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Caiu mais um mito “austeritário”

14 Março, 2014
by

Passámos os últimos anos a ouvir proclamar que uma das principais consequências da austeridade é que esta fazia aumentar as desigualdades. Várias vezes contestei essa aparente evidência, mas ainda há bem pouco houve quem ficasse genuinamente surpreendido por descobrir que a realidade, afinal, não encaixava no discurso dominante de que “os ricos estão a ficar cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres”. 

Ora o FMI acaba de publicar um conjunto de estudos sobre a evolução da desigualdade e a sua relação com as políticas de consolidação orçamental que, no caso de Portugal, desmentem cabalmente essa espécie de “mito urbano” que tanto jeito dava a certos activistas. 

As evidências são tão gritantes que até o Público reconhecia em título que a “austeridade retirou 10% do rendimento aos mais ricos e 5% aos pobres“. Isto é, que a “austeridade em Portugal cortou aos mais ricos o dobro do que tirou aos mais pobres”, como se escrevia no Jornal de Negócios. 

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O caso português contrasta mesmo com o de outros países quando consideramos o impacto das medidas de consolidação orçamental no período 2008-2012, como resulta evidente deste quadro. Talvez seja por isso altura de algumas pessoas que se precipitaram a insultar Fernando Ulrich quando este foi recentemente à SIC dizer que “as pessoas que mais ganham, tiveram cortes – seja pela via dos cortes, seja pela via da carga fiscal – muito maiores do que as pessoas que ganham menos. Com esta dimensão, talvez só em 75” reconhecerem, no mínimo, que se enganaram (aqui fica apenas um exemplo)

PS. Bem sei que este estudo só vai até 2012, e por isso antevejo o seu rápido desmerecimento por alguns comentadores. Porém, se nos recordarmos da principal medida de austeridade de 2013 – o brutal aumento do IRS – facilmente podemos antever que quando o FMI colocar esse ano na sua base de dados vai, provavelmente, reforçar ainda mais as conclusões deste estudo. 

32 comentários leave one →
  1. 14 Março, 2014 09:58

    Que grande contorcionismo.
    Não estudei economia.
    Estudei ciências exactas.
    Lavoisier, por exemplo.
    Os 10% retirado aos ricos mais os 5% retirado aos pobres…
    foi para onde?
    Para os remediados?

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    • Abre-latas permalink
      14 Março, 2014 11:02

      Foi para pagar os anos de investimento público que estão quase a provocar um crescimento doido!

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      • Tiradentes permalink
        14 Março, 2014 16:06

        Foi para pagar e é para pagar as grandes obras de suposto investimento público que ia levar para os espaço a nossa economia e que depois verificamos que afinal era para pagar a empreiteiros e banqueiros.~
        Tudo congeminado por aquele nosso “inginheiro”
        E não falei das “ventoinhas” que custam um submarino por ano durante 20 mais 40% no custo do KW/h por uma questão de decoro.
        E há ainda quem não saiba?

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    • Surprese permalink
      14 Março, 2014 16:00

      Foi para pagar aos funcionários públicos e aos reformados da CGA, aqueles 70 com reformas acima dos 5.000 mes e que não querem ter cortes.

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    • lucklucky permalink
      15 Março, 2014 08:20

      “Os 10% retirado aos ricos mais os 5% retirado aos pobres…
      foi para onde?”

      Depois destes anos todos ainda não descobriu o que é viver da dívida?

      O dinheiro não foi para lado algum, ficou no bolso de quem nos emprestava dinheiro.

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  2. 14 Março, 2014 10:00

    Azar só teres lido parte, Zé Manel!
    No mesmo relatório lê-se também que a consolidação orçamental assente sobretudo em medidas do lado da despesa pode agravar mais as desigualdades. A parte sobre a idade das reformas e a redução das pensões também merece uma leitura atenta para os menos preguiçosos.

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  3. YHWH permalink
    14 Março, 2014 10:35

    A ingenuidade da Direita-Peluche enternece.

    Como na métrica estatística de um modelo tipificando riqueza/pobreza, «ser rico» fosse apenas o dobro de «ser pobre»…

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  4. atento permalink
    14 Março, 2014 10:42

    Que disparate , o que aconteceu foi que quem ganha mais de 640 euros passou a ser considerado rico pelo psd/bpn e quem ganha mais de 1000 muito rico.

