Não trabalhar por necessidade! *
– “Há ricos que vivem em hotéis; eu vivo numa pensão!
– Pois tenho o apoio da Segurança Social que me paga um quarto, ali, na “Estrela de Campanhã”. Tenho televisão e tudo. Não é muito grande, mas dá… para mim, dá muito bem.
– Mas… Sr. Ernesto, o Senhor não faz nada? Quero dizer, não tem nenhuma profissão? A sua doença não é impeditiva, ou é? Porque é que vem cá, ao Hospital?
– Não, quer dizer, tenho aquele problema, sabe? Mas podia trabalhar… O problema é arranjar trabalho. Às vezes, faço umas coisitas, lá perto da pensão. Por exemplo, tomo conta, à noite, de um estaleiro de umas obras que andam lá a fazer… Também ajudo, à vezes, quando é preciso descarregar os camiões. Também já andei a arrumar carros. Mas não sou arrumador, não ando na droga!
-E, então?
-Então é assim: ninguém pode saber que faço esses biscates, senão cortam-me os apoios”.
O Sr. Ernesto explicou, então, a sua vida singular. Importa dizer que, na verdade, Ernesto é um verdadeiro “assistente social”, gerado e formado pela própria assistência social e caritativa. Costuma dizer que quem quiser, não passa fome. Quem tiver dificuldades em obter auxílio ou apoios sociais institucionais, pode falar com ele. Especializou-se no preenchimento de requerimentos (que faz gratuitamente para amigos e conhecidos que, como ele, precisam) e na burocracia do Estado social que, bem vistas as coisas, aprendeu com seu próprio exemplo. Recebe o rendimento de inserção (uma coisa mínima que lhe dá para o tabaco e para uns “luxos”), tem o apoio da paróquia no que diz respeito às refeições (umas senhas que troca por almoços e jantares num restaurante modesto, das redondezas). Ah! E o fato de treino vistoso, engomado, azul-escuro com que se apresenta habitualmente, bem assim como as sapatilhas brancas que calça e o resto da roupa que tem no seu quarto da “Estrela de Campanha”, são oferecidos por uma Instituição caritativa que lhe põe à disposição, de 6 em 6 meses, um armazém de confeções e miudezas, para (embora limitadamente) renovar o seu guarda-roupa. Acaba por ter, pelo menos para quem ajuda, uma função social importantíssima.
-“Mas então, Sr. Ernesto, porque é que não tenta arranjar um emprego?
-Ora, bem vê: eu não trabalho por necessidade!… Se eu arranjasse um emprego…hum, honesto, quanto é que ganharia?! 400 ou 500 Euros? Como é que eu, sozinho, no Porto e com os medicamentos e vindas aqui, ao Hospital, tinha casa, comida e roupa lavada com 400 Euros?!”
Tirando alguns pormenores, bem assim como os nomes e denominações referidos, esta história é verdadeira. E, para o próprio, não é triste! Será triste, sobretudo, para nós, para a nossa economia que não consegue remunerar o trabalho condignamente…
* GRANDE PORTO, 8 de Junho de 2012, Opinião.

E nao perguntaram ao senhor Errnesto se nao queria trocar de vida com o sr Borges?
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Comentário para quê? Perante isto,que nem sequer é novidade,o que se poderá dizer? Que em terra de cegos,quem tem olho é rei.E como nós temos muitos cegos e muitos oportunistas e porque estamos a pagar a muita gente caridosa para apreciar estas situações,só temos que aguentar caladinhos.Ficamos sem os nossos subsídios para estas coisas e outras que tais.Ainda tive esperanças na mudança mas já me desiludi.
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Bom texto. Apenas resta acrescentar que as empresas se aproveitam disto.
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o meu bisavô recebia uma pensão ainda em reis, de que beneficiou pela sua contribuição castrense, e quando a ia levantar, comprava onças de tabaco e garrafas de gin e ía pelos caminhos então já republicanos insultar os trabalhadoresdas obras e dos campos.
invariavelmente o meu avô tinha de o ir buscar num carro de mão depois de ele levar arraiais de porrada dos honrados trabalhadores.
o Bouhmil Hrabal roubou-me esta narrativa no seu «combóios rigorosamente vigiados»,mas não há problema, eu não lhe caio com um processo,não sou o sousa tavares.
não vejo mal nenhum em o sr borges fazer uns biscates para o governo!
e a segurança social, felizmente não depende da caridade desse white collar criminal.
