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A solução é fechar olhos, tapar ouvidos e deixar a droga

17 Janeiro, 2021

Eu sou do tempo em que nós, as pessoas, acreditávamos que a democracia era irmos votar e assim conceder o direito ao governo de executar umas coisas com que concordávamos. Éramos uns idealistas. Felizmente, o mundo evolui e com isso as noções. Agora sabemos que temos a obrigação de ir votar para que governos tenham a desculpa institucional para fazer o que lhes der na telha.

A fila de ambulâncias no hospital de Torre Vedras indigna muita gente, indicando que o protocolo covid impede que doentes sejam devidamente empilhados em macas nos corredores, longe da vista, no tempo em que isso não nos incomodava. Agora incomoda. Essencialmente, tal acontece porque “o dever de confinamento”, uma figura constitucional tão válida como “o princípio da equidade” não se aplica a repórteres, só a vendedores de sapatos.

As pessoas discutem nas redes sociais, como se por o fazerem estivessem a participar civicamente nas ordens magnânimas dos governos “democratas”. Na realidade, e à primeira vista, tentam ser repórteres sem o livre trânsito vedado ao comum dos mortais. Já à segunda vista, o que transparece é que procuram um escape de liberdade nas palavras (mais ou menos) escritas para a liberdade que têm engarrafada na vida real. Há quem lhe chame plataformas de comunicação, mas já ouvi melhores expressões para droga.

Há também quem fale em desobediência civil. Não me ocorria que viver a vida possa ser uma forma de desobediência, mas estou certo que tal coisa ocorre aos governos da velha caquética a que chamamos Europa. A mim só me ocorre uma escapatória: a alienação. Portanto, para viver o tempo que me resta, que espero ainda ser muito, mas que nunca se sabe porque posso ter o azar de apanhar uma doença não-covid, necessito de ignorar o mais possível o que diz e manda toda esta gente que tanto me ama e, como tal, tanto me protege da intempérie, como se eu fosse uma criança daquelas todas modernas que nem os joelhos pode esfolar sob risco de chilique dos pais abrutalhados com a vida digital.

A geração mais bem preparada de sempre vai apanhar uma surpresa quando descobrir a mortalidade ou, com sorte, talvez a isso seja poupada se a morte os surpreender primeiro. Em qualquer dos casos, podemos contar que às criancinhas da altura será devidamente vedado o cadáver do familiar ex-“mais bem preparado de sempre”, devidamente embalado em duplo saco plástico, para que se possa perpetuar a obsessão ocidental pela imortalidade. E, de preferência, alguém que faça um túnel para esconder as ambulâncias em Torres Vedras, porque o que não se vê não nos afecta.

3 comentários leave one →
  1. chipamanine permalink
    17 Janeiro, 2021 09:42

    Eu que já estive duas vezes quase mais para lá do que para cá nunca deixo de me surpreender com o terror absoluto que “a geração menos preparada de sempre” tem de se finar apesar das suas vidinhas miseráveis sobre as quais estão sempre a queixar-se não valer a pena.
    Já a “geração mais bem preparada de sempre” nem sabe o que isso é, achando que a vida é eterna e como foi desde criancinhas que ao mínimo pingo do nariz lhes deram “antibióticos” tornando-os asscépticos e que acham que essa condição é que os vai levar a uma vida eterna.

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  2. Weltenbummler permalink
    17 Janeiro, 2021 10:24

    previsões eleitorais para pr de ‘democracia representativa’
    75% de abstenções

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  3. voza0db permalink
    17 Janeiro, 2021 11:45

    O vitorcunha e os seus divertido delírios passados!

    Eu sou do tempo em que nós, as pessoas, acreditávamos que a democracia era irmos votar e assim conceder o direito ao governo de executar umas coisas com que concordávamos. Éramos uns idealistas.

    Realidade:
    Eu sou do tempo em que nós, os escravos, acreditávamos que a democracia era irmos votar e assim conceder o direito aos capatazes de executar umas coisas com que concordávamos. Éramos uns boçais.

    Quanto ao resto… há que dar VALOR aos DONOS e aos Bilionários! Desta feita (FALSA PANDEMIA versão 2020) conseguiram usar as ferramentas WWW e Telefones “Espertos” de forma sublime. E agora que os escravos boçais se habituaram a gritar nas redes sociais via telefones espertos, os DONOS e Bilionários estão seguros que podem continuar a Chacina que nada nem ninguém lhes tocará.

    Afinal que coisa mais confortável poderá existir do que uma revolução feita a partir do sofá?! Não estou a ver qual.

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