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  5. Ze Gneiss permalink
    14 Março, 2014 10:59

    Se tirar 10% a quem ganha 5.000 ele passará a ter que viver com 4.500.
    Se tirar 5% a quem ganha 600 ele passará a ter que viver com 570.
    É só pensar um bocadinho. O primeiro vai ter que fazer férias em Punta Cana em vez de ir para as Seychelles, o segundo….. não sei, se calhar os filhos vão passar fome.
    O problema da economia é que reduz as pessoas a números e congratula-se com realidades que deviam envergonhar.

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    • Surprese permalink
      14 Março, 2014 16:02

      Porque é que você não dá o seu dinheiro ao que passou a receber 570?

      Porque é que quer roubar aos outros para resolver o seu problema de consciência?

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      • Ze Gneiss permalink
        14 Março, 2014 16:34

        Já percebi o seu raciocínio: os 10% que se tira aos “ricos” é roubo.
        Os 5% que se tira aos pobres…. é para bem da pátria.
        Eu não tenho problemas de consciência, nunca roubei nada a ninguém!

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  6. tony permalink
    14 Março, 2014 12:17

    os senhores estão em jubilo tiraram pouco a quem tem pouco e um pouco mais a quem tem muito, ó que felicidade

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  7. Rinka permalink
    14 Março, 2014 12:51

    O FMI aquela fonte nada interessada em passar a ideia contrária.
    Tão válida como um hipotético estudo do Sporting para provar quem foi mais prejudicado em Portugal

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  8. Manolo Heredia permalink
    14 Março, 2014 13:01

    Até acredito, pois em Portugal quem ganha + de 1000/mês é rico!

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  9. JorgeGabinete permalink
    14 Março, 2014 13:10

    Existe em Portugal um Concílio dos Idiotas reunido em permanência e alguns vêm aqui comentar assiduamente, basta ver a lógica que precede os seus comentários:
    – redução de assimetrias no rendimento: não interessa, porque os pobres ficaram mais pobres (por demonstrar, obviamente). Portanto o argumento refutado de que as desigualdades estavam a ser agravadas é abandonado.
    – a economia são números e não pessoas (mais idiota ainda), portanto os números não são agregados, portanto o argumento da espiral recessiva (para quando pergunta-se ainda) é abandonado, a economia eram pessoas e empresas agora é uma abstração.
    – o das ciências exactas (afirma não ser alquimista, apesar do seu chorrilho de comentários inadjectivavel) vê a inexactidão não no antes (ramo da previsão) mas no depois (ramo da análise), portanto as suas citações de números e agregados de modo isolado, descontextualizado e, não raras vezes, mal citados são confessadamente do domínio da metafísica, com a exactidão que se lhe reconhece. Este não abandona argumentos porque nunca os usa.

    Quanto ao texto e sua refutação, por óbvia que sempre entendem ser, deixam mais uma vez nos subentendidos da sapiência.

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    • Ze Gneiss permalink
      14 Março, 2014 15:42

      Gostava de te ver a viveres um mês com o salário mínimo!
      Mas no fundo estamos todos de acordo.
      Basta que o Páis tenha orçamento equilibrado (saldo primário positivo) e está tudo bem!
      As condições de vida proporcionadas ao seu povo são “peanuts” (não sei se está bem escrito mas quando tiver oportunidade vou perguntar ao Jorge Jesus).
      Nunca na vida veremos o FMI ou a UE preocupados com isso.
      Quanto à dívida pública, se é verdade que grande parte dela está nas mãos de bancos porugueses e outras instituições nacionais, porque se preocupa tanto o FMI e a UE?
      Alguma vez ao longo da sua quase milenar história Portugal deixou de pagar a algum credor?
      Não temos lições a receber de ninguém, muito menos desses que a pretexto de um País destruido pelo seu ditadorzinho de bigode não tiveram pejo em impor um perdão de dívida escandaloso.
      Aquilo que estamos a assistir é nada mais nada menos do que um retrocesso civilizacional, já que nos estão a forçar a pôr de lado conceitos moralmente elevados que nós tinhamos como acertados e que agora meia dúzia de iluminados nos dizem que teremos que esquecer, não apenas nos próximos tempos, mas para todo o sempre.
      Por outras palavras: RASGAMOS UM CONTRATO DE SOCIEDADE PORQUE UNS SENHORES ESTRANGEIROS QUE SÃO MAIS INTELIGENTES QUE NÓS NOS DIZEM QUE TEM QUE SER ASSIM !!!
      Portanto e para terminar proponho-te como fundador do Concílio dos Vendilhões da Pátria.
      Estão abertas as inscrições.

