As pessoas ficam maluquinhas, já se sabe
Como um carteirista que vê a carteira do incauto leitor de jornal no café pousada na mesa, olho para a porta do apartamento sabendo que a sua abertura me exporá a terríveis doenças e ainda piores menções na comunicação social. Se a abrir estarei a cometer uma nefasta acção contra toda a humanidade. Dizem-me que não custa nada: é só mais uns 15, talvez medidos em dias, em meses ou em anos. Mesmo no pior cenário de 15 anos, é uma pena menor que a normalmente atribuída a outros genocídios. É preciso um esforço, diz o senhor presidente na sua palavra dirigida aos da idade dele, de idade menor e de idade também maior. É assim que fala o presidente, como se existisse uma idade certa – a dele – e outras idades que lá vão circundando o pináculo da existência humana. Isto é uma guerra, dizem, e decerto que é: não faltam as bombas que deputados e líderes partidários atiram. O doutor Rio explicou que enquanto não se colocar um escafandro em todos os portugueses não existem condições para voltar à rua. Bem diziam as muçulmanas que a moda do futuro seria a apicultura.
Não sei se arrisco. Se abro a porta pode dar-se o caso de sentir uma irresistível vontade de lamber o corrimão. E se eu morro? Recordo com pesada melancolia a angústia de atravessar a linha de comboio nas idas para a escola primária: “E se um comboio aparecer à velocidade da luz?”, perguntava ao Rui, meu companheiro de viagem. Sobrevivi ao comboio, não sucumbirei ao vírus. Fico em casa, a receber encomendas do Continente através do esterilizado estafeta. Recebo o correio enviado em envelope anti-bacteriano.
Dizem que o mundo tem risco. Não posso aceitar isso. Enquanto não inventarem uma vacina para este e para todos os outros vírus do futuro, não mais sairei de casa. Continuarei a olhar para a porta, à espera do dia em que se anuncie a conquista da imortalidade. Até lá, resta-me a janela para identificar os perigosos prevaricadores. Era autorizarem-me a dar-lhes um tiro. Isso é que era.
Com a minha morte, posso eu bem.
Isso de passar uns dias no hospital entubado, é que eu não acho muita piada.
Mas prontos, cada um tem a sua ideia…
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Belo texto! 👏
“Bem diziam as muçulmanas que a moda do futuro seria a apicultura.” 🤣🤣
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161 infectados e o rectângulo fechado para saldo de fim de estação
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Ou seja: parece que funcionou… Que chatice.
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Ouvi agora que o Ministério da Defesa foi incumbido de fazer o renascimento do SMO como reserva militar. Na peça apareceu o representante dos sargentos a dizer que é mentira que o SMO tenha sido abolido. Que foi apenas suspenso e agora, com a falta de praças (mas generais não faltam), tem de ser reactivado. Óptima ideia!!!
Lá vai a bancada paralamentar do BE ficar vazia. Com as ganas que têm, quero vê-los no curso de Comandos, pelo menos, e irem ate à R.C.A. ganhar o deles na companhia dos do SOS Racismo.
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“A pátria é de todos, não é de ninguém em particular, e não é sobretudo daqueles que usam o patriotismo como argumento político.”
https://www.tsf.pt/opiniao/nao-preciso-de-rui-rio-para-me-dizer-o-que-e-patriotico-ou-nao-12077776.html?fbclid=IwAR0a7pDAh9FuYeQdzPBuEk0wcK1g71OtFZ0J7hZk98AEwq51gALFf9Ti30o
“…Portugal precisa de oposição. E séria e forte. Que esteja atenta ao que faz o Governo de errado, sim. Mas que denuncie a narrativa do Governo quando ela é politicamente motivada. Que aponte as tentativas do Governo de reescrever a História da chegada da Troika. Que evidencie que as políticas dos últimos cinco anos desbarataram a melhor conjuntura dos últimos anos e não só não nos fortaleceram minimamente como vão no sentido errado. Que proponha alternativas à visão socializante da economia deste Governo. Que participe no debate europeu e que force o Governo a negociar melhor e com mais realismo em vez de tiradas mediáticas inconsequentes. Que apresente propostas para o dia seguinte, para a retoma parcial da economia, que tem de ser preparada garantindo a segurança dos trabalhadores. Que esteja a pensar no próximo inverno e nas medidas que teremos de tomar agora para estarmos mais preparados depois. Que denuncie a propaganda, quando ela exista. Que perante uma crise severa explique que o socialismo não é a melhor solução. É para isso que serve a oposição.”
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Brilhante! Grande texto.
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Se não for muito incómodo o que gostava de saber era a o numero total de óbitos dos últimos 5 anos entre janeiro e abril, para comparar com este ano. Ainda não vi esta comparação. Será assim tão difícil?
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Morre muita gente todos os dias, mas de Covid19 segundo os números da DGS andam sempre há volta dos 30. Umas vezes mais, outras menos mas nunca longe disso. O vírus deve andar cansado…
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Isto é como em Pedrógão: há os que morreram queimados e há os que morreram a fugir.
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As gerações futuras, que serão ainda melhor “preparadas” que as atuais, que pela medida do geronto-hipocondríaco-presidente já são a melhor do mundo, um dia escreverão a história patética do sec XXI. E lá estará, com grande realce, o virus informático do ano 2000 e a gripzinha chinesa de 2020.
Vejam o epidemiologista André Dias no Youtube. Os dados estão todos à vista.
A fraude do século.
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Excelente, VCunha !
Este desgoverno incute na opinião pública que o dinheiro para atacar a pandemia é escasso. Mas, há poucas horas, a ministra Fonseca anunciou 15 milhões de euros –15 !– para “publicidade institucional” nos media de âmbito nacional e regional. Assim se compra opiniões, notícias.
Vão, neste país corrupto, “analisar os critérios” da atribuição da massaroca…
Hipócritas, cambada ! Os que com o dinheiro do Estado compram e os que se vendem prostituindo-se.
PQP !
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