Será que este país não tem emenda?
Vamos lá ver se percebi bem. A Opway é uma construtora do Grupo Espírito Santo que é accionista da Ascendi, do grupo Mota-Engil. A Ascendi detém a maioria do capital das concessões rodoviárias do Norte, da Costa de Prata, das Beiras Litoral e Alta, do Grande Porto, da Grande Lisboa, do Douro Interior e do Pinhal Interior, num total de 850 quilómetros de auto-estradas. Almerindo Marques foi presidente das Estradas de Portugal até ao final de Março. No seu mandato o Estado negociou com a Ascendi a revisão de um conjunto de concessões em condições que levantaram as maiores reservas ao Tribunal de Contas e que poderão representar novos encargos para o Estado no valor de milhares de milhões de euros. Mais: segundo o Tribunal de Contas, a Estradas de Portugal comprometeu-se a fazer pagamentos “que carecem de fundamentação jurídica” e podem acabar no Ministério Público. Nada disto impediu Almerindo Marques de ter, entretanto, assumido a presidência da Opway. Porque, diz ele, “quem não deve, não teme”. Esqueceu-se, no mínimo, que à mulher de César…
Vamos lá ver se percebi bem, de novo. O Governo anunciou que a execução orçamental dos primeiros três meses do ano tinha sido “histórica” e que a redução do défice tinha sido tão substancial que estaríamos não só no bom caminho, como no melhor dos mundos. Alguns economistas procuraram deitar alguma água na fervura deste entusiasmo e a oposição chamou a atenção para o aumento da carga fiscal. Entretanto, como formiguinhas, os funcionários da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) da Assembleia procederam à análise das contas e revelaram o seu relatório esta semana (algo que o PS tinha tentado impedir que acontecesse). Para a UTAO, os resultados conseguidos só foram possíveis porque houve despesas adiadas (mas que terão de ser feitas), porque se pagaram menos juros (quando, ao longo do ano, a conta dos juros aumentará) e porque se atrasaram as devoluções do IRS. Corrigindo estas distorções conclui-se que a execução orçamental fica aquém do necessário para cumprir as metas de 2011, isto é, que ainda agora assinámos um acordo com a troika e já estamos a entrar em incumprimento. Se isto não é inquietante, não sei o que é inquietante.
Nada, aparentemente, liga estes dois casos. A não ser a realidade pegajosa em que vivemos. A não ser este nosso Portugal onde todas as referências se parecem ter diluído e já ninguém estranha o que nem devia ser aceitável. Mais exemplos, muito diversos, todos da última semana. Na prova de 9.º Ano de Físico-Química houve uma pergunta em que bastava saber contar até oito para responder correctamente. O tribunal de Portimão resolveu não levar a julgamento os únicos indiciados pelo que foi descrito como um “acto de terrorismo”, a destruição de uma colheita de milho transgénico em Agosto de 2007. Quase dois meses depois de o Governo ter desmentido que estava a utilizar a Segurança Social para comprar dívida pública, aparece publicado no Diário da República um despacho de Teixeira dos Santos em que são dadas instruções nesse sentido. Ao mesmo tempo soube-se que o Governo deu ordens à Casa da Moeda para não imprimir no Diário da República as nomeações feitas para lugares intermédios da Administração Pública, nomeações que são efectivas e não dependem dessa publicação. A Procuradoria-Geral da República entendeu que a melhor forma de reagir à divulgação, no Facebook, de um vídeo em que se mostrava uma agressão a uma adolescente era dizer que “não tem peritos informáticos ao seu serviço capazes de detectar, em tempo útil, crimes divulgados nas redes sociais”. Para encher um comício em Évora, o PS arrebanhou umas centenas de indianos, de paquistaneses e de africanos, alguns dos quais mal falavam português, deu-lhes farnel e T-shirts, pô-los a abanar bandeiras, disse que eram presença habitual da secção do partido da Almirante Reis e, depois, esqueceu-se de dizer aos velhinhos que lá costumam aparecer para confirmarem esta última invenção aos jornalistas. Parece que já em 2007 – antes da crise económica e financeira – havia pelo menos um estudo, entregue às Estradas de Portugal, a avisar que os projectos de concessão das novas auto-estradas eram deficitários. E enquanto se soube que a Guarda Nacional Republicana promoveu, no início deste ano, 40 novos coronéis, numa excepção às regras decididas para a função pública, tomámos conhecimento pela boca de um dirigente sindical da PSP que, em Braga, os polícias fizeram greve por via da entrega de atestados médicos falsos.