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O sr. Ernesto com apoios ou sem apoios, não passará nunca de um miserável pelo que não vale a pena inspirar qualquer tipo de inveja…
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Mas que raio ! Afinal o Oliveira e Costa e quejandos são anjos comparados com o Ernesto que tenta roubar ao estado a sua dose diaria de SG Filtro.Caramba a culpa do holocausto foi mesmo dos judeus Hitler foi so um anjo de mesericordia
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Foi o sr. Ernesto que escreveu esta merda? Só pode. O Porto é mesmo muito miserável e sórdido.
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E quantos senhores Ernestos é que são precisos para alimentar um senhor Borges?
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Estes são os nossos pobres, os tais 20% que honestamente ninguém vê!! As nossas consciências bem pensantes é claro que sentem orgasmos múltiplos com estes pobrezinhos que antes do 25 punham na “bicha” para a esmolinha da semana. Agora coitadinhos só têm o rendimento minimo e a sopa da AMI ou da Caritas mais o apoio mensal do combate a pobreza da UE. A hipocrisia da nossa esquerda bem pensante dá o resto…
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“Estes são os nossos pobres, os tais 20% que honestamente ninguém vê!! As nossas consciências bem pensantes é claro que sentem orgasmos múltiplos com estes pobrezinhos que antes do 25 punham na “bicha” para a esmolinha da semana. Agora coitadinhos só têm o rendimento minimo e a sopa da AMI ou da Caritas mais o apoio mensal do combate a pobreza da UE.”
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como já tinham sido referidos os “bem pensantes”, tomei a liberdade de dar coerência ao texto.
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o charme discreto da burguesia…
desenha o sr ernesto para se dormir tranquilo sonhando serem ladrões de consciencia tranquila que levam os josé manueis da comissão em seus jactos prá ilha do amazonas…
não há justiça!
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somos uns mansos é o que é.
até o New York Times nos goza…
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E é por causa de um Estado de estes que a minha mãe foi obrigada a emigrar à morte dos seus paises para permitir à minha tia de continuar os seus estudos.
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“somos uns mansos é o que é.
até o New York Times nos goza…”
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Não nos podemos mexer muito. Enfiaram-nos a “mão invisível” no cu e há sempre o perigo das unhas serem compridas.
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Quanto ao Sr. Ernesto anda claramente a viver acima das possibilidades e não está a cumprir a sua função social. Engrossar a fileira dos 10% do desemprego estrutural que está ai para durar aterrorizando e pressionando os camelos que ainda tem trabalho.
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Não sei se o New York Times tem assim tantas razões para gozar connosco.
http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=2599256&seccao=EUA%20e%20Am%E9ricas
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DNO
Posted 8 Junho, 2012 at 19:54 | Permalink
«O sr. Ernesto com apoios ou sem apoios, não passará nunca de um miserável pelo que não vale a pena inspirar qualquer tipo de inveja…»
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Você poderá dizer que o sr. Ernesto é um miserável mas este, ao contrário de milhentos mais, arranjou maneira de se “safar”.
Quem é que com 500 euros mensais – e a trabalhar… – tem casa, cama, comida, roupa lavada e calçado, dinheiro para transportes e ainda se pode dar a uns “luxos” tais como como uns cigarritos e, porque não, umas bicas e uns bagaços?
Veja bem a quantidade de pobretanas que andam por aí…
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PMF:
O que o seu texto mostra é, apenas, um exemplo do mau funcionamento dos serviços. Não mostra a necessidade de acabar com o serviço (os apoios sociais).
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A Decadência do Espírito de CompetiçãoO espírito de competição, considerado como a principal razão da vida, é demasiado inflexível, demasiado tenaz, demasiado composto de músculos tensos e de vontade decidida para servir de base possível à existência durante mais de uma ou duas gerações. Depois desse espaço de tempo, deve produzir-se uma fadiga nervosa, vários fenómenos de evasão, uma procura de prazeres, tão tensa e tão penosa como o trabalho (pois o afrouxamento tornou-se impossível) e finalmente a desaparição da raça devido à esterilidade. Não somente o trabalho é envenenado pela filosofia que exalta o espírito de competição mas os ócios são-no na mesma medida.
O género de descanso que acalma e restaura os nervos chega a ser aborrecimento. Produz-se fatalmente uma aceleração contínua cujo fim normal são as drogas e a ruína. O remédio consiste na aceitação duma alegria sã e serena como elemento indispensável ao equilíbrio ideal da vida.
Bertrand Russell, in ‘A Conquista da Felicidade’
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Trinta e três, supra, disse:
“O que o seu texto mostra é, apenas, um exemplo do mau funcionamento dos serviços. Não mostra a necessidade de acabar com o serviço (os apoios sociais)”.
Mas também não está escrito o contrário!
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