3×30 – O caminho para a servidão à forma
Ainda a propósito do novo jornal, dei por mim a reflectir sobre a arte perdida da coluna, o espaço limitado em caracteres que obriga autores a refrearem tendências para divagações. A publicação em formato digital invalida a necessidade de contenção, sendo sempre possível acrescentar a palavra a mais, que, por desnecessária, obscurece ao invés de clarear o texto.
Assim, com todos a trocarem blogues por imprensa, vagando espaço para os corsários solitários sem rumo nem direcção, iniciarei um ciclo que se chamará “3×30”. São três parágrafos, novecentos caracteres, nem mais, nem menos.
Num país de geringonças amaldiçoado com a falta de estrutura em qualquer dos recantos estatais, creio que este será um exercício de grande valor espiritual para mim e de alívio para os que ainda subsistem na leitura dos que, outrora, foram – para o bem e para o mal – derradeiros espaços de liberdade digital.
E
Mais vale pouco
Do que nada
Toda a opinião livre e sentida
Será como sempre
Como sempre foi abafada
A epopeia dos blogues com a sua promessa
De opinião livre para todos
Morreu substituída pelas chipadas redes sociais
Que controlam desde os teus traques aos teus ais
Portanto mais um jornal sempre dá mais um pouco de limonada
Para fazer concorrência ao expresso que custa quatro euros. E é só artigos de opinião fraca.
E merdosa
Tendenciosa. Mas o que havemos de ler?
O Pasquim do padre da freguesia?
Ficar parolos e brutos como o João semana.
Que ficava satisfeito com boa comida e boa cama?
Com o expresso sempre temos uns mapas guias….e qualquer dia faqueiros?
Portanto observo que falta faz mais um novo jornal
Para avivar Portugau.
GostarGostar
Uau!
GostarGostar
A generalidade do Povo Português NÃO TEM hábitos de leitura e muito menos de escrita ou de falar em público.
Por isso será mais um jornal para ir à falência como DEZENAS de outros, anteriormente.
De resto, toda a gente sabe que o papel higiénico veio substituir o jornal, com vantagem.
GostarGostar
MERCO BESTA CORRIDA ABAIXO DE MEIO SALDO DE MULA MANCA
A ARRASTAR O ESTRIBO ALBARDA CAÍDA COM CILHA FOLGADA
OSSADA BICUDA A FURAR A PELE TRASEIRA TODA EMPENADA
CABRESTO AOS NÓS DE CORDA ROÍDA QUE OS ABANOS DESANCA
MOSCAS NO LOMBO PRONTAS AO NINHO ATRÁS DAS ORELHAS
AOS SOLAVANCOS SOLTANDO SONOROS IMUNDOS A CADA PATADA
CASCOS MOÍDOS FEITOS EM FARELO SEM CANGALHA AMARRADA
LÁ VAI RUMINANDO A PALHA CURTIDA DE GASTAS GORPELHAS
PÊLO SUMIDO ENSEBADO BASTA AJEITAR-LHE OS SARILHOS
REBARBAR-LHE OS CASCOS P´RA LHE CALÇAR UNS MEOTES
QUE DE CRINAS ASSOVELADAS ENSAIA LOGO UNS PINOTES
NO ARRASTO DO CHOCALHO O ESTAFERMO FOGE AOS TRILHOS
DENTE ARREGANHADO COR DE FENO E CATA-VENTO NO RONCAR
O FEDOR PODRE QUE EXPELE DE TANTA NÉVOA NEM CHEIRÁ-LO
NÃO NOS CONTAM OS ARREIOS SE HÁ BURRO, MULA OU CAVALO
MAS HÁ EM QUALQUER FERRADURA PRONTO COICE PARA DAR
GostarGostar
Ó Vitor, se há quem não deva ser comedido nas palavras és tu. Escreve, car@#$o!
É um prazer ler-te e quando for grande quero escrever assim.
GostarGostar