Naturalmente que estes episódios não têm todos a mesma gravidade. Longe disso. Mas todos eles, e muitos outros que também poderia ter citado, mostram como é enorme a resistência à mudança e o apego a privilégios pequenos ou grandes. Mostram também que houve uma grave degradação não só dos costumes políticos, como das práticas sociais. O que se pensava intolerável entrou na rotina do dia-a-dia. Velhos defeitos – o atavismo, a aversão aos risco, o gosto pela benesses do Estado, o corporativismo, o clientelismo esmolar, o apreço pelo Chico-esperto – tornaram-se não apenas em hábitos aceites como em virtudes louvadas nas caixas de comentários das redes sociais. E até, se bem embrulhados em palavras eruditas, em temas de campanha eleitoral.
O mundo que produz e reproduz estes episódios acabou. E acabou porque se acabou o dinheiro. Pelo que, verdadeiramente, só nos restam duas alternativas: ou mudamos mesmo de vida, como impõe o memorando da troika e disse o Presidente da República, o que implica mudar de políticas, mudar de dirigentes, mudar de hábitos e rotinas, mudar de referências sociais e culturais, e então seremos capazes de trilhar o difícil caminho da recuperação, ou… Ao contrário das aparências e do bom senso, a escolha existe, como estes episódios mostram. Trata-se de fazer de morto, de arrastar os pés, de tentar que tudo fique na mesma na esperança de passar entre os pingos da chuva, trata-se de continuar a tolerar costumes que corrompem as nossas referências morais, de tentar enganar a troika enquanto se finge que se cumpre o memorando, de continuar a chamar às mentiras meras “faltas à verdade”. O resultado será o aprofundar da decadência e o empobrecimento relativo e inelutável, como aquele a que assistimos na última década. Entretanto os melhores portugueses emigrarão.
Infelizmente este país, às vezes, parece que não tem emenda. Que ainda não percebeu o difícil que vai ser continuar a ter quem nos financie – ou seja, o difícil que será cumprir o acordo. E que Portugal não se importa de rolar pela encosta abaixo, porventura a fazer companhia à Grécia.
Público, 27 Maio 2011
Dia -8 para nova vida sem o bandalho mor a pairar sobre este desastre criado por ele!
Primeiro passo para sair deste atoleiro: correr claramente e PARA SEMPRE com o palhaço vigarista!
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Esse «esquema» cheira-me a Lusoponte e a Ferreira do Amaral.
Temos que imputar créditos a quem patenteou o «know how».
Esse tipo de parceria público-privada foi um dos mais exeburantes e legados do cavaquismo.
Mas não há problema, pois são todos «gente séria».
Penso eu de que…
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“Vamos lá ver se percebi bem.”
.
Percebeu, percebeu!… é a isto que se chama crony-capitalismo, essa doença (incurável?) que está a infestar todo o mundo e a dar cabo da livre economia e da democracia, como nos mostra David Stockman nesta entrevista muito explícita:
http://finance.yahoo.com/blogs/daily-ticker/david-stockman-crony-capitalism-killed-free-market-democracy-120004233.html
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Não tem emenda???
Mas tem ementa.
A sua é de coelho.
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PORQUE É QUE AQUI NO BLASFEMIAS AINDA NINGUÉM FALOU DISTO?
ATENÇÃO..CAUSAS DA DIVIDA EM PORTUGAL…
Who are the largest debtors now unable to pay? Answer: in Portugal’s case, the government and the banks. So, they must have made mistakes. In this, the picture that emerges is similar to that found in Greece and in Ireland.
Who are the largest creditors now afraid of not getting their money back? Answer: large banks and insurers in a number of countries and the Eurosystem (ECB and Eurozone national central banks). In fact, the Eurosystem is the largest creditor of Portugal as well as of Greece and of Ireland’s banking systems and governments. So these creditors also made mistakes.
The consequences of the mistakes should be borne by those who made them. But it is not to be. Instead, the costs of the bailout are to be exclusively assumed by the Portuguese taxpayers and citizens. This is not the culture of merit and accountability the European Union deserves.
Third, the agreement focuses on the minutiae, on far too many wishful thinking ideas in a cross-section of areas from financial sector regulation and support, judicial system organization, to local and regional administration, to name a few. The large number of measures precludes any serious attempt to evaluate their individual effectiveness. Instead, the MoU should select the 20% of ideas with 80% of the economic impact (each with an economic impact above, say, €250 million per year) and thoroughly dissect each of them. Otherwise, it is simply obfuscation
http://theportugueseeconomy.blogspot.com/2011/05/portugals-bailout-reinventing-wheel.html
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pois é…
http://bulimunda.wordpress.com/2011/05/28/os-meios-de-comunicacao-tem-sempre-razao-eles-dominam-eles-controlam-eles-modelam-a-opiniao-no-fundo-eles-sao-a-opiniao/
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resumindo…
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Não percebi nada.