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      • Surprese permalink
        14 Março, 2014 16:17

        Puxa, tanto facciosismo num só comentário!

        Salário mínimo: é baixo, mas é por isso que temos menos pessoas desempregadas que a Espanha e a Grécia. Pode ser mais alto, mas então teremos mais umas dezenas de milhar a receber zero (desempregadas), para beneficiar uma minoria (os instalados) – isto é que é justiça social!

        Portugal já incumpriu com as suas dívidas várias vezes, a mais famosa das quais em 1892.

        Quanto ao ditador do bigodinho, também no passado Portugal teve perdões de dívida, com péssimos resultados (nomeadamente termos o nosso ditador sem bigode, porque Portugal perdeu o acesso ao crédito durante quase 100 anos).

        Quanto aos conceitos moralmente elevados, deve estar a referir-se ao facto de termos metade da população a ser roubada diariamente pelos políticos de serviço para alimentar uma oligarquia instalada com reformas vitalícias de 5.000 euros mês, também conhecida como “as elites”, ou “os estadistas”.

        Se isso é um contrato de sociedade, lhe garanto que nem eu nem nenhum familiar meu o assinou, não beneficiamos dele, e não fosse o facto de existirem uns tribunais e uma polícia que rapidamente me privarão dos meus direitos humanos (enjaulando-me como a um animal) se eu não pagar os impostos para alimentar essa cambada de instalados, de bom grado optaria por não participar.

        Já agora, esses tribunais são rápidos a penhorar e a prender quem não cumpra o tal contrato de sociedade que eu não assinei, mas lentos a julgar quem faça parte ou alimente a tal oligarquia, como vimos agora no caso de um banqueiro.

        E a polícia também é lenta (ou recusa-se a agir) quando temos criminosos encapuçados a ameaçar o parlamento com invasão, mas rápida a punir um dos seus membros que faz uns biscates ao fim de semana como bailarino, para compor o orçamento familiar.

        Este contrato de sociedade está podre, foi feito por uma oligarquia anti-patriota, e precisa de ser rasgado.

        Ser patriota é sacrificarmo-nos pelos futuros portugueses (como fizeram os descobridores, que deram a vida para construir um império), não roubar as futuras gerações porque “o salário mínimo não dá para viver”.

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      • Tiro ao Alvo permalink
        14 Março, 2014 18:50

        O Surprese surpreendeu-me: Estes Gneisses merecem que se lhes abra os olhos…

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      • JorgeGabinete permalink
        14 Março, 2014 19:17

        Porventura sabe se ganho mais ou menos que o salário mínimo ou se estou sequer empregado? O seu pressuposto é de que eu não sei, mais, pressupõe que alguém que possa estar bem na vida, não tem ideia do que são dificuldades, pressupõe que a vida só custa aos “coitados”. Porquê tanto pressuposto não sustentado para formar um argumento?

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  10. gastão permalink
    14 Março, 2014 14:25

    Ah pois… um estudo do FMI… então se é do FMI… quem sou eu para duvidar…

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  11. Joaquim Carreira Tapadinhas permalink
    14 Março, 2014 14:30

    Só que os ricos, porque são ricos, perderem 10% faz com que fiquem ricos na mesma, enquanto os pobres, que nem podem perder 1%, com 5% de perda, ficam lançados na miséria. E a distância, entre miséria e riqueza, fica agravada.

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  12. Tiradentes permalink
    14 Março, 2014 16:14

    Portanto….se tirarmos 50% aos ricos eles continuam ricos e não vale a pena . Se tirarmos 100% aos ricos eles continuam ricos porque tem outro tanto fora ou mudam-se para a Rússia quiçá obtem um visto gold do Comité Central do PC Chinês (parece que lá o PC gosta dos ricos).
    Caraca não vale a pena mesmo.
    Até que enfim chegam a essa conclusão.

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  13. Ze Gneiss permalink
    14 Março, 2014 17:18

    Talvez o melhor seja aproveitar a austeridade, já que ela parece ser inevitável e tirar aos pobres o pouco que têm.
    Com essas poupanças, podemos fazer como sugere o o nosso comentador “surprese” e armarmo-nos em patriotas dando a vida para construir de novo um império.
    A minha dúvida é se devemos demandar novamente a costa africana ou ficarmo-nos aqui pela nossa vizinha Espanha.
    Voltemos alegremente aos tempos das descobertas onde esses luxos de “salário mínimo” não existiam nem tão pouco os pobres tinham voz.

