É por isto que precisamos da regionalização
É preciso o papel. Sem o papel não é possível dar seguimento ao requerimento que visa a obtenção do documento. O documento é impreterivelmente necessário para a obtenção da certidão que permitirá apresentar o pedido de autorização de utilização da minha propriedade como sendo minha propriedade.
Depois do funcionário verificar que a minha propriedade está em condições regulamentares de funcionamento para que possa ser usada como me aprouver por ser minha propriedade, resta ao chefe de departamento emitir a guia que será encaminhada para o representante do povo assinar, validando assim, perante toda a sociedade, que a minha propriedade pode mesmo ser considerada como sendo minha propriedade.
Há um problema: a entrada do quarto-de-banho feito exclusivamente para cumprir com a regulamentação autárquica tem menos dois centímetros que o mínimo necessário. Perante a argumentação de que, mal seja obtida a autorização para usar a minha propriedade como minha propriedade, o dito quarto-de-banho tornar-se-á nos aposentos da jovem nigeriana que importei para obter comissões sobre os rendimentos na prostituição legalizada, o funcionário respondeu-me que a entrada tem menos dois centímetros que o mínimo necessário.
Perante tantas dificuldade, não me restaram grandes opções: teria que propor ao senhor autarca a realização de um aborto às trinta e duas semanas à senhora que espera que ele deixe a mulher e dois filhos para construir nova família nas proximidades do bingo. Só precisava arranjar forma de chegar ao senhor presidente.
Sabendo, pelo jardineiro da câmara a quem paguei sem IVA para me mandar um moço limpar o jardim de graça, que o director do serviço de direcção dos departamentos autónomos sem direcção própria estava a faltar há dois meses por ter a mãe com Alzheimer, ofereci a Dona Ondina – que está na recepção – um frigorífico comprado por erro demasiado grande para a casa em construção para que me providenciasse o número de telefone do topógrafo que trabalha no mesmo piso que o tal director. Contactei o topógrafo e, por apenas pouco mais que uma centena de euros, deu-me o telefone do director dos serviços sem director próprio.
Falei com o director e propus-lhe que, à troca de uma reunião com o senhor presidente, lhe trataria da eutanásia da mãe. Prontamente aceite, após o bafo final da velha sob a almofada, dirigi-me à câmara onde me encontrei com o senhor presidente, que prontamente acedeu a dar-me o papel preenchido em troca do aborto à doida solitária.
Agora, que tenho o papel, só me falta a certidão. Aí, a minha propriedade vai poder passar a ser, finalmente, a minha propriedade, pelo menos até à expropriação com a alteração ao PDM. Em qualquer dos casos, o que lamento no processo é não haver ainda regionalização: nem pude dar azo às minhas outras capacidades de persuasão, a começar pelo meu fulminante sex appeal homoerótico.
Da maneira como as coisas são hoje em dia, essa do “fulminante sex appeal homoerótico” vai, de certeza, facilitar rapidamente, tipo via verde, as necessárias aprovações… hehehehehe
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Olha! O gajo que não foi à escola!
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O que refere passou-se numa Câmara Municipal, o poder mais próximo do cidadão. Acha que com mais poder intermédio a burocracia diminui? Se calhar, aumenta!
AC
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Claro que aumenta. A regionalização seria o descalabro final com o Poder Absoluto nas 386 ditaduras locais!
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Retrato do país em que Vítor Cunha adoraria viver…
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Ninguém te perguntou nada, grande atrasado mental.
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Retrato da disfunção de país que tu e os teus criaram Paulo Curtão! Já voltaste do sky em Davos? Volta para lá e morre numa avalanche!
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Muito bom.
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O Vítor Cunha é o maior!
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Bom sem duvida, mas não exageremos …
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Ó Vitor,
só descobriu agora que o Propriedade Privada não existe?
Aquilo a que chamamos propriedade privada é uma autorização de uso de uma propriedade do Estado. Autorização concedida pelo Estado desde que cumpramos os requisitos que o Estado exige para podermos usufruir dessa propriedade.
As formalidades para que possamos usufruir do bem costumam ser: Registo num cartório do Estado, obrigatório, a nosso favor, e pagar os impostos de usufruto (periodicamente: IUC para automóveis ou barcos, IMI para propriedade urbana ou rural mais Seguro contra incêndios para propriedade horizontal, taxas autárquicas, etc.).
Ah! e a qualquer momento pode ser-lhe retirada a autorização de uso da propriedade, mediante o mecanismo omnipotente da expropriação, ou confisco.
Ah! e os filhos e animais domésticos também deixaram de ser propriedade do cidadão. Para além da obrigatoriedade de registo, há as vacinas obrigatórias e o ensino obrigatório!!!
Nos países civilizados é assim…
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Por isso nada como viver num país não civilizado tipo USA, Republica Checa, Polónia … mas futuramente também: França com Le Pen, Itália com Salvini ….
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No ano passado, para obter no próprio dia UMA CERTIDÃO numa autarquia do interior, uma pessoa teve de se fazer à estrada, fazer aproximadamente 400 Km, pedir por favor a mais que um funcionário, pagar mais de 30 € pelo serviço prestado e ver CINCO FUNCIONÁRIOS envolvidas no assunto, para produzir e autenticar a referida Certidão.
Um dia queimado, gasolina e portagens.
Mas acabou o papel selado! Grande obra da “demo cracia”.
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Excelentíssimo retrato da «funcionalização publica» do “rumo ao socialismo” no Portugal pseudodemocrático !
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