Só leio coisas escritas na língua da Colômbia The Banana Republic and so on
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Os tempos da mulher de César já lá vão. O que sempre definiu Sócrates foi: “César pode ser o que quiser, o que é preciso é que pareça sério”. Para um exemplo, ver o que se passou ontem à noite no comício do PS em Coimbra, cheio com pessoas vindas de Lisboa (mas sem turbantes).
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Agora * a mulher de César * pode ser uma puta descambada
que se for do PS, logo lhe carimbam a PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
(Virgindade?) e o DIREITO AO BOM NOME !!!!!!!!!
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Piscoiso
Posted 28 Maio, 2011 at 09:30 | Permalink
Não tem emenda???
Mas tem ementa.
A sua é de coelho.
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Este continua imbecil, e faz gala de nos ir lembrandp amiúde . . .
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Arlindo da Costa
Posted 28 Maio, 2011 at 08:38 | Permalink
Esse «esquema» cheira-me a Lusoponte e a Ferreira do Amaral.
Temos que imputar créditos a quem patenteou o «know how».
Esse tipo de parceria público-privada foi um dos mais exeburantes e legados do cavaquismo.
Mas não há problema, pois são todos «gente séria».
Penso eu de que…
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Esta persistencia em mostrar que * o prato de lentilhas *,
apesar de proletário, tem que ser justificadi, senão, RUA!
(a vida sai dura, não é, Arlindo?)
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No que é factual, nada a opor. Factos são factos. Que alguns são vergonhosos, não há dúvida nenhuma. Essa das nomeações provoca-me vertigens, e ainda mais quando não se vê qualquer genialidade nos nomeados. Quanto a estes aspectos, disse.
Quanto a outros: em que épocas é que a coisa foi diferente? E mais: estes seis anos de sócrates, bem como muitos dos seus devaneios, pareciam suficientes para sofrer uma pesada derrota. Porque é que as sondagens não dão essa indicação? A esta questão dou eu a resposta. Porque os portugueses, mesmo assim, ainda têm mais medo do que possa advir com a vitória do PSD. Só isso.
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Arlindo Costa
Os actos criminosos, as ilegalidades e as imoralidades feitos por uns para si justificam as que outros fazem, desde que estejam do seu lado na política.
As 26 PARCERIAS PÚBLICO PRIVADAS do Sócrates que os portugueses terão que PAGAR são para o Arlindo actos de boa governação. A má governação é o «esquema» da Lusoponte e de Ferreira do Amaral.
Mas das 26 PPP de Sócrates não há problema, pois são todos «gente séria». A forma como negociaram as Portagens das SCUT demonstra-o exuberantemente. Não terá sido o Arlindo o escrivão do acordo (das PPP)?
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São iguais, ou quase, à imagem do líder, lá nos piésh, uns mafiosos, primo.
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Nada disto impediu Almerindo Marques de ter, entretanto, assumido a presidência da Opway. Porque, diz ele, “quem não deve, não teme”.
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Possivelmente o homem estará cheio de razão.
Não deve, não teme. Como não tem que pagar nada não deve nada.
Quem tem de lhe pagar a ele é que pode ter razões para temer…
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foi escrita por jmf1957…
Você esqueceu-se ds Berlengas e Farilhões.
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E a atitude do tal Branquinho, mereceu da sua parte, jmf, algum comentário?
Desconheço!…
Esta coisa dos ex-ministros dos transportes, “ferreirasamarais”, assumirem lugares de administração de empresas privadas ligadas aos transportes devia acabar.
Percebe, jmf?
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Quanto maior o Estado mais Corrupto é.
Quando o Estado não só taxa muita riqueza dos portugueses mas também pode pedir emprestado muito dinheiro é o que acontece.
Limites à Dívida e aos Impostos na Constituição. É preciso limitar o poder dos políticos.
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Excelente ideia!!!
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Tudo tem emenda. É preciso é arregaçar-se as mangas e fazer o trabalho que tem de ser feito.
A teia de troca de favores que senta à mesa do orçamento a comer os nossos impostos inúmeros empresários e militantes / amigos do PS ( em menor grau do PSD e em dose residual do CDS) devia ser estudada até do ponto de vista científico. Foi o que propús ontem.
http://supraciliar.blogspot.com/2011/05/tese-de-doutoramento.html
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Há muito que é muito difícil de entender o socialismo destes “socialistas”!
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