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  14. Portela Menos 1 permalink
    14 Março, 2014 19:33

    Se a premissa se baseia em relatório do FMI, estou descansado.

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  15. @!@ permalink
    14 Março, 2014 20:53

    O cidadão Silva já o tinha dito, e vincou bem, que lhe tinham cortado o sustento. Agora foi a vez do Manel. Finalmente alguém, porFIM, recolhece a injustiça.

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  16. um judeusito permalink
    14 Março, 2014 22:05

    O estudo do Rogoff não tinha 1 erro de Excel. Essa foi a forma resumida como apareceu nos jornais.

    O estudo do Rogoff (ex chefe do FMI, nem mais) e da ex-cubana Carmen tinha muitos erros de Excel, como e cito :
    “” Erros de código de Excel , apagamento seleccionado de vária Informação, e um inconvencional aumento de estatísticas “

    Este “estudo” serviu realmente para as ideias iniciais da troika, que se mantém até hoje.

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  17. um judeusito permalink
    14 Março, 2014 22:17

    As intervenções da Troika e como diz e bem, não fazem aumentar os lucros dos ricos todos. Há ricos que tem aproveitado, e outros que não

    Sou daqueles que tenho alertado para a falência de muitas empresas, e já disse que se alguma esquerda afirma que o objectivo é comprar a preço de Saldo empresas Nacionalizadas, eu acrescento que é comprar também a preços de Saldo empresas Privadas.

    Há literatura sobre isto, e estou longe de ter descoberto a pólvora. 😦
    Penso que haver patrões no tal manifesto é prova disso mesmo.

    Quanto aos pobres, a situação é pior. Estes estão todos cada vez mais pobres, e a classe média cada vez mais pequena.

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  18. A. R permalink
    14 Março, 2014 22:41

    “Lavoisier, por exemplo.” Lavoisier foi guilhotinado pela esquerda que queria igualdade, liberdade e fraternidade e “não precisava de físicos” . Que exemplo tão infeliz! Também estudei ciências bem mais exactas que a química.

    A verdade está estampada nas estatísticas: a austeridade caiu forte e feio sobre os mais ricos.

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    • JorgeGabinete permalink
      15 Março, 2014 01:09

      O …coiso queria dizer que estudou fórmulas, não a forma como lhe chegaram. Já se percebeu que história económica e social não é “exactamente” uma ciência para ele. Já a ciência política não é uma ciência “exactamente” para ele. Por último o raciocínio lógico não é cientifico para ele “exactamente”.

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  19. JorgeGabinete permalink
    14 Março, 2014 23:56

    “”O secretário-geral do PS, António José Seguro, defendeu hoje, em Coimbra, a mutualização de parte do subsídio de desemprego na zona euro, passando este fenómeno social a ser também “uma responsabilidade” da União Europeia.””

    É capaz de ser uma boa ideia…

    “”António José Seguro preconiza que se estabeleça um nível de taxa de desemprego predefinido, “por exemplo 7%”, e que a percentagem de desempregados acima daquele valor seja da “responsabilidade da própria União Europeia”.””

    Tinha que estragar tudo, só sai #%$d@ daquela cabeça…

    “”A visão “de solidariedade da Europa seria traduzida neste princípio”, afirmou o líder socialista, sublinhando que, se parte do subsídio de desemprego fosse responsabilidade da União Europeia, esta “deveria ter recursos para criar emprego e não para o subsidiar”.””

    Como é que nunca ocorreu isto a mais ninguém?!

    “”Segundo António José Seguro, com esta medida, a União Europeia daria “mais atenção a uma política económica robusta”, pois “os países com as taxas de desemprego mais aceitáveis – se é que há taxas aceitáveis – seriam chamados a intervir”.””

    Se é que há taxas aceitáveis… por exemplo 7%, este &%#* não tem conselheiros? Se não os arranja para o ajudar a falar que o ajudem a fechar a boca! A ideia de pôr os que conseguem desemprego baixo a pagar, por castigo, a quem não consegue não me é estranha…

    “”O dirigente do PS sublinhou ainda a necessidade de Portugal utilizar parte dos fundos comunitários num “programa específico de requalificação” para os “mais de 310 mil portugueses que já desistiram de procurar emprego e que são considerados inativos”.””

    Proponho que a UGT seja consultora desse programa, dada a experiência FSE adquirida.
    Um programa específico, nada de apoiar empresas só porque essas é que criam emprego de facto.

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