Cancioneiros populares e Câncio(neiros) sofisticados
Saber que um amigo resolveu falar mal de nós pelas costas é das coisas mais horríveis com que nos podemos confrontar. Pior, pior, só mesmo quando um amigo resolve falar mal de nós na nossa cara. Enveredar pelo caminho da frontalidade é uma ameaça civilizacional indesculpável, e um alargamento generalizado da sua prática remeter-nos-ia à Idade da Pedra em pouco tempo. É por isso que invejo a sorte das amizades de Fernanda Câncio, que inventou uma terceira via para transmitir os estados de espírito com elas relacionados: a crónica de opinião publicada em jornal de tiragem nacional. Num texto do Diário de Notícias, intitulado “Lisboa e os parolos”, a jornalista começa por falar daqueles que, há três ou quatro anos, quando os preços eram baixos, não mostravam o menor interesse em viver no seu bairro, a Baixa Pombalina. Uma vez que, ao contrário da cronista, essas pessoas recusavam casas antigas sem garagem e sem elevador, são sumariamente descritas como saloias, tacanhas, ignaras e não sofisticadas. Logo de seguida, para rematar o parágrafo, Fernanda Câncio convoca os seus amigos para a polémica e partilha connosco a pergunta que alguns deles lhe foram fazendo nos últimos 20 anos: a muito reveladora e chocante “que horror, como é que consegues viver ali?”
Em 1915 o psicólogo dinamarquês Edgar Rubin espantou o mundo com uma figura que ficaria conhecida como o “Vaso de Rubin”, uma ilusão de óptica em que algumas pessoas visualizam a silhueta de um vaso e outras o perfil de duas faces humanas. Com esta crónica a jornalista do DN aplica um truque semelhante aos leitores: onde a maioria apenas vê um conjunto de palavras separadas por espaços, os seus amigos da periferia conseguem identificar um barrete com o tamanho exacto das suas cabeças. E como é um barrete de saloio, fica a faltar apenas a faixa da cintura e o varapau para estarem preparados para o próximo Carnaval.
Felizmente, nem só de parolos é constituído o seu núcleo íntimo. A propósito da recente discussão sobre o arrendamento a turistas, Fernanda Câncio relatou o pânico que assaltou um casal amigo desde que colocaram à venda um dos apartamentos do prédio da Baixa em que vivem. Pelos vistos, a perspectiva de terem de aturar viajantes estrangeiros como vizinhos está a tirar-lhes o sono. Muito honestamente, compreendo o drama: se eu tivesse de estacionar todos os dias o carro a 1 km de casa e depois carregar com as minhas duas crianças e respectiva tralha pelas escadas até ao 2º ou 3º andar, também não aguentava cruzar-me com gente de ar feliz e descontraído a gozar férias.
Saindo em defesa dos moradores, a cronista realça os incómodos provocados pelos turistas e defende a possibilidade de veto por parte do condomínio; entrada no prédio de madrugada, deposição de lixo reciclável no contentor comum e barulho do arrastar de malas são alguns dos tormentos que os atingem e que muito me impressionaram! E é por isso que aconselho Viktor Orbán e Donald Trump a alterarem o discurso: associar os refugiados islâmicos ao perigo do terrorismo ou os migrantes mexicanos ao tráfico de droga e roubo de empregos é uma estratégia errada que só acarreta acusações de insensibilidade e xenofobia. Se o Primeiro-Ministro da Hungria e o Presidente dos Estados Unidos não querem essas pessoas nos seus países é só pôr a circular que os fiéis do Corão e do sombrero mostram pouco respeito pelo ambiente e pela recolha selectiva, tendo sido vistos a colocar jornais velhos no vidrão e pilhas usadas no papelão. Acredito que a solidariedade progressista fica garantida e, quem sabe, podem até vir a ser distinguidos pela Greenpeace.
Republicou isto em O LADO ESCURO DA LUA.
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Com o tipo de portugueses que temos, corremos o risco de meio Algarve fechar ou ficar illegal, o que para muitos seria uma grande alegria.
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Esse tipo de tipas e no caso uma tipa típica do regime, não me merece atenção, ponto final na tipa.
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A prostipega e as suas redacçõezinhas – há que dar ao dedo e fazer pela vidinha…
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As crónicas da senhora metem-me nojo. Mas se os jornais não vendem, surgem-me duas perguntas: Para quem escreve? Quem lhe paga e porquê?
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Há turistas e há turistas.´E um facto que qualquer deles deixa divisas, mas há mesmo alguns que são bastante poluentes e destrutivos.
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Sim… tal como os “nativos”
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Pois. O padrão de civilidade que a turista de Formentera projeta nos turistas deve mesmo ser o da geração mais bem preparada de sempre 🙂
http://www.jn.pt/nacional/interior/alunos-em-espanha-azulejos-partidos-colchoes-pela-janela-e-tv-na-banheira-5784208.html
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há migrantes e migrantes….ser xenófobo para turistas é bom para migrantes é mau.
O raio destes turistas tem umas vestes estranhas, andam de calções, elas andam “descascadas”, são muito alegres, pagam o alojamento, a comida e as suas próprias passeatas
Ainda se fossem migrantes vestidas de burka a quem lhes oferecemos casa, medico de familia apoio psicológico comida e mais um subsídio “agente” não faria diferença entre migrantes e migrantes.
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Lá vem o Manel sempre oportuno: “As crónicas da senhora metem-me nojo. Mas se os jornais não vendem, surgem-me duas perguntas: Para quem escreve? Quem lhe paga e porquê”?
Escreve para pasar o tempo e talvez para as amigas, é normal.
Quem paga acabamos sempre por ser nós, os nossos filhos, netos e bisnetos.
http://observador.pt/opiniao/e-la-encalhamos-nos-mesmos-os-que-ficam-sempre-a-ganhar/
Nem teve conhecimento de que “as férias que passou com … foram na verdade pagas com dinheiro proveniente do amigo. Nunca teve motivos “para suspeitar de que quem [a] convidava não assumia […] a despesa”.
Amigo no singular? Houve mais amigos, e de peso. Será que uma pessoa de bem não pode ter amigos? As pessoas são desconfiadas e invejosas.
Não assumiu a despesa não quer dizer que não se tivesse assumido … ao menos.
Até aí deve estar inocente. A verdadeira questão é: “Teria valido a pena”?
Aqui entre homens, um fim de semana é um fim de semana. Há 52 fins de semana por ano, a vida é curta e é preciso não desperdiçar. Sempre em terreno democrático, lutando arduamente pelo bem dos mais desfavorecidos como os que não podem ir às Baleares.
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Recebe um panegírico em futebolês: o teu artigo lembrou-me os remates para golo(dois) do João Moutinho no último jogo de Portugal.
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Javitudo,
Se ninguém lê os jornais, não lhes demos publicidade. Se ninguém os ler, morrerão por si.
Felizmente para nós, socialistas não sabem ler. E se leem, não compreendem. E se por acaso até conseguem compreender, o que é raro, é porque quem escreve não tem nada para dizer.
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Hoje, o P”S” e as suas muletas votaram contra a eleição da deputada Teresa Morais para o Conselho de Fiscalização dos Serviços de Informações da República Portuguesa. O voto é livre, mas alguma “mãozinha” estranha estará por trás de interesses.
O líder da bancada do PSD afirmou que para além de “grave decisão”, há “alguma razão oculta e secreta” e o líder da bancada do P”S” garantiu sem se rir que será eleito alguém “com sentido de Estado”.
Muitos processos judiciais já em investigação (e outros surgirão) vão depender também do CFSIRP — alguém, seja filósofo ou banqueiro, CEO ou político-mafioso terá ficado temporariamente mais aliviado…
Quem estará desde há muitas semanas na rampa de lançamento ?
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Outra deste govno: hoje, uma secretária de estado fez propaganda ao Orçamento Participativo Um cidadão tem um cartão com 3 milhões e pode votar até Setembro no projecto que entender melhor para o país. Insistiu no exemplo dum ciclo de cinema… Será que vencerá um projecto para os esfomeados tipos e tipas “socialistas” da música, do teatro, da dança, ou do cinema ?
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Pudemos* ( no pretérito ( supostamente ) perfeito )
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Atualmente, o condomínio pode impedir alguém de arrendar um apartamento a outrem, desde que o motivo seja turismo, no entanto, este mesmo condomínio nada pode fazer se um dos atuais condóminos desrespeitar ou violar repetidamente a lei do ruído de vizinhança. Moral da história, para uma situação existente o condomínio não tem poder, mas para uma situação hipotética já tem.
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Por o que está a acontecer no Capitólio, pela primeira vez o DTrump vai desligar o twitter…
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afinal o twitter nunca esteve tão activo……
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