia o problema português complica-se porque ‘cá dentro’ ninguém (coligação governamental e/ou ‘oposições’) conquista a confiança popular. Com a velocidade que as coisas acontecem, hoje – e fundamentalmente 2014 – pouco têm a ver com 2008, 09, 10, 11, que gizaram os actuais ‘planos de assistência